segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

EXISTIR É UMA AUDÁCIA série: aprender a aprender

 


O episódio da ativista e atriz trans Keyla Brasil fez-me refletir e procurar mais informação sobre a causa trans no especifico, como a causa LGBTQ+ no geral. Não é que não acompanhasse. Pelo contrário, existem vários documentários disponiveis onde se pode escutar e testemunhar esses sujeitxs históricxs na primeira pessoa. Aliado ao facto de conhecer várias pessoas de distintos géneros e orientações sexuais por circular no meio artístico, principalmente no teatral. 

O que me chamou mais a atenção foi a Keyla mandar um ator cisgénero sair do palco porque ele era um transfake, desrespeitava o palco - que é sagrado -logo a causa trans ocupando o lugar que estas deveriam estar. Aqui temos uma questão que eu entendo e sou totalmente solidária: as trans como todas as pessoas que não são cisgénero ou que são mas por motivos de cor, raça não existe por ser uma construção social, de classe social ou por serem mulheres, mães, mães solo a sua visibilidade muitas vezes está compromotedida, logo a sua existência. Sim no caso as trans, como toda gente, tem diretito ao acesso à saúde, educação, mercado de trabalho e à integridade física e moral. O que nem sempre é assim... Elas, as trans, devem ter espaço e condições para contar as suas narrativas e serem respeitadas e não terem que recorrer à prostituição que por vezes é o que resta por falta de acesso às oportunidades de trabalho por puro preconceito. No fundo todos nós queremjos ser respeitadxs. O respeito é uma negociação entre direitos e deveres de todas as partes.

Eu, como mulher, artista, mãe solo, cidadã quero ter a liberdade ( e luto por ela) de viver da forma que eu bem entender sem prejudicar xs outrxs e poder entrar em cena com as personagens que eu bem entender com base no estudo, na pesquisa dessas mesmas personagens que podem revelar muita coisa de mim e desconstruir ideias que eu tenha acerca de quem sou eu de que é isto ou aquilo. Porque não eu ir para cena encaranando uma trans que um dia foi um homem que não se sentia bem naquele corpo e encontrou no seu atual corpo a sua verdadeira essencia e liberdade de ser quem é? 

Ser ator ou atriz não será também nos colocarmos no lugar dxs outrxs abrindo horizontes para nos revelarmso para nós mesmxs e para o mundo? Desde que não caricature essas pessoas, reproduzindo estereótipos que as coloca no lugar de distância porque é que eu hei-de ser interrompida e censurada por estar em cena encarnando uma realidade que aparentemente não é a minha? E também sendo solidária à causa trans a partir da minha existência.

É lamentável que a Keyla esteja a sofrer de ameaças de morte, ataques xenofobos e transfóbicos pelo sucedido. Espero que ela encontre uma boa rede de apoio e proteção e que continue com a sua luta por visibilidade sem autoritarismo. Acredito que ela entenda percebendo pelo audio educado e com amorosidade que me enviou, só posso desejar a todxs nós: DITADURA E CENSURA NUNCA MAIS! VIVA A LIBERDADE E ABAIXO O PATRIARCADO, O NEO LIBERLISMOS E A MERITOCRACIA!

Isso é possível? Cada um que faça a sua a parte tomando consciência de quem é, do lugar que ocupa na sociedade e como se relaciona com a força da existência e do trabalho dos demais.

A Piu

Campinas SP 20/01/2023

sábado, 28 de janeiro de 2023

EU FALO E ESCREVO A PARTIR DE MIM série: aprender a aprender


Todxs nós viemos aqui para aprender. Ou não? Alguém nasce ensinado? Ótimo, óptimo, se uns já atingiram um nível de entendimento que a maioria não! Então partIlhem, compartilhem, dividam para somar. Eu tenho uma formação de esquerda, o que é que isso possa significar dentro deste sistema neo liberal como tal classista, em que nuns lugares é mais gritante que noutros. Falo e escrevo a partir do meu lugar, como tal a gerência agradece que não me coloquem em posições que não me pertencem por pura ignorância, lugares comuns, informação distorcida e equivoco. Gratinados.
Esta foto data de 1995, o meu primeiro trabalho como actriz/ atriz profissional. Sim, é um personagem masculino: o criado da peça original de Carlo Goldoni: A Estalajadeira. Por coincidência, se é que esta existe, eu iniciei o meu percurso artistico profisional no Alentejo,sul de Portugal, terra dos meus avós maternos. Porém, iniciei essa prática teatral em Lisboa, capital de Portugal. Primeiro no teatro amador depois num curso de actores. Conheço Lisboa e Portugal como a palma da minha mão, nomeadamente o meio artistico, no caso teatral. Como tal sou trabalhadora das artes cénicas desde 1990 e eu como a restante da classe artistica portuguesa não precisamos de lições de moral diante do desafio que é ser artista nesse país. Quanto muito precisamos de abanões, chacoalhos, como todas as classes artisticas em qualquer parte do mundo.
As minha origens são de trabalhadores braçais e criadagem, no caso os meus avós. Os meus pais já fazem parte duma pequeno burguesia trabalhadora que emerge no final dos anos 60,. Nunca tivemos criadagem nem pretendemos ter. Tampouco exploramos a força de trabalho de alguém como muitos por aí que se dizem de esquerda mas na hora H.... " venha a mim o que é teu".
Eu vivo do meu trabalho, que no caso é artístico, e que tem o seu lugar, a sua importância na sociedade. Há 11 anos que vivo no Brasil e muitas vezes não tenho sido acolhida pela classe artistica local na sua plenitude. Artistas das cénicas bem consolidados e referêncio nacional e também internacional. Os bambambam tão sorridentes e de esquerda ( gourmet) que tem hora que parece que visitamos o templo zen, mais o sambódromo em Orlando. E ainda bemos uma saché com comida japonesa. Sim, é uma provocação. Assumo. No meio disso tudo parece que a nossa experiência e formação não vale quase nada, não a temos, e ainda é esperado bajular com aquele sorriso maravilhoso e3 agradecido no rosto. Vai da estupefacção, ao enjoo. Daí a pessoa sabe que o Brasil
,como o mundo, é grande e vai em busca de outras acolhidas. Tem de tudo. Mas na hora do aperto quem nos enxerga como trabalhador(a)? Muito poucos sim, outros tantos nem tanto.
O episódio da atriz trans Keyla Brasil tem me deixado numa profunda reflexão acerca do lugar que nós ocupamos ou que desejariamos ocupar, nas inúmeras (in)visibilidades. Eu entendo o grito de dor e de pedido de ajuda de pessoas como a Keyla Brasil embora não concorde com a invasão de palco exigindo que um ator saia de cena porque é transfake. E dói confirmar que todxs nós somos vitimas do patriarcado, do neo libealismo. Todavia, por continuarmos vivxs há a esperança de aprendermos a aprender a nos escutarmos e enxergamos uns aos outrxs para viver com o coração mais quente numa grande rede de apoio.
A Piu
Campinas SP 28/01/2023

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

É P'RA RIR OU É P'RA CHORAR? - série: sorria! você está sendo imaginado!


Por acaso até nem acho piada nenhuma aquela das portuguesas terem bigode, porém trouxe essa piada para mim e este é um dos resultados. Acredito que eu não seja a única, nem tenho essa pretensão. Quanto mais formos a desconstruir esterótipos, escárnios e preconceitos mais ondulante o mundo se torna. Donde vem esse esterótipo? Primeiro: normalmente as mulheres com "bigode" ( penugem farta) são oriundas de contexto rural, independentemente da nacionalidade. Elas são italianas, russas, alemãs, portuguesas, espanholas, etc e etc. Será a alimentação aliada ao facto de em muitos casos não lhes ser permitido cuidarem delas mesmas? Eu conheci casos desses: o marido proibir a esposa de cortar o bigode... E ela, às escondidas, cortar com a faca das couves. É dum risivel constrangedor. As mulheres serem obrigadas a se embrutecer por ordem de terceiros. Mulher é para ficar em casa a cuidar o marido e dos filhos e não precisa de dar nas vistas nem ser objetop de desejo de terceiros. É assim e mais nada!

Para mim a expressão artística serve justamente para desconstruir o que está tão enraizado, nomeadamente a autonomia do nosso corpo e da nossa libido que somente a nós nos diz respeito. O que é viver no patriarcado senão uma série de imposições, distorções do masculino e do feminino onde a conquista de territórios, corpos, força de trabalho são o mote há milhares de anos aliado à competição e ao corpo e desejo objetificado. Precisamos juntes de refletir sobre isso e cada uma, ume, um que se descubra para si mesme, que se desnude das máscaras sociais e dos exibicionismos gratuitos que subscrevem o que já está aí, onde a competição e as comparações de quem é melhor ou pior, bem sucedido ou não, de mais gostosude ou não, com mais seguidores ou não.... Ufa! Que canseira. A mediocridade desvia-nos do essencial que é sermos nós mesmes e buscar xs nossxs parceirxs e desencanar, mesmo que seja dificil, de quem não nos dá a mão e não se solidariza com a nossa existência.

Deixo aqui este manifesto que deixei em comentários, nomeadamente do Jornal de  Noticias e da Keyla Brasil, enviando para a mesma no privado e para o actor André Patricio. Da Keyla recebi um audio educado falando da importância de eu me manifestar diante do ocorrido e desejando tudo de bom, do André recebi um joinha. Pronto, é isso. Para bom entendedor meia palavra basta, porque é recorrente observar quando alguém que lê algo não concorda porque abana com as suas certezas chamar a outra pessoa de confusa, diminui-la digamos. Já me aconteceu isso uma ou outra vez e já estou preparada. Não sou dona da verdade, mas atirar areia para os olhos não vale, muito menos diminuir. Valeu Keyla por responder educadamente, espero que a sua luta continue sem agredir trabalhadores da classe artistica e afins: 

" Há uma questão que está na ordem do dia, principalmente depois da invasão de bolsonaristas ao Planalto Central destruindo várias obras de arte. Esse ato de invasão e destruição, de desrespeito para com artistas e democracia hoje considero ainda mais fascista mesmo que a causa base seja pertinente e urgente ser olhada com ações de inclusão, no caso a LGBTQ+. O André não é um transfake É UM ACTOR. UM TRABALHADOR. Merece respeito. E nós como artistas temos o direito, a liberdade de encarnarmos quem quisermos e sermos tratadxs com respeito, dignidade. Existem trans autoritários e que se acham no direito de interromper um TRABALHO e mandar o ator sair(!!!??). Essa mesma trans talvez se fizesse isso aqui no Brasil, no país dela, sofresse graves riscos de vida. Ela tem o direito de se manifestar e ser incluída mas não desta forma que arrisco em dizer que é bolsonarista e ataca a classe artística que muito provavelmente nem conhece as suas lutas e sobrevivências. Como virou moda chique morar em Portugal muitxs brasileirxs nem se dão ao trabalho de saber e conhecer para onde vão e tentam atingir "o elo mais fraco". Aquele é somente um trabalho e a decisão de substituição é delicada, mas ao mesmo tempo humilde e corajosa embora seja questionável ser se subserviente a uma violência simbólica e autoritária desse teor. A comunidade LGBTQ+ que se una ainda mais e crie parcerias saudáveis com quem não é LGBTQ+. Não somos obrigadxs a ser humilhadxs principalmente quando somos solidários à causa. Bom senso e sensibilidade é transversal aos gêneros e exercita-se. A minha solidariedade para com o ACTOR, OPERÁRIO DA ARTE André. Patricio." 


A Piu

Campinas SP 27/01/2023

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

ONDE COMEÇA A MINHA LIBERDADE E ACABA A DO OUTRE? - série: sorria! você está sendo imaginado!


 Eis-me aqui na cidade de Évora, um dos berços da minha formação como actriz ou atriz ou atroz. Estamos no ano da graça do senhor de 2000 e este espetáculo " El Cubo" é de minha autoria e investimento financeiro, eu tirei do meu bolso para pagar a direção do Juan Ramon Urtera. Pois, de vez em quando para continuarmos o trabalho que para nós faz sentido fazemos dessas coisas. Mesmo assim prefiro pagar o meu trabalho do que ser desvalorizada e explorada por terceiros ou participar de trabalhos do quais eu não acredito que no rol vem as telenovelas ou determinadas abordagens teatrais que considero obsoletas  com todo o respeito por quem as exerce. São escolhas e todas elas teem um preço.

Este personagem, como muitos tantos, que tenho interpretado desde o inicio da minha trajetória artistica e profissional que remete ao inicio dos anos 90 é andrógino. Isto é, um personagens que apresenta caracteristicas, traços ou comportamentos que transitam em que é considerado feminino ou masculino. Algo indefinido entre esses dois conceitos. Na vida do dia a dia também sou, de certo modo assim embora até ao momento me considere uma mulher cisgénero heterosexual. Isso não me faz nem mais nem menos que outras pessoas com outras orientações sexuais. Como teatreia sempre tive colegas e amigos de distintas orientações. Aliás, o meu grande amigo de infância na escola era o Pedro, um menino efeminado com humor que quase ninguém nos segurava na risota durante as aulas até sermos separados. Cresci entre rapazes, sendo a única menina da família e da meninasa que brincava na rua naqueles finais de anos 70 e inicio de 80 num Portugal já democrático onde algumas meninas, como eu, não tinham as orelhas furadas à nascenças nem usavamso lacinhos e folhinhos e sim roupa unisex ou vestidos e saias para rodar e rodar e rodar com a inocencia de sermos crianças e não objeto de desejo de adultos de mente adoecida.

Durante os ensaios deste trabalho eu engarvidei e cheguei a apresentar grávida, quando a barrigota era discreta. Construi este personagem, que é uma moradora de rua com os seus sonhos e delirios poéticos e desejos de consumo e conforto que lhe é negado. Eu nunca morei na rua, embora já tenha dormido na rua nessas viagens de mochilão por cidades da Europa do Leste, assim como pelas praias da Andaluzia no sul da Espanha. Ser roots não é o mesmo que ser morador de rua, vamos combinar. Assim como ter um lado androgino não me faz negar o facto de ser mulher. Por ser atriz, e ter investido nessa formação eu considero que tenho a liberdade de interpretar toda e qualquer personagem, obviamente sem apropriações. Eu não vou pintar o rosto de negro para fazer de negra. São principios éticos. Também não me  vou fingir de homesexual no dia a dia para ser aceite por determinada comunidade ou por que acho que é moderno. Justamente por respeitar quem tem outras orientações.

Bom, no próximo texto escreverei sobre um ocorrido polémico duma atriz trans brasileira que invadiu um palco duma peça de teatro em cena em Lisboa chamando um ator de transfake e mandando-o sair do palco. Enfim, parece que se instalou a prática de se invadir e desrespeitar a democracia, os artistas trabalhadores e suas obras, neste caso por uma causa que considero nobre que é a LGBTQ+. Como cantava o querido conterrâneo Sérgio Godinho: " O fascismo é uma minhoca que se infiltra na maçã ou vem com botas cardadas ou com pezinhos de lã."

A Piu

Campinas SP 26/01/2023

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

BONITO SER VICIO! - série: sorria! você está sendo imaginado!



Era a terceira ocasião naquela área de evacuação de necessidades fisiológicas. Hmmm que definição tão pomposa para banheiro, casa de banho, quarto de banho, WC, toiletes, servicios. Sim, em espanhuelo fala-se: servicios. Faz sentido. A pessoa coloca-se ao serviçoa das necessidades fisiológicas. Quem não as tem? Desde o ser mais glamorouso ao autoritário com aparencia de invencivel. Aproveito, em nota de esclarecimento, dizer aqui que quando escrevo no post anterior que " Para mim as redes sociais, como tudo na vida, é para estar ao nosso serviço e não o contrário." Refiro-me a ferramentas, tais como tecnologia, dinheiro, bens materiais e não a seres humanos em especifico e seres vivos no geral. Para mim cada vez se torna mais nitido, principalmente vivendo há 11 anos no Brasil, que eu não vim aqui para ter criados nem ser criada de ninguém, seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo. Estarmos ao serviço dos outros, da vida, do bem comum não é o mesmo que ser serviçal. Já ter um carro dá jeito mas precisamos de ter tantos carros a deambular por este planeta? Ter dinheiro para mim é um meio e não um fim. Quando nos movemos somente por dinheiro algo de muito valioso se perde pelo caminho que no final das contas é a nossa alma e a conexão com tantas outras almas. Alma no sentido de psique, de integridade no propósito de vida não, me refiro às alminhas que transitam entre o céu, o limbo e o inferno.
Ali estou eu entre um vaso sanitário e uma porta toda escrevinhada. Essa prática de escrever nas portas, paredes e nas árvores lembra-me sempre a minha adolescencia. Nunca tive o hábito de escrever, mas curto ler o que vai na alma da pessoa cagona, mijona, menstruada, com vómitos. Há de tudo! Desde as declarações amorosas mais asolapadas, erotismo, vulgaridade, a poesia, filosofia, panfletarismo quando descobrem o Marx e o Trotsky, baboseiras várias. Vá lá freguês! Quer que embrulhe ou vai comer já!
Quando vi estes escritos, já faz umas boas semanas, fiquei a pensar quem teria escrito essa de que era mais fácil parir, mesmo que o bebê saia rasgado, do que aquela pessoa cagar. Ooops defecar. Seria uma mulher cinica e ressabiada com a vida que desprezava quem paria. De onde ela teria nascido? Que relação ela tinha com o seu corpo e com a sua mãe? Um homem? Mas aquele banheiro é feminino, mesmo sendo um espaço cultural onde eu já fiz uma audição para teatro, onde aconteceu uma parte dpo encontro de mulheres palhaças e nesta ocasião um festival de dança, danças à deriva onde o mote é a inclusão. Ou seja, um lugar no centro de São Paulo onde transitam artistas e pessoas ligadas à arte ou que a apreciam. Teria sido uma lésbica? Alguém bissexual, transgénero, queer, intersexual, assexual, pansexual? Era importante saber quem escreveu algo tão misógino e que teve a resposta à àltura: " Você odeia mulheres e mães e usa a metáfora gasta e bolsonarista do cu, gatam? VÁ FAZER TERAPIA."
De facto, este tipo de postura perante as mulheres num banheiro público demonstra que nem toda a gente está preparada para o fim da distinção de banheiros feminos e masculinos. Da minha parte eu quero estar tranquila e sentir-me segura na hora dos servicios. Não expor as mulheres a misoginos e tarados uma vez mais é o minimo que se pede. Ter outra orientação sexual e de génerro fora do cis não concede às pessoas o direito de serem agressivas e ainda acharem que estão muito à frente, que são modernas. Sim, tem essa. Por vezes fico na dúvida se a causa queer para alguns ser viventes, principalmente homens ou vindos desse género que depois mudam ou não, não é uma moda que subscreve o falocentrismo, a soberania do homem sobre a mulher reproduzindo uma caricatura do feminino e desprezando o feminino por consequencia. Para sermos respeitades e que sejam solidáries connosco temos que retribuir na nesma moeda se não é mais do mesmo da MERDA DO PATRIARCADO que os mesmes são vitimas mas retroalimentam. E isso é um (des)ser vicio e não quebra com o ciclo vicioso.
Desculpe, está na fila? Tem papel higiénico?
A Piu
24/-1/2023

sábado, 21 de janeiro de 2023

OS TAIS MINUTOS DE FAMA NA ERA DA INTERNET- série: sorria! você está sendo imaginado!


Onde é que eu estou, ãh? Quem adivinhar ganha uma caneta bic com tinta permanente. Por falar nisso! Quem é que ainda se dá ao trabalho de escrever à mão na era do digital onde tudo se registra, desde o prato de comida aquele bejinho maroto na gatinha ou no gatinho que se acabou de conhecer numa qualquer aglomeração pós confinamento? Aí a pessoa vai colocando um monte de informação acerca da sua vida privada mas que num estalinho de dedos pode-se tornar efêmera e a mesma precisa de se justificar diante dela mesma e da plateia quando três meses antes estava numa relação sólida e super amor da vida dela e de repente ou quase de repente, a coisa não corre assim tão happy end porque afinal se estamos vivxs não há happy endes e sim caminhadas, construções, desconstruções de (auto) relacionamentos. Amadurecimentos para quem se propõe a isso.

Para mim as redes sociais, como tudo na vida, é para estar ao nosso serviço e não o contrário. Sermos tomadxs pela super exposição que alimenta somente o ego e o voyerismo é como nos propormos ao jogo do Big Brother só que virtualmente e numa escala aparentemente menor, muitas vezes sem ter a verdadeira noção do impacto que é expor alguém ou nos expor quando provavelmente a base não é sólida,porque quando é sólida não precisamos de anunciar ao mundo que fazemos e acontecemos com determinada(s) pessoa(s). Simplesmente vivemos, apreciamos a convivência sem fazermos da nossa vida uma noticia da revista Caras. Um alarde constante para solicitar curtidas, likes. Obviamente que isto é uma opinião. Cada pessoa vive do jeito que quer e usa as redes sociais do jeito que bem entender desde que não prejudique terceiros. Seja vaidosa das suas conquistas desde que não aja com precoinceito e desdém com os demais. Anuncie que agora esá na Europa mesmo que seja um cantinho de Portugal esquecido chamado Cagarelhos de Baixo ou na India num retiro espiritual, mesmo que a sociedade indiana seja fortemente marcada por castas e duma desigualdade social constrangedora perante tanta espiritualidade turistica namaste gourmet. Sim, é um provocação porém nada que não traga no coração há muito. Onde há ego inflado e desigualdade social onde é que reside a revolução social e a espiritualidade libertadora?

Para os curiosos: estou no MASP, Museu de Arte de São Paulo, numa terça em que é gratuito para o povão e é lindo testemunhar vários visitantes de cores e feitios fazerem fila para entrar e onde poderão apreciar obras nomeadamente do Portinari ao invés de esfaqueá-las como os fascistazinhos que nem nos EUA são bem vindos depois do que fizeram no Planato Central. Como é lindo o mundo, mesmo assim, baixar a bola a esses criminozinhos birrentos que desrespeitam a sua própria Constituição e manifestam a sua boçalidade na plenitude. O que aconteceu em 8 de janeiro de 2023 em Brasilia é uma canetada a tinta permanente que depois dessa sermos éticos uns com os outros além dum direito é um dever.

A Piu

Brasil, 21/01/2023

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

PIUZADAS SOBRE O BB - série: sorria! você está sendo imaginado!

 

Caroxs leitores, uns amigos, outros conhecidos e outros nem uma coisa nem  outra, hoje vou aqui abrir um pouco da minha vida, um tanto do meu coração. Estão curiosxs ou nem por isso? Seja como for, nesta era do reality show, milk shake do público e do privado vou em frente. Vou-me expor, pronto! 'Tá decidido! Outro dia o face broncas informou que eu sou geradora de conteúdos e que assim posso chamar muitos seguidores. 'Mazolhem' eu cá sou como Brian dos Monthy Pythons, além de que muita gente junta seguidista faz-me ficar reticente eu fico com a dúvida se o meu sorriso está dentro do padrão dos influenceres... 

Pergunto isto porque confesso, sim confesso, que assisti ao segundo episódio do BBB presuadida por uma jovem adolescente que quer estar a par do que se passa e não ficar, obviamente, para trás nas conversas de amigos e colegas de escola. Assim que vi aquele pessoal todos agarradinho aos pares com uma anilha tipo pombo a avaliar quem tinha siontonia ou não com quem, surgiu uma pergunta existencial, filosófica sim: " O requisito para entrar o BBB é terem todos a mesma placa dentária? O mesmo sorriso?" GALERADA! Aquele pessoal tem as bocas todas iguais!!! Explicaram-me que vão ao dentista, gastam um dinheirão para transformar a placa dentária num sorriso plástico e padronizado!!! ESTOU CHO-CA-DA. Sim, sou retrô! Não acompanho esse tipo de ventos de mudança. Não, não é a idade. Há 23 anos aparecia o BB em Portugal e o choque foi idêntico! Pessoas de carne e osso dentro duma casa a fazerem-se delas próprias, mas sendo estimuladas para a intriga, a maldicencia, a fofocagem e o grande público a tomar partido delas como se fossem ao mesmo tempo da familia e personagens de novela. Ao inicio, na casa, são todos muito amigxs mas a coisa tá feita para desandar entre o mediático e o imediático. É o que anestesia e vende.

Como é que alguém pode saber, definir se sente e tem sintonia com outro alguém numa primeira abordagem? Principalmente quando se trata dum produto televisivo? Ok, é um jogo. Entendi... Quase entendi, mas não tudo. A cultura do imediato, das conclusões precipitadas deixam-me apreensiva. Podemos conversar com profundidade e presencialmente sobre a nossa vida com alguém e podemos nunca nos conhecermos mutuamente nos pontos mais importantes, digamos, da nossa vida. Há uma semana e meia atrás postei umas fotops de 2004/5 com o meu ex parceiro, pai da minha segunda filha para anunciar o seu falecimento e homenagear alguém que fez parte da minha vida com todos os altos e baixos. Duas amigas conhecidas distintas comentaram que achavam que era um amigo meu e não o pai da minha filha ex parceiro; Mesmo com as fotos nossas lá.. Fiquei dias a pensar nisso. Sobre o facto dele ser negro e talvez para algumas pessoas é inusitado eu ter filhas com pessoas com outro tom de pele e cultura, no caso angolana, e como o nível de intimidade uns com os outros nunca é pleno, mesmo com quem tenhamos partilhado momentos muito intimos. Se nós nem sempre nos auto conhecemos o suficiente, como pretendemos afirmar que sabemos muito ou tudo acerca da outra pessoa e ainda temos ou não sintonia como quem junta água com Tang? Em suma, tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com o meu vigor!

A Piu

Br, 19/01/2023

sábado, 7 de janeiro de 2023

OUTROS ENCONTROS

De forma inédita ou quase inédita, em 2022 a 59ª edição da mais antiga bienal de arte, que acontece em Veneza, dá prioridade a artistas mulheres, negros e indígenas. Cecilia Alemani, a curadora italiana, radicada em Nova York, pede emprestado o título do livro Leonara Carrington Il latte dei sogni (O leite dos sonhos, em português) para lançar a temática em que é descrito um mundo mágico onde a vida é constantemente reformulada. Há que ressaltar ainda que pela primeira vez a curadoria está a cargo de uma mulher que optou por 80% dos expositores serem de mulheres artistas. Em entrevista perguntaram-lhe se era uma Bienal de mulheres ao que a mesma respondeu contundentemente que nunca ninguém perguntou se as outras bienais eram de homens. Devido ao confinamento do Covid-19, a curadora viu-se “obrigada” a conhecer os artistas convidados, ainda vivos, virtualmente. Estas reuniões chamaram a atenção de Cecilia Alemani para três temas principais. O primeiro foi a representação dos corpos e suas mutações/ metamorfose. “ Para dar conta deste debate, a curadora priorizou obras que questionam a representação hegemônica do corpo humano (ocidental, masculino e branco) consagrada pelos modelos iluministas e renascentistas. Daí a opção dela em privilegiar artistas mulheres e artistas não-binários. (Lopes, 2022). O segundo tema é a relação entre indivíduos e tecnologia. O terceiro tema é a relação entre os corpos e a terra. A curadora convida assim artistas que projetem nas suas obras o fim do antropocentrismo e da hierarquia entre os seres humanos e as demais formas de vida. (Lopes, 2022). Alemani traz, então, para a Bienal artistas como o indígena brasileiro Jaider Esbell (1979/2021), a chilena Violeta Parra (1917/1967), a portuguesa radicada em Londres Paula Rego (1935/2022), a haitiana Myrlande Constant, as brasileiras Lenora de Barros, Solange Pessoa e Rosana Paulino, entre outros.
"Minha arte é sobre a tentativa de entender o local ocupado pela população negra no país e com um recorte mais específico que é o do local ocupado pela mulher negra no tecido social brasileiro." (Rosana Paulino em entrevista à revista Bravo). Nascida em 1967, em São Paulo, Rosana Paulino tem bacharel em gravura pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, com especialização em gravura pelo London Print Studio e doutorado em Poéticas Visuais pela ECA/USP. A artista possui obras em importantes museus e tem participado ativamente de diversas exposições tanto no Brasil como no exterior. Rosana aborda nos seus trabalhos temas que até hoje ainda são bastantes omitidos tais como a escravidão, o papel do negro na sociedade e questões de gênero. Para a artista com uma vasta obra reconhecida internacionalmente o seu foco é trabalhar questões que a incomodam enquanto mulher negra brasileira e não apontar caminhos. Se para muitos a sua obra revela e confirma a existência e resistência de povos que foram desenraizados, escravizados e silenciados também vem confirmar que na História da Arte e no circuito artístico ainda há uma lacuna e um longo caminho a percorrer no que diz respeito à visibilidade e reconhecimento de artistas fora da lógica hegemônica do homem branco ocidental, não arrisco em dizer heterossexual, porque muitos eram e são homossexuais assumidos ou não.
Aparentemente a sua obra não foi rotulada em Veneza de estetização do sofrimento como apontaram a obra “ Barco que afundou com imigrantes africanos de Christoph Büchel em 2019, na 58ª edição. Fica então a questão: trazer para a arte o que nos incomoda e por incomodar terceiros pode ser criticada desse modo pois quem vê a obra é um público rico europeu e branco? São justamente esses que precisam de ser lembrados que por detrás de todo o glamour europeu existem tragédias a acontecer do qual os mesmos ainda são responsáveis. Interessante seria colocar em diálogo a obra de Rosana Paulino com vasta obra da artista portuguesa Paula Rego que se radicou em Londres aos 16 anos em plena ditadura fascista portuguesa, pois segundo o seu pai Portugal era impróprio para meninas crescerem e se realizarem. Quais os pontos que as unem e os espaços ainda a percorrer entre ambas no que diz respeito às questões de gênero, de democracia e ausência da mesma e colonialismo? No entanto, pode-se considerar a sua exposição “ Atlântico Vermelho” no Padrão dos Descobrimentos em Lisboa através da EGEAC Cultura em Lisboa em 2017 possa ser um pequeno passo nesse reparo histórico entre Portugal e os territórios e povos por este colonizados. A exposição ao ser apresentada no Padrão dos Descobrimentos é bastante significativo pois foi dali que saíram as caravelas e este monumento é construído como uma exaltação a esse projeto mercantilista que durou séculos, sendo responsável pela maior escravidão de todos os tempos e genocídio continuado até à atualidade, agora pelos países ex colonizados. Como portuguesa considero que as instituições do meu país podem e devem assumir a responsabilidade de resignificar narrativas e abrir espaços democráticos para narrativas de quem tem subjugado e silenciado, promovendo assim formas mais sustentáveis de entendimento e convívio com vista à valorização da vida e da sua dignidade na plenitude como o leite dos sonhos.
- ANA PIU- 06/01/2023
Texto para o módulo Bienal de Veneza dum curso de História da Arte

Rosana Paulino, 59ª Bienal de Veneza 2022

Rosana Paulino, Assentamentos, Pinacoteca de São Paulo

Rosana Paulino, Atlântico Vermelho, Padrão dos Descobrimentos, Lisboa 2017


Paula Rego, 59ª Bienal de Veneza 2022

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

EU SOU A SOPA QUE POUSOU NA SUA MOSCA



É isso aí! De perto ninguém é normal e eu também sei ser careta. O que expressa, então, esta imagem? Uma cara de careta ou uma careta cara?
Há uns dias atrás, não sei que algorritmo me picou, apareceu a página da Regina Duarte- Portugal na frente da ponta do meu nariz. "Oh messa! A Regininha mora agora em Portugal como tantxs outrxs que abanam os brincos e dizem: " Vou dar o fora! Brasil não tem jeito, não!" Daí lá vão eles e elas em busca dum Portugal gourmet onde possam afirmar à boca cheia que moram na Europa. Eu não sou de comentar em páginas de ninguém, muito menos de famosos que nem conheço, mas deu aquele formigueiro na ponta dos dedos e fiz este comentário:
" Sonsa. Já foste admirada por muitas portuguesas e portugueses pelo teu desempenho em Malu Mulher. Hoje és só mais uma dos tantos brasileiros privilegiados que se cagam para a classe artística que não a das novelas e que se caga para a dignidade da vida humana. Esse teu olhar delidoce não nos faz esquecer que és filhinha da papai milico e que te benefícias com isso."
Temos aqui duas questões: não tem problema nenhum ser ator de novela. Eu conheço vários e boa gente, consciente. A questão é que a industria televisiva nada tem a ver com as politicas públicas culturais, Esta se auto sustenta e é outra história, diferente de quem vive do teatro, da dança, das artes performativas. É outra lógica de criação, produção e de mercado com finalidades distintas. Já o ser filha de milico e como tal receber pensão vitalicia, que não é pouca pois serão muitas bolsas familias numa só pessoa, aparentemente não teria problema se a mesma usasse esses R$7000,00 vindos dos cofres públicos para levar beneficios à comunidade. Ingenuidade minha, não? Bom, mas o comentário que deixei foi de certo modo catártico, pois só de imaginar Portugal povoado extreminhas direita brasileirxs que defendem a ditadura e a tortura... Não sei se ela mora em Portugal ou se mora aqui perto de casa, visto ela ter crescido em Campinas. Pouco importa. Cruzar-me com ela na rua está fora dos meus sonhos.
Por outro lado, deixo aqui um manifesto da querida amiga atriz Isabel Mões, companheira de longa data desde que começamos a estudar artes cênicas em 1991, tendo como público alvo quem está do lado de cá, dos que defendem a democracia e a não extinção do apoio às artes e cultura. É também para lembrar aquela velha pergunta " Onde está a solidariedae?" aos artistas brasileiros, que mesmo considerando-se de esquerda sabem muito pouco ou nada de Portugal e alguns pensam que lá é a terra de todas as oportunidades. Enquanto não houver conhecimento de causa e união ser de esquerda é só um adorno para ficar bem na fotografia. Ai! Ai! Há sempre uma sopa a cair em alguma mosca....
𝐃𝐞𝐬𝐩𝐞𝐝𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐩𝐨𝐫 𝐢𝐧𝐣𝐮𝐬𝐭𝐚 𝐜𝐚𝐮𝐬𝐚, 𝐨𝐮 “𝐝𝐚 𝐞𝐱𝐚𝐮𝐬𝐭𝐚̃𝐨”.
Neste ofício “morremos todos os dias na praia”,
e juntamos a essa “morte” horas extraordinárias de trabalho em exaustão.
sem nunca deitar a toalha ao chão,
𝗲́ 𝗳𝗿𝘂𝘀𝘁𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲, 𝗲́ 𝗲𝘀𝗴𝗼𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲!
No ano em que, dizem, “nunca houve tanto dinheiro para a cultura”, deveríamos, finalmente, celebrar.
Mas desoladas, lamentamos, dezenas de estruturas a fechar.
Centenas de profissionais sem poderem trabalhar.
Milhares de públicos largados, abandonados, não considerados...
Redes de afectos destruídas, relações criadas e excluídas.
(𝗲́ 𝗳𝗿𝘂𝘀𝘁𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲, 𝗲́ 𝗲𝘀𝗴𝗼𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲!)
Precisamos de falar!
Queremos ser ouvides!
Depois de dois anos de confinamento das artes, mais um ministro nos calhou, bem intencionado, culto e interessado...
mas não nos conhece, não nos ouve, não se compadece,
não acompanhou o processo, e nunca se candidatou.
Não nutre o diálogo com um sector que é diverso, inovador, audaz,
mas atravessado pela precariedade, ferido de morte, dorido e traído por todas as campanhas eleitorais que o mencionam.
Um sector em que a competência e a qualidade só sobrevivem através de uma resistência a toda a prova, durante toda uma vida.
Toda uma sobrevida!
(𝗲́ 𝗳𝗿𝘂𝘀𝘁𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲, 𝗲́ 𝗲𝘀𝗴𝗼𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲!)
𝗣𝗥𝗘𝗖𝗜𝗦𝗔𝗠𝗢𝗦 𝗗𝗘 𝗙𝗔𝗟𝗔𝗥
Queremos ser ouvides!
80% das candidaturas elegíveis, candidaturas de excelência, que criaram o CHÃO para vossa excelência ter CHÃO para governar, NÃO ESTÃO A SER PAGAS e precisam de falar.
(é frustrante, é esgotante!).
Reconhecemos que nenhum modelo é perfeito, que estamos sempre no CAMINHO...mas chegar de novo e destruir de FININHO a trama das artes que tem levado tanto tempo a tecer...
como se podem aumentar recursos fazendo crescer a desigual distribuição?como quem enche o corpo de esteróides e lhe arranca o CORAÇÃO...
Vem o aumento, vem o distanciamento? Aumenta-se o orçamento para a Cultura e distancia-se o diálogo?
Não nos ocorreu chegar a resultados de concursos públicos que não cumprem os avisos de abertura, que incorrem em erros legais e que defendem o contrário dos mais básicos direitos na Constituição.
Estes acontecimentos sujeitam-nos a níveis de indignidade e de humilhação que nos atravessam o corpo diariamente.
O corpo de toda a gente, de todos os agentes culturais...artistas, técnicos, funcionários públicos...os corpos dos ditos públicos e muitos mais…
o corpo dos elementos do júri que saem de cada concurso destruídos com o desgaste das escolhas e que por certo não regressarão (nunca mais!).
(𝗲́ 𝗳𝗿𝘂𝘀𝘁𝗿𝗮𝗻𝘁𝗲, 𝗲́ 𝗲𝘀𝗴𝗼𝘁𝗮𝗻𝘁𝗲!)
𝗣𝗿𝗲𝗰𝗶𝘀𝗮𝗺𝗼𝘀 𝗺𝗲𝘀𝗺𝗼 𝗱𝗲 𝗳𝗮𝗹𝗮𝗿!
Queremos mesmo ser ouvides!
tantas de nós há anos de " valise en carton" para encontrar alguma integridade na profissão de artista especializada, de cientista qualificada?
-Esta é uma de CARTA DE DESPEDIDA, fomos despedidas POR INJUSTA CAUSA!
Ser competente é punível com desconsideração.
Despedidas por injusta causa....assim sem mais…
Quando o vento muda e a vontade política se esquece de tudo o que tenho feito e gerado para criar mundos onde os filhos, os avós, os adultos encontrem a sua respiração, o seu sabor de viver, os detalhes que a vida apressada faz desaparecer, o ritmo da sua existência... Sou despedida…sem justa causa…assim sem mais nada…só porque o poder pode sufocar a potência de existir… pode dar um tiro no próprio pé e deitar fora anos de crescimento… despede-nos. O que irá acontecer com os meus filhos e os meus pais… sem os quais nunca poderia ter atravessado horas de trabalho sem descanso… porque a criação… como a lavoura… tem os seus próprios tempos, faça chuva ou faça sol… e ainda tenho que planear, defender, estudar, experimentar, escrever, apoiar as outras lavouras, comunicar, encontrar financiamentos...
Nunca quis fazer outra coisa, nunca foi fácil fazer o que faço… e faço-o bem! quer que me ajunte a quem faz o que faz mal? quer que me ajunte às linhas de tristeza e miséria que destroem a vitalidade da comunidade, do país, do mundo?
𝗣𝗿𝗲𝗰𝗶𝘀𝗮𝗺𝗼𝘀 𝗺𝗲𝘀𝗺𝗼 𝗱𝗲 𝗳𝗮𝗹𝗮𝗿!
Queremos MESMO ser ouvides!
com URGÊNCIA
antes que um dia o país fique deserto de sentido. Sem um único serviço administrativo. Sem um único espectáculo,
sem um livro, sem música, sem um podcast,
antes que venha a desertificação, a rádio sem conteúdos, o texto sem imaginação, cultura sem vibração.
𝗨𝗺 𝗽𝗮𝗶́𝘀 𝘀𝗲𝗺 𝘀𝗲𝗻𝘁𝗶𝗱𝗼 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗮 𝘀𝘂𝗮 𝗽𝗿𝗼́𝗽𝗿𝗶𝗮 𝗽𝗼𝗽𝘂𝗹𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼.
𝗤𝘂𝗲𝗿 𝗩𝗼𝘀𝘀𝗮 𝗘𝗫𝗖𝗘𝗟𝗘̂𝗡𝗖𝗜𝗔 𝗮𝘀𝘀𝗶𝗻𝗮𝗿 𝘁𝗮𝗹 𝗜𝗠𝗣𝗥𝗨𝗗𝗘̂𝗡𝗖𝗜𝗔 ?𝗧𝗔𝗟 𝗩𝗜𝗢𝗟𝗘̂𝗡𝗖𝗜𝗔?
- TEXTO DE ISABEL MÕES-

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

IMAGINEM


Imaginem que todos os muros, paredes, portões, janelas fossem grafiatados dando cor aos dias mais chuvosos.
Imaginem que a arte fosse mais importante que as ações financeiras e que esta sempre estivesse em toda e qualquer circunstância ao alcance de todxs sem elitismos nem erudições duvidosas.
Imaginem que a dúvida deixasse de existir, aquela dúvida que constroi muros, paredes, portões, janelas com grades para que alguém não nos invada ou exponha sem o nosso consentimento.Aquela dúvida que nos faz olhar, observar demoradamente até tomar o primeiro passo para aquele abraço tão esperado.
Imagimem muros, paredes, portões, janelas com grades deixassem de existir. Onde os grafites poderiam colorir os dias mais chuvosos? Imaginem que a a capacidade de imaginar deixasse de existir? Que chato que seria, não?
Imaginem que a imaginação criativa fosse tão estimulada para todxs que esta seria igual alimento como o arroz e feijão.
Imaginem que o medo, a ansiedade, a incerteza nunca mais fizesse parte das nossas vidas. Como seriamos? Uns meninos e meninas mimadas que acham que vivemos na terra maravilhosa do nunca onde não há obstáculos e somos merecedores de todo o conforto do mundo ou alguém que segura a vida pelos cornos e faz do medo coragem, da ansiedade confianaça, da incerteza um arriscar em ser feliz em dias de sol e também de chuva?
A Piu
Br, 03/01/2023