E ali estava ele sentado, dormitando, fazendo que dormia e pensando na vida. Pousando, já sem precisar de manter a pose. E ali ficou fazendo uma retrospectiva da sua vida. Oito casamentos. 8, o número do infinito, do eterno. A todas jurou eterno amor. A umas viu-se grego para se ver livre delas, a outras tentou reatar, porém a sua infedilidade era mais forte. Infedelidade não! Apreciador de belezas, beldades e curiosidades. Deu-se conta, agora só, que houvera mulheres que se aproximaram por amizade. Só agora, pois, não concebia que pudesse ser simplersmente amigo das suas amigas. Teria sido ele amigo das suas amantes e mulheres? Com uma sofreu bastante, pois foi ela que bateu a porta. Estava habituado a ser ele a bater a porta... Um orgulhoso cabraõzito era o que acaba de se sentir.
Relaxado e coçando o nariz, enquanto a mulher desenhava o anjo, foi ao fundo de si e perguntou-se:"Que gosto era aquele sado masoquista? Que vida era aquela que tinha escolhido para si? Rimando sempre amor com dor. Sim, escolhera. Não era vítima e sim responsável. Pois é..."
Agora, aos oitenta e oito anos sentia-se tranquilo. Os pensamentos eram mais claros. Sentiu alguma nostalgia dos amores que desperdiçara. Mas de que lhe valia sentir remorsos do passado? Sorriu e riu-se de si mesmo. Conclui que levou 88 anos para amadurecer. E agora o que restava? Adormeceu. Sentiu um vento, uma brisa na sua testa. Alguém o beijou de mansinho. Não quis abrir logo os olhos. Desejou novamente ter uma vida inteira pela frente para viver um grande amor. Desta vez seria diferente. Mais calmo, mais maduro, sem pose, nem posse. Mais inteiro. Mais generoso. Não abriu logo os olhos. Queria saborear aquele rasgo de esperança. O quadro estava quase pronto.
a piu
Br, 3.10.2013
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| pintura: Paula Rego |
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