terça-feira, 25 de abril de 2023

OS MENINOS DE AMANHÃ EM GRÂNDOLA VILA MORENA- 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!

"Grândola vila morena" do Zeca Afonso é inevitávelmente o hino do 25 de Abril, feriado nacional desde 1975 para comemorar a queda do fascismo, do fim da guerra, não se fala muito da queda do Império Português mas ele caiu e isso é o que interessa quer5 fira ou não o saudosismo orgulhoso de muitos compatriotas portugueses).
Estamos no Verão de 1977 rumo ao sul do país até às praias algarvias no tempo em que não havia auto estrada/ rodovia. Paragem obrigatória: Grândola, ainda no Alentejo, região donde os meus avós, mãe e tia ( ambas crianças que estudaram para sair duma condição) vêm para migrar para os subúrbios de Lisboa. Como tantos outros alentejanos e alentejanas em busca de trabalho braçal nos idos anos 40. Sou sobrinha duma morena alentejana que nos lembra os 500 anos da presença dos mouros na terra onde nascemos e crescemos e filha duma branca de neve loura de olhos verdes que nos lembra tanto das invasões francesas, como da presença de povos germânicos muito antes de Portugal ser Portugal, antes de Cristo. A cor do pele, dos olhos e do cabelo não define se somos opressores ou oprimidos e o nosso poder aquisitivo. Muitas vezes somos opressores de nós mesmxs. Nem nos define se somos reacionários ou libertários. O que define se somos reacionários em maior ou menos escala é a dimensão da nossa ignorância acerca de nós e dos outros. Ignorar, desconhecer, é mais que natural. Não nascemos ensinadxs, mas podemos nos informar, esclarecer. Fazer diferente e evitar que estupidezes se repitam. Já ignorar, desprezar o que se acha que conhece e falar e agir com aquela propriedade que coloca a receptora numa dúvida dialética ( estou a ouvir e ver bem? entendi bem? deixa reposicionar o queixo. " Espera aí, por gentileze, pode averiguar se eu estou ali na esquina e depois avise-me").
Eu continuo a ser uma menina de amanhã mesmo que possa parecer uma teimosia e até um capricho. ( Uma vez escutei um macho alpha, por acaso mais novo uns 11 ou 12 anos que eu e que nunca tinha saido do seu subúrbio comentar com a sua turminha de adolescentes tardios: " Libertária kkkk." Enfim... Infantilizar os outros demonstra a sua infantilidade). Como eu, muitxs meninxs andam por aí e eu conheço embora seja um grande desafio a constança da união e solidariedade nestes tempos individualistas. Mas sem esperança que sentido faz?
" os meninos d’amanhã vão acordar num mundo novo
com a estrela da manhã a iluminar o bem do povo
e nos livros da escola ouvirão contar
quantas lutas se travaram p’rá vida mudar
os meninos saberão o amor dos revolucionários
quе lutaram sem descanso p’ra mudar estе fadário
e as memórias vigilantes saberão contar
essas vidas que se deram sem desanimar
há tanta gente virada p’ra trás
gente que vive do menos mal e do tanto faz
mas o amor em que eu estou a pensar
anda remando contra a maré a desinquietar
os meninos d’amanhã verão o corpo dessa ideia
que perturba o rame+rame co’ a revolta que semeia
e ao colo da liberdade ouvirão contar
o pão+pão e o queijo+queijo que te anda a faltar
vão encontrar o tesouro dentro do punho fechado
do discreto combatente que está aí mesmo ao teu lado
e das bocas saciadas ouvirão contar
os porquês insatisfeitos que o fazem lutar"
José Mário Branco- Os meninos de amanhã (elogio do revolucionário) do albúm " A MÃE" (1978)
A Piu
Br, 25 de Abril de 2023