domingo, 14 de janeiro de 2018

DÉCIMA NOITE: AUTO PERDÃO ACERCA DAS DISTORÇÕES DO FEMININO E MASCULINO DISTORCIDO

Naquela noite caminharam durante muito tempo. Em torno duns 6 a 7 meses debaixo dum céu cujo sol se cobria com um véu.  Estavam perto do Polo Norte. Não se sabe ao certo se na Islandândia que é a terra do do gelo, se na Gronelândia que dizem que é a terra pai Natal para uns, papai Noel para outros.
Ali parados. em cima dum bloco de gelo deram as mãos na esperança que esse bloco flutuasse até um outro bloco que assegurasse terra firme. Já em terra firme cada um tirou a sua garrafa para nesta meter as suas mensagens acerca do que desejavam se descartar para mais leves seguirem. Mensagens de auto perdão acerca desse tal feminino e masculino distorcido que a maioria de nós não tem consciência que traz dentro de si. Mas quando alguém nos alerta para tal facto, num primeiro momento ficamos boquiabertos com uma babinha a escorrer no canto inferior esquerdo e até mesmo direita da boca até ao queixo, seguindo para o umbigo. Depois ficamos assombrados e até recusamos que também somos assim. Para depois erguer a cabeça com dignidade e olhar de frente o que é para enxotar.

Cada um e cada uma escreveu uma carta de auto perdão para jogarem à gélida e antártica água. Uma carta de duas frases que sintetizasse tudo aquilo que queriam que fosse embora. Escreveram em silêncio sem conversetas penduretas.

A mulher menina de olhar sério, mas doce escreveu: Amando-me peço licença para que tu, criança interior e inocente que trago dentro de mim, perdoe-me de ter boicotado a minha felicidade e a dos meus queridos desconfiando na palavra amor que nos faz abraçar com ternura e desapego mantendo vínculos duradouros baseados na verdade e somente na verdade, transparência e confiança.

A menina mulher de olhar irreverente, mas transpirando subtilmente insegurança escreveu:
Amando-me peço licença para que tu, criança interior e inocente que trago dentro de mim, perdoe-me de me comparar com as minhas companheiras, irmãs, mulheres achando que o meu status insolente juvenil do meu restrito mainstream é mais esplendoroso que essas companheiras, guardiãs da cura do feminino e do masculino.

O jovem homem escreveu: Amando-me peço licença para que tu, criança interior e inocente que trago dentro de mim, perdoe-me por todas os pensamentos,  palavras, ações invasivas que cometi para com outros, nomeadamente para com quem amava e não sabia lidar com esse amor que por mim era boicotado, culpabilizando/responsabilizando terceiros desse mesmo boicote.

O outro homem ainda escreveu: Amando-me peço licença para que tu, criança interior e inocente que trago dentro de mim as vezes que fui boçal e desdenhei da dignidade dos seres vivos e da igualdade, solidariedade e fraternidade e do valor do trabalho de outros seres humanos achando que isso era coisa de komuna (!?.....) ou outra coisa que achava que não era digna para a lavagem cerebral que me deram desde a escola, passando pela tv e cinema

Uma mulher e um homem e mais outro homem e também uma mulher ainda escreveram, como por magia, a mesma coisa: Amando-me peço licença para que tu, criança interior e inocente que trago dentro de mim para não ter mais mais medo de amar na plenitude, respirando profundamente de olhos fechados e também abertos para que crie espaço para tudo o que é criativo, criador, desconstrutivo de verdades e pequenas certezas que subscrevem relações de poder. Que quando nos colocamos no lugar da vitima é feminilidade distorcida e quando nos colocamos no lugar do inspetor Smart Espertalhuço Que Te Vou Apanhar Em Flagra não passa de masculino distorcido.

Depois uns leram para os outros o que escreveram. O jovem homem que escrevera sobre ser invasivo não se pronunciou. Todos respeitaram, pois invadir a intimidade alheia merece auto perdão sem julgamentos exteriores.

Decidiram, então, por questões ecológicas e práticas que as mensagens seguiriam todas numa mesma garrafa, pois todos, de uma forma ou outra, padeciam das mesmas dores que necessitavam transformar em amor.

Em silêncio viram a garrafa partir. Nas restantes encheram de água límpida, de desejos, pensamentos, palavras, ações, gestos líquidos. E o sol da meia noite surgiu no céu. Nunca duvidar que este  aparecerá. Aparece sim, quando por dentro nos limpamos de tudo o que é tóxico e nos pesa impedindo-nos de abraçar e voar. Amar e deixar amar.

A Piu
Br, 14/01/2017




sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Tia Habiba dizia que qualquer um pode criar asas. Era só uma questão de concentração. As asas não precisavam ser visíveis como as dos pássaros; asas invisíveis eram tão boas como as outras, e, quanto mais cedo a gente se concentrava em voar, melhor. Mas quando lhe implorei que fosse mais explicita, ficou impaciente e me disse só que certas coisas prodigiosas não podiam ser ensinadas. " O que é preciso é você ficar alerta para o chiar da seda do sonho alado, a fim de não deixar que escape", disse-me. E deu-me a dica, ainda, de que havia dois pré-requisitos para criar asas: " O primeiro é sentir-se rodeado por um círculo e o segundo é acreditar que você pode romper o círculo. " (...)
" Uma terceira condição, pelo menos no que lhe diz respeito, minha querida, é que você pare de bombardear as pessoas com perguntas. Observar é também uma boa maneira de aprender. Escutar calada, com os olhos abertos e os ouvidos vibrantes pode trazer magia para a sua vida do que todo o tempo que você passa naquele terraço bisbilhotando de olhos postos em Vênus ou na lua nova." (...)
Também me sentia orgulhosa por compreender que a magia, como o sorvete, tinha muitos sabores entre mim e as estrelas; outro, mais esquivo, em apurar o foco mental em sonhos fortes e invisíveis, para estender as asas do meu íntimo para fora.
Mernissi, Fatima " Sonhos de transgressão, minha vida de menina num harém". Companhia das Letras. SP: 1996
foto: Goa Style

Foto de Ana Piu.

NA CAMINHADA DO DESPERTAR D@S MÁGIC@S ( titulo A Piu) HOMEM DESPERTO- Juh Alves Asha




Quando encontrar um homem com o masculino curado tenha cuidado, pois será um teste para verificar a cura do seu feminino. Nada mais será como era antes. Ele não irá alimentar o seu ego.
Ele trará mudanças: irá lhe desconstruir, tirará seu chão e o seu controle, até sobre si mesma. Ele chegará e não conseguirá mandá-lo embora porque ele é a sua cura: mostrará onde precisa de mudança e arrancará de ti aquelas que tem adiado. Desafiará-lhe porque sabe que existe mais dentro de ti, sabe que tem barreiras a serem quebradas: seus medos, seus receios, suas "frescuras"... E depois de alguns surtos internos, de não entender o que estará acontecendo, de ficar anestesiada, vai ainda tentar manter o padrão. Mas ele veio justamente para transpô-lo. 
Com o passar do tempo entenderá que ele sabe se colocar, que o sexo não o manipula porque tem controle sobre seus instintos, ou melhor, transcendeu os pequenos desejos de prazer próprio.
Ele fez as pazes com suas raízes, buscou se encontrar, entregou-se para a própria missão, entrou na caverna de suas sombras e as conhece.
Ele está disposto a estar contigo para multiplicar tudo de bom que os habitam. Ele segurará sua mão, colocará-lhe em seu peito todas as noites e irá contigo até o fim do mundo.
Ele sabe que sua companheira é o reflexo exato do feminino dele que precisa de cuidado e fará o necessário pela harmonia de ambos, para trilharem juntos, lado a lado, um caminho de cura e despertar.
Encontrará em você a amorosidade que faltava nele, essa energia feminina tão preciosa e por isso ele lhe será grato: por você ser a manifestação da Lua na Terra. E você irá honrá-lo por ser o seu Sol.
Em tudo estarão juntos: amando, crescendo, buscando e encontrando em si e um no outro o sentido de uma existência plena de compartilhar.
O tempo aqui não fará sentido, pois retornarão um caminho que já trilharam, tão antigo quanto a sabedoria que carregam dentro de si. Nada externo poderá atrapalhar vocês, pois a unidade de duas energias complementares e opostas forma um encaixe perfeito para cocriar tudo que desejam.
Lindos frutos de amor, cura e despertar serão colhidos depois de semeados por tanto tempo e se espalharão ao redor.
À você, desejo este homem, pois ele é a sua cura.

MULHER DESPERTA- Sophie Bashford




Se escolher amar uma mulher desperta, entenda que estará entrando em um território novo, radical e exigente. 
Se escolher amar uma mulher desperta não poderá continuar adormecido.
Se escolher amar uma mulher desperta cada parte da sua alma será despertada, não apenas seus órgãos sexuais, mas também seu coração. 
Mas, se pretende uma vida normal, siga com uma mulher normal.
Se deseja uma vida dócil, encontre uma mulher que decidiu ser submissa. 
Se deseja apenas mergulhar o dedo do pé nas águas que correm de Shakti, mantenha-se com uma mulher correta, que ainda não mergulhou na fúria do oceano sagrado feminino. 
É fácil amar uma mulher que ainda não ativou seus poderes sagrados internos, porque ela nada exigirá.
Ela não te porá à prova.
Ela não exigirá que te tornes o mais alto Ser que podes ser.
Ela não acordará as partes esquecidas e anestesiadas do seu Espírito pedindo que se lembre que há mais possibilidades de vida do que isso.
Ela não vai olhar fundo em seus olhos cansados e enviar raios de Verdade através do seu corpo, balançando-o acordado e sacudindo seus desejos perdidos há muito dentro de você.
Se isso não for suficiente para você - se o seu coração, corpo e espírito anseiam pela "Outra Mulher" - então deve saber que está prestes a transformar a alma. Deve saber que está fazendo uma escolha séria com consequências cármicas. Pois, se decidir adentrar a aura e o corpo de uma mulher cujo fogo espiritual está queimando, então saiba que estas ansiando por um certo nível de risco e perigo, com o propósito de crescer.
Uma vez que começa a amar uma mulher dessa natureza você deve aceitar a responsabilidade.
Sua vida não será mais confortavelmente sonolenta o tempo todo. 
Sua vida não permitirá que fique preso aos velhos sulcos e rotinas estagnadas, pois ela - A Vida - assumirá radicalmente novo sabor e aroma.
Você será inflamado pela presença do selvagem feminino e irá sintonizar-se com o chamado Divino.
A escolha de ser sexualmente e amorosamente íntimo de uma mulher desperta, é para os homens que precisam de coragem para caminhar sem medo do desconhecido. 
Mas esse homem, vai colher recompensas além da compreensão da sua mente. Ela o levará a mundos desconhecidos de mistério e magia. 
Ela vai levá-lo hipnotizado e meio entorpecido de amor, às florestas selvagens do êxtase sensual e de admiração. 
Ela não vai fugir da sua "escuridão", porque a sua escuridão não vai assustá-la. Ela falará palavras que a sua alma entende.
É um risco enorme amar uma mulher desperta, porque de repente não há um lugar para se esconder. 
Ela vê tudo, para que ela possa amar com profundidade. 
Amar uma mulher como essa é escolher começar a viver com a sua alma no fogo.
Sua vida nunca mais será a mesma, uma vez que convidou essa energia para entrar.
Certifique-se, caso escolha amar uma mulher desperta de que escolheu por não passar o resto da vida olhando para trás sobre o seu ombro, tentando enxergar mais uma vez a visão turva de mistério feminino que desapareceu de sua vista. Pois ela terá voltado para as estrelas e galáxias distantes do céu... de onde ela veio.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

NONA NOITE: CHORO COMOVIDO

Cruzaram-se por mero acaso na rua. Mas existem acasos ou meros acasos? Pah! Ali ficaram olhando-se olhos nos olhos. Primeiro foi aquele  vacilo. Fico? Não fico?  Bem... Bora lá. Por acaso. Bom.... Quase por acaso. Cada um vinha a roer uma cebola. Vai-se lá saber porquê... Para ficar com um hálito à maneira para que não seja qualquer um ou qualquer uma entrar nessa aventura do beijo. Nem se quer dum abraço. Mas um deles logo disse: " Eu como cebolas para esparantalhar maus espíritos. Esses que acham que chegam para ficarem. Devem ter  a mania. "
Pronto. Logo ali começaram a rir até às lágrimas.

Olharam-se. Observaram-se. Sentiram-se à distância. Sim, vai que a energia está meio difusa!... Entraram em sintonia no respirar. Mergulharam na menina dos olhos um do outro e comoveram-se. A simplicidade e a empatia é comovente. Um mundo. Um universo cósmico. Gósmico não. Que a gosma é muito chata e faz mal ao garganiço. Sorriram docemente. Sim, que doçura não é sinónimo de submissão e sim de cumplicidade!

Aos poucos as mãos que seguravam as cebolas foram relaxando e estas caíram por terra, abrindo-se em leque. Deixando à vista as várias camadas que as constituem. Era exatamente o que acontecia ao se olharem demoradamente. As camadas iam caindo. De mãos livres tocaram delicadamente nas pontas dos dedos como se nas impressões digitais viesse escrito: gentileza gera gentileza. Depois aproximaram-se mais e num abraço sentiram o batimento do coração do outro. E assim ficaram comovidos de alma lavada. Sim, que chorar lava a alma seja quando nos rimos muito, seja quando é para deixar ir o que é para ir porque pesa. Somente leves podemos ser livres e voar individualmente, em dupla e até mesmo em bando. Depois deram as mãos e correram até levantar voo a perder de vista. Sem limites. Pelo menos é o que contam. Quanto ao beijo? Ninguém estava lá para testemunhar! Vai saber! ;)

A Piu
Br, 09/01/2018

domingo, 7 de janeiro de 2018

OITAVA NOITE: DESCONSTRUÇÃO. CAEM AS MÁSCARAS. REGRESSO AO LAR

Nessa mesma noite, em que tudo parecia acabar o que nunca tinha começado como uma bizarra viagem de assombro onde  caminho de volta para casa mais que urgente era necessário, aconteceu algo revelador, rejuvenescedor, incrivelmente revitalizante. Aquele código de barras invisível que trazemos no chip da nossa inteligência emocional desformatou todo. Na realidade, se é que não existe mais que uma realidade, o código de barras eram os padrões de comportamento que não mais serviam como se de máscaras se tratassem que impediam o encontro intimo, profundo e amoroso com o Eu espiritual. Esse Eu que acolhe. Um Eu sensual, porque inteiro e digno duma existência plena, honrando cada detalhe, cada instante. Fechou suave e docemente os olhos. Sorriu para a vida de peito aberto. Encarou-a de frente. Disse SIM com todas as letras. Um Sim sincero sem o jogo da dúvida, do olhar enviesado, o corpo retrocido. Caso contrário era um NIM, que é uma mistura de SIM mais NÃO.

E as máscaras foram caindo. Caiu a máscara da serenidade que escondia aquele frenesim interior com o seu ruído mental e suas ruminações emocionais. A máscara da bondade também se derreteu. Aquela que parece, mas não é, como qualquer máscara que usamos socialmente para no fundo fugirmos de nós. Da lonjura que criamos para nós mesmos para não estarmos no nosso lar, esse templo que é o nosso corpo, alma e espírito. Mas o auge foi quando a máscara do poder caiu, aquela onde a masculinidade e feminilidade distorcidas se chocam numa valsa grotesca entre relações de poder que tolhe a liberdade do gesto cuidadoso e pleno de carinho. Foi um alivio tão grande cair essa máscara que tudo quer controlar, que diz NÃO ao invés de dizer SIM de peito aberto, frontal com os pulmões esvaziando  e enchendo-se de ar. Quando essa respiração profunda passou a fazer parte da rotina voltou para casa, ao seu lar, abraçando todos aqueles que amava e o seu grande amor com serenidade e entusiasmo. Tudo agora estava fluidamente ao alcance. Porquê? Porque as máscaras tinham caído. Evidentemente como a água ser H2O. Límpida, cristalina e potável. Agora no seu novo código de barras vinha escrito: o amor cura.

A Piu
Br, 07/02/2017

sábado, 6 de janeiro de 2018

SÉTIMA NOITE: ASSOMBRAMENTO MAIS O DELICIOSO ASSOMBRO DA LUA

Sábado à noite. Oh... Havia o ' saturday night fever'. Mas era uma febre!... Uma febre daquelas. Que febre era aquela que olhava para todo o lado e não entendia, ou quase tudo, ou tudo ou mesmo nada? Estava assombrado, desconcertado, baralhado, desmunnhecado, assarapantado. Sentia-se febril e olhava para a lua. De repente, eis se não quando, assim uma coisa meio qe muita estranha: um astronauta mais um cosmonauta no cima da lua à bandeirada a dizer que tiham chegado primeiro. Um com uma coca com vodka em punho, outro com um cuba libre em riste. Um pé de vento que se armou ali. Uma guerra fria que ali se armava. Sim, que na lua faz muito frio mesmo com roupa da Decatelô para mora no céu. Ah pois! Para irmos para  o céu temos que ir agassalhadinhos, quentinhos, emocionalmente acalorados. É O MÍNIMO! O resto a gente dá o jeito!
Mas o homem ainda estava pouco confiante. E a mulher? Oh! A mulher mascava uma chicle de banana misturada com chicle de menta e hortelã e "dezia": Ai chavalo! Deixa-te de coisas. Muito medo para pouco encontro olho no olho. Se liga, rapaz!" E o rapaz? Ficou assombrado. E o que ele fez? Foi dormir de olhos abertos. É isso que acontece a quem é miaufa, uma espécie de " tá quieto, não me empurres!". E assim vivia de assombro em assombro sem conhecer o sabor delicioso das caricias da lua em noites teleoáticas, mas nada apáticas. Até ver. Até ver. Nem o deus nosso senhor nos dá certeza de nada! Quanto muito que um dia findamos corporeamente. Mas isso fica para depois! Agora! Agora! ESTAMOS VIV@S!

A Piu
Brasil, 06/01/2017


A REVOLUÇÃO DA SENSUALIDADE

No fundo, no fundo, entretanto, com a vida das feministas era que, nelas, o caNto e a dança tinham participação insuficiente. Chama podia gostar de encená-las, mas a plateia apreciava muito mais assistir a Asmahan ou a uma das aventureiras de Mil e uma noites. Pelo seguinte: essas histórias tinham muito mais amor, mais sensualidade, mais aventura.  As vidas das feministas pareciam girar, todas, em torno de lutas e de casamentos infelizes- nunca sobe momentos felizes e as belas noites- enfim, sobre aquilo que lhes dava forças para ir em frente. "  Todas essas damas superativas foram pioneiras das ideias novas fascinavam o homens árabes", dizia tia Habiba. " Os homens viviam apaixonando-se por elas, mas jamais ouvimos suma só palavra sobre os abraços envolvidos nessa sedução, seja porque as feministas os consideravam politicamente irrelevantes, ou porque censuravam a si próprias, receosas de serem julgadas imorais." (...9 Qualquer que fosse a razão, decidi ali na mesma hora que, se algum dia eu estivesse à frente de uma luta de libertação das mulheres, com toda a certeza não deixaria de lado a sensualidade. Como dizia tia Habiba, " para que alguém rebelar-se e mudar o mundo se não for capaz de conseguir  que está falando em sua vida? E, sem dúvida alguma, o que está faltando em nossas vidas é amor e sensualidade. Para que que organizar uma revolução se o novo mundo vai ser um deserto emocional?!

Mernissi, Fatima " Sonhos de transgressão, minha vida de menia num hárem". Companhia das Letras. SP: 1996

Fatema Mernissi ou Fátima Mernissi (Fez1940 - Rabat30 de novembro de 2015) foi uma socióloga e feminista marroquina.
Como feminista islâmica, Mernissi estava em grande parte preocupada com o Islã e os papéis das mulheres nela, analisando o desenvolvimento histórico do pensamento islâmico e as suas tendências actuais. Através de uma investigação detalhada sobre a natureza da sucessão de Maomé, ela lançou dúvidas sobre a validade de alguns hadices e, portanto, a subordinação das mulheres que ela vê no Islã, mas não no Corão. Na sua opinião, o ideal muçulmano da "mulher silenciosa, passiva e obediente" não tem nada a ver com a autêntica mensagem do Islã. Pelo contrário, é uma construção dos ulemas, os juristas-teólogos masculinos que manipularam e distorceram os textos religiosos para preservar o sistema patriarcal.
Ela escreveu extensivamente sobre a vida dentro dos haréns, do gênero e das esferas pública e privada. Como socióloga, Mernissi realizou principalmente trabalhos de campo em Marrocos.

Homens destacam mulheres de mérito excepcional e as colocam em um pedestal para não terem que reconhecer as capacidades de todas as mulheres. ( Huda (ou HodaSha‘rawi (em árabeهدى شعراوي Hudá Sha‘=

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

YEAH, ICH SUIS ANA & JE PEUX IMAGINAR QUE LA VITA ES HABIB UNT L'EUROPE ES UN AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Os allemane ( alemães) eram cristãos, sobre isso não havia a menor dúvida. Viviam o Norte como todos os outros, ao que chamamos de Blad Teldj ( Terra da Neve ). Alá não favoreceu os cristãos: seu clima era severo e frio. o que os tornava soturnos, e, quando o sol ficava muitos meses sem aparecer. hostis. Para aquecer-se precisavam de beber vinho e outras bebidas fortes, daí a agressividade, daí começaram a procurar encrenca. Às vezes, entretanto, eram dados a tomar chá, como qualquer pessoa, mas até o chá de eles era amargo e fervente, em nada parecido com o nosso, sempre aromatizado com absinto ou mirto. Primo Zin, que visitara a Inglaterra, diia que por lá o chá ea tão amargo que misturavam com leite. Samir e eu um vez pusemos um pouco de leite no nosso chá de menta, só por experiência, e ficou argh!  um horror! Não admira que os cristãos  sempre se sentissem uns desgraçados, sempre procurando briga.

O caso foi que os allemane, os alemães, prepararam secretamente, durante muito tempo, um tremendo exército. Ninguém sabia nada a respeito, e um belo dia eles invadiram a França. Dominaram a França. Dominaram Paris, a capital francesa, e começaram a dar ordens exatamente como os franceses faziam connosco em Fez. Mas nós ainda tivemos a sorte porque pelo menos os franceses não apreciavam a nossa medina, a cidade de nossos antepassados, e construiram a Ville Nouvelle para uso deles próprios. Perguntei a Samir o que teria acontecido se os franceses houvessem gostado da medina, e a resposta de meu primo foi que eles nos teriam posto para fora e ficado nas nossas casas.

MERNISSI, FTIMA " Sonhos de transgressão,  minha vida de menina num harém". Companhia das Letras. SP: 1996


terça-feira, 2 de janeiro de 2018

SEXTA NOITE: INTROSPECÇÃO ACERCA DO QUE FICA E DO QUE VAI PARA QUE AS MÁSCARAS CAIAM

Aquela foi a mais longa noite de todas. Queria fugir de si, mas não havia escapatória. Sentia-se cansado e o corpo não se movia de maneira nenhuma. Era como se uma mão invisível o  empurrasse para baixo e lhe dissesse " Fica. Fica e olha o quão te tens visto distorcido. Que ideia fazes de ti e de tudo o resto' Fica e observa-te." Um turbilhão de imagens, ideias, falas, ruminações mentais compunham essa orquestra cacofónica. Perguntas. Supostas respostas. Justificativas. Argumentações. Contra argumentações. Bla bla bla bla. Primeiro deitado sobre a sua cama, depois na terra fofa cá fora enquanto pingava. Depois de cócoras, aquela posição universal para expelir o que  trazemos dentro de nós. Sejam bebés,seja o intestino grosso a pedir alívio. E como o seu intestino grosso andava prensado, assim como o estômago! É aí que  as noias se congregam. Malditas noias que parecem cadeados no respirar!

Agora estava ali, num compromisso pessoal. Vou ficar, respirar e esvaziar. No inicio tudo era o vazio. Esse imenso espaço sideral era o caos e o vazio. Do vazio surge o discernimento. O que é do que  não é. É no vazio que a voz do coração surge. Suave e certeira sem certezas absolutas. Diante do seu caos era como se estivesse à beira dum precipício. Olhando aquele imenso abismo que era o que  desconhecia acerca de si mesmo ficava com vertigens. Ninguém exterior a si próprio apontava o certo ou o errado Era ele mesmo, nesse processo de introspecção, que se tocava. Assombrou-se. Agora restava-lhe abraçar a sua sombra para depois se desconstruir e permitir que essas inúteis máscaras, que não o favoreciam em nada, caíssem. A sua beleza era muito maior que isso. Não existe beleza que consiga se enformar em estreitas máscaras. Há as máscaras que servem para ampliar o gesto e a ação, assim como a emoção. Mas essas são máscaras do teatro. O teatro é uma resignificação da vida. Mas que cansativo seria passarmos os dias inteirinhos a atuar commedia dell arte!.... O teatro é um dos rituais da vida e o homem andava a se esquecer de viver mais perto de si mesmo. Urgia que essas máscaras dessem o pinote. Caíssem fora. Que a vida não é uma farsa, apesar de vez em quando parecer. Honrar é uma palavra antiga, mas que não pode cair no esquecimento, concluiu o homem após várias introspecções.

A Piu
Br, 02/01/2017











QUINTA NOITE: LETARGIA E O DESPERTAR DOS MÁGICOS

Ali estava prostrado naquela longa noite escura. O coração ora batia devagarzinho, ora batia acelerado feito um cachorro louco que abocanhava os seus próprios calcanhares.  O mágico tinha esquecido da sua própria mágica, então auto sabotava-se, criando um emaranhado em crochê de polyester que nem de almofada servia. Muito menos de agasalho para se cobrir. Foram anos nisto! Anos!

Era como se todas as estrelas que vislumbrasse fossem meramente aquelas luzinhas vermelhas aeroplânicas que rasgam o céu, mas não são estrelas que ficam lá acompanhando a noite escura e a aquecendo. Essa letargia devia-se ao facto do mágico, que trazia a fórmula mágica dentro de si, não confiar o suficiente em si, no  ímpeto de se levantar tranquilamente, caminhar e acender essa tal luzinha interior que ilumina o seu caminho e enxerga com olhos de ver o amor. Inconscientemente considerava que não merecia ser feliz e também nunca ouvira falar de sagrado masculino!!! Uma vez alguém lhe disse que isso era coisa de maricas... Muito mais tarde percebeu que nós também somos as amizades que estabelecemos e o que não nos alimenta temos o dever de lançar para o universo e transformar dor, atrofio emocional em dom. Tudo se transforma quando estamos dispostos a despertar para nós mesmo, descobriu o mágico quando na sua longa caminhada compreendeu que o amor que cultivamos dentro de nós é aquele que vamos atrair para nós mesmos com simplicidade e muita humildade.


Por mais que isso pudesse vir em escrituras sagradas, o mágico só entenderia que era mágico e que todos os acontecimentos seriam amorosamente mágicos quando estivesse disposto a fazer o caminho de volta para casa, para si mesmo, para a sua essência. Isso era essencial para a fluidez dos dias e das noites, também. E aí sim! O mágico atrairia boa aventurança. Transparente, leve e sem medo do depois. Abrindo essa porta, muitas outras se abririam como brisa fresca, morna e acolhedora ao nascer do sol. Essa grande estrela, cuja terra é sua filha. E ele, o mágico, filho da mãe terra que nos dá os alimentos e a oportunidade de estarmos vivinhos da silva Sem essa gratidão definhamos em letargia. E ninguém deseja isso para si mesmo. Pois não é? Se deseja, precisa dum abraço muito profundo para não desejar mais. E um encontro com um abraço é muito bonito. Que de feiúras... Lança para o cosmicómico.

A Piu
Br. 02/01/2017

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

TERCEIRA OITE: RESSENTIMENTO E PAZES COM A VIDA

- Tens ressentimento por alguém?
- Não sei... Deixa pensar.
- Eu tenho pelo sistema neo liberal que torna as pessoas insensíveis; nada empáticas.
- Isso parece frase de adolescente em livro de matemática do nono ano.
- É verdade, mas o sistema neo liberal tem uma lógica adolescentoide. É alógica da efemeridade.
- Mantens amigos da tua adolescência?
- Mantenho. Claro! Não é assim tão claro... mas mantenho. Anda aí um que ando para mandar à merda há um tempo (ai que não é nada politicamente correto muito menos espiritual dizer isto, mas agora saiu-me). Um que se faz de esquerdoide. E a reforma agrária isto e aquilo, mas outro dia ( deve ter bebido uns shots nos entretanto) escreveu uma cagada no facebook super misogena, machista fedorenta.
- Estás ressentida?
- Se quiseres  chamar assim, estou. Não é espiritual sentir nojo? Mas olha que eu já vomitei muito em trabalhos espirituais e tudo ficou na paz. Também sinto que não é nada espirititual apontar as sombras alheias e dizer: " Ai que horror! Não és nem paz nem amor! " Para mim não é paz nem amor fingir paz e amor quando se sente dor e não se faz nada para curar esse sentimento que nos atormenta, muito menos apontar as vulnerabilidades alheias que carecem dum abraço solidário. Dispenso quem não é solidário ou só o é por conveniência. Cu para eles!
- Tás em paz contigo?
- Estou! Já disse o que tinha a dizer por hoje! E gratidão por me escutares. Gratidão do fundo do coração! Obrigada por escutares palavrões da minha boca. Sinto alivio. Cnsa tanta espiritualidade asséptica de shopping. Curei uma parte do meu ressentimento para com a falta de empatia em que eventualmente podemos viver. Obrigada, gratidão aos empáticos!

A Piu
Brasil, 02/01/2018

O BRILHO DA FELICIDADE AO LUAR #

" Eu erguia a cabeça e olhava para ela com o rosto sério e perguntava o que significava ser cem por cento feliz, porque queria que ela soubesse que me esforçaria ao máximo para alcançar isso. Felicidade, explicava ela, era quando uma pessoa se sentia bem, leve, criativa, satisfeita, amando e amada, e livre. Uma pessoa infeliz se sentia como se houvesse barreiras a esmagar os desejos e os talentos que ela trazia dentro de si. Uma mulher feliz era aquela que podia exercer todo o tipo de direito de criar, de competir, de desafiar, e que ao mesmo tempo podia sentir-se amada por exercê-los. Fazia parte da felicidade ser amada por um homem que apreciava a sua força e sentia orgulho pelos seus talentos. A felicidade tinha a ver com o direito à privacidade, a retirar-se da companhia dos outros e recolher-se na solidão contemplativa. Ou simplesmente ficar no seu canto, sozinha, sem nada fazer um dia inteiro e não ter que justificar-se nem se sentir culpada por isso. Felicidade era a pessoa estar junto com entes queridos, sabendo entretanto que existia como um ser em separado e não estava ali apenas para fazê-los felizes. Felicidade era quando havia um equilíbrio entre o que se dava e o que você recebia. (...)
Para mim, uma menina, almejar cem por cento de felicidade parecia um tanto excessivo, principalmente tendo visto o esforço que custara a mamãe esculpir os raros momentos felizes. Quanto tempo e energia ela investiu na criação dessas maravilhosas noites enluaradas, sentando-se do lado do meu pai, falando-lhe suavemente ao pé do ouvido, a cabeça pousada em seu ombro! Parecia-me uma façanha prodigiosa (...) "
Mernissi, Fatima "Sonhos de transgressão, minha vida de menina num hárem" Companhia das Letras, SP: 1996.
# titulo: Ana Piu

Adicionar legenda
Felicidade é não perdermos a nossa criança interior.

A Piu in Estoril, Portugal aos 3 anos e troca o passo.



Felicidade é fazermos o que gostamos e partilhar esse prazer.

A Piu in Holanda em 2010 com Teatro Ka e o espetáculo " " Uruboro" dirigido por Judite Da Silva Gameiro