terça-feira, 31 de agosto de 2021

O CAMINHO DO CORAÇÃO NÃO É UMA MODA E SIM UMA NECESSIDADE

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Quem nunca foi aborrescente? Hmmmm?! Hmmmm?,,,, Aquela pessoinha que acabou de pôr os palitinhos ao sol, tal qual caracol/ caramujo e acha que ninguém sabe nada de nada, além de ninguém a compreender. Acha os adultos "nada a ver" e também não se encaixa na galerada da sua idade.  Não se encaixa nela própria. Ahhhh ahhhh ESSA CARA SOU EU! E 'vocesses" nasceram prontos e iluminados como eu não?

Porém, podemos passar a vida inteirinha nesse estado, por  vezes até com razão. Falamos em alhos e o "outro" entende e responde bugalhos. E vice versa e troca o passo. 

Aqui estou eu por volta de 1986 ou 87. Acho que 86, porque em 87 eu já tinha dado um up ao meu look, num corte de cabelo inspirado na Elis Regina - curto com virgulas que caem sobre o rosto. Sem esquecer da popinha new age. Aqui estou com aquele louro queimado do sol que nem é bem o louro do menino Jesus nas palhinhas deitado que toda a minha gente beijava o pézinho na  missa de Natal. Não! É um louro de aborrescente que conclui que o shampoo da Johnson - aquele que só tem criancinhas louras de olhos azuis nas publicidades-  seca o cabelo. Estou ao lado meu querido pai que em qualquer parte do mundo será sinalizado entre o sul europeu e o sujeito que vem do Médio Oriente ou do Oriente Médio - vai do olhar hemisférico de cada um.

Aos 12 anos a 'nha tia logo me disse: ' Porque não vais para um grupo de jovens. Escuteiros, JCP. Com os escuteiros tens que ir à missa." Diante de tal sugestão fiquei pensativa para dar lugar à apreensão.... Para ser escuteira, além de ter compromissos aos sábados e domingos, terei que ir à missa? Nada contra... Mas será que é isso que estou a fim? Ir para a JCP... Não vou à missa.... Hmmmm Vão me impingir algo à força para eu impingir aos outros?  Qual a semelhança de um grupo e outro? Hmmmm o JC ao que parece era um sujeito à maneira, com o coração cheio de amor, justiça, igualdade, tolerância pelos diversos.  Para quem não sabe, JCP são as siglas da Juventude Comunista Portuguesa. Talvez um pouco da alma do Jesus esteja enraizada nessa ideologia que num primeiro momento é de igualdade e valor do trabalho dos trabalhadores. Hmmmm Mas algo me disse  para eu ficar na minha. 

Uns 4 anos mais tarde começo a fazer teatro amador. Lá vai cliché: esse bichinho mordeu-me e olha no que deu. Ser teatreir@ para muites é para a vida. Por vezes a minha tia que eu tanto amo, essa do JC, pergunta: " E isso dá para alguma coisa?" quando resolvo estudar um novo campo que vai dialogar com a minha profissão de artista. Dar alguma coisa significa dar dinheiro. Daí, eu fico calada como da vez que ela deu a sugestão dos grupos juvenis. Não tenho respostas prontas para os chamados do coração.

Ai! Queria escrever sobre as guerrilhas portuguesas e como eu não tenho nada a ver com isso e sobre os ensinamentos de dois mestres: Kaká Werá e Roberto Crema.Uh uhuh uhh Não saia do seu lugar! Até ao próximo texto!


A Piu

Campinas SP 31/08/2021

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

QUANDO DESENHEI UM CAVALO E ESCREVI SOBRE GATOS E TAMBÉM DE CAVALOS

 Os cavalos são muitos amigos dos homens e muitas vezes aliados. Nem sempre os homens são amigos dos cavalos. Alguns são muito selvagens. Os cavalos. Assim como os homens. Ser selvagem, no caso, não tem a ver com ser da floresta e não ter livros escritos e muitos monumentos levantados à custa de sangrentas batalhas com homens em cima de cavalos. Desde os tempos mais remotos que existem cavalos. Há qurm diga que os cavalos foram trazidos para as Américas pelos espanhois. Eu já disse que parte dos meus ancestrais são mouros, como judeus, latinos, cristãos, novos cristãos, povos bárbaros (suevos e visigodos e outros), e CELTAS!!! As mulheres celtas são as nossas bisa bisa bisa avós feiticeiras, guerreiras, sábias. 

A história é quase sempre contada pelos binóculos das batalhas, (des) conquistas, invasões, aniquilamentos. Resumindo e concluindo e voltando ao mesmo lugar: uma História escrita pelo patriarcado onde a lógica estratega militar sobrepõe-se à celebração e respeito pela vida.

Descemos a rua e digo assim, para a Mary Flower ( essa aí traz a minhas raízes, mais a negritude de Luanda e ao que consta da India. Uma vitamina tutti fruti. Falar tutti fruti é bem geração X, para não falar cringe...): " Esse gato em cima do muro lembra o Humberto. Aquele que nós tivemos!!; " Humberto?"; " Sim, aquele que tinha uma cabeça mais quadrada e era o único macho da trupe dos animais da nossa república." Responde ela assim: " Delgado, pá!"

Ri-me... Porque o chamei de Humberto? Intrigada voltei a rir-me. Rir faz muito bem à saúde e transmuta a rugas da nossa derme  que com o passar tempo também lembra-nos que já andamos aqui há uns aninhos a rir, de nós mesmes naturalmente assim como das pedras no sapato.

Ah! Associei o nome do gato ao Humberto Delgado. Ahahah Oh Ana lá tás tu com as tuas coisas!  O Delgado,não o gato, foi um general português que tentou fazer frente ao ditador faxixi Salazar lá nos anos 50, tendo ainda fugido para o Brasil, mas ao voltar... O que aconteceu? O que aconteceu? Limparam o sebo ao general sem medo que ousou tentar democratizar o país. Limpar o sebo é, para quem não sabe, fazer desaparecer a existencia de alguém.

Eu não sei se sou capaz, se estou a fim, de entender todos os meandros históricos com cunho militar. Porque além de patriarcal é como um jogo de xadrez, ou aquele jogo que o meu irmão jogava:  batalha naval.  Mas é necessário entender o minimo para seguir outro caminho, tal qual mulher celta que cavalga pelo mundo. 

Uma coisa eu aprendi com um professor de palhaçaria: @ noss@ palhaç@, espontaneidade, criança interior, é o nosso cavalo selvagem. A nós nos compete levar o cavalo selvagem para onde queremos. Se seguramos muito as rédeas este levanta e nós tombamos se largamos as rédeas este sai por aí loucaço e nós caimos. Então, resumindo e concluindo: Aprende a cavalgar companheire, que a consciência vai-se alargar! Uma relação dialógica, dialética de nós para nós mesmes.

Bom, por agora é isso. Vou ver se um Humberto está lá fora em cima do muro. Ai! O Delgado que não é Humberto.

A Piu

Campinas SP 30/08/2021






DANÇA DANÇA E OS DIAS SOMOS NÓS


Rotinas quase normais em dias quase banais.
Esboços inspirados no trabalho de Paula Rego.
A Piu



quinta-feira, 26 de agosto de 2021

TAL PAI TAL FILHO - o lado de lá do lá das ideias feitas acerca de nós outros


 Acabei de conhecer este pintor português: Vitor Pomar. Não igualizinho ao seu pai, o famoso artista plástico Júlio Pomar? É verdade, eu não conhecia este senhor. Não se conhece tudo e todes, mas nunca é tarde para conhecermos. O Vitor é um senhor dos seus 72 anos que quando chegou ali aos 21 anos abriu caminho para a Holanda para não servir à guerra colonial, entre Portugal e os países africanos. Ele e muitos outros que tiveram a oportunidade e a coragem de desertar fizeram-no sem poder assim voltar ao país durante muitos anos, por esse mesmo motivo. Já o Júlio Pomar, seu pai,também viveu em Paris como a pintora Vieira da Silva em tempos obscuros no pequenito Portugal. Assim como a pintora Paula Rego que foi direitinho para a Inglaterra, pois o seu pai sabia que Portugal não era lugar para meninas e mulheres naquela época de muito mofo e água benta. 

Júlio Pomar pintou até ao fim da vida, não ficava à espera de encomendas. Trabalhava e ponto, como recorda o seu filho que traz a prática da sua espiritualidade para o seu trabalho: budismo zen. Segundo este o pai, um anti fascista como ele mas com fortes probabilidades de ser ateu achava, segundo as palavras do filho, que budismo era coisa para tias que tomam chá. Ahahaha Muito bom. Adoro essas ilações vindas dum sujeito que admiro, como o Júlio Pomar, e agora compartilhadas pelo seu sucessor com a sua própria trajectória que se encontrou na arte da meditação silenciosa trazendo esta para o seu universo imagético, para o seu trabalho. Isso ainda adoro mais! Esvaziar para habitar de imagens que trazem mais clareza e leveza para o viver no individual e no coletivo. Seja como for, o trabalho que faz sentido para nós liberta! 

Muito obrigada Pomares, por existirem! Para todos os efeitos um pomar é um lugar onde existem muitas macieiras/ pommes. E a macã é um dos frutos arquétipicos do conhecimento, da sabedoria. Vá.


A Piu

Campinas SP 26/08/2021

terça-feira, 24 de agosto de 2021

PLIÊ, DEMI PLIÊ, PIRRO ÉTICA - (con)fusões culturais


Poizé! Eu também já lá estive, duma forma 'negligee', 'en passant' pelo 'ballet'. Eta leleca! Tanto francesismo num só frase! Vou ver se consigo trocar isto por miudezas: Eu também passei pelo balé com a simplicidade e um certo desleixo pela formalidade e suas formatações. 
Vejam-se os pézinhso em terceira posição, mas sem aquele esticar de ponta que o balezu classicu demanda.. Mas é uma boa escola, como outra qualquer se não nos detivermos somente nela. Já os braços e a cabeça anunciam naquele ano de 1982 o movimento grunge e indie. Ihihih Muites perguntarão se fiz parte de algum desses movimentos, anos depois. Pergunta tão recorrente lá em 91, 92: " Que música É Sque curtes? És hippie ou vanguarda ( aquele pessoal que ouvia e ouve The Smith, Joy Division e lá está The Cure entre outres) ? Como na época eu não conhecia o termo hermético só respondia que gostava e goto de muita coisa: desde música experimental, alternativa, à clássica, popular, de vários países nomeadamente brasileira e portuguesa ( você caro ser tropical, conhece música popular portuguesa  de cariz libertário? Hmmm espero que sim porque os libertários portugueses conhecem a música popular brasileira de cariz semelhante e ficamos boquiabertos com a esquerda gourmet que parece que só vai para Portugal para detectar as nossas dívidas históricas e mancadas, que as temos mas essa esquerda gourmet tropical  que se beneficia (in)diretamente do colonialismo, nomeadamente com meritocracia, que lhes concede bolsas e lugares de prestigio na docência universitária em terras lusas. Toma  e vai buscar. Ah! E muitos de nós trabalhadores portugueses qualificados deixamos o "nosso país" sem perspectiva de emprego  nas nossas áreas. Não nos façam de burros, certo raggazos? Não, não nos estão a roubar postos de trabalho. Cada um de nós está onde precisa de estar, por mais desafiador que isso seja. ' Pero ahora, respeitito quius portugueses' não são todos uns malandrões exploradores e obtusos. Ai que esta bailarina grunge saiu-me cá uma. Por isso seguiu a arte da palhaçaria, da buffonaria e outras vertentes do teatro que servem para se revelar e não para se esconder e dissimular.

Mas agora vamos aí aos conterrâneos e às conterrâneas. Já vimos que esta foto data do ano em que a Elis Regina, a primeira mulher brasileira a receber mais do qualquer homem na área., partiu. Em terras lusas essa cantora é muito admirada por muites. Só para avisar da responsabilidade de quem ouve Elis Regina não reproduzir clichezadas acerca de Portugal que roçam o discurso de ódio, mas cordial para tirar dali algum proveito. É ÓBVIO QUE NÃO É TODA A GENTE QUE É ASSIM. Mas aqui entre nós, só para avisar: os brasileiros têm a fama de serem falsos e só quererem levar vantagem. Oooops... E agora? Chato isso, não?
 
Também é chato saber que uma coreografa portuguesa conceituada no meio da Nova Dança que emerge lá nos anos 80 e 90 há pouco tempo falou para um coreografo negro brasileiro que trabalha com a cultura de matrizes africana e afrodiaspóricas  que o projeto dela é pegar no movimento e corporalidades dessas mesmas matrizes, que não há que esquecer que têm um forte cunho de sagrado, espiritual e de resistência identitária, e trazer para a contemporaneidade, para a dança contemporânea (?!?!?!)

Aqui não se trata de lavar roupa suja, mas eu imagino de que coreografa/ bailarina se trata e de facto sempre admirei e respeitei o seu trabalho, mas esta agora demonstra muita coisa, embora até acredite que a dita artista não seja mal intencionada. Assim quero acreditar. Pelo que conheço da história mais recente do meu povo, suas narrativas e bolhas existem aqui duas eixos, talvez hajam mais: a Europa, no geral, e Portugal no particular, há muito de sacralizou-se, tornou-se descrente de quase tudo fruto das inúmeras opressões da igreja católica, do neo liberalismo e do positivismo que considera com cinismo e desdém que as outras culturas são supersticiosas e que o sobrenatural é algo fantasioso próprio duma mente primitiva, logo não contemporânea. Mentalidade colionalista em tempos pós coloniais....

Por outro lado, @s artistes pós modernes dessa mesma sociedade ocidental  estão pouco se importando para o conteúdo. O que conta é a forma, mesmo que nem vejam problema nenhum em se apropriarem de manifestações artísticas de forte cunho ritualístico de povos histórica e recentemente subjugados e aniquilados pela oligarquia do seu próprio povo e mentalidades pequenas dos indivíduos no geral. 

Como artista, se eu estivesse no lugar dessa coreografa como desejaria dialogar com esses artistas, afro descentes ou ameríndios? Primeiro, pedir autorização para conhecer o que eles desenvolvem. Segundo agradecer a generosidade. Terceiro, olhar para a minha ancestralidade e perceber como esta dialoga com a ancestralidade do 'outro'. Quarto, desenvolver algo que nos faça estarmos mais próximos na nossa escuta e olhar. Sem nunca perder de vista que a estética precisa de estar aliada intimamente à ética.

Assim seja. Assim é,

A Piu
Campinas SP 24/08/2021 

domingo, 22 de agosto de 2021

NÓS QUEM?


A cada dia que me levanto e que me deito neste imenso território sul americano o meu olhar, a minha respiração suspende-se, inspira-se, expira-se, encanta-se, constrange-se e só posso agradecer a oportunidade de tal experiência. 

Muitos mundos em variados universos, sabendo de antemão que a separatividade  é um bloqueio mental. Olhar e escutar com atenção é um exercício, uma  prática para nos aproximarmos um pouquinho mais.

Eu sempre parto do principio que o 'Outro' está bem intencionado. Ingenuidades, pensarão uns. Pode ser. Mas é também um principio até que os calos se sintam cansados de serem pisados com frequência.

Aqui estou eu no Algarve em Julho de 78. 'Vocesses' sabiam que as palavras e os lugares que começam por 'Al' são de origem árabe/ moura? Algarve, Alentejo, Alfama, alguidar ( bacia), alface ( será? esse pessoal aí, considerados infiéis, trouxeram para a Península Ibérica sistemas de plantio e regadio muito à frente).

Não tem como negar que muites de nós somos de origem moura, norte africana. 

Há uns dois dias assisti a um filme sobre um assunto que eu já desconfiava e há muito que procurava mais sobre o assunto e cheguei a escrever roteiros para teatro lambe lambe acerca de.  'Vocesses'  querem saber do que se trata? Sim ou não? Mesmo se não eu vou falar na mesma e  'vocesses' são obviamente livres de ir ler, escutar, fazer outra coisa do que continuar a ler-me. Eu também tenho separado o trigo do joio e o joio do trigo. Para babozoeiras que não levam a lado nenhum a não ser ser uma reprodução de ideias e práticas preconceituosas a pessoa pega no seu ser recheado de amago e vai às suas babozeiras que não prejudiquem a dignidade de ninguém. 

Então lá vai: assisti a um filme de Alan Fresnot cuja autoria é de Ana Miranda. "Desmundo'. Passa-se em 1570 no Brasil colonial onde meninas, mulheres órfãs portuguesas que agora estão sobre a tutela da coroa e da Igreja são enviadas para serem desposadas pelos colonos portugueses e assim estes procriarem e perpetuarem a raça (?!). A protagonista Oribela tenta rebelar-se, mas em vão... 

Sim, eu como mulher portuguesa nascida no inicio dos anos 70 já num país em vias de democratização. logo de emancipação da condição feminina, - onde os países africanos tornam-se independentes de Portugal mas nem por isso independentes  de outras potências imperialistas - tenho o dever ético de resgatar a nossa história, aquela que não foi contada nem pelos manuais e compêndios muitos menos por aqueles e aquelas que ainda batem muitas palmas a um processo que de civilizatório deixa muito  a desejar. 

Acredito que para falarmos dos nossos direitos precisamos de olhar para os nossos deveres. O direito a me expressar é consequência do dever a escutar os almejos de liberdade e dignidade, a dor, a ferida de povos que foram subjugados e não vir com babozeiras que houve uma 'fusão cultural' e que "nós temos muito orgulho dessas peças forjadas a diamantes que se encontram numa galeria no Porto". Nós quem? Dá licença. Essa converseta sonsa e obtusa já expirou. Tire o seu diamante do caminho que nós queremos passar com o nosso amor e a nossa dor curada. 

A Piu

Campinas SP 22/08/2021

domingo, 15 de agosto de 2021

HUM MANO SUFICIENTEMENTE HU MAN

 Naquele dia 22 de Fevereiro de 2014 eu recebi uma chamada, telefonema para os mais antigos. Para ser mais antigo ainda: telegrama. Mas não era um telegrama nem fax e sim uma chamada. eram aproximadamente umas 19/ 20h. Acabara de me levantar. Tinha bebido uma bebida marada feita por uma querida amiga na sexta feira de carnaval, Não , não houve beijos, nem safadices. ( safadices... enfim... sem comentários... O que é  isso significa, pá? Masturbação em cpoletivo sem conexão muito menois olho no olho?) 

Ainda ando a entender por estas bandas o caracteriza a liberdae da libertinagem, sendo que a libertinagem serve quem oprime porque só uma parte é que é livre a outra passa a ser vadia, e para todos os efeitos  naquela época eu levava aas minhas filhas para a balada. Hoje não espero que ela me levem para a balada delas ( Hoje, salvo seja, porque ainda estamos em confinamento. Grata pela compreensão do posicionamemto politico)  não tragam é emaranhados emocionais para casa. Cada ser que se responsabilize pelo seu emaranhado e clareza opaca no seu viver.Viva a transparência no pensar e agir!

Sim, aquele 2014 foi dificil. Perdi aquela quem eu mais temia perder, embora soubesse que um dia a mesma partiria. A minha avó materna que se enlutou e lutou com a perda da sua filha, minha mãe, 29 anos antes. Agora era a vez da minha grande mãe partir. Ela queria partir. Razoável. Compreensível. Tinha 92 anos, ostoporose e uma alegria de viver duvidosa sempre ao serviço de cuidar dos outres e não cuidar de si mesma.

Naquele Carnaval já no Brasil, entre vender lanches, bebidas e poesias, embora a minha trajetória como artista fosse e é de décadas eu senti na pele o que é chegar num lugar que ninguém te conhece e em algumas situações tratada como quase nada, não falando do das dinâmicas hierárquicas e suas disputas de status com as bajulações incluidas. 

Não, não eu não sou mulher de bajulações. Nunca fui. Só que antes eu era vista como a jovenzinha rebelde que um dia vergará. Mas à medida que o tempo passa, o mesmo, o tempoo, é um ótimo filtro para o que ainda faz sentido, o que passa a fazer e o que já não fazmais sentido,

Naquele  mesmo Carnaval recebi uma mensagem dum sujeito desconhecido no meu e mail: 'Você é uma baderneira , I love you.' Eu não sabia o que era baderneira. Tratei de procurar o sinónimo. Sei o que é amar. Em duas  palavras: " Não oprimir".

Esta foto é de 1975. Tanta coisa nele contida. Uma menina e uma avó num periodo histórico muito conturbado, nó só em Portugal como no mundo, onde se achava que alcançar a liberdade era à lei da força, da guerrilha, do olho por olho, dente por dente. Da porrada... A tal da guerra fria... O própria denominação  indica...

Com a minha avó Rosária aprendi a amar e a ser honesta. A devolver o que não era meu. Devia uns centavos na mercearia... Eu comunicava e ela dava aquela moedinha escura para eu devolver. Uma mulher simples e profunda, uma migrante/retirante que soube passar  a prática da dignidade.

Devolvo assim a denominação de baderneira a quem ainda não me respeita, ainda por cima e sem me conhecer. E mesmo com  a minha doçura, na próxima que apagar uma postagem da minha linha do tempo, nomeadamente com a minha mãe A SAIA VAI RODAR E O CONCILIO DA BRUXARIA VAI ESTREMECER! O aviso já foi feito várias vezes mas ainda não compreedido na plenitude. Tem pessoal que não tá habituado a diplomacia, muito menos doçura. Acham-seos bambam do Texas do sudeste, O pirilau, vulgus pauzito, bacamarte ainda é tido como ser pensante determinador da conduta. Adrian Moooleeee, fala que tu já amadureceste e que a partir dos 30 cai mal medir os centimetros do pau. Decolonizar a mente é deixar de ser machista , ma man. e pegador, homem metralhadora que dispara para todos os lados e amua quando os caprichos de dominador não são satisfeitos. Hughhhhhh Que se passa, coño!? Que não se passa nada?  E você, bro, ser hu mano em vias de desconstrução e consciente em alguns pontos, vai compactuar com isso? Será sempre o comedor a vida inteira humano demasiado humano? Ou vai aprender a receber amor das mulheres que te amam sem que estas sejam a sua coleção? Confio sinceramente na sua transcendencia, você já demonstrou a sua senbilidade. Mas mais pouco! Os olhos se encontram!

Tão a ver aquela menininha pequenina inocente? Hoje ela levanta a cabeça e diz: " Comigo não! Olarépipu!"

VÍTÓRIA À AUTO OBSERVAÇÃO, À CONSCIÊNCIA EXPANDIDA SEM DOGMAS!




A Piu 

Campinas SP 15/08/2021

sábado, 14 de agosto de 2021

TORRES, APENAS SENHOR TORRES


O senhor Torres era um homem trabalhador. Ele não era, ele é. Admirado por uns, criticado por outros ele lá continua com aquilo que ele acredita e o faz caminhar. Vendedor de pasteis de bacalhau, que para uns ele fala: 'Pastelinhos de bacalhau, meu chapa.' Para outros ainda diz: " Também tenho sem bacalhau! Pastelinhos de batata doce com ervas aromáticas!". Com os brasileiros que se cruzou na Estação de Santa Apolónia e no Aeroporto da Portela aprendeu a dizer: Bolinhos de batata doce com erva aromáticas, gostosos para xuxu!" Uns riem-se dele e ele também se ri de se rirem dele, por acharem que ele é um mero vendedor de salgadinhos que não entende nada de nada e ainda pode ser personagem de piada. Ele encolhe os ombros e sorri por dentro. Já passou muito para dar importância ao passageiro.
O senhor Torres tem feito muitos amigos. O seu bigode retorcido à personagem do Eça de Queiroz dá-lhe aquele carisma, aquele ar castiço, peculiar, porém firme e direto como um portuga que sabe que é portuga, sem nacionalismos vãos porém sabendo dos tempos e contratempos dum temperamento portuga que não se verga a risinhos e folcolorismos. Um portuga que não se verga a autoritarismos, sejam estes de outros portugas ou não.
O senhor Torres já visitou todas as capitais da Europa à custa do seu trabalho que é confeccionar e vender pastelinhos de bacalhau e batata doce nas chegadas e partida da estação de Santa Apolónia e no Aeroporto da Portela, em Lisboa. Sim, aquele mesmo aeroporto que foi em Abril de 74 dar as boas vindas aos exilados politicos portugueses. E ainda vendeu os seus acepipes.
É protagonista dum documentário realizado por um brasileiro: José da Matta Winzentein, sobre a liberdade em Portugal. O senhor Torres ri-se muito quando lhe falam da Europa como algo plano, unidimensional como a sua representação gráfica aqui. Falam-lhe da Torre Eiffel, da Torre de Pisa e até das Torres gémeas. Mas ele é apenas o senhor Torres e caga-se para as vaidades e ostentações várias. Assim como para as generalizações.
O senhor Torres é um homem do mundo que é apenas ele próprio.
A Piu
Campinas SP 14/08/2021


quinta-feira, 12 de agosto de 2021

FOI VOCÊ QUE PEDIU UMA GINGINHA?


 Eu cá acho que naqueles papelinhos alfandegários que se dão ainda no avião deveria se perguntar à entrada de Portugal: Você conhece José Afonso? Você conhece o tema do mesmo: ' Um homem novo veio de mata?' (Onde ele canta: Imperialismo não passará. Colionalismo não passará!) Você sabe o que são as acampadas e as assembleias populares de 2011 nos centros de Lisboa, Porto, Coimbra e outras cidades?

Não vale responder que se conhece Fernando Pessoa e José Saramago! Pronto, 'tá bem!... Ganha-se uns pontos! Mas o que conta são as primeira perguntas para os que os seres tropicais que ouviram rádio e na tv que Portugal é bom demais para viver; A TERRA DAS OPORTUNIDADES! IUMA LÓCURA QUE NEM OS PORTUGUESES PERCEBERAM! Também deveria vir nesse formulário a seguinte pergunta: Você conhece a crónica ( a crônica, vá) do brasileiro Leo Aversa sobre a febre da classe média brasileira ir para Portugal: 'Mickey, Donald e você - sonho de morar em Portugal ignora crise, desemprego e transforma o povo europeu no mais acolhedor'? Tem de ler! É um must!
Penso que estas referências são fundamentais para aqueles que deixaram tudo, venderam chácaras, carros e largaram um bom emprego porque já não tava dando mais e hoje vão para Portgal muitos convictos que os impostos dos trabalhadores portugueses são usurpações coloniais, logo teem direito a tudo, independentemente de saberemse as filas de espera para ser submetido a uma cirurgia num hospital público e achando que as escolas públicas seguem a pedagogia Waldorf e o Estado Previdência português é transpartente quanto às contribuições dos trabalhadores precários sem contrato fixo. Que é uma grande maioria.
Só me pergunto se ainda sentem afinidade pela suas raízes e se teem um chamado de voltar à terra dos seus ancestrais ou vão atrás duma propaganda neo liberal que leram numa noticia do whatshapp enviada pelo motorista do Uber. Nunca lhe aconteceu isto, de receber noticias do motorista ou do telhadista, trabalhadores comuns que acreditam que um dia encontrarão o pote de ouro no canto do arco iris e tudo o que é fora da narrativa neo liberal é papo de comunista? A mim já! Hoje eu sei que conversar sobre a paisagem com um desconhecido ou um ainda não conhecido é muito mais incrível e leve.
Se me perguntam se eu sou portuguesa respondo que a ginginha da Escócia nunca provei, nem o uisqui de Portugal tampouco conheço mas lembro-me sempre daquela publicidade tv portuguesa nos idos anos 70 e 80: Foi você que pediu um Porto Ferreira?
Em nota de rodapé: Se você vai para Portugal, dê-se ao menos ao trabalho de conhecer um pouco melhor, preparar-se para a doçura e rudeza desse povo e não inverter papeis tampouco distorcer factos históricos que desdignificam o povo que é explorado e paga impostos, além de não viver em condominios fechados, não tem manobristas nem motoristas como vossa excelência, mesma aquela que está no patamar da esquerda gourmert ou da esquerda previligiada descolada. Sinto muito se desgourmetizei as suas idealizações e te relembrei que no Brasil, vossa excelência tem criadagem ao invés da grande maioria dos portugueeses e ainda acha que estes é que são os escravocratas ou simplesmente acredita em tudo o que as sereias cantam, essas maganas.
Até ao próximo texto sobre o que me faz estar no Brasil ( pareço uma politica com promessas!!! Cof Cof)
A Piu
Campinas SP 12/08/

terça-feira, 10 de agosto de 2021

AGORA A SÉRIO! - série: ESTUPEFACÇÕES



 


Agora a sério ou agora falando sério ou fala sério: tenho ou não tenho mesmo ar de geração X? Até coloquei aqui um filtro na minha self made woman alaranjado a dar uma de polaroid. Aliás, o tal do Douglas Coupland também escreveu um livro, entre vários além da "Geração X : contos para uma cultura acelerada", " Polaroides de figuras extintas".
Antes de tudo e demais venho aqui desfazer um equivoco que escrevi no texto passado: o Coupland é canadiano, canadense e não californiano, californiense (?). Os contos da Geração X passam-se na California, mas o autor é de outras bandas. Importante revermos informações que muitas vezes passamos e são meias verdades e que passam a serem verdades de tanto repetirmos.
Já no penúltimo texto escrevi que os retornados portugueses das ex colónias portuguesas em África além de serem mal recebidos no Portugal pós 25 de Abril por ser vistos como colonos exploradores... E não dei continuidade ao além... Bora lá, como nós os da geração X falamos, além disso foram vistos como virem tirar, roubar trabalho aos que já lá estavam. Um clássico.... Mesmo em tempos de suposta solidariedade os bodes expiatórios e as insolidariedades acontecem. Até 1974 muitos poucos questionavam-se sobre o direito que Portugal tinha em subjugar outros povos, mesmo não beneficiando nada com isso. Muitos aprenderam a bater com a mão no peito e a gritar em uníssono: Angola é nossa. A revolução chega e entre a alegria da liberdade e a miséria humana muitos aproveitam para descarregar os fígados no vizinho,que por dá cá aquela palha o chama de fascista ao ponto de este correr sérios riscos, ou a descarregar em pessoas que vinham de África, umas reacionárias mas outras não. Não podemos esquecer que durante o fascismo todos viviam desconfiados de todos, pois qualquer um seria um potencial bufo, delator. Mecanismos usados por regimes autoritários e/ou totalitários. Pensarmos pela nossa própria cabeça dá trabalho e não nos deixarmos arrastar pelas euforias de massa ainda mais. Já não falando do individualismo que é um bixinho marafado.
Ontem uma frase de aparente efeito assaltou-me as ideias: " O motivo que me faz estar no Brasil não é o mesmo que faz você ir para Portugal. " Olhem, esta frase quase de efeito faz todo o sentido para mim, cada vez mais.
Não saia do seu lugar. É bom ler, pois não é? Ora pois pois. Até ao próximo texto sobre este assunto: os motivos das nossas escolhas e seus desafio.
Beijus!
A Piu
Campinas SP 10/08/2021


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

ABANA A ANA QUE TÁ ABANANADA - série: ESTUPEFACÇÕES

 


Estupefacta ou estupefata: admirada, espantada, pasma, aparvalhada, abobalhada, A-B-A-N-A-N-A-D-A.

Os fluxos migratórios são muito bons. Dão saúde, e também nos tiram para nos devolver depois e fazem crescer. As pessoas, os seres viventes e comuns mortais quando se deslocam ganham a oportunidade de exercitar um olhar mais amplo. Um olhar é amplo é aquele que se aproxima, afasta, olha com familiaridade e estranhamento, diluindo assim ideias feitas acerca de si mesme e dos outres, assim como dos lugares, dos territórios e todas as coisas... práticas que ali se praticam. Dizer 'coisa' é uma coisa a modos abstracta, abstrata. 'Práticas que ali se praticam' é uma redundância.

Aqui temos uma redação, redacção à laia de escola, Porque não?

Sendo eu da geração X ( bebés nascidos entre 1965 e 79)  só vim a a conhecer as selfies com a geração millenium ( nenés nascidos entre 1980- 94) e com a geração Z ( petizes nascidos entre 1995- 2015). Gosto muito de ser da geração X, apesar de tudo. Até o Douglas Coupland tem um livro com esse nome. Deve ser muito cool ser californiano como ele. Eu não sou,nem nunca tive na California mas sou da geração X como ele.

Nunca tive na California, mas já estudei na unicamp assim que cheguei em 2012 com duas crias pela mão, na condição de mãe solo, em plena crise financeira e desemprego no sul da Europa. A primeira estupefação foi perceber que uma grande parte das pessoas com quem contactei na época tinham um conhecimento muito superficial do que se estava a passar na Europa e uma ideia um tanto ou quanto preconceituosa para com Portugal com pouco ou nada sabia das suas complexidades. Não falando do desdém. Não todos, mas uma grande parte.

Algumas fichas caíram, mas não deixei de continuar a sentir uma imensa admiração e respeito por esta terra de mil povos. Tratei sim cuidar da minha resiliência e abrir o olhar para o que realmente nutre. Percorri muito tempo sem entender para que serve a erudição, a iluminação intelectual e espiritual se a informação vinda de várias fontes não está presente e só singra o que convém dentro duma lógica de sobrevivência, ao limite de individualismo. Não entendia, e ainda não entendo muito bem, como se pode defender os direitos dos trabalhadores quando não se enxerga um forasteiro ou uma forasteira como trabalhadora. E o que é ser forasteir@? Alguns, por aqui, acreditam que todos na Europa são ricos. E mais! Como foram países colonizadores ainda vivem à custa das colónias. Que livros terão lido e documentários assistido? 

 Aqui vai o primeiro toque, no que diz respeito a Portugal: a oligarquia portuguesa colonial era tão gananciosa e de vistas curtas que gastou tudo em ostentação própria, endividou-se com outras potências, nunca investiu numa revolução industrial digna desse termo e o povo sempre se manteve na miséria. Então care leitor de nacionalidade brasileira que foi ou conjectura ir para Portugal hoje de cara lavada, mas dentro duma lógica neo liberal em que o turismo passou a ser o grande foco de investimento: abra o seu olhar, a sua escuta e procure conhecer de várias fontes para evitar ranços de parte a parte. Muitos de nós portugueses admiramos o povo brasileiro, as suas resistências, o seu poder criativo e empreendedor mas agradecemos respeito mútuo sem a cordialidade falsa duma conveniência forçada. Pessoalmente dispenso. Por experiência própria, depois de me ter decepcionado aqui e ali e muito provavelmente ter igualmente  decepcionado, hoje sei que as expectativas são uma armadilha do ego. Como silencio e a gratidão por todes aqueles que nos acolhem e nos dão a mão em pequenos grandes gestos sem o utilitarismo de querer daí tirar vantagem são pérolas únicas. 

Só posso agradecer a todas essas almas solidárias  neste imenso território sul americano e ameríndio que em diferentes momentos da minha estupefacção criaram e criam laços verdadeiros de amizade e entre ajuda com este ser vivente que sou eu como todes nós.

Assim sendo fica a questão que considero primordial: Como queremos passar aqui por este plano tridimensional? E com quem?Que memórias queremos levar e deixar sem retórica?


A Piu

Campinas SP 09/08/2021


sábado, 7 de agosto de 2021

A DIGNIDADE DE TER DIGNIDADE


 

Á distância de 40 anos confirmo ainda mais assombrada, numa assombração que surge dum raio e dum corisco que divide uma época de outra, que eu e a minha geração somos fruto dum tempo de "paz" (?) em que o pus colonial e imperialista espirrou em várias direções. Muitos foram atingidos sem saber muito bem o que estava a acontecer, visto a maioria do "meu" povo português viver sob o jugo do obscurantismo duma narrativa única onde a desobediência e o pensar eram severamente punidos tanto pelo Estado como pela Igreja. Um povo cuja maioria vivia até 1974 na pobreza, na desnutrição, no duro trabalho rural iniciado desde a mais tenra idade, muitos sem se quer porem os pés na escola. Falo do povo português que vivia na então chamada Metrópole, Portugal continental e seus arquipélagos.
Em meados de anos 50, enquanto muitos países já viviam a descolonização, o manda chuva Oliveira de Salazar acenava aos portugueses as vantagens de povoar as colónias africanas. Não as queria perder, o malandreco. Luanda, Lourenço Marques ( atual Maputo) passaram a ser cidades muito mais desenvolvidas e cosmopolitas que Lisboa. A mim parece-me que muitos dos brancos portugueses no seu país natal eram uns nada ou quase nada e passaram a ser uns senhores. Um processo idêntico aos brancos brasileiros. Tempos dourados, cheios de regalias, mordomias duma época, como os anos 60, que o consumo emerge. É incrivel assistir a documentários de propaganda nacionalista da época: belas praias com palmeiras, avenidas grandes e modernas, carros, barcos, restaurantes de luxo, mesas ao ar livre onde a cerveja Cuca não falta, pessoas brancas esplendorosas ( nem parecem portuguesas e sim alemãs, como li num comentário num desses documentários. Cof cof... Sem comentários. Eu também já passei muitas vezes por francesa e alemã e nem por isso nego as minhas origens ou sinta necessidade de colocar o bigode que trago dentro da bolsa para confirmar a minha nacionalidade aos desconfiados).
Sim, com a revolução dos cravos que passa pelo movimento das forças armadas dar golpe militar para acabar com o fascismo e a guerra trouxe dissabores aos portugueses que viviam em África e tiveram que vir às pressas, fugir para não serem mortos, muitos deles queimados vivos. É horrivel? Claro quer é! É injusto? Na verdade é dificil de responder a essa pergunta... Que sentimento cria num povo, vários povos subjugados a muitos séculos de mercantilismo, exploração, escravatura, racismo, machismo ? As mulheres foram e são brutalmente violentadas em todo esse processo histórico e não há cá mas nem meio mas, que estas são muito mais desenvoltas e sensuais que as portuguesas. Portuguesas essas vitimas também desse patriarcado doentio que castra e distorce tudo o que há de sensual e espontâneo para dominar/ subjugar. Então caro leitor em vias de desconstrução: não somos pau para toda a obra, tampouco bonequinhas troféu descartáveis e se a coisa apertar muito as vassouras das bruxas giram no ar. E atenção aí em objetificar as brasileiras e acharem que a profissão de todas é abrir as pernas. Gratinados pela compreensão em respeitar as pessoas e as mulheres, no caso. Sejam estas coxinhas, mancas, de punho erguido ou simplesmentes seres humanos que acham fixe viver em Portugal.
Esta foto data do ano lectivo de 1980/81, ano em que a mesma foi inaugurada por um pessoal retornado de Moçambique. Faz sentido, não? Volvidos 5 anos depois da debandada aos milhares para Portugal e muitos para o Brasil, que além de não conseguirem se adaptar ao provincianismo português assim com aos movimentos populares que aproveitaram para gritar LIBERDADE aos quatro ventos, muitas vezes duma forma impulsiva e ingénua, própria de quem tem a existência aprisionada durante muito e muito tempo. Foram tempos de pagar o justo pelo pecador... Os retornados foram mal recebidos em Portugal, porque além de serem vistos como os colonos exploradores ( muitos eram trabalhadores: mecânicos, eletrecistas que faziam a sua vida honestamente sem explorar ninguém e misturavam-se). Mas os tempos eram de revolta, uma grande bolha de pus de 500 anos não é brincadeira!!!! Muitos portugueses ainda são uns reacionários e não entendem o estrago que Portugal fez. Mas outros não, e muitos foram resistência. Então respeitinho a esses. A gerência agradece.
Sim, eu convivi com os coxinhas da época, mas enquanto criança isso não me tirou nenhum pedaço, pelo contrário a escola tinha um imenso recreio de terra e muitas árvores e eu fazia rir os meus amigos, mesmo sendo timida, com as minhas malucadas. Respiravamos liberdade e haviam alunos de várias cores e feitios. Não falavamos de politica mas eu tinha uma amiga que sempre se lamentava de ter tido muitos criados em Moçambique e ela sim tinha o nariz perfeitinho, o meu não era perfeito segundo a sua visão. Era mais abatatado, ao passo que eu seu nariz era duma perfeita branca, Ai ai! Mas eramos amigas e ela era alegre assim como os seus pais. Ah! E os meus primeiros amigos brasileiros foram feitos nessa escola. Olha que eu sou um nó para me lembrar de nomes, mas lembro da Adriana falar: " Você fala maluco como a gente! Você tem de conhecer o Brasil!" Já em casa, por escutarmos MPB eu achava ingenuamente que todas as pessaos no Brasil pensavam como o Milton Nascimento. E esta, hein?
Hoje pergunto-me, se alguns brasileiros que foram para Portugal não são os retornados coxinhas contemporâneos, só que achando que quem está lá é que é escravocrata. Enfim. Nem vos digos nem vos conto as equivocalhadas históricas que eu já escutei por aqui de pessoas supostamente informadas. Ainda há muito racismo e machismo em Portugal, mas conhecer a História com as suas múltiplas dobras e escritores portugueses como Walter Hugo Mãe ( Angola 1971) , Gonçalo Tavares ( Angola 1970) que são pessoas que prezam a liberdade é no minimo digno.
Por exemplo, eu quando cheguei ao Brasil tratei logo de ler Darcy Ribeiro, a biografia de Clarice Lispector, da Olga Benário e procurar escritores e escritoras afrodescendentes como a Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro assim como indigenas Eliane Pontiguara, Daniel Manduruku, Krenak, Kaka Werá e muites e muites outres! Penso que além de digno é digno. E ainda digo mais! Digno.
A Piu
Campinas SP 07/08/2021
foto: Teresa ( eu, porque haviam muitas Anas, com a professora Teresa uma fixola. Uma fixe bacana que tinha uma paciêncioa para as minhas risotas e distrações na aula que só visto!)


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

FOI VOCÊ QUE PEDIU UMA BANANA?


" Eh pá! Vou deixar de ser banana!", " Levas com um banano nas trombas, que nunca mais te esqueces!", " Pensas que isto aqui é a República das bananas?!". Aqui temos, pelo menos três frases idiomáticas de território portuga que definem até um certo ponto todo um espírito do " nosso" ser, da " nossa" essência, além de subtextos outros que são de proteger a nossa penca atrás duma penca de bananas.  Já o "Diário do Banana" é aquela literatura anglo saxónica contemporânea para adolescentes. Dentro dessa literatura eu sou mais " O diário intimo do Adrian Mole aos 13 anos e meio de idade".

Antes de tudo e qualquer coisa devo partilhar aqui que adoro passear em bananais  e tenho um sentimento de alegria identica ao de me abeirar duma cachoeira. Falar de bananas dá pano para mangas, aliás para bananas que são muito amigas desse fruto igualmente tropical, a manga.

Deixar de ser banana é deixar de ser mole, aquele de boa que não coloca limites. Já o levar um banano nas trombas é  enfiar com o ante braço na cara dum outro ser vivente ao ponto de ficar marcado na memória deste. Pacifista, ãh? Já o chamar a atenção que ali não é a República das bananas é um termo eurocentrico pejorativo em relação aos países da América Latina, termo esse inventado pelos subalternos da coroa britânica, aqueles do país do Adrian Mole, que media a sua banana escondida na cueca  e fazia gráficos como medidor da sua virilidade. O Adrian Mole é personagem ficticio da minha idade que aos 13 anos oo seu país estava debaixo  dos mandos da Dama de Ferro,  a Margarida do Tacho. O pobrezinho além de ter essa idade, ter muito acne,  e uma necessidade de afirmação tinha o pai desempregado e alccolatra e mãe era uma doidivanas. Inglaterra nos idos anos 80 entre penteados de bananas, das rockbillies, e as cristas dos punks oriundos da classe operária desempregada. Essa é uma das Europas reais sem glamour.

Desde que me sei gente sempre me cruzei com um livro na estante de casa dos meus pais: "Cem anos de solidão", em que o Garcia Marquez relata as plantações de bananas como investimento latifundiário regado a mortes. 

Ai! Mas porque é eu queria escrever hoje e o texto já vai tão longo e ainda não fui directo ao assunto?  Primeiro porque não considero que eu viva na República das bananas e sim num território brasileiro que é fruto de encontros e desencontros vários e cada vez eu mergulho mais nas suas complexidades e dou razão ao outro que não foi o único a chegar a essa conclusão: " Eu só sei que nada sei".

Também queria prestar aqui homenagem ao querido José Afonso, compositor e músico da resistência portuguesa, que hoje faria 92 anos. ZECA SEMPRE NA MEMÓRIA E NO CORAÇÃO. E aproveito para homenagear em nota de rosapé, pois farei um texto, ao Capitão de Abril Otelo Saraiva de Carvalho que partiu no dia 25 de Julho de 2021, aos 84 anos. Capitão utópico, polémico, mas que devido a ele e aos seus companheiros  saimos do fascismo e deixaram de morrer pessoas numa guerra colonial, do ponto de vista de Portugal, e pela Indeperndencia, do ponto de vista dos países africanos. 

Za ver como conhecer as várias dobras da História de múltiplas complexidades tira-nos  do lugar das certezas e das boçalidades muitas vezes inconscientes? E no final, nunca saberemos de tudo, porque existem os factos e existem os pontos de vista. Só não vale é mentir, difamar e caluniar. Combinado?

Abreijos e até jazz! Agora vou comer uma baninha, mas madura cas verdes precisam de pegar mais sol.

A Piu

Campinas SP 02/08/2021

Crédito: Amanda Dummont