sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Não te preocupes! é difácil!

“Não te preocupes! É difácil!”. Dito por aquele ser de 3 ou 4 anos a expressão adquiria uma textura e um leque de cores!!!…. Primeiro o dizer:” Não te preocupes!” traz um sentido de optimismo essencial a continuarmos vivos e juntos; depois “É difácil!”. Gostando eu de palavras inventadas, dos ditos neo logismos que o Mia Couto é exímio, difácil caiu que nem uma cereja num bolo de chantilly. DIFÁCIL! Excelente! Inocência, optimismo, consciência dos obstáculos e esperança em superá-los. É o sumo que eu posso e pretendo tirar dessa palavra criada por uma amostra de gente.

Os meus botões não param de falar comigo. Linguarudos! E ainda por cima metem o coraçãozito ao barulho!... E nessas longas conversas afirmam e reclamam: “Se o coraçãozito não entrar na conversa… NADA FEITO!”

Bom, o que eu acho mesmo (sem pretensões algumas de me pôr para aqui a debitar verdades absolutas, muito menos a lançar especulações científicas, pois não tenho competências para o fazer) é que a revolução ou transformação que muitas vezes achamos que é necessária começa dentro de nós. Até aqui nada de novo ou original disse. Sem romantismos delico doces acredito numa revolução do AMOR. E essa revolução baseia-se na qualidade que imprimimos às nossas relações diárias entre familiares, amigos, colegas de escola ou profissão, nas pessoas com quem nos cruzamos num balcão ou na plataforma do metro. Nem sempre é fácil! Aliás, por vezes não é nada fácil. Temos os nossos cansaços, as nossas dúvidas e dívidas, as nossas preocupações e frustrações. Somos vulneráveis! No fundo é essa a nossa condição, que nos une, para além da morte! Somos seres difáceis. O que acontece é que podemos focarmo-nos mais no difícil ou no fácil.

Talvez só passemos por cá uma vez. E mesmo que passemos mais cada vez é única e há que aproveitar! Darmos valor a quem nos quer bem. Querer bem! E essencialmente não fazermos dos outros o nosso caixote do lixo de frustrações, medos e fantasmas e não deixarmos também que façam de nós caixote do lixo.

Ao longo dos tempos tenho vindo a perceber que se impulsividade tem um toque de espontaneidade e verdade, porém há que saber “usá-la”com sabedoria para que seja construtiva e não destrutiva. Ao ler uma biografia do Vasco Granja (figura importante nos anos 60, 70 e 80 na divulgação do cinema de animação e banda desenhada em Portugal) um princípio que me chamou a atenção foi a CORDIALIDADE. O V. Granja foi um resistente no seu tempo e é recordado com carinho pela geração que cresceu a ver animação seleccionada por ele, nomeadamente a Pantera Cor de Rosa.
Recordo-me do seu sorriso e da paixão serena com que apresentava o seu programa na tv. E acho que é um belo contágio, esse: CORDIALIDADE e PAIXÃO por aquilo que se faz, partilhando com os demais.

Se urge NÓS mudarmos de paradigma, enquanto modo de vida, penso que devemos perceber que paradigma é esse que tem de ser mudado. Sermos mais participativos enquanto cidadãos, sim. Organizarmo-nos, também. Mas essas tomadas de posição muitas vezes se confundem com lutas de poder, que a meu ver são contraproducentes para o nosso bem-estar individual e colectivo.

Sermos mais simples. O movimento começar de dentro para fora. Começar em nós. Escutarmo-nos verdadeiramente. Sermos honestos connosco.

Todas estas questões já foram usadas deliberadamente pela Igreja, pelo pelos partidos. Por quem quer ter poder.
Então, o difácil é isso! Como viver neste mundo, que não acaba em nós, e que tem de partir de nós  a vontade de nos transcendermos.

Quantas doenças poderiam ser evitadas se nos posicionássemos de modo diferente perante nós e os outros? Perante a vida. Perante a Natureza.

Não quero entrar em discursos delico doces, como já referi. Todavia, quando convivo com pessoas cuja a vida está por um fio e se agarram a ela com tanto querer e quem as acompanha segue-as com um amor incondicional e uma esperança, por vezes, constrangedora!!... Pergunto-me: “Quem somos nós? O que andamos aqui a fazer? Que lado do DIFÁCIL eu quero escolher?”