terça-feira, 27 de agosto de 2019

A arte para mim é a expulsão dos seres contidos, doloridos, em grandes quantidades, num parto colorido. 


Eli Heil

Eli Heil (Palhoça, Santa Catarina, 1929 - Florianópolis, Santa Catarina, 2017). Pintora, desenhista, ceramista, escultora, tapeceira, poeta. Nos anos 1950, atua como professora de educação física. Autodidata, inicia sua produção artística em 1962.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

NÃO AMARGURAR É UM ATO DE RE EXISTÊNCIA PARA CONTINUAR O CAMINHO QUE OUTROS TÊM ABERTO


Estes dias uma amiga postou esta foto da Branca de Neve a dar uma tortada na cara do príncipe encantado. Essa amiga colocava a seguinte frase: " Saber ouvir NÃO. Bom dia "
Depois desse poste comecei a rever os mais célebres contos de fadas em que a menina e moça em idade casadoira adormece, por inveja da bruxa má. Ou seja as bruxas são inimigas das donzelas, mas há sempre um galã da realeza em idade casadoira para beijar afincadamente a doce, suave vitima duma do seu gênero, mas só que não porque é feia e má, e assim salvá-la e casar-se com a mesma para viverem felizes para sempre.
Mas neste caso, a Branca das neves da floresta negra e outras florestas adjacentes não está nem aí. Esta provavelmente quer despertar com as sacerdotisas, as feitiçarias dos chás e das ervas que resgatam o sagrado feminino e lembram à Humanidade que só com esse resgate há muito esquecido podemos salvar as florestas, mares, oceanos. Porque reverenciar o sagrado feminino e masculino é um despertar para a Vida com doçura, mas sem docilidade. Isto é, com firmeza e acolhimento mas sem nos subjugarmos à cafonice e assim amargurarmos. Não amargurarmos diante de tanta cafonice, que contempla mentira, cobardia, manipulação, difamação e outras coisas tóxicas. Não amargurar é um ato de re existência! Assim sendo aproveitamos para homenagear a escritora, roteirista, apresentadora, atriz e feminista Fernanda Young ( 01/05/1970- 25/08/2019) com a sua última coluna .
A Piu
Br, 26/08/2019
Bando de cafonas
A Amazônia em chamas, a censura voltando, a economia estagnada, e a pessoa quer falar de quê? Dos cafonas. Do império da cafonice que nos domina. Não exatamente nas roupas que vestimos ou nas músicas que escutamos — a pessoa quer falar do mau gosto existencial. Do que há de cafona na vulgaridade das palavras, na deselegância pública, na ignorância por opção, na mentira como tática, no atraso das ideias.
O cafona fala alto e se orgulha de ser grosseiro e sem compostura. Acha que pode tudo e esfrega sua tosquice na cara dos outros. Não há ética que caiba a ele. Enganar é ok. Agredir é ok. Gentileza, educação, delicadeza, para um convicto e ruidoso cafona, é tudo coisa de maricas.
O cafona manda cimentar o quintal e ladrilhar o jardim. Quer todo mundo igual, cantando o hino. Gosta de frases de efeito e piadas de bicha. Chuta o cachorro, chicoteia o cavalo e mata passarinho. Despreza a ciência, porque ninguém pode ser mais sabido que ele. É rude na língua e flatulento por todos os seus orifícios. Recorre à religião para ser hipócrita e à brutalidade para ser respeitado.
A cafonice detesta a arte, pois não quer ter que entender nada. Odeia o diferente, pois não tem um pingo de originalidade em suas veias. Segura de si, acha que a psicologia não tem necessidade e que desculpa não se pede. Fala o que pensa, principalmente quando não pensa. Fura filas, canta pneus e passa sermões. A cafonice não tem vergonha na cara.
Fernanda Young
Em sua última coluna Fernanda Young setencia: " A cafonice detesta a arte".
O mau gosto existencial do Brasil é o tema do texto que O GLOBO publica esta segunda-feira da escritora que morreu no domingo
O Globo
25/08/2019 - 16:53 / Atualizado em 26/08/2019


 Fernanda Young, uma jovem branca de neve de coração tropical.

Ploft! Eu sou de carne e osso e NÃO o teu fetiche para as hora vagas!

A UNIÃO NÃO É EVIDENTE

" Eles não usam black- tie " é um filme brasileiro de 1981 com direção de Leon Hirzman, autoria e roteiro de  Gianfrancesco Guarnieri, elencado com grandes figuras da atuação: o próprio Gianfrancesco, Fernanda Montenegro, Bete Mendes, Carlos Alberto Riccelli, Milton Gonçalves, entre outros.

" Otávio ( Gianfrancesco) é um militante sindical que organiza um movimento grevista para resistir às práticas exploradoras de uma metalúrgica, onde o seu filho Tião ( Carlos Alberto Riccielli ) trabalha. Mas com a namorada grávida ( Bete Mendes), Tião resiste à greve para não perder o emprego. "

Há uns dias atrás entrei numa sala de cinema para assistir ao filme duma amiga e passou este. Como é bom assistir a um filme em tela grande sem mastiganço de pipoca! 

Ora bem, sendo que estamos em 2019... 51 anos se passaram... O que aconteceu em Maio de 1968 que reverberou em muitos lugares do mundo, principalmente na sociedade dita ocidental? O que estava acontecendo nesse ano no Brasil? Este ano faz TRINTA ANOS QUE O MURO DE BERLIM CAIU!!!! Em 1989 o bloco leste caiu e de algum modo se não na totalidade rendeu-se ao capitalismo, que tem-se vindo o tornar cada vez mais selvagem, onde o trabalhador não passa dum pecinha descartável da engrenagem quando a sua produção não serve mais. Ou seja, os vínculos empregaticíos são frágeis e muitas vezes nulos. Não quer isto dizer que os regimes comunistas totalitários não fossem e não são selvagens. Não confundamos selva com floresta. Selvagem no sentido de " salve-se quem puder diante do autoritarismo!".

Se até um certo ponto este filme faz parte duma época, o mesmo ainda é bastante atual. À luz de quatro, cinco, seis décadas, ou até mais desde que os movimentos sindicalistas existem muitos interesses rolam onde nem sempre se favorece o trabalhador que está lá a dar o couro, a suar por tuta e meia. As cobardias, as traições fruto das mesmas cobardias, o medo de ficar sem nada que leva a furar a uma greve e a incentivar com convicção que outros o façam é o pão nosso de cada dia. A UNIÃO NÃO É EVIDENTE!

Nesta imagem vê-se o Tião peitando o pai e os restantes lideres sindicais à porta da metalúrgica. Há um diálogo incrível, entre pai e filho, logo depois desta cena em que o Tião é renegado pela família e pela namorada grávida por ter furado a greve e incentivado outros a fazê-lo. Tião alega que tomou aquela posição não por covardia, ao que Otávio, o pai, responde que ele não é um traidor por covardia e sim por convicção.


Da minha parte, mesmo assim, prefiro alguém que se posicione por convicção mesmo que o nosso posicionamento seja oposto. A cobardia é um osso duro de roer, porque aquele que não se assume, come pelas beiradas, faz-se eventualmente de amiguinho. Esconde-se e age egoisticamente. Não é o caso do Tião, embora ele só tenha pensado em si mesmo, na namorada que o renega diante de tal postura e no filho que ainda está por nascer. 

Na minha trajectória de artista profissional vi e vejo muitas vezes isso acontecer entre colegas, desde o tempo da escola de teatro onde na retórica todos , alunos e professores, levantavam o punho mas na hora da verdade, para defender uma situação que beneficiaria a todos duma forma mais justa e igualitária ou para defender o despedimento duma companheira ou companheiro.... Cada um ia à sua vida beber um café e continuar as suas revoluções de café, numa conjectura neo liberal que tanto se critica mas se compactua com tantos cafés. Neste exacto momento falo de Portugal nos idos anos 90 e também 2000.


Hoje, mais que nunca, a frase do Gandhi : " Sê a mudança que queres ver no mundo " é efectiva. E essa mudança tem a ver com cultivarmos dentro de nós firmeza, mente livre, consciência da nossa co emergência, limpar diariamente sentimentos e pensamentos tóxicos que nos levam a acções confusas e pouco ou nada empáticas.

Começar por sabermos quem somos, de onde viemos e qual o nosso propósito de estar aqui não só para o nosso bem estar pessoal, mas também colectivo onde a presença do outro, o trabalho e serviço que o mesmo presta é valioso já é um grande passo para erradicar com relações de poder assentes numa lógica ao limite escravocrata.

A Piu
Br, 26/08/2019



sexta-feira, 23 de agosto de 2019

ACASO O ACASO EXISTE?

ATÉ SEMPRE QUERIDO CABETO! QUE OUTROS SE INSPIREM EM TI!




A única certeza que temos é que um dia partimos. Uns acreditam que desencarnamos para reencarnar em algum momento. Outros acreditam que não, que somos somente matéria e que não existe uma continuidade. Outros, os agnósticos ficam ali em cima do muro não acreditam mas até " vai que".

A grande questão é ter consciência da nossa caminhada. Que caminho seguimos e que abrimos mais um pouco para quem vem a seguir. Por vezes " há quem viva sem dar por nada e há quem morra sem tal saber", como canta um grande poeta José Afonso.

Na  passada segunda feira, dia 19 de Agosto, quem pôde comparecer à despedida da passagem do querido amigo Cabeto Pascolato ao sair exatamente às 15h dessa última morada o céu estava escuro e os postes elétricos acessos. Nos meus pensamentos oníricos pensei que até a natureza, o mundo estavam de luto pela sua partida. O céu silencioso parecia que estava carregado de lágrimas e que logo logo iria desabar sobre as nossas cabeças até com rugidos. Mas as árvores não abanavam. O vento estava silencioso. Mal sabia eu que era a fumaça do fogo da floresta Amazônica tinha chegado ao sudeste, ao interior de São Paulo nesse dia ali naquelas horas que nos comovíamos diante do Cabeto, esse grande e querido ativista vegano mobilizador de muitos encontros e debates sobre a defesa dos animais e da natureza.

Na segunda feira passada foi como um abanão na minha alma e no meu espírito para agradecer por todos e todas aquelas que tenho encontrado aqui no Brasil e que duma forma ou de outra estivemos e estamos juntos duma forma solidária, valorizando a existência de cada um e o trabalho que cada um de nós desenvolve. Ao invés de nos focarmos em que nos passou a perna, nos puxou o tapete debaixo dos pés e descuidou da lealdade que uma amizade pede, nós focarmos-nos em quem nos respeita e nós respeitamos. Nessa manhã, logo depois de agendar em Barão Geraldo a mesma apresentação que dei no Como? Espaço Vegano há um ano ou dois atrás do espetáculo "Um Buraco no Céu" cujo tema é a ecologia das emoções e a importância do silêncio para um mundo mais sustentável, recebi a noticia da partida do Cabeto. Deu-me um piripaque, por me ter pego desprevenida. E aí confirmei como o Cabeto e a Maria são para mim pessoas muito queridas e caras assim como algumas pessoas amigas e solidárias que tenho conhecido no Brasil desde que aqui cheguei vinda dum Portugal desmoralizado pelas garras do neo liberalismo.

Na terça voltei a entrar na biblioteca central e lá estavam aquelas duas plantinhas em cima da mesa duma das bibliotecárias. Plantinhas essas que eu já comentara que estavam a durar muito. Nesse dia as florzinhas estavam a murchar mas as folhas de baixo estavam viçosas. Então tive um insight: as flores, que somos nós seres mortais, murcham mas a vida continua a florescer. Se voltamos a ser as flores que nascerão a seguir e se outras flores virão no nosso lugar... Isso é um mistério.

Porém, desejo do fundo do coração que o Espaço Vegano em Barão Geraldo continue a ser um ponto de encontro não só para comer e beber, mas também para pensar outros paradigmas, novas formas de enxergar a vida e proteger a Vida.


CABETO SEMPRE VIVO COMO FONTE DE INSPIRAÇÃO NO CAMINHO DA SOLIDARIEDADE, GENEROSIDADE E AÇÃO PACIFISTA! ATÉ SEMPRE! VITÓRIA AOS PACIFISTAS QUE NÃO SE DEIXAM ABALAR E ARRASTAR POR NOTICIAS E AÇÕES FAKE, seja no macro como nas micro relações,  E ASSIM ABRIR CAMINHO DO CORAÇÃO QUE NOS LEVA DE UNS AOS OUTROS!


A Piu
Brasil, 23/08/2019

SONS E SILÊNCIOS DA FLORESTA

" Nossos maiores amavam suas próprias palavras. Eram muito felizes  assim. Suas mentes não estavam fixadas noutros lugares. Os dizeres dos brancos não se tinham intrometido  entre eles. Trabalhavam com retidão e falavam do que faziam. Possuíam seus próprios pensamentos voltados para os seus. Não ficavam o tempo todo repetindo: " Um avião vai pousar amanhã! Vou pedir facões e roupas!" ou então " Garimpeiros estão se aproximando! A malária deles é perigosa, vai nos matar!". Hoje, todas essas falas a respeito dos brancos atrapalham nossos pensamentos. A floresta perdeu seu silêncio. Palavras demais nos vêm das cidades. Vários de nós foram até elas para tratar de doenças ou defender a floresta. Suas palavras entram em nossa mente e a tornam sombria. Esses forasteiros não nos param de preocupar, mesmo quando estão longe de nós."

Nosso pensamento fica emaranhado com palavras sobre garimpeiros que comem a terra da floresta e sujam nossos rios, com palavras sobre colonos e fazendeiros que queimam todas as árvores para dar de comer a seu gado, com palavras sobre o governo que quer abrir nelas novas estradas e arrancar minério da terra.  (...)  Os jovens passam o tempo todo jogando futebol na praça central da casa, enquanto os xamãs estão trabalhando ali ao lado. (...) O pensamento desses jovens ainda está obstruído. Por mais que tentem imitar os forasteiros que  encontrem, isso nunca vai dar nada de bom. Se continuarem nesse caminho escuro, vão acabar só bebendo cachaça.
Os maiores não pensavam nem um pouco nessas coisas de branco. Hoje, nossos olhos e nossos ouvidos passam muito tempo dirigidos para longe da floresta, alheios a nossos próximos.
As palavras sobre os brancos emaranham as nossas e as deixam esfumaçadas, confusas. Isso nos deixa aflitos Tentamos então afrouxar nosso pensamento e tranquilizá-lo. Dizemos a nós mesmos que os xamãs irão nos vingar contra as doenças dos brancos e que não morreremos todos."

Davi Kopenewa e Bruce Albert " A queda  do Céu, palavras de um xamã yanomami" Companhia das Letras.SP: 2010. (págs. 226/227)







sexta-feira, 16 de agosto de 2019

HONRANDO OS HOMENS

Quando criamos algo autoral de raíz, seja a solo seja em coletivo é algo que vem lá de dentro. Para algumas pessoas será mais visceral do que para outras, mas é sempre algo que necessitamos expressar, seja qual for a expressão que utilizemos. Artística, literária.

Como já foi dito e apresentado em textos anteriores da página do espetáculo de palhaçaria feminina  sobre violência contra a mulher " AR DULCE AR" este trabalho surgiu da necessidade de duas mulheres palhaças trazerem para cena, dentro da linguagem da palhaçaria, as suas experiências enquanto mães numa relação abusiva. Mesmo que essa relação tenha acontecido há consideráveis anos e no meu caso que me toca durou ali uns dois anos de Trash metal sinfónico com um Raul Seixas e um Bob Dylan bem distorcido, tivemos a necessidade de trazer para cena um assunto que atravessa muitas pessoas. Por vezes mais do que pensamos e achamos. E para trazer esse assunto para cena, precisávamos pelo menos de ter alguma distância do sujeito que em algum momento achou ou acha que pode assombrar a vida da mãe dos seus filhos. Por isso, de alguma forma, essa dor  precisa de estar sarada para seguirmos em frente com a coragem de olhar esse dissabor, esse grande mal entendido acerca do que é companheirismo e relação intima a dois onde envolvem filhos e rirmos dos nosso próprios medos, ansiedades, vulnerabilidades e um profundo amor pelos nossos filhos para os proteger de alguém que está com a mente confusa.

No domingo passado no Brasil foi dia dos pais. Na minha terra natal, Portugal, é no dia 19 de Março dois dias antes do aniversário do meu pai, que é aquele rapazinho que se encontra na foto que deve andar pelos seus 8, 10 anos nos idos anos 50. Tem mesmo cara de rapazinho dos anos 50. Essa é outra, as pessoas duma época parecem-se muito umas com outras.  Curioso fenómeno. Ao lado está um tio, que é é um doce de pessoa, e o seu irmão Alfredo, o pai do meu pai. O meu avô já falecido. O avô Cunha que era o avô divertido que nunca se esquecia de trazer um brinquedinho ou um chocolatito das feiras por onde passava quando viajava em trabalho para Espanha. Uma vez trouxe uns binóculos vermelhos todos de plástico mas que davam para ver ao longe. Não havia cá essa onda de brinquedos de menina e de menino! Mas ele também trazia bonecas. Lá isso trazia. E eu adorava. A memória mais viva que tenho da cumplicidade com ele foi num dos meus aniversários, o dos cinco anos, onde ri para caramba com uma sessão de cócegas. Adorava também o seu humor bonacheirão, que não era para rebaixar os outros e sim a brincadeira pela brincadeira. Por viver perto dumas ruínas romanas e a 5 km de distância do mar, certa vez pregou esta a um casal brasileiro de amigos dos meus tios: existe uma passagem subterrânea da época dos romanos que vai da minha casa até ao mar. Primeiro nós rimos-nos por dentro, aquele gozo de tornar uma ficção convincente até a minha avó, que não tinha o humor tão apurado e por achar que não era honesto enganar as pessoas desmachou o prazer do momento. Mas mesmo assim toda a gente se riu até do facto dela estragar a brincadeira.

O meu avó de vez em quando também era chatinho para a minha avó, quando este bebia. Apareciam os monstrinhos do medo e da desconfiança fazendo ceninhas de ciúme fruto da sua confusão mental. Porém, quando honramos as nossas ancestrais também devemos honrar os nossos ancestrais que um dia também foram crianças e que no caso deste avô, como muitos avôs de muita gente, não era lá muito bem tratado pelo seu pai. Digamos que era uma educação wale poff! Na base da rudeza física e isso, em algum momento, reverbera no comportamento da pessoa mais tarde, consciente ou inconscientemente. Mas da minha parte consigo enxergar a criança interior do meu avô, das suas brincadeiras, humor, generosidade e  honrá-lo. Honrar os nossos pais e nossos avós é honrar a nossa vida, mesmo que algumas vezes a sua mente fosse confusa por ter recebido um amor distorcido. E NÓS? Estamos cá, aproveitando a tal da Nova Era para reaprender a nos auto cuidar e anos amarmos sem distorções.

Já a cahorrada que se encontra ali, não tive a honra de conhecer mas são iguaizinhos aos cachorros da atualidade.

A Piu
Br, 16/08/2019

Ah não se esqueça de curtir, se curte, a página no facebook " Ar Dulce Ar"- espetáculo de palhaçaria feminina sobre erradicação da violência contra a mulher com Geni Viegas e Ana Piu com direção de Leonardo Tonon e assessoria artística de Adelvane Neia. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209
Iniciamos a campanha de Crowdfunding para a terceira fase do trabalho. Com as palhaças Maffalda dos Reis (Geni Viegas) e Beltrana de Tall (Ana Ana Piu).
Ar Dulce Ar, O Prelúdio tem como objetivo fazer uma curta temporada num espaço alternativo, para desenvolvermos a linguagem da palhaçaria junto ao público. Todo o processo de criação, roteiro e direção já foram finalizados e nessa última etapa buscamos apoio para continuarmos o desenvolvimento do espetáculo. Entre no site " Catarse" e nos apoie.  <3https://www.catarse.me/ar_dulce_ar_preludio_ce42...


quarta-feira, 14 de agosto de 2019

FALA SÉRIO! RIR É UM NEGÓCIO SERÍSSIMO!

De que nos rimos quando nos rimos? Essa é grande pergunta, da família de : " Ser ou não ser? Onde está está a questão? ", " O que se passa quando não se passa nada?", " Como pegar leve quando a coisa pesa?". " Tornar leve o que é pesado e pesado o que é leve." Esse é um daqueles ditados japoneses que certa vez pedi para imprimir numa T-Shirt. Ai! Uma camiseta! Rimos-nos do que nos é familiar ou do que estranhamos? De ambos? Rimos para subscrever o preconceito ou para nos libertamos do mesmo?

Rir de nós é libertador. Rir dos nós é igualmente libertador porque ao rirmos dos nós rimos de nós.
O riso pode ser tanto libertador como opressor. Rir é um movimento que surge da espontaneidade de algo que nos surpreende pelo exagero, pelo absurdo, pelo inexplicável. O nosso riso diz muito acerca de nós. Se rimos do outro para nos sentirmos superiores, se rimos de algo que desconhecemos ou que achamos que conhecemos mas que estranhamos por que abala as nossas profundas crenças demonstra que provavelmente precisamos de nos auto observar um pouquinho mais para que transformemos a nossa arrogância, fruto da ignorância como toda e qualquer arrogância, em humildade.

O riso pode e dever ser irreverente. A irreverência de saber que tudo é impermanente, que nada é congelado. A irreverência de aceitar que a vida é continuamente impermanente e que existem infinitas formas de enxergá-la, de vivê-la. Rir dos nossos aprisionamentos internos, que são os medos, as raivinhas e as tristezas de estimação, por ser irreverente com nós mesmos, porque temos a coragem de olharmos para nós mesmos como seres falíveis, resilientes, belos, poéticos e grotescos.

Porque rimos quando nos rimos? Rimos para semear amorosidade e pacifismo, dois termos que quando postos em prática são revolucionários, ou rimos para perpetuar preconceito e sublinhar o nosso ínfimo conhecimento quanto às múltiplas possibilidades de caminhar pelo mundo sem causar sofrimento a nós mesmos e aos demais, ou pelo menos evitar.


Rir ou provocar o riso pode ser caustico. Mas quando o fazemos qual o nosso propósito? Desconstruir? Destruir? Construir? Ou rir por rir sem pensar em nada disso? Rir é uma forma de pensar e exercitar a inteligência de outro jeito maneira que não aquela lógica do esperado? Rir é o inesperado. É a transgressão. Rir pode ser um bom remédio para o coração e cuidar do nosso coração é transgressor. Rir pode e deve ser um elixir alquímico para transformar desamor, dor em Amor e isso é transgressor. Nesse caso, transgredir com o riso é trilhar a auto consciência do que andamos a fazer por este planeta enquanto cá andamos. RIR É MUITO BOM! RIR JUNTOS UNS COM OS OUTROS E NÃO DOS OUTROS É MAGNIFICO! LIBERTA DOR!

A Piu
BR, 14/08/2019

Ah não se esqueça de curtir, se curte, a página no facebook " Ar Dulce Ar"- espetáculo de palhaçaria feminina sobre erradicação da violência contra a mulher com Geni Viegas e Ana Piu com direção de Leonardo Tonon e assessoria artística de Adelvane Neia. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209

Iniciamos a campanha de Crowdfunding para a terceira fase do trabalho. Com as palhaças Maffalda dos Reis (Geni Viegas) e Beltrana de Tall (Ana Ana Piu).
Ar Dulce Ar, O Prelúdio tem como objetivo fazer uma curta temporada num espaço alternativo, para de
senvolvermos a linguagem da palhaçaria junto ao público. Todo o processo de criação, roteiro e direção já foram finalizados e nessa última etapa buscamos apoio para continuarmos o desenvolvimento do espetáculo. Entre no site " Catarse" e nos apoie. <3 <3 <3https://www.catarse.me/ar_dulce_ar_preludio_ce42...


sábado, 10 de agosto de 2019

O RISCO DE UMA NOBRE CAUSA VIRAR UM FACHISMO

Quando descobrimos algo que nos faz bem e faz sentido e  que acreditamos que faz bem para todos , logo é uma nobre causa promissora da cessão de sofrimento, muitas vezes corremos o risco do apego a ideias feitas que podem perpetuar esse mesmo sofrimento que tanto queremos erradicar.
O vegetarianismo, o veganismo por exemplo. Para aqueles e aquelas que não sabem qual a diferença aqui vai: o primeiro trata-se da pessoa não comer carne mas come lacticínios e ovos. No segundo a pessoa não come absolutamente nada de origem animal.

Um dos grandes motivos do movimento vegano, senão o principal, é cessar com a exploração animal e o sofrimento causado a esses seres. Ok. Compreensível numa sociedade que se industrializou em ralas décadas e que o foco é o lucro duma produção massificada, em que galinhas, porcos, vacas, bois, campos de soja, monoculturas são um pacote duma produção cega, desrespeitosa com os ciclos naturais da vida e as vidas de seres vivos.
Porém, colocam-se vários poréns. O primeiro, aquele que me pega mais, é a forma como alguns seres humanos defendem essa nobre causa duma forma pouco amistosa e culpabilizante quem ainda não encontrou esse caminho elevado para saciar das suas necessidades mais básicas: a fome. Antes de defendermos seja o que for precisamos de estar cientes de que lugar falamos e exercitar um olhar mais global que contextualize diferentes realidades. A realidade de quem nem pode escolher o que vai comer. A realidade de quem nem tem o que comer e come o que lhe aparecer à frente. A realidade que cada um está na sua caminhada de auto entendimento e por aí vai.

Aqui há uns tempos uma página vegana postava uma imagem dum desenho de Buda com uma frase mais ou menos assim:  " Se você medita tanto e continua comendo carne, você está compactuando com os assassinos." Bom, quem inventou essa frase só prova que não medita ou não medita o suficiente pois quem olha para dentro com frequência vai olhar para as suas sombras, para aquilo que deve ser trabalhado dentro de si mesmo e vai deixar de julgar os outros, porque quem olha para dentro de si mesmo identifica no outro o que está dentro de si. Quem  silencia os pensamentos e ideias feitas galopantes vai exercitar um olhar compassivo e respeitar o tempo de entendimento de cada um. Porque nós cuidarmos do nosso equilíbrio emocional e consciência expandida já é uma demanda, uma grande trabalheira para perdermos tempo em defendermos agressivamente algo que achamos tão pacifista. Assim sendo, mais vale mil receitas gostosas, económicas, saudáveis veganas compartilhadas do que mostrar abates de animais a crianças pequenas. Além de traumatizante é uma lavagem cerebral. E tanto fundamentalismo pode afastar quema té queria se aproximar dessa escolha. Mas que ver o pintinhos a entrarem numa trituradora para virarem nuggets é impactante... Lá isso é! Mas bora lá com mais calma com os moralismos, fruto duma ideia de pecado. Porque é igualmente impactante alguém ser recebido como visita e a pessoa dar o seu melhor dentro das suas possibilidades e da sua realidade. Uma galinha que acabou de matar do seu galinheiro, porque é o que tem e o que pode oferecer de coração. É impactante a pessoa que não escolheu esse caminho ser tratada com desprezo por quem acha que encontrou o caminho da salvação.

Acolhermos as diferentes realidades e as múltiplas escolhas, quem as pode ter, e os diferentes níveis de consciência é TRANSFORMADOR! REVOLUCIONÁRIO! Caso contrário o veganismo é um achismo. Ao limite um fachismo.

A PIU
Bolhão Geralzen 10/08/2019




segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O DIREITO E O DEVER DE AMAR- o olhar como uma medicina

 " Não dá para lutar com o que não se pode dar nome. Como no Brasil todos os documentos relacionados à escravidão foram queimados, não temos como saber de onde viemos, se da Nigéria se da Guiné- Bissau. E quando não se sabe de onde vem, é mais fácil ir para onde a máscara diz que é o seu lugar. Conhecer minha história, a história dos meus antepassados, me possibilitou romper com a história única e identificar tudo aquilo que é negativo que havia sendo dito sobre pessoas como eu.
Ler O olho mais azul, de Toni Morrison, escritora estadunisense e prêmio Nobel da literatura, foi outra pequena revolução.
" O amor nunca é melhor do que o amante. Quem é mau, ama com maldade, o violento ama com violência, o fraco ama com fraqueza, gente estúpida ama com estupidez e o amor dum homem livre nunca é seguro", ela diz. Foi graças a Morisson que adoecida pelo racismo, eu precisava encontrar formas para não amar de forma adoecida também. O amor, por mais que me tivesse sido negado por várias formas, era um direito. E que viria a partir do momento em que eu tivesse a coragem de de olhar para dentro de mim com sinceridade para retirar o mal que fora colocado ali com tanto silenciamento. "
RIBEIRO, Djamila, " Quem tem medo do feminismo negro? ", Companhia das Letras. SP: 2018.
" As pessoas não são más só estão perdidas. Vamos resgatar!" canta o Criolo na sua música Ainda há tempo. Assim sendo, o ser humano não é linear. A pessoa não nasce generosa ela aprende a ser generosa. A pessoa não nasce estúpida. Ela torna-se um ser de comportamentos duvidosos para o seu crescimento pessoa para que possa trazer benefícios para todos. Mesmo quando somos estúpidos não é porque somos definitivamente estúpidos. A estupidez é uma doença, tanto espiritual, como social e cultural. O racismo, o machismo e todos os ismos que segregam e mal tratam são doenças que podem contaminar se não tivermos essa coragem de olhar para dentro. Ninguém pode fazer por nós. Alguém pode fazer uma necessidade fisiológica por nós? Podem-nos ajudar, quando precisamos, mas ninguém pode fazer algo que somente a nós nos compete. Silenciar a mente, escutar o coração é algo que só a nós nos diz respeito. E esse é o grande passo para sabermos-nos amar de forma saudável, como escreve a Djamila. E assim as máscaras caem, os obstáculos dissolvem-se.
Porque ao longo da história queimaram-se documentos, provas de algo que causou sofrimento? Porque no fundo no fundo os algozes, que não são só algozes e um dia foram crianças inocentes, sabem que precisam de apagar uma verdade para perpetuar uma mentira em prole do ego distorcido. Um povo que oprime outro povo é porque oprime o seu próprio povo. Como portuguesa, residindo no Brasil, também é isso que tenho para compartilhar hoje no dia 5 de Agosto de 2019 quando alguém diz: " Vocês portugueses vieram colonizar e escravizar." É VERDADE! É A MAIS PURA DAS VERDADES. Porém, o que a História não conta das mulheres e dos homens que foram oprimidos nesse processo histórico? Porque a História do Brasil não conta todas as opressões, genocídios, desmatamento EM TODOS OS GOVERNOS SEM EXCEPÇÃO? Esse colonialismo e escravidão aos interesses de uns poucos ainda está em vigor no Brasil e numa grande parte do mundo. Então, talvez seja urgente olhar para a população da periferia, para os quilombolas, para população indígena que bate de frente com os interesses dos Estados ao invés de levantarmos bandeirinhas porque temos que responder de imediato se gostamos mais do pai ou da mãe quando estes nos abandonaram em prole do seus complexos interesses. Falo da esquerda (?!) e da direita.
O ego são os pensamentos que produzimos. O ego não é um monstro de hálito fedido. Pode ser se não cuidamos dele e não lhe colocamos limites, mas o ego são os pensamentos que nós cultivamos dentro de nós. E se semearmos pensamentos que nos conduzam às verdadeiras causas da nossa felicidade para que assim possamos superar as verdadeiras causas do nosso sofrimento saberemos Amar com brilho nos olhos, olhar o olho no olho e assumir que somos seres viventes resilientes.
Quando alguém age por falta de lucidez e invade o espaço do outro de forma subtil, abrupta ou envolta numa identidade falsa esse alguém tenta convencer os outros que o alvo atingido está louco, não está no seu perfeito juízo. Tenta despistar o que está à vista, distorcendo factos, aniquilando-os, criando intriga e histórias únicas que perpetuam preconceitos. Mas a vida com os seus múltiplos rasgos de luz vem iluminar o que sempre lá esteve: os múltiplos caminhos para percorrermos com mais paz e amorosidade.
Ontem escutei de alguém que esteve entre Xamãs Lakota alegando que estes profetizam que está chegando a hora do feminino levantar-se com o seu sagrado feminino, reverenciando a Pachamama, mãe terra, para resgatar os seres vivos desse caos que está instalado. Talvez para muitos que poderão ler isto não faça sentido algum, principalmente aqueles que estão envoltos num realidade industrializada onde o sagrado foi confundido com alguma religião que aliena porque serve apenas como um mecanismo de controle como outro qualquer. O jornalismo sensacionalista e parcial é um desses mecanismo de controle, mas convence as pessoas que as mesmas estão informadissimas.
Mas ainda há tempo. Cada um e cada uma terá de fazer a sua parte em grandes e pequenos gestos no seu quotidiano. Nem que seja olhar nos olhos de alguém que desrespeitamos e dizer por palavras ou através do silêncio que igualmente expressa bastante: " Sinto muito as incompreensões entre nós criadas. Eu escondi-me atrás dum identidade falsa para te ferir/ Não fui que me escondi atrás dessa identidade falsa para te ferir. / Fui eu quem hackareou a tua conta e fiz-me passar por ti para te boicotar e ferir, porque eu sinto-me intimidado com a tua exuberância. Eu também gostaria de ser assim, mas eu agora libero-te para amares quem tu quiseres e seres amada por quem tu quiseres/. Não fui eu quem hackareou a tua conta. E torço por ti, como agora sei que tu torces por mim embora eu saiba que respeitar é uma forma de amar sem possessão. Agora eu sei que Amar é querer bem a todos os seres sem oprimir nem possuir e ficar feliz quando alguém se ama mutuamente sem me intrometer negativamente." Olhar nos olhos com olhar corajoso e descansado é uma medicina. E assim o Amor, a Paz brilham sob a luz do sol, da lua e das estrelas.
A Piu
Brasil, 05/08/2019
Imagem: Aline Miguel
" Chita e negro foram estigmatizados. Chita e negro foram (e ainda são) alvos de preconceito. Chita e negro sobreviveram à exclusão e ganharam mais espaço no âmbito social. A chita foi parar nos principais desfiles de moda e os negros obtiveram uma maior representatividade nos espaços institucionais. Suas histórias foram um entrelace de luta, garra e conquista, e é a força deste enlace que busco transmitir em minhas obras." inhttps://followthecolours.com.br/…/artista-carioca-aline-mi…/

domingo, 4 de agosto de 2019

ATÉ SEMPRE LOLA, A mulher do cabelo cor de fogo! - que a doçura habite sempre o teu coração furacão

Uma Mulher do seu tempo e fora do mesmo que afirmou ser Mulher na transição dum Portugal fascista para uma democracia, muitas e tantas vezes frágil onde o lugar da arte e da cultura nem sempre colocado com o devido reconhecimento. Uma MULHER maior do que p seu próprio País.

Até sempre, querida Lola que a tua passagem seja leve, colorida, emancipadora. Que no lugar do escuro vistamos branco porque continuas e continuarás viva no nosso coração.

 Ana Piu e seus amigos no FIAR (festival internacional de artes de rua, Palmela/ Portugal 2012) já depois da menina Piu ter decidido morar no Brasil e sempre dar o contato da Xô Dona Lola aos artistas brasileiros que faziam tensões de ir a Portugal com o seu trabalho. 
À esquerda a filhota da bailarina Rita Judas e à direita o Sebastião, neto da Lola - Dolores de Matos.


Partiu a Dolores de Matos 😔 A Lola do FIAR (Festival Internacional de Artes de Rua) de Palmela. Dedicou toda a sua vida ao teatro e sobretudo às artes de rua. Querida Lola, mulher de lutas, cabelo vermelho de fogo, do tanto que lhe incendiava o peito. ( Julieta Aurora Santos- diretora do Teatro do Mar, Sines/ Portugal)

sábado, 3 de agosto de 2019

AS MENINAS DA NOVA ERA E O QUE JÁ ERA, JÁ ERA




Já não era do tempo que se aprendia a bordar na escola. Depois da vinda dos cravos vermelhos as meninas tinham mais do que fazer que bordar. Andar de bicicleta, por exemplo. " Sempre achei que te tornasses uma menina aprumadinha. Às direitas! Sempre despenteada com essas farpelas em cima do corpo." Dizia uma das suas avós. Pois, mas avós nem as mães podem esperar que as suas crias saiam como as meninas bem comportadinhas que as convenceram que eram. E o que significaria ser às direitas? O que é ser ser às tortas? E o que é ser mal comportadinha? O regime que as educou assim era muito mal comportadinho, mas todos tinham que ficar caladinhos com desconfiança do vizinho. Um regime do culto da mentirinha e da difamação para ficar tudo de acordo com os interesses de uns poucachinhos. Um regiminho faxixinha.
Iria, então, homenagear essa avó de testa alta que não pôde aprender a ler nem a escrever porque tinha de cuidar dos irmãos e dedicar-se à labuta da casa e do campo. Iria homenagear essa avó que em adulta adorava escutar o canto dos seus pássaros engaiolados e cobertos com um pano para chilrearem " melhor".
Primeiro que tudo iria cantar e dançar mesmo quando perdia alguém querido, contrariamente ao que essa avó defendia pois " não ficava bem e o que os outros iriam pensar?" Segundo faria tudo para viver próxima a pássaros livres que cantassem em bando ou solitários rasgando o céu e pousando nas árvores sem chilrear desesperadamente debaixo duma gaiola encoberta. Terceiro leria e escreveria por todas as suas ancestrais que não tiveram oportunidade de o fazer. Quarto faria de tudo para se realizar e assim fazendo da sua vida uma obra de arte que trouxesse benefícios a muita gente. Quinto não engoliria mais em seco ciúmes infundados de episódios chatos mas " aguentáveis", sexto nunca se esqueceria de honrar essa avó de testa alta que no fim da vida trocava tudo e a memória apagava-se como um pequeno fósforo. Seria palhaça, e como uma palhaça que se preze tem a memória curta e troca tudo mas ela, a menina de testa grande, não teria a memória curta e aprenderia a encontrar o equilíbrio entre o céu e a terra. Olhando de frente para a vida e sorrindo.
A Piu 
Br, 03/08/2019