domingo, 31 de março de 2013

NIETZSCHE, ESSE MALANDRÃO

- Ai Dona Amélia, nem lhe digo nem lhe conto. Estou aqui que nem posso.

- Conte. Conte, se quiser contar.

- Não é que ainda agora aqui à mercearia escutei um tal de Nietzsche falar que temos a arte de não morrer de verdade?!

- Aaaaaahhhh malandrão! E a senhora não lhe respondeu nada?!

- Nem tive tempo! Ainda me disse que aquilo que se faz por amor está para além do bem e do mal.

- Valham-me os meus! Este mundo está perdido! Olhe! Sabe o que lhe digo?! Eu quando chego a casa dou sempre duas voltas à chave!!! Eu não sei onde isto tudo vai parar! 'Tá tudo perdido!


- Dona Amélia, Dona Amélia.... Obrigada por me ouvir. Mas olhe ainda estou com esta entalada na garganta:" Torna-te aquilo que és." Ainda me disse o fanfarrão antes do senhor Zacarias pôr na conta a minha despesa dos ovos e dos tomates.

- Coragem, minha amiga. Coragem. Se eu o encontrar vai ouvir das boas! Vai ver! Comigo não! Era o que mais faltava! (...) Olhe lá vem ele do outro lado da estrada. Vamos entrar ali na padaria e fingir que não o vimos.

- Dona Amélia, Dona Amélia. Se não fosse a senhora.

A piU
Br, março de 2013

sábado, 30 de março de 2013

DIVAS


O quarto era forrado por imagens pequenas, maiorzinhas, outras que ocupavam uma parte considerável da não menos pequenez considerável do tamanho do seu quarto. Isto é, da sua mansarda. Uma janelita espreitava timidamente do meio do telhado para outros telhados. Sonhava com todas elas. Sonhos que adquiriam todos os contornos possiveis. Quanto a quotidionez dos sonhos tinha mais dificuldade. Não imaginava ir com a Dietrich ao supermercado. Ela não seria senhora para ficar numa fila para pagar umas cotonetes! Ir à sorveteria com a Bo Derek até que imaginava.!

Aos 25 anos casou-se com Marlene. Sentiu um calor no peito tão grande. A sua esposa chamar-se Marlene! Como a Dietrich!... Iria chamar-lhe carinhosamente Lili. Lili Marlene. Marlene era sardente e roliça. Ficou ainda mais quando ofereceu-lhe cinco filhos. Todos iguazinhos a ele. De beiçola gorda, pois a sua avó era uma nega que fez as delicias do calmeirão do seu avô, de terras andaluzes com nariz e olhos de cigano de gema. Cuspidor de fogo, veio com a sua família ambulante para terras do além mar. E ali estava ele Zeribeu, o homem do trapézio. Timido no dia a dia, mas ágil em cena.

Agora, Zeribeu, estava casado. Mas quando aquela tal de Juli Fox veio à sua cidade dar autografos... Não se conteve de emoção. De tal forma que não ganhou coragem para levar um timido papel de caderno ou até mesmo aquela imagem que trazia escondida na carteira. Veio ainda a Sarah Stolphen. Também não teve coragem.

Amava mansamente a sua Lili Marlene. E quando fechava os olhos, tocando o macio rosto sardento, podia sentir uma textura como que de papel amolecido pelo tempo, gasto de tanto ser olhado e sonhado.

a piu
Br, Março de 2013

quinta-feira, 28 de março de 2013

DIGO-TE O QUE COMO, DIREI-TE-EI QUEM SOU


DIGO-TE O QUE COMO, DIREI-TE-EI QUEM SOU

Aquela sexta antes da Páscoa era sempre sagrada. Porquê? Porque além de ser feriado era o dia de ir ao mexilhão. Madrugava-se e lá ía a famelga toda com uma vestimenta de meia estação. Uma vestimenta "espera aí que eu já te digo", caso fica-se sol "bonito", caso fica-se frio e chuva "tomaaaaa!". Calçita arregaçada ou veste de ir banhos lá andavamos nós entre as rochas e se desse sorte com a maré baixar, mar adentro. Depois era uma tardada de mexilhões cozinhados de todas as maneiras e feitios. Como qualquer criança que se considere criança a casquinha do inofensivo crustáceo, que por o ser não tinha aquele olhar que nos fizesse pensar duas vezes antes de o engolir sem compaixão, fazia de belas e delicadas unhas de bruxa.

Anos mais tarde, lá para os lados das Alemanhas, que ávida de novidade espreitava atrás dum muro que nos entretantos já tinha desabado, o Poppe pediu para eu fazer um prato típico português apresentando com orgulho uma bela latita de mexilhões. Primeiro o rosto adquiriu um sembalnte de surpresa e dúvida, depois as mãos viraram e reviraram a latita. Eram mesmos mexilhões!!! Escusado será dizer que o corpo volteou confuso na pequena cozinha deixando os ombros abanarem-se de um riso dificil de conter.Uma lata de mexilhões!! Nunca visto em 19 anos de existência!! As cascas nem vê-las!... Que prato típico poderia fazer com meia dúzia de mexilhões em conserva?!!... Pasta com mexilhões e molho de tomate!... Very castiço! Cof cof. Assim como assim aquela sopa de legumes que havia sempre à mão de semear o amigo Poppe perguntava se eu tinha feito tudo tudo sózinha e de que marca era já agora...Bom, nada de espantar pois já havia quem perguntasse se havia carros em Portugal ou andávamos todos de carroça. Ao que respondi:"Claro! E nós mulheres andamos de lenço preto na cabeça, choramos muito em frente ao mar de cinto de castidade com chave desaparecida em mar alto!"

Bom, quando me convidaram para comer um prato típico alemão num apartamento no centro de Berlim cheio de pessoas e esperei horrores não esperava deparar-me com batatas cozidas degustadas com manteiga. Mais tarde perguntei a uma amiga se não estavam tirando onda da minha pessoa. Na boa, mas era só para saber e rir-me também. E ela respondeu que não, que aquele prato durante a guerra era um acepipe. Principalmente com manteiga!! Logo me lembrei do arroz à Valenciana que foi criado durante a guerra cívil espanhola com os ratos que ainda restavam pela cidade.

Hoje, recordo com alguma nostalgia essas sextas feiras sagradas da comezaina de mexilhão. Com o passar dos anos confirmei aquela tão conhecida expressã:" Quem se lixa é sempre o mexilhão." Pois... Mas isso agora não vem ao caso. A sorrir e a acenar que vida vai melhorar para quem assim acreditar. Dessas sextas e desses domingos de Páscoa guardo a memórias dos ovos de Páscoa com amêndoas lá dentro. Os ovos grandes eram para se comerem no domingo de Páscoa ou pequeninos no domingo de Pascoela, que seria dali a uma semana. Ainda hoje me pergunto se essa tal Pascoela não era uma invenção da minha mãe na esperança da chocolataria não ser devorada de uma só vez. Quanto aos preceitos das práticas religiosas, penso que eram estas básicamente as postas em ação. Havia uma ou outra prática levada mais a sério, mas só de vez em quando, que era beijar o pézinho do menino Jesus no dia 25 de Dezembro. Mas depois começou-se a falar lá por casa que aquelas senhoras todas de casacos com cheiro a naftalina beijavam o pézinho no preciso lugar onde eu beijava. Levantada a hipóte as poucas incursões ao pézinho do menino Jesus acabaram. Ainda degustei um óstia por engano... Soube-me bem. Um sabor simpático a papel. Vim dar a noticia, mas já era tarde. A minha mãe falou que era só para ter ficado sentada perto das outras crianças... Mas obediente como eu era, assim que o padre pediu para fazer fila eu também fui!...

Quanto à Biblia, li uma ilustrada, daquelas para criança. Até hoje tomo-a como um livro de poesia para levar só algumas coisas em consideração. Mas menina obediente como continuo a ser levo-as em consideração colocando os ismos de lado. Ismos são como espinhas no prato, riscam a garganta.

A piU
Br, 28 de Março de 2013

terça-feira, 26 de março de 2013

AINDA BEM QUE NÃO É COMIGO ou E SE FOSSE?

O cara nunca comeu um bife. O cara deseja comer um bife. O cara sempre sonhou com uns ténis Nike e um brinco de ouro, mais umas calças Reebock e o IPod, mais o carro branco como no clip da MTV. E já agora a loura avantajada ou até mesmo a morença cuja pele realça os ouros do cara.

O cara sempre foi um cabra da peste. Um cabra safado. O cara sempre foi o que foi, porque mesmo quando não era foi tratado como tal. O cara é um cara sem vergonha, porque não tem nada a perder.
O cara não é um cara. O cara são muitos caras que se amontoam no pátio, dobrados, de cabeça baixa com os dedos entrelaçados na nuca.

O cara é safado porque tem de se safar. O cara rouba porque fala que a sua família tem sido roubada com a força do seu trabalho.

O cara não sabe ser rico. O cara gasta tudo na mesma noite.

O cara quer ser como aquele playbou lá da tv. O cara não é playboy. O cara tem raiva aos playboys que sabem que são playboys; aos que não querem ser mas são; aos playbous que nunca o foram. O cara tem raiva de não poder ser. O cara tem raiva, por isso é. O cara só quer ser gente como os outros que vestem Lévis e calçam Adidas e que comem no shopping bifes que não são bifes. O cara quer passear de carro branco com mulheres avantajadas com beiçinho de silicone. Quer sentir-se uma personagem de clip.O cara quer ser tratado pelo nome.

O cara quer se sentir gente, mas por vezes sente-se um zombie sem nada a perder.

a piU
Br, 27 de Março de 2013


VAI-SE LÁ SABER ou O QUE ELES SENTEM QUE EU PENSO QUE ELES PENSAM QUE EU SINTO

O homem dirigiu-se à praça central e pendurou um cartaz no coreto:"HOJE O CÉU ESTÁ AZUL". Depois saiu de mansinho sem olhar para os lados. Quem viu aquela cena logo pensou:" O sujeito levou uma mesmo no meio dos olhos e está vendo tudo azul quase roxo. Coitado."

O senhor sorriu, quase deixou cair a placa dentária. Falou para a menina:" Menina querida! Um beijinho ao seu avô." Olhares reprovadores caíram sobre o senhor: "Porcalhão, depravado. 'Tá à vista o que se lê nos jornais!"

A mulher correu rua abaixo. Uns pensaram que fugia de algo ou de alguém ou até mesmo de si mesma, outros acharam que corria porque estava atrasada, outros ainda acharam que ela corria para ter a sensação do que é correr como uma criança. Nunca ninguém chegou a saber porque corria. Estatelada entre o riso e a dor não explicou o porquê da correria para quem a acudiu.

A criança chora aos altos berros. Alguns sentem compaixão. Outros irritação. Uns amor. Outros cansaço.
A criança só quer que a deixem em paz.

a PIu
Br, 26 de Março de 2013


segunda-feira, 25 de março de 2013

deusa democracia ana piu

http://youtu.be/S867wLPt6Kg

deusa democracia ana piu

Oh Deusa Democracia, onde andas tu minha amada, minha idolatrada e esquecida na rua da agonia?

Oh Deusa de mil dissabores que morres sufocada com clamores!

Democracia, Democracia que sofres de azia. Democracia. Democracia és o demo do dia a dia.

Oh minha Deusa Democracia, onde andas tu que já não escuto o canto da cotovia?

Oh minha Deusa amada, tão velha e aproveitada! Foste tu usurpada e desconchavada e agora sucumbes desvitalizada!

Oh minha Deusa que já não te canto louvores!

Estou orfã de mil amores!!!

A piU

Br, 23 de Março de 2013

DEVANEIOS E OUTROS ENLEIOS ÓBVIOS E MENOS ÓBVIOS

Desenvolvimento é um envolvimento de múltiplas partes. Desenvolvimento é nos envolvermos numa dinâmica onde todos fiquem a ganhar e ninguém fique a perder. Ganhar vantagem só porque sim também não é desenvolvimento. O que diferencia desenvolvimento de subdesenvolvimento? É que o subdesenvolvimento finge ser aquilo que não é. O subdesenvolvimento é aquela perda de energia, tempo, dinheiro, disponibilidade, recursos vários em algo que poderia ser muito mais mas não é, em algo mais do que o nada. Desenvolvimento é quando a pessoa não arrasta as cadeiras e sim levanta-as. é quando ninguém se atropela por falta de noção de espaço e tempo. Desenvolvimento acontece quando  se pergunta : "Para quando?" e logo se disponibiliza para o "Já!". Subdesenvolvimento é uma promessa daquilo que nunca se chega a ser. É um ram ram num "espera aí que eu já te atendo". Subdesenvolvimento deixa a alma pasma e a profundeza do ser com asma. Desenvolvimento é aquele articular entre os seres. É aquele caminhar de par em par e não ter medo de mergulhar. Enfim, desenvolvimento é um estar, um sentimento que ora se galopa de cavalo ora de jumento entre caminhos ermos e outros de cimento.

a piu
Br, Março de 2013

sábado, 23 de março de 2013

DEUSA DEMOCRACIA

Oh Deusa Democracia, onde andas tu minha amada, minha idolatrada e esquecida na rua da agonia?

Oh Deusa de mil dissabores que morres sufocada com clamores!
Democracia, Democracia que sofres de azia. Democracia. Democracia és o demo do dia a dia.

Oh minha Deusa Democracia, onde andas tu que já não escuto o canto da cotovia?

Oh minha Deusa amada, tão velha e aproveitada! Foste tu usurpada e desconchavada e agora sucumbes desvitalizada!

Oh minha Deusa que já não te canto louvores!
Estou orfã de mil amores!!!

A piU
Br, 23 de Março de 2013


sexta-feira, 22 de março de 2013

A SUAVIDADE DO PORTUGUÊS

O português é por natureza suave. É definitivo que o português tem brandos costumes. Ele é definitivamente suaaaaveeeee. Gosta de passear no Estoril e ver o pôr do sol cair no mar. Sonha com Paris e lê o seu matutino para se atualizar sobre o mundo. Que os curdos não têm maneiras, coitados, são uns desleixados; que os empregos são provisórios. Fazer o quê?
O português quando pode não fuma Kentucky. Arranha a garganta. A garganta quer-se suave.
O português é muito afável. Beija negritas no Hotel Ritz e liga à sua esposa que foi visitar os sogros ao Porto para lhe dizer que a ama, enquanto fuma SG ventil um atrás do outro suavemente.
Ser português CT é ser um português camarada trabalhador. Suavemente manifesta-se para não arranhar a garganta. Se alguém lhe fala em mudança saca de um SG Filtro e suavemente diz, entre o fumo: "Calma, calma! Agora estou a fumar um cigarrinho. Já pensamos nisso."

A piU
Br, 22 de Março de 2013

quarta-feira, 20 de março de 2013

FELICIDADE, ESSA COISA

Dizem por aí, as boas línguas, que hoje é dia da felicidade. E os outros dias são dias de quê? Partindo do principio que aquela historieta do "... e viveram felizes para sempre......." não é bem bem verdade... Bom, até pode ser verdade mas se acrescentarmos  o "quase". Então a história fica em aberto:" e viveram felizes para quase sempre." Será que esse "e viveram felizes para sempre" é uma forma de um facilitismo cordial que em vez de matar as personagens remete-as para um estado improvável, sem dinamismo, nem coisa nenhuma? Ser feliz para sempre deve ser de uma monotonia asfixiante, sem questionamento, sem diálogo, sem... sem sabor, odor, cor. Bem, não quero com isto dizer que temos de infernizar a vida uns aos outros!! Nãããã! Nada disso! Pelo contrário! Ele até há momentos que a vida não é lá muito feliz, nada feliz. Fazer o quê? Focar nos aspectos positivos, porreiros, bacanas, massa, fixes da mesma. E depois o que é essa tal de felicidade? Umas vezes estamos vivendo momentos, oportunidades ótimas, fenomenais, mas falta aquela coisaaaa. Aquela realização profissional, aquele grande amor, aquele bolso recheado para não ter de contar tostões, aquele ambiente familiar inspirador, aquele lugar bonito que gostaríamos de viver, aquela praia mesmo à mão de semear, aquela justiça social, aquela capacidade de nos organizarmos com debate e harmonia.

Há quem ache que a felicidade se compra assim... Zás trás pás! Paga-se um carro ao filho e nem uma bejuça nem um olhar olho no olho. Paga-se um SPA com umas belas massagens. Tingas! Paga-se o mapa astral, a constelação familiar. Zeeeen tou zeeeeeen! Paga-se a alguém para nos dar carinho e já tá. Paga-se para aprender a amar, a rir, a escutar. Paga-se para alguém nos escutar e ouvirmos coisas maravilhosas do quanto somos maravilhosos, apesar do nosso egoismo ser maior que nós.

Por vezes tenho curiosidade em saber como cada rosto se pousa no travesseiro, como os olhos de cada um se fecham na intimidade. Não, não é uma curiosidade big brodesca. Nããã! É só aquela curiosidade em saber até que ponto cada um de nós tem a consciência do nosso dever de fazermos por ser felizes e proporcionar felicidade a quem nos rodeia.

A piU
Br, 20 de Março de 2013

SEMI CATÓLICO

Semi católico é aquele que de vez em quando faz um exame de consciência e prognostica que é agnóstico, mas depois afinal já não é, porque não sabe muito bem em que acreditar. Depois fecha os olhos e aparece-lhe um gajo barbudo à frente. Aí fica na dúvida se é Marx se é o pai Natal. Depois como já não sabe mesmo em que acreditar, mas todo o santo domingo come cozido à portuguesa com a família depois da Eucaristia dominical passar na tv, conclui que é semi católico.

A piU
Br, 9 MARÇO 2013
Semi católico é aquele que de vez em quando faz um exame de consciência e prognostica que é agnóstico, mas depois afinal já não é, porque não sabe muito bem em que acreditar. Depois fecha os olhos e aparece-lhe um gajo barbudo à frente. Aí fica na dúvida se é Marx se é o pai Natal. Depois como já não sabe mesmo em que acreditar, mas todo o santo domingo come cozido à portuguesa com a família depois da Eucaristia dominical passar na tv, conclui que é semi católico.

A piU
Br, 9 MARÇO 2013

ABEL MANTA

A santinha, a moçidade portuguesa de punho batendo na peitaça e claro! O futebol! Este cartoon do João Abel Manta não é bem bem a tríade Deus Pátria Família, mas é aquela base de enaltecimento patriótico de valores elevados. O cartoon seguinte... no google imagens aparece como "O playboy". Olha!... Play boy= rapaz que vem das terras dos bois e arados e se acha o maior na terra dos selvagens sem alma. O playboy também gosta de jogar à bola ou às bolas, por isso se mistura facilmente com as nativas, mas mantendo os frutos das suas sementes como bastardos. Enfim... Grande Abel Manta, pintor, cenógrafo e cartoonista que tão bem retrata um way of mentality.

CRUEL IDADE (série: De piquenino se torce o pipino)

"Quem quer brincar à cabra cegaaaaa?" Abraçadas, as duas amigas passeavam-se pelo recreio tentando recrutar outros amiguinhos. "Como é que se brinca à cabra cega?" perguntou o menino André por detrás dos seus óculos. André chulé, o caixa de óculos. Era assim que o chamavam, pois nunca uma alminha madura chamou a atenção para tal aberração no trato. Talvez ainda não fosse moda ser politicamente correto. "Como é que se brinca à cabra cega?" repetiu audaz e timidamente. "Olha, é assim: nós atiramos-te areia para os olhos e depois damos-te duas voltas até ficares zonzo e depois tens de nos procurar, correndo." As meninas riram aquele riso esganiçado de dentes definitivos em formação. O menino ficou radiante. Nunca ninguém brincava com ele! Assim que as meninas lhe atiraram areia para os olhos o André chulé ficou impávido e sereno. Os finos grãozinhos de areia apenas atingiam as suas grossas lentes. Ele, de sorriso na boca desdentada, estava tão radiante que nem entendeu a irritação das duinhas. As duinhas menininhas de corpo saracoteado franziam as sobrancelhas. " Agora já não somos mais tuas amigas!" O menino André chulé falou:" Porque é que vocês já não são mais minhas amigas?..." ;"Porque tu és um xonónó!"; "E se eu for eu xenéné posso brincar com vocês?" perguntou o menino com uma fina esperança. As meninas viraram costas e continuaram pelo pátio do recreio: "Quem quer brincar aos índios e cowboys?"


A piU
Br, 19 de Março de 2013
CRUEL IDADE (série: De piquenino se torce o pipino)

"Quem quer brincar à cabra cegaaaaa?" Abraçadas, as duas amigas passeavam-se pelo recreio tentando recrutar outros amiguinhos. "Como é que se brinca à cabra cega?" perguntou o menino André por detrás dos seus óculos. André chulé, o caixa de óculos. Era assim que o chamavam, pois nunca uma alminha madura chamou a atenção para tal aberração no trato. Talvez ainda não fosse moda ser politicamente correto. "Como é que se brinca à cabra cega?" repetiu audaz e timidamente. "Olha, é assim: nós atiramos-te areia para os olhos e depois damos-te duas voltas até ficares zonzo e depois tens de nos procurar, correndo." As meninas riram aquele riso esganiçado de dentes definitivos em formação. O menino ficou radiante. Nunca ninguém brincava com ele!
Assim que as meninas lhe atiraram areia para os olhos o André chulé ficou impávido e sereno. Os finos grãozinhos de areia apenas atingiam as suas grossas lentes. Ele, de sorriso na boca desdentada, estava tão radiante que nem entendeu a irritação das duinhas. As duinhas menininhas de corpo saracoteado franziam as sobrancelhas. " Agora já não somos mais tuas amigas!" O menino André chulé falou:" Porque é que vocês já não são mais minhas amigas?..." ;"Porque tu és um xonónó!"; "E se eu for eu xenéné posso brincar com vocês?" perguntou o menino com uma fina esperança. As meninas viraram costas e continuaram pelo pátio do recreio: "Quem quer brincar aos índios e cowboys?"

A piU
Br, 19 de Março de 2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

O chefinhonho

- “Temos e devemos aparar a incompetência com convicção!” bradou o chefinhonho.
- “Temos e devemos aparar a incompetência com convicção!” , repetiram obedientemente os chefinhados.
O chefinhonho que era nhonho, mas ninguém podia falar que ele era nhonho. Se não!...
-“Hoje vamos repetir mais um dia a nossa incompetência! Qualquer sinal de competência!... Eu mando embora!”
- “Qualquer sinal de competência!... O chefinhonho manda embora!”, repetiu o mais obediente.  
- “Nhonho?! Quem é nhonho aqui?” perguntou o chefinhonho.
- “Nono. Falei nono.”;
- ”Nono?! Eu sou o primeiro! Vamos a repetir: Eu sou o primeiro!”;
- “Eu sou o primeiro!”, repetiram.
- “Eu não! O senhor é o primeiro!”;
- “ O senhor chefinhonho é o primeiro!” repetiram em uníssono.
O chefinhono ficou vermelho, roxo amarelo, verde. Quase sucumbiu. Obedientes como eram os chefinhados ninguém o socorreu, pois qualquer sinal de competência seria motivo de ir para a rua. Como tal...o chefinhonho sucumbiu.

A piU
Br, Março de 2013
imagem: cartoon Quino (Potentes, prepotentes e impotentes)


quarta-feira, 13 de março de 2013

ESCLARECIMENTOS FACCIOSOS






O facebook é indiscreto. O facebook finge ser discreto. O facebook tem descrições e indescrições.
Descrevendo o facebook em poucas ou muitas palavras a sua descrição é quase que impossível, pois ele é polifónico, monofónico, de espírito aberto e fechado.  O facebook é esclarecedor e faccioso. O facebook é ocioso, viciante, miltante, aberrante, fascinante. O facebook é libertador. Ele é, também, um quarto de horrores. Uma sala de amores. Amores compreendidos, não correspondidos, mal entendidos. O facebook é um mal entendido? O facebook é dos bisbolheteiros, dos poeteiros, dos cantadeiros, dos idealistas, dos extremistas, de panfletários, dos vazios e dos preenchidos. O facebook é pseudo democrático ou é mais para o monárquico? O facebook é fixe (bacana) quando é um pastiche. Pastiche rima com... Sanduiche!Com... Beliche e boliche! O pastiche é um jogo! É isso! Nesse caso... O facebook é, por assim dizer, um jogo?

A piU
Br, Março de 2013

ASSIM NASCESTES, ASSIM SERÁS

Subiu a um palanque bem no meio da praça e falou:" Eu, Dona Zulmira Augusta Soares Geniceu, venho hoje aqui dizer que não tenho idade para tanta tacanhez, para tanta ideia caduca, ultrapassada. Eu, Dona Zulmira Augusta Geniceu, declaro hoje aqui às 15h do horário de Rosário que não quero morrer antes do mundo rejuvenescer. Eu, Zulmira Geniceu, quero aqui e agora uma mudança nesta tanga toda. Eu, Zulmira, estou farta de tangas, capangas, de mangas de alpaca, de histórias de boi e de vaca para adormecerem! Acordai deste marasmo! Acordai minha gente! A minha vida não é isto! Eu já não tenho idade para tal! A morte é fatal! Vamos a sair do ovo, meu povo! Vamos a quebrar a casca! Beber na tasca ou no boteco e vamos fazer da nossa voz um ecooooooooo.

A piU
Br, Março de 2013

terça-feira, 12 de março de 2013

VERDADES ABSURDUTAS





O ego é como uma bolha que ora se inflama, ora mirra. Nos dias que escorrem, o ego tende a inflamar-se descompassadamente. A história da humanidade está repleta de guerras, conflitos armados e desarmantes. Pensando de longe e olhando de perto podemos-nos perguntar:" O que são as guerras se não choques de ego? Afirmações de poder e territorialidade. Choques de egos individuais e coletivos. O ego, quando não adestrado, tende a ser ganancioso e sedento de poder. O ego, quando não amaciado, tende a ser bruto, rude, foleiro.

Não é mau ter ego. O ego é, por assim dizer, uma bolha qual estrutura estruturada que de um modo supostamente estruturante estrutura a arte do viver do ser vivente.
Todavia, há que levar o ego com jeitinho! Pô-lo para brincar com os seus amiguinhos para que adquira a percepção de não ser o único neste imenso mundo, que existem outros egos irmãos.

É um grande problema quando o ego se embrulha todo. Um grande problema mesmo! Ao se embrulhar, embrulha-se sobre si mesmo. A coisa quase que fica irreversível! Quase, quase. Porém, todavia, contudo, no entanto é possível de resolver tal questão, tal problemática. Como?

Sendo o ego uma bolha, que por vezes ao se inflamar a sua inflamação é de um inflamado tóxico, nocivo para qualquer pulmão habituado a tubo de escape e afins, esta precisa de respirar. Então, meus car@s leitores e leitoras, os procedimentos a seguir são os seguintes:

1. Deixar o ego se cansar

2. Dar-lhe o mínimo de atenção possível. Evitando, deste modo, que a nocividade tóxica se mantenha.

3. Depois, abrir as janelas e deixar o ego sair para a rua. No caso de se sentir intimidado, respeitar o seu ritmo, mas fazer com que se mantenha atento. Isto é, olho vivo e pé ligeiro.

4. Pô-lo a correr. A calcorrear ruas, ladeiras, quebradas e depois sacudi-lo, bem sacudidinho mas com carinho.

5. Assim que o ego estiver calmo toma-lo com cuidado nos braços e arrumá-lo novamente no peito.


A piU
Br, 12 de Março de 2012

ACORDOS TÁCITOS DE CIDADANIA NO DIA A DIA

A- Eu não estou aqui para pensar.
B- É! Ninguém paga para ele pensar.
A- É! Eu estou aqui para servir.
B- É isso mesmo! Vês como ele sabe?!


A piU
Br, 12 de Março de 2013

sábado, 9 de março de 2013

DISSIDÊNCIAS

Declaro hoje, neste preciso momento que nada do que eu digo não possa ser desdizível. Posso até dizer, aqui à vista de toda a gente, que ando por uma belíssima praia e não sair do meu quartinho esconço numa mansarda bolorenta.Posso dizer e provar com fotos que sou muito desgraçadinha sem eira nem beira, porém ando a viajar há dois anos pela Ásia sem trabalhar. Posso choramingar de tuti quanti e perguntar com uma grande dose de existencialidade: Qui fatchami noi qui? Todavia, porém, nem estou nem aí para nada. Não estou aí para nada de nada. A virtualidade é aquele verniz, aquele esmalte que leva o outro a crer em algo que nem nós conjecturámos, porém falámos, afirmámos, nos expusemos. "Pois já sei que andas muito bem na vida! Que te chateaste com fulano X e fulano Y anda ali vai que não vai."
Querid@s amig@s, deixemos-nos de tretas! Assumamos desde já que todo o  universo é paralelo que qualquer paralelismo com a realidade é pura dissidência.

A piU
Br, 9 Março 2013

PALAVRAS ELUCIDATIVAS MUTUAMENTE CONTEMPLATIVAS

O complicado da complexidade é que esta mesma complexidade não é complicada. Porém, ao encarar a complexidade o sujeito tende a complicar. O cerne da complexidade, a sua essência substancial, é a simplicidade na sua forma mais clarividente. A complexidade é um órgão, cujas articulações de outros orgãos menores funcionam como um todo. A complexidade para ser entendida exige uma valente dose de simplicidade provida dessa clarividência que nem tudo é compreensível, explicável, racionalizável a olho vivo. A vivacidade do olhar advém de todo um conjunto de apreensões cognitivas mais simples que complicadas. Essas apreensões criam diferentes quadros cuja ligação é estruturada a partir de associações de ideias, referências vivenciais num viver que é mutuamente simples e complexo devido aos múltiplos fatores que exigem a tal.
Complicar é por assim dizer como que um bloqueio. Complicar é aquele breve perpétuo prazer de ter um olho no horizonte, outro no esterco. É aquela sensibilidade que tiramos de nossas entranhas a ferros. Muitas vezes com ferozes berros exteriores e internos num duvidar de tudo e de nada. Num tudo é tudo e num nada é nada, onde tudo não é nada e nada é coisa nenhuma. Uma incompreensibilidade desgastante, porém estimulante. O estímulo da complicação é não deixar que o coração acalme. O estimulo da complicação é um querer mais do que "Queijo. Queijo.Pão. Pão." Aliás! "Pão. Pão. Queijo.Queijo." Aliás! "Pão. Queijo. Queijo. Pão."

A piU
Br, 09.03.2013

sexta-feira, 8 de março de 2013

O MISSÃO

Omissão. Que missão erradicar a omissão!... Oh missão! Que missão levar com muita missa junta. Um missão! O culto da omissão é como a boca na mão: ninguém diz que sim nem que não. Tão bão! Se omito, logo minto. E o que é a verdade? Uma leviandade? Uma boçalidade? Leviandade. Leviandade. Conjecturas obscuras de questões que achamos e consideramos alheias. Preferimos regozijar-nos com as férias dos outros em ilhas paradisíacas entre as baleias, oh vidas alheias, reallity shows de centopeias.

A piU
bR, 8 de Março de 2013

quinta-feira, 7 de março de 2013

ETERNO FEMININO (CONSELHOS E OUTROS ENLEIOS)


Queridas amigas, sexo já não é tabu! Já proclamavam as nossas mães nos ressacados e sofisticados 70s e 80s. SEXO JÁ NÃO É TABU E NÓS, MULHERES, NÃO SOMOS OBJETOS! Queridas amigas!... Que ingénuas que sois!... Tantos sois e tantas luas.... E sexo ainda é tabu e fingimos que não... mas.... pensando bem... pensando melhor.... vá! Também somos objetos. Siiiim! Só às vezes!... Mas continuamos a ser. Queridas amigas, vamos pensar juntas!... Qual a diferença entre liberdade e libertinagem? Qual a diferença entre erotismo e pornografia? Qual a diferença entre namoro e amor? Queridas amigas, queridas amigas tantas questões a esta hora para se deitarem connosco no nosso travesseiro...

A piU
BR, 8 de Março de 2013

imagem: espectáculo URUBORU. Teatro KA. Direção e figurinos: Judite Da Silva Gameiro. Interpretação: Ana Piu e Sergio Fernandes

ETERNO FEMININO (CONSELHOS PRÁTICOS)


Queridas amigas: mantenham sempre a vossa casa limpa e arrumada. Se vos sentis sós nessa jornada não vacilais! Há sempre uma vassoura amiga que vos acompanha. Não esmoreceis! Se tendes filhos educais rapidamente a emancipar. Bem sei, queridas amigas, que vós estais emancipadas, porém sobrecarregadas. Peço-vos paciência e perseverança porque educar é uma ciência e também uma ânsia.

A piU 
br, 8 DE mARÇO 2013
 http://youtu.be/l9_0WkpZ93w
 
 

MANUAL DE OBSERVAÇÕES PARA DIAS BANAIS

eu calo-me
tu aceitas
ele decide
nós indignamos-nos
vós resignai-vos
eles lucram

eu duvido
tu argumentas
ele apodera-se dos argumentos
nós esperamos
vós achais que somos vossos inimigos
eles riem-se

eu sonho
tu escarneces
ele sorri
nós cansamos-nos
vós desistis
eles abanam-nos

eu proponho
tu recrias
ele junta-se a nós que pensamos e sentimos como
vós que agis com eles, que no final das contas somos todos nós




terça-feira, 5 de março de 2013

O RIGOR E A RIGIDEZ

A rigidez é a aquela coisa que não é maleável. A maleabilidade é aquele estado que nos torna flexíveis a estruturas jogáveis. A jogabilidade é a capacidade de jogar com rigor as regras que não são necessariamente rígidas. A rigidez é aquele regrar estrito  que até encolhe mas não estica. É um não sei o quê de curtas vistas, um recear de outras pistas. A rigidez tolhe. A rigidez encolhe. A rigidez não é sinónimo de rigor. A rigidez é um falso rigor. A rigidez é uma respiração que ali fica contida, detida, retida no peito, mantendo morta a vida. A rigidez mata, porque não dá espaço há criação. A rigidez bloqueio o rigor. O rigor é um sabor, um odor, um clamor, uma dor, um amor, um ato criador. E a rigidez?
É uma estupidez com pretensões a lucidez?

A piU
bR, Março de 2013

sábado, 2 de março de 2013

DEAD COMBO "SOPA DE CAVALO CANSADO" Live

Sopa de cavalo cansado é aquela sopa que se dava à criançada para que esta resistisse ao frio e à fome. Feita de pão e vinho, aquecia os membros para as longas caminhadas da manhãs de giesta e geada do Portugal rural, assim como o miolito ficava ali aconchegadinho, pois o manda chuva lá da terra defendia que o pessoal não precisava de juntar letras, muito menos de pensá-las. Enfim, uma realidade tão longe e tão perto pautada por sopas de cavalos cansados. Alguns cavalos ganharam fôlego e saíram correndo por esses campos afora. Saltando fronteiras, galgando os Pirenéus. Mergulhando, lançando-se no espaço.