terça-feira, 25 de novembro de 2014

NINGUÉM MERECE!


Dizem que os gansos são bons guardas. Melhores que os cães. Muitos ficam impressionados com um gourmet chinês que não é nada mais, nada menos que um platito de chien. Ahhh pois! Na China é chique comer cachorro o que impressiona os ocidentais. Mas alimentar um ganso com figos à força já não é tão impressionante! O messa!
Eu adoro figos, mas só a ideia de me alimentarem à força para me degustarem na ceia de Natal!! Também! Só se me derem uns copitos de conhaque que eu devo ser dura de roer. Mas olha! Nesta receita deste livro de culinária francesa que eu trouxe na bagagem 50 ml de vinho da Madeira estão contemplados. Za ver! O que é nacional é bom. Um livro à maneira. Culinária do campo. Sem nouvelles cuisines, mas tem estes deslizes de forçar os gansos a comerem figos para de seguida RENHAU NHAM NHAM.
Acho que a minha ceia vai ser um platito de figos selvagens. Daqueles que nascem nos cactos. Uma questão de posicionamento.
Ana Piu
Br, 25.11.2014








segunda-feira, 24 de novembro de 2014

SENTIDO DE VIAGEM

Podemos calcorrear o mundo inteiro. Entrar em todos os museus. Fotografar monumentos e crianças no deserto quando passamos a alta velocidade, levantando pó nas suas aldeias. Podemos conhecer as ilhas do Pacifico e alguns hotéis Ibis por esse mundo afora e nunca termos saído do nosso quartinho semi escuro da nossa casa onde posteres das nossas bandas de adolescência sorriem da porta do armário num tom irreverente. e autocolantes ainda no vidro da janela define o nosso estilo de vestir e gostar de determinadas coisas e não de outras. Mas se não nos deslocarmos da nossa "tribo" perdemos a oportunidade de conhecer outras. Umas mais semelhantes que outras da nossa. Mas confrontarmo-nos com a incrível e sedutora realidade que o mundo é maior que o nosso quarto, a nossa rua, bairro, cidade e país.

Uns emigram por extrema necessidade, outros porque anseiam e desejam ir ao encontro de outros estímulos, tantos outros pelas duas razões e mais outras tantas. Mas todos trazem o mesmo na mala: coragem e alguma vulnerabilidade. Vulnerabilidade não significa fraqueza. Pelo contrário! A vulnerabilidade permite perceber o coração, o sentimento daqueles que se abeiram ou afastam de quem é "estranhamente igual", "estrangeiro familiar". Daqueles que dão uma mão e daqueles que dão rasteiras. A vulnerabilidade é uma força, logo transborda vida, humanidade.

Há quem diga que dos fracos não reza a História. Mas o que é ser fraco? Talvez dos loucos a História não reze tanto. Ou talvez reze. Quem arrisca ser arrojado, falo principalmente no espírito, na alma, não deixa de ser um louco. Um louco que traz a curiosidade do mundo estampada no rosto. E esses fazem histórias porque as vivem.

Ana Piu
Brasil, 24.11.2014



segunda-feira, 17 de novembro de 2014

DESEJOS E PRAZERES


desejo que os pássaros que dentro de nós estão voem
e nas mãos cheias de histórias pousem
desejo que os gatinhos, aquela farfalheira asmática que nos peitos se alojam por ansiedades e outros receios, saiam por aí brincando com novelos de lã e deixem os pássaros em paz para que estes voem nos rumos que eles próprios tracem
tenho muito ma muito prazer de acreditar que isso é possível
que as mãos se enruguem de histórias flutuantes e que os voos naveguem nos socalcos da pele
Ana Piu
Br, 14.11.2014

Below of old tree
© W L O T U S

FLOR, A ECO PERMACULTORA


- Sabias que um amigo meu disse-me que para saber se os cágados são macho ou fêmea basta ver se a barriga é redonda ou lisinha? Redonda é das fêmeas.
- Curioso.
- É, os cágados são como os pássaros.
- Curioso. Curioso.
- Agora tenho de ir. Tenho de acabar no quintal a casa para a cabra que vamos ter!
- Curioso. Curioso. Curioso. Curioso.
Ana Piu
Br, 15.11.2014

ARROGANTIA



Hoje entre uma tarefa e outra daquelas que animam as fadas do lar (?) criei um exercício ao qual dei o título: Dicções e canto livre. Gostaria de partilhar e esqueci. Vai que encontrei este post da minha amiga Bé. Vai que lembrei desse tal exercício pirrónico que aqui vos deixo neste final de sábado (olhó o fuzo horário). Por que hoje sábado, Manhana domingo. Sa ra vá!
Lá vai!
Vaiiiiii vaidade
vaidade vaiiii
vai- da- de
or
orgulho
gulho
bagulho
borbulho
or - gu- lho
o silêncio é de or
é da hora
demora a sair
sai
vai
da- de
vaidade vai
sai
orgulho cai
cai orgulho cai
vai
volta sem
a cem
sem nada que não seja teu
vai da- de
VAI!
CAI!
Volta sem o cem.
Volta no quase zero que não é zero nem é cem.
Vaaaaiiiii
Ana Piu
Br, 16.11.2014


TOMAR E LEVAR


Erwachen
© P H I L • P O R T E R





Sempre ao entardecer, quando o sol ficava como uma gema da cor dos ovos caseiros, encontravam-se em silêncio. Limpavam o recinto juntos. Naquele silêncio e no cuidado que tinham pelo espaço que percorreriam encontravam a sintonia. Eram vários e várias. Viajantes do espaço temporal. Alguns diziam quando os viam passar:" Lá vão os ciganos!" Ao que respondiam cantando, depois dos instrumentos de sopro se silenciarem:" Aiiiiii La vida no é como é como la llevas! La vida é como la tomas. Isso é la vida. La vida é tomar e llevar. Laralalala!"
Depois continuavam até se perderem de vista e voltarem a aparecer na vez seguinte. Os mais atentos e atentas podem escutar na noite escura o eco dos sopros e das batidas da música que os viajantes do tempo e do espaço deixam depois do entardecer quando o sol fica da cor de uma gema de ovo caseiro.
Ana Piu
Br, 16.11.2014


O LOBO QUE TINHA VERGONHA DE SER COR DE ROSA




Hoje escutei uma história saída de uma boca cheia de dentes de leite. Nessa história entravam várias personagens, umas aparentemente mais medonhas que outras: um bicho papão, três porquinhos, um monstro, um lobo, um lobo guará e lobo gay.
- Um lobo gay?! Como é um lobo gay?, perguntei.
- Um lobo gay é um lobo cor de rosa que sente vergonha.
- Sente vergonha porquê?
- Porque é cor de rosa.
Escusado será dizer que fiz um esforço para não rir de surpresa inocente, sublinho, diante do resto do pessoal dos dentes de leite e de olhos igualmente inocentes. Gosto! Quanto mais conheço crianças mas adoro futuros adultos que talvez com uns abraços carinhosos falem de lobos guará, azuis, roxos ou até mesmos cor de rosa que não sentem vergonha da sua cor.
Ana Piu
Br, 17.11.2014


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

UM EXERCÍCIO

"Um exercício: deixar de pensar psicanaliticamente: o que não está, o que me falta, o que foi a outo lugar. Opor esse pessimismo um desejo ativo, um otimismo da vontade: O que sim, está; o que, sim, vem; a energia que me envolve. As afirmações. O vitalismo."
in:"Pequenas intuições para uma ecologia libertária das afetações". De amor e anarquia relações libertárias ontem e hoje, editora deriva, 2012
foto: biomecânica, Meyerhold

POETHIA IN SPERANTUM


ich esprechen
what je feel
hablium unt ich escrevium
je feel
parce que je suis moi même
allora, ahora
me voy
au fidersin good buy à bien tôt
piu

SEM CONTRATO, EXIGÊNCIA, CONCORRÊNCIA E COERÇÃO


"(...) é essencial que a escola torne-se o lugar principal na qual a diversidade natural não conspire com a desigualdade social, onde cada indíviduo encontre espaço e tempo. meios e recursos para revelar a sua mais íntima e profunda natureza, em clima de liberdade e verdadeira igualdade. (...) A vida sem liberdade não é vida; é a morte, e nós que trabalhamos pelo futuro, cultivamos o nosso ideal, com fim a preparar um mundo no qual os homens livres viverão em uma sociedade livre."
Domela Nieuwenhuis, L'Education libertaire
"Temos sido tão programadxs pela megamáquina que é difícil imaginar um mundo onde a cooperação ao invés da competição não nos provocam como sem. Ainda mais difícil imaginar um mundo onde nós somos livres para assumir os nossos prazeres e desejos abertamente. Mas se estas são as comunidades que estão no processo de criação, então devemos ser honestxs, abertxs e desfiadorxs. "
Mae Be
in: um projeto anarquista verde na Liberdade e Amor
foto: "Zero em comportamento" de Jean Vigo

DESEJOS E PRAZERES


desejo que os pássaros que dentro de nós estão voem
e nas mãos cheias de histórias pousem
desejo que os gatinhos, aquela farfalheira asmática que nos peitos se alojam por ansiedades e outros receios, saiam por aí brincando com novelos de lã e deixem os pássaros em paz para que estes voem nos rumos que eles próprios tracem
tenho muito ma muito prazer de acreditar que isso é possível
que as mãos se enruguem de histórias flutuantes e que os voos naveguem nos socalcos da pele
Ana Piu
Br, 14.11.2014

Below of old tree
© W L O T U S

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

COSMONAUTAS DO UNIVERSO PARALELO

'O problema, no amor, não é livrar-se da roupa, mas sim livrar-se do medo"

Subcomandante Insurgente Marcos
in: De Amor e Anarquia Relações libertárias ontem e hoje


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ACERCA DE MISTÉRIOS OUTRAS ABSTRAÇÕES CONCRETAS série: na eterna idade dos porquês


Porque nos dias que (es)correm entupimos-nos de informação para que os entendimentos, as explicações, as análises nos convençam que assim o mundo fica mais claro, mais legível? Porquê essa obsessão de uma suposta racionalidade?
É um mistério não haver espaço para o mistério. Não existe espaço para o mistério nesse mistério que é essa tal de racionalidade levada a um ponto que alguns desconfiam que se torna irracional. Confiar é bom assim como desconfiar também não está mal.
O mistério é aquele ponto em que assumimos diante dessa imensidão que é a Natureza que o que nos resta é tomá-la como uma imensa poesia.
O impalpável, o indizível existem. A imaginação é a capacidade de criarmos imagens. Como a Humanidade necessita de histórias, também necessita de imagens para as mesmas. Para que estas sejam entendidas. Visualizadas. Entender é visualizar. Visualizar é uma experiência. Entender é experienciar.
A cabeça é a parte mais pesada do corpo. Talvez seja por isso que se arroge diante do resto do corpo onde o coração, a alma e a respiração habitam.
A alma esse mistério.
O mistério é aquele espaço poético que flutua entre uma certeza volátil e um facto planante.
Ana Piu
Br, 12.11.2014
esboços do touro para 'La Guernica" de Pablo Picasso





terça-feira, 11 de novembro de 2014

JUNT@S






"(...) Não sou a favor da dominação das mulheres sobre os homens. Feminista  é como machista, mas no feminino. Eu sempre combati com os homens, não contra eles, mas contra a opressão.  Meu combate vai muito além, ele concerne igualmente aos homens. Os dois sexos devem conquistar a liberdade juntos. Não, não, eu não sou feminista, sou mulher. A liberdade da mulher é a condição da liberdade do homem, e vice-versa ; essa é a liberdade como nós libertários e libertárias entendemos. Ela não visa substituir homens por mulheres na hierarquia da exploração, mas sim suprimir a exploração do homem pelo homem, seja macho ou fêmea. É permanecendo juntos, não em oposição uns aos outros, que lograremos êxito. É nisso que nós nos distinguimos daquelas que reivindicam o feminismo e que não questionam os fundamentos desta sociedade."

Sara Berenguer

O PORQUÊ DOS PORQUÊS, ISSO DÁ QUE PENSAR

Aqui há uns dias um amigo informou-me que leu um artigo onde  diziam que  que o maior índice de suicídio em Portugal dá-se no Alentejo. Fiquemo-nos então pelo Alentejo, não precisamos de subir até à Escandinávia. Será que dá para concluir que os polos se encontram? Adiante, estudos apontavam com percentagens e estatísticas que era lá que tanto homens como mulheres punham termo à vida, mas sempre morriam de pé. Ora pendurados numa árvore ou afogados num poço. Na verdade não me apetece procurar esse artigo. Na verdade não tenho paciência nem para percentagens, nem para estatísticas e é uma informação que já a temos há um quinquilhão de anos. Essa falta de paciência talvez seja um problema meu, mas nunca me revi nas percentagens e estatísticas pois nunca ninguém me perguntou nada para nenhum estudo estatistico. chuinf chuinf

Esse meu amigo perguntou se tinha uma ideia das razões. Respondi que já tinha pensado nisso e dei umas três razões: 1. a falta de trabalho e exploração que uns exercem sobre outros; 2. a aridez da paisagem e o calor demasiado que suga energia vital, deixando as pessoas prostradas e deprimidas; 3. a espiritualidade não ser algo verdadeiramente cultivado, apesar de não serem totalmente ateias.

"Acertei" na terceira razão. Pronto, 'tá bem! Mas existem pessoas que são ateias que não se suicidam e pessoas fervorosamente religiosas feitas num frangalho. Não ter trabalho é lixado. Muito lixado! Viver isolado num monte, como o estudo também indicava como sendo uma das causas, também é lixado, mas ainda assim continuo a achar por experiência própria que o calor em demasia acaba com a pessoa. Já a espiritualidade cada vez considero mais que é estritamente necessária. Estarmos conectados com nós mesmos. E nem precisamos de chamar a instituição religiosa ao barulho. Ela que fique no seu cantinho que quem tem de se encontrar pára e fecha os olhos respirando profundamente.

Só para rematar, a última vez que estive no Alentejo, mais propriamente em Évora, mais propriamente em Julho deste ano encontrei uma série de  pessoas que já não via há uns 20 anos. Umas mais desdentadas com a barriguinha da praxe outras mais nos conformes. Enfim, perde-se numas coisas ganham-se noutras. Mas o que me fez muito caso foi o modo de cumprimentar:"Atão tudo bem?! Adeus!" Isto é,  não houve surpresa alguma no reencontro muito menos curiosidade em saber como se passaram estes últimos 20 anos. Isso a mim dá que pensar...

Ana Piu
Br, 11.11.2014

desenho: Álvaro Cunhal





O QUE AS LEITURAS FAZEM, ESSAS MALDITAS!!!!!!


Má Ri Bô concentradíssima durante um minuto, trinta dois segundos e três vigésimos de segundos lê a Emma, a Goldman: "O que de mais escandaloso do que pensar que uma mulher sã, adulta, repleta de vida e paixão, deve negar as exigências da natureza, fazer calar os seus desejos mais intensos..."
Má Ri Bô fecha a "Tragédia da emancipação feminina" e pergunta-se de si para si mesma: "Quem nasceu primeiro o (p)ovo ou a Emma? "
Num passo quase, mas quase trágico, não fora ela tropeçar de vez em quando no espaço vazio, avança rumo a si mesma numa quase certeza de nenhuma certeza ter a não ser as certezas que não tem. Mas não importa! Aí vai ela!
Ana Piu
Brasile, 10.11.2014

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

MÁ RI BÔ, A FÊ MENINA FÊ ME MISTA QUE TRANSITA ENTRE O NADA E COISA E NENHUMA BUSCANDO O ESPAÇO VAZIO INSERIDA NO ESPAÇO VAZIO


Já dizia a sua avó:" Tens de ser uma senhorinha!" Já dizia a sua mãe:" Juízo! Juizinho!" Má Ri Bô atenciosamente escutava atentamente as palavras das suas ancestrais, mas sempre tomando-as na sua lógica peculiar. No peito levou tais conselhos que hoje, numa intelectualidade que transita entre o emocional e físico, ginga com esses conceitos. Descategorizando-os. Enfim, Má Ri Bô nasceu assim, ela quase sempre foi assim. Sempre Má Ri Bô.
Maria Bonita na certidão de nascimento.
Ana Piu
Brasil, 07.11.2014

Má Ri Bô, uma boa ouvinte aprendendo a ser uma senhorinha
Má Ri Bô tomando as palavras em seu peito treina para ser uma senhora. A saia torta é estilo.
A ginga de Má Ri Bô. A saia torta é estilo.
fotos: 1o Encontro Internacional de Mulheres Palhaças de São Paulo, Outubro de 2014

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

MÁ RI BÔ NO ESPAÇO VAZIO


Má Ri Bô nunca leu "O espaço vazio" do Brook, do Peter Brook. Leu umas frases soltas e quando alguém cita o Peter ela acena levemente com o queixo e esbugalha o olhos. Não diz nem que leu nem que não leu. Se dá cita as frases que decorou. Má Ri Bô é assim, nasceu assim. Sempre Má Ri Bô. Aliás, Maria Bonita na certidão de nascimento.
Ana Piu
Brasil, 06.11.2014
fotos: 1o Encontro Internacional de Mulheres Palhaças de São Paulo, Outubro de 2014
Má Ri Bô, a preto e branco, pueril e inocente 

Má Ri Bô avança decidida no espaço vazio ainda a preto e branco 
A cores Má Ri Bô mostra a sua essência essencialmente essencial

terça-feira, 4 de novembro de 2014

ALENTEJO PROFUNDO

Muita gente por aí fica indignada que hoje no Brasil as pessoas queiram participar democraticamente no rumo das suas vidas. Uma ou outra pessoa dessa muita gente são minhas amigas, das quais muito carinho e respeito sinto. Apesar dessas variantes de valores e visões do mundo outros valores nos unem, como do respeito, carinho, ajuda e amizade.

Umas vezes poderemos ser empregados, outras empregadores. A vida dá muitas voltas, porém não esquecer de olhar ao redor e calçarmos os sapatos dos outros não deixa de ser deveras importante.
Muitas vezes ponho-me a pensar se tivesse nascido em outro contexto social, cultural, politico e familiar como seria eu hoje a dia quatro de Novembro de 2014 às 15.53 do horário de Brasília. Como seria eu hoje acabadinha de receber um número que me permite numa validade de nove anos renováveis circular, trabalhar neste novo Continente, que antes de ser novo já era milenar. Já tinha a sua História e o seu povo ancestral.

Parte das minhas raízes estão no Alentejo profundo, celeiro ao sul de Portugal durante a noite escura do fascismo. Alentejo esse hoje desertificado, saturado cuja reformara agrária sorriu de leve antes da chegada da União Europeia. União essa que veio para esfrangalhar a pouca produção agrícola e industrial no país. Enfim, agora estou cansada. Não sei se hei-de festejar o facto de ter recebido o tal número que me desentrava a vida ou se dormir profundamente para depois acordar revitalizada. Porque todos nós merecemos ser felizes e vivermos dignamente do nosso trabalho e quem achar o contrário das duas uma: ou não vê o filme por inteiro ou não vê o filme por inteiro e concentra-se somente nos seus interesses. Há uns dias uma menina dos seus 14 anos disse-me: "Tu defendes todos porque estás numa situação mais vulnerável. Se tivesses numa situação melhor pensarias de outra forma." Respondi:" Aí é que bate o ponto! Pensarmos no coletivo só quando nos convém é igualmente egoísta como pensarmos só em nós quando achamos que não precisamos do coletivo. E muitos desses valores foram-me passados no seio familiar. Mesmo quando estamos bem não esquecer do todo."


Ana Piu
Brasil, 04.11.2014

obs: nunca fiz parte do Partido Comunista. Não sou comunista, embora subscreva alguns valores, filtrando os autoritarismos e dogmas dos mesmos. Porém, considero que para lá dos partidos existem as pessoas cujos valores e seus heroísmos merecem homenagens. Como tal, homenageio o Álvaro Cunhal, que advogado e filho de famílias abastadas, soube olhar o seu país e nomeadamente o Alentejo dos meus avós com um olhar humanista.







segunda-feira, 3 de novembro de 2014

DEAMBULANDO PELA AVENIDA PAULISTA

"Ao apresentar o trabalhar dei o meu ponto de vista que ia contra ao que se esperava e agora sou mal visto  lá na área."Riu um riso desafiador como quem diz que ao mesmo tempo que já esperava que isso acontecesse, até que nem se importa. Ela riu-se, entre o surpreso e traquinas. "Olha! Fazer o quê? Estamos juntos positivamente no quintal do racional entre o positivista e um punhado de alpista. Sigamos o nosso caminho sem medo nem de ser, nem de viver, de saber e de perder. Um dia sabemos que vamos morrer então escolhamos a sabedoria, que o conhecimento analítico paralitico é uma parte do conhecimento que se tornou mítico. Só isso."

Despedimos-nos. O mal visto vai ver uma peça de teatro, a persona non grata vai ver a exposição do Laerte. Último dia. Laerte está lá, elegante e sóbri@ na sua feminilidade, a dar uma entrevista. O autor dos piratas do Tietê não teme ser quem é, quer gostem, quer curtem, quer não. De um humor sarcástico, mordaz, incisivo mostra-nos numa sala 40 anos de desenhos inquietantes, militantes, estimulantes, intrigantes, avassaladores.
Que bom não temermos @ Laerte que há dentro de nós, cada um do seu jeito maneira, pois cada ser é único e tem a liberdade de ser quem é, de pensar e ter sentido crítico. Mesmo que não agrade a gregos e troianos e que eventualmente a sua voz não seja desejada. Que se likse!

Ana Piu
Br, 03.11.2014