quinta-feira, 31 de outubro de 2013

SÓ PARA RAROS?

Raro,
é caro ser raro?
faro
raro
faro para o amparo

paro
saro o raro que há em mim
pensa o raro

sai caro não ser raro?
É caro não ter faro
nem amparo
que raro ser raro
raro quer amparo
por isso é raro!

é-lhe caro
ter faro
saro o desamparo,
diz  o raro
que é sonhador caro
um caro sonhador
raro

pipiripipiu
Br, 31.10.2013





O AMOR QUE HÁ EM MIM


Este texto pode ser encenado ou recitado em teatro radiofónico.
Se encenado, a atriz deve seguir as didascálias/ indicações.

A atriz dirige-se à boca de cena e olha em volta, de queixo erguido. Dá dois passos para a direita alta e projetando a voz em surdina fala:

- Dizes que me amas
 mas não vejo nada
 saio pela rua
 toda agoniada

O corpo da atriz cai um pouco para a frente elevando o peito e o queixo de quando em vez com um olhar perdido:

- Onde andas tu, meu querido amado?
Não sei se hei-de pensar se és ou não um safado!

O corpo balança em espasmos com gestos redondos e cadenciados no pulso direito. Olha para o fundo da sala, para o horizonte:

- Quero-te ver ao longe
Quero-te ver ao perto!
Já não sei o que está errado e o que está certo!

Fixando o olhar num espectador da primeira fila fala docemente:

- Todo este semblante assaz neutral
guarda no meu ser um sentimento fenomenal

De rompante atriz desce o palco ajoelhando-se aos pés do espectador. Pousa a cabeça no seu colo e atira-se para os braços dele. O espectador tem um esticão tremendo na coluna que fica paralisado emitindo um pequeno "Ai!". Atriz levanta-se, falando lá para o fundo para o técnico de luz e som:"LUZ! APAGUEM A LUZ!'
A luz apaga-se. Silêncio. O técnico rompe esse mesmo silêncio com forte aplauso e um estrondoso "BRAVOOOOO", contagiando o público nessa ovação! As luzes acendem-se, a atriz ajeita o cabelo, subindo ao palco para os agradecimentos, olhando o espectador com cumplicidade.

pipiripipiu
Br, 31.10.2013


Sarah Bernardt



terça-feira, 29 de outubro de 2013

BAILEMOS, BAILEMOS

Então a senhora quer paz? Sabe que esse querer é comprometedor? A senhora tome atenção! Sabe que em muitos casos isso é considerado terrorismo! Desacato! Um perigo para a Humanidade e para todos os seres viventes planetários! (...) Não há cá mas, nem meio mas! Heiiii onde é que a senhora vai?! Volte aqui! Quem a autorizou a bailar pendurada nessa coisa?!! Heiiiiii! Não me faça correr atrás da senhora!

pipiripipiu
Br, 29.10.2013


VÁÁÁÁ

O que escreve tem um certo tom de ocre
roçará o medíocre?

O que escrevo tem uma tonalidade lilás
escrevo muitas coisas más

O meu escrever tem um certo verdete
vou mas é para majorete!

O meu escrever é encarniçado
logo excomungado

O meu escrever é também verde e amarelo
gosto do gosto de caramelo

O meu escrever é de um verde e tal
que chega a ser transversal
global
para o bem e para o mal

O meu escrever tem tons de azul celeste
a vida realmente é um teste
uma prova
umas vezes até que é doce
outras uma grande sova

Se tudo de mão beijada fosse dado
que aborrecido seria, que enfado

Mas agora quero aliviar
váááá
Só um pouquinho!
Váááá
Eu sou boazinha quando não me dá uma coisa má

pipiripipiu
br, 29.10.2013

PARIA

"Je foule un sol fatal à mes pas interdits
Je suis un fugitive, un profane, un maudit
Je suis un Paria!"

Casimire Delavigne


DESATINADA

Quando eu vou falar, você não deixa
E sempre vêm a mesma queixa
Diz que eu desafino, que eu não sei dissertar
Você é tão bonita, mas tua beleza também pode se enganar

Se você disser que eu desatino amor
Saiba que isto em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que o pai meu me deu

Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-social
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é Pele Nova, isto é muito natural

O que você não sabe nem sequer pressente
É que os desafinados, desatinados também têm um coração
Fotografei você na minha Rolley-Flex
Revelou-se a sua enorme ingratidão

Só não poderá falar assim do meu amor
Este é o maior que você pode encontrar
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados e desatinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados , descompassados também bate um coração


pipiripipiu
Br, 29.10.2013

 

 

 

DIAGNÓSTICO

- Olheeeeee! A senhora sofre de um trauma pós pseudo democracia. Vejo aqui pela sua ficha que a senhora tem também alergia a demagogia. Minha senhora! Concentre-se!! A senhora sente alguns vómitos? (...) Claro! Aliados a tonturas? (...) Claro! A senhora tem achaques? Piques impulsivos? Porquê? (...) Cansou? A senhora anda cansada? Faça então uma corridinha! Erga essa coluna vertebral e e o rumo ao horizonte!! Mas cuidado para não escorregar1! Muito cuidado!! O que posso fazer por si? Diga-me! A senhora prefere um colete de forças ou viver numa praia paradísica? (...) Lá está a senhora com as suas crises espásmicas!! Claro que existem paraísos! (...) Demagogia? A senhor acusa-me de demagogia?!!!!??? TRAGAM O COLETE DE FORÇAS!!!

A piU
Br, 29101.2013


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O DIA EM QUE, QUE, QUE

Um dia sentimos o reconforto de nos confrontarmos com semelhantes que confrontam com o desconforto que nós sentimos. Um dia confirmamos que as confirmações só existem até um certo ponto, que a minhas inquietações são as inquietações de outros. Um dia já não nos sentimos sós, no dia seguinte voltamos a sentir-nos só porque o nosso caminho é pautado por momentos que sós nós os podemos enfrentar. Um dia sabemos que a originalidade em si não existe, nem importa se não existir. Espontaneidade pode até existir, mas mesmo essa exercita-se, potencializa-se. Um dia respiramos de alívio por saber que no intimo "só" temos de ser nós mesmos. Provar o que é quase, mas não é... Provar que temos de agradar... E depois o que resta? Uma dor em surdina. Que desagradável que é sermos sempre agradáveis com desagrado. Um já não aguentamos mais essa surdina. Um dia. Vários dias. Dias a fio. Dias  fio querendo provar que somos, que fazemos, que, que, que. Um dia lembramos-nos que nos esquecemos de nós mesmos este tempo todo, mas de alivio respiramos porque ainda vamos a tempo de viver. Estamos vivos.


a piu

COMUNICADO AOS CRITICOS DOS CRITICOS

Venho por este meio declarar um aviso a todos aqueles que ousam criticar o establishement do mainstream alternativo. Caros criticos dos criticos: bem sabeis que todo e qualquer posicionamente que assumirmos tem um preço. Um deles é sermos olhados de esguelha, de revés, de olhar enviuzado.
O outro posicionamento, não sei se mais fácil porém mais facilitista, é do prestarmos reverência incondicional ao establishement. Quando se faz parte do mainstream alternativo e se opta por um olhar alternativo, diria que crítico estamos a mexer com as mais profundas crenças estabelecidas do establishement do mainstream alternativo. E se a restritividade de acesso ao mainstream alternativo for, mais complexa a coisa se torna! MAS NÃO ESMURECEIS! Nããã! Não digo que de vez em quando não seja duro, pois somos remetidos para um canto. Mas não faz quase mal! O tempo é senhor do tempo! Tudo a seu tempo terá um tempo de entendimento.

Por outro lado, criticar o establishement do mainstream alternativo não significa cuspir na sopa! Nããã nada disso! Seria uma leviandade, como é leviandade não nos questionarmos.
Ainda mais por outro lado é escancalhante de riso falar-se de objetividade se a critica aos criticos não é permitida. No meu ponto de vista, outros pontos de vista haverão, a falta de questionamento, de sacudidela em si mesmo e no meio envolvente denota um tanto ou quanto um carecimento de alma. Mas como a alma não é mesurável, logo o establishement do mainstream alternativo bradará:"Subjetividade! Subjetividade!".

Pobres atores sociais do establishemet do mainstream alternativo que de tão dicotómicos são não conseguem rir-se de si mesmos e desenvecilharem do preto e do branco que a dicotomia dicotómica existente entre objetvidade e subjetividade.

Obs: Assino este singelo texto com a esperança de ter ganho alguns amigos, mas talvez afugentado outros que carecem de sentido de humor e quiçá de um sentido mais critico... Azarucho...

A piU
Br, 25.10.2013

Astrid_Lindgren, autora sueca da Pipi das Meia Altas

GERAÇÃO X DA ABÓBODA

Ora o que temos aqui? À dianteira temos as duas Anas. Temos uma com olhar de santinha no altar só que está degustando um pedaço de bolo. A foto foi tirada numa festa de aniversário de um de nós. O nós sou eu, a de olhinho no devir, o puto Nuno (pechetaaaa que puto na minha terrinha é guri!) lá no canto esbatendo-se com a cor da parede, qu'é mê primo.Depois vem o Pedrinho Andorinha com cabelo palha d'aço, qu'é o mê irmão. (Andorinha era uma designação maternal para aquele preciso momento em que a carrinha da escola buzinava lá em baixo e o Palha d'Aço ainda não tinha lavado o dentito ou arrumado o material escolar. Enfim). Ao lado do Andorinha Palha d'Aço (Palha d'Aço pois o cabelo bem aproveitado poderia lavar as imensas panelas do Palácio da Pena) temos o João Micas. Micas é o nome do camarada seu pai. E o rapaz teve que se aguentar à bronquite e levar um selo de registo da comunidade envolvente. Temos depois os primos do puto Nuno e do João Micas. Rapazes porreiros mas que nunca tive grande contacto. Só em festas de cerimónia como esta. Temos a minha primeira amiga, a de chinelinho. Adorava tanto a Ana que depois de dias inteiros na rua a brincarmos, eu ía para casa com a voz dela cantando na minha cabeça. Gostava de saber dela. Por onde anda, o que faz. Ana, a filha dos Irmãos Maravilha que faziam artesanalmente brinquedos e jogos de madeira e pano.

Ora bem. Como este mês é o mês dos aniversários dos primos e do mê irmão consagro aqui umas breves linhas ao pessoal que está para entrar ou já entrou na ternura dos 40. ihihi

AMADURECER: Amadurecer é bom. Quem estiver para isso o verbo amar fica mais claro. Amadurecer não significa endurecer! Nããã nada disso! Quem estiver para isso amadurecer significa o contrário. Ficarmos mais atentos. Atentos não significa sermos mais desconfiados! Nããã nada disso! Mais atentos e disponiveis para aproveitar a vida que se encontra ainda pela frente! Oxalá que mais 40 ou 50 anos! Porque não?! Da minha parte consigo imaginar-me com 90 anos, como a nossa avó, mas ainda mais desbocada do que sou hoje! Uma senhorita de 90 anos que ainda pensa que tem mais outros 90 anos para viver e que sonhar é muitooooooo fixe!

pipiripiu
Br, 25;10.2013

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES CONCLUENTOS DA MENINA FLOR SOBRE O MUNDO ANIMAL NO GERAL E NO PARTICULAR

- Sabes que o vizinho agora colocou no cachorro aquelas coisas para ele não morder?
- Açaime.
- Além de estar o dia todo preso 'tá com aquilo no focinho. Os vizinhos são burros*, pois não sabem que se o cachorro estiver em liberdade não morde. (...) Outro dia eles disseram que a nossa cachorra era muito mimada porque andava solta no quintal.*

* aqui a Piu não curte mesmo nada essa coisa de se chamar burro aos outros. Enfim... Além do burro ser um animal muito fixe bacana, em vias de extinção pois já não é preciso como força de trabalho, ele tem personalidade no sentido que é considerado teimoso quando se recusa a fazer o que não quer. Quanto a chamar burros aos outros pressupõe que somos muito inteligentes... Mas para o caso transcrevo na integra para ser fiel ao pensamento considerativo algo concludente da jovem menina Flor de singelos 8 anitos.

*Bom impute para reflectir: ter liberdade é ser mimado. Ora bem!... Voltarei a dar noticias sobre esse assunto segundo o meu ponto de vista. "Craro! Sempre!".

pipiripipiu
Br, 25.10.2013


MONA LISA EMANCIPADA

Deu na mona à Mona Lisa que não poderia ser mais enigmática. Mona Lisa assim pensou:"Chega" Basta! Vou cuidar de mim! Vou fazer uma progressiva no meu cabelo e andar de unhas de gel. Okaaaaaiiiiii? Quando o Leonardo me vir nem me vai reconhecer! E qual quer dia saio deste quadro e saio para a rua para viver a sério! Cansei de somente ser contemplada! Okaiiiiiii daaahhhhh"

a piu


COMUNICADO IMPORTANTE À POPULAÇÃO PARA QUE QUALQUER COISA, SEI LÁ, NÃO SEI, PESQUISO E ANALISO, REFLEXIONANDO NO GERUNDIO



Ah pois sim! hmmmm talvez... Claro! Claro! Com toda a certeza! Dentro de um eixo reflexivo... Com todo o foco que poderei submeter a toda e qualquer direção, diria que... hmmmm como explicar? Pois! Com toda a certeza que a desistência é a última a acontecer, pois depois dela mais nada existirá. Niilismo puro niilismo absorto num estado apocaliptico dificil de aceitar, pois como já Tarinovski dizia:" Tudo é nada e nada é o além do tudo que é quase tudo mas não é nada até ser tudo."

a piu
br, 23.10.2013

AS INQUIETAÇÕES DA MENINA FLOR ou DESTA VEZ EU NÃO FIZ NADA!


- Para se viver é preciso ir à faculdade?
- Claroooo! Que não! (...) Não queres ser tratadora de cavalos?
- Quero!
- Então podes ser tratadora de cavalos sem deixar de estudar, mas não tens que necessariamente ir à faculdade.
- Sabes, que a escola com o dinheiro do sorvete não faz nada. Nem um banco compraram... E o sorvete é caro.
- Da próxima comes o sorvete na rua.
- Vou avisar as minhas amigas para fazer o mesmo.
- Ooooops
- Olha tem aqui uma coisa para tu assinares que a professora * diz que não é muito importante, mas eu discordo.
- Discordas? (ooooops )


*questionário sobre a qualidade de ensino
menina Flor- 8 anos.



Pipiripipiu
Br, 25.10.2013

O UNIVERSO PARA LELO

 Era uma vez um universo que estava destinado para Lelo. Era uma, eram duas, eram várias vezes que o universo se oferecia a Lelo. E Lelo, vai-se lá saber porquê recusava o universo que se abria diante de si. Talvez sofresse de miopia ou até mesmo de ilusões de ótica pautadas de onirismo, quiçá de desonirismo galopante. Não se sabe ao certo, pois Lelo quase saltava o muro, porém assim que via aquela porta ahhhhhh acreditava na irrelevância do que não tem relevo ou na relevância do irrelevante. "Aiiiii Leloooooo muda da estratégia! Isso nem a sombra de uma porta éééé! Procura a porta ou a janela ou salta o murooooo!! Tem um universo imenso esperando e esperando por ti! Até quando vai esperar? Lelo! Lelo! O lilás não é amarelo! Lelo! Lelo! Azedo não é o sabor do caramelo! Aiiiiiii Lelooooo! Váááá! Diante de ti, à tua frente, ao teu lado, paralelo a ti o universo está para Lelo! Para ti! Sê generoso contigo mesmo! Não te faças de rogado! Lelo! Já não tens idade para isso! Vá Lelo! Coragem! Vá oni tu triiiiii e záááássss! Vês como consegues?! Eu sei que consegues! Eu tenho um dedo que adivinha! Estou só aqui na minha! Esperando ver-te saltar! Sabes que eu também curto cutucar-te! Faz parte da minha arte! Váááá! Só custa o primeiro passo. Depois a coisa entra no compasso!"

Pipiripipiu
Br, 25.10.2013

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ROMANOFF


Atravessou o mar congelado que liga Zugland a Prustinaw. As pálpebras ferviam de frio.
Crianças cá fora brincavam no meio da neve. Alguém lhe ofereceu um vinho quente com sabor a canela. Dormiu no estábulo de outro alguém que se apiedou dele. Em troca Romanoff ofereceu um colar de contas de Turizeia.

Avistou uma ilha. Numa embarcação foi. Alojado no convés puxava o lustre aos garfos.

Nessa ilha falava-se uma lingua semelhante à sua, mas como não era igual ninguém com ele queria conversar, apesar da cordialidade com que foi recebido. Disse que tinha sede, alguém lhe estendeu um copo com água. Tentou conversar com as meninas da ilha, pois eram as únicas que pareciam dispostas a comunicar. Afastaram-se receosas de segundas intenções.

Romanoff sorriu um sorriso triste.

Ao luar escutou música ao fundo. Havia uma festa, mas Romanoff não fora convidado. Naquela ilha era de mau tom aparecer sem ser convidado.Não fazia parte da comunidade. Romanoff tentou entender.

Romanoff sorriu um sorriso triste.

De manhã, quando acordou escutou um som de assobio intrometido seguido de uma melodia pulante. Olhou. Não tinha idade, não se sabia de onde vinha, o que fazia. Um ser imberbe. Chegou-se mais perto. Sorriu o seu sorriso largo desdentando ponteado por alguns dentes e ouro. Sentiu cumplicidade. Abraçou-se a Semirnoff e chorou de comoção. Um amigo do peito. Tinha encontrado um amigo do peito que não era preciso falar nada. Um amigo para partilhar aventuras.

a piu
br, 22.10.2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

OBRIGADA VIDA!

◦ Strength ◦
artist: Bryan Viveros
Fuma um havana e dá um gole de rum. Rum puro. Sorri com o nome dado à ao rum misturado com coca cola. Cuba libre. Libre do quê? Pensa que gostava de ir a Cuba. Ver com os seus próprios olhos as mil perspectivas que lhe contam.

Na rádio o cantor canta: "Tantas vezes fui à guerra que só sei é guerrear, eu gostava um destes dias de ter tempo para te amar./ Tenhos pistolas de prata. /Tenho uma bala de prata, se não tenho o teu amor não me servem para nada."

Dá outro gole no rum. Na verdade dá um bafo no havana para manter o glamour de guerrilhera da paz, de rímel e lápis derretido  pelo calor dos afazeres.

Teme pelo rumo do fumo. O rumo do fumo da velha Europa e da Nova América. O rumo do fumo global. Enfim. E se? E se? Nãoooo! A guerra hoje é outra! Talvez já não se bombardeiem mais cidades. A guerra é psicológica. Vencer o pessoal pela desmoralização. A mulher pensa uma vez mais: "Não quero fazer parte desse trem. Salto fora em andamento."

Deseja paz. Paz para tudo. No quotidinao, também. Nas relações interpessoaois. Na cabeça traz uma rosa vermelha, podia ser um cravo vermelho. Sacia a sede da sua flor com o seu suor. E continua a escutar o poeta, enquanto solta o fumo do havana: "Nem aos deuses nem à morte / peço perdão do que fiz / já suporto bem a dor /já só quero é ser feliz"

Depois pergunta-se: "Porque haveria de pedir perdão? Pedir perdão a quem? À vida por querer viver? Mas o que devo é agradecer à vida por estar viva!"

Pipiripipiu
br, 22.10.2013

LÁ FORA


• ARTIST . BEN SLOW •

◦ Tina We Salute You ◦
location: Dalston, Uk
Lá fora tá calor. Esperar que a onda pouse. Desejo ver-nos sorrir. Gosto de sorrir.

Lá fora está calor. Existe alguma tensão no ar. Vou esperar. Por vezes é bom esperar. Saber esperar. Tudo acaba por tomar o seu rumo. Gosto de sorrir. Falar: "Sá lu lu lu! Sa ra va?"

Lá fora há uma onda no ar que chega até aqui dentro. Depois de tantas marés e tempestades preciso de sentir a brisa no rosto.
É bom respirar de alivio. É bom continuar caminho. Sentir um abraço. É bom sentir calor.

Lá fora está muito calor. Vou esperar uma vez mais. É bom saber esperar sem esmurecer. É bom aprender a esperar sem esmurecer. Vou deixar que tudo acalme. Tudo tomará o seu rumo depois da tempestade. Depois de tantas marés e tempestades uma brisa no rosto, um sorriso, um riso, um abraço.





pipiripiu
br, 22.10.2013

INTERROGATÓRIO

- O senhor sabe que tem ideias subversivas?
- Antes subversivas que preversivas.
PUM
- O senhor sabe que lê muito e isso faz mal aos olhos?
- Sim, agora que só consigo apenas ver com um.
PUM CATRAPUM
- Falo o que penso e sinto, porque ver já não vejo.
CRACK CRACK
- O senhor precisa de alguma coisa?
- mmmmmm mmmmm
- Ahhhh já trago um pedaçinho de papel higiénico para tirar esse fiozinho de couve que tem entre os dentes.

A piU
Br, 21.10.2013

FADO ROCK TROPICAL COM PINCELADAS DE RURAL



Aiiii tudo enleado! Mas que faaadoooooo
vamos lá nos organizar
tomar um pouco de aaaaar

ai meu rapaz, meu rapaz
desejo a tua paaaaz
arruma esse coração
e dá-me um aperto de mãããoooo

Aiiiii meu irmãoooo
meu irmãoooooooo
mas que situaçãooooo!
mas que situação!

Aiiiiiii minha garotaaaaa
a vida nem é direita nem é tortaaaaa

Vamos lá! Vamos lá!
A vida até nem é má!

Deixaaaar d'agoniaaaar
confiaaaaaaaaaaaaar

aiiiiiiiiiii
utchiqui utchiqui
déum déum zacazaca zaca

TEORIA DA CONSTIPAÇÃO


A teoria da constipação é quando começam a falar baixinho que uma dada pessoa está constipada e a pessoa até nem está. Só que à custa de tanto dizerem que está constipada ela passa a estar, mesmo não estando. De modo que a pessoa constipada em causa, que até nem constipada está, começa a teorizar sobre a constipação que acha que tem mas nem tem, ou até sabe que não tem fazendo de conta que tem.
É esta a teoria da constipação.

A piU
Br, 22.10.2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ROMANOFF

Romanoff chicoteou o ar com uma gargalhada. Fez-se vento. Um remoinho, um furacão. Romanoff já antes vira aquilo. "Passageiro. Tudo é passageiro nesta vida. A vida é passageira. Tudo acaba por seguir o rumo que tiver que seguir," pensou. Romanoff de pele curtida deixava que memórias escorregassem pelas suas rugas de expressão. Riu até às lágrimas. Olhou atenciosamente para as suas tatuagens e esperou que o vento chicoteado pela sua gargalhada acalmasse. Ficaria ali, resistindo ao frio deixando-se engolir pelo sol. Romanoff de pele curtida e tatuada gotejando o suor do viver.

A piU
Br, 21.10.2013

UM DEDO QUE ADIVINHA

Tenho um dedo que adivinha
Ah pois tenho! Pois tenho!

Olho para o lado e digo "Olá à vizinha!"
Tenho um dedo que adivinha
mas fico na minha
quietinha
na minha
na minha

onde isto vai dar?
uma questão de esperar!
ah pois é!
entre uma água tónica e um suflé!
ah pois é!

a coisa tá crónica?
ai
bebe uma água tÓÓÓÓnica!

a coisa está delicada?
dá uma refrescada!

 Tenho um dedo que adivinha
Ah pois tenho! Ah pois tenho!

Nada será como dantes!
Já não somos uns infantes!
Ah pois não! Ah pois não!

Onde o rio vai desaguar?
Vamos esperar e! e! e! e!
atuaaaaaaaar

pipiripipiu
br, 21.10.2013


CORRIDINHO

Aiiiii terrrim tim
o meu coraçanito precisa da alento
tanta vez ao relento
terrim tum tum

vira que vira e torna a virar
as voltas do vira vão dar que falar

aiiiiii terrim tim tim terrim tim tim
olha bem para mim
aiiiiii assim
com atenção
pois então, pois então

aiiiii qu'eu não sou uma flor de estufa
(tou feita! que rima uso? bufa?! bufa não!!! Afugento qualquer enamorado coração!! bora lá recomeçar)


aiiiii qu'eu não sou uma flor de estufa
tampouco uma bonequita
mas sou catita! mas sou catita!

Aiiiii terrim tim tim
arma-se aqui um chinfrim
se o meu amoriiiiii nao tiver gosto de pudim

aiiii terrim tum
meu coração é de atum
conta cada segundoooooo
um a um

Olé! assim mesmo é que é! Olá! Já tá!

a piu

SILÊNCIOS

Em silêncio rondou
rondou uma, rondo duas
passaram-se mil anos, a luz veloz adormeceu nos dias milenares
num silêncio frenéticamente zelado
rondou, rondou
teria de ter a certeza que mais mil anos se passariam e que a luz continuaria lá seguindo o seu percurso
mil voltas, milhares de rondas e silêncios
confirmando que a luz atravessa os tempos esbatendo o espaço

a piu
br, 21.10.2013




ÂNIMO LIDADES

E correu como um leão com asas. E o tempo parou veloz.
Imagens, paisagens, aterragens, decolagens.
Veloz parado no tempo, parado no espaço.
Correu parando em si.
Como um leão de finas e sólidas asas atravessou o tempo
parando em si
Colagens de paisagens
Aterragem em imagens
Parado correu
atravessando-se
com sólidas finas asas


A piU
Br, 21.10.2013

PADRÕES

Karolyn Morovati
Estructura Sensivel
Aquarela S/papel
Mudar de padrão nem sempre é fácil. Pouco evidente até. E repetimos incessantemente velhos padrões, mesmo quando já sinalizámos a maleita. Rotinamos-nos. Rotinamos-nos por comodismo, po medo, por não sabermos ou conseguirmos fazer de outra forma. Estruturas sensíveis somos, dando ares algumas vezes que somos fortalhaç@s e não precisamos de ninguém, outras recusando agarrar o touro pelos cornos e tornarmos-nos autónomos.

Repetimos velhos padrões de poder, de relação que estabelecemos uns com os outros, repetimos mecanismos de controlo uns sobre os outros por receio, por insegurança, por receio da vida nos escapar das mão.  Mas é exatamente nessa ânsia de tudo controlar que a vida da mão nos escapa. Repetimos velhos padrões de recusa de estar atent@, porque estar atent@ é para os fracos, para aqueles que se entregam a onirismos.
Pergunto- "me" então: o que é ser onírico? É disponibilizarmos-nos a mudar de padrão?
Então, voto no onirismo!


pipiripipiu
br, 21.10.2013

UMA GAROTA PIRADONA


Eu cá sou uma garota pirada
passo o dia inspirada
Numa fona
Digo o que me dá na mona

Eu cá tenh bués de imaginação
Vejo realidade na ficção
Eu cá sou uma garota real
apesar de dar ares de virtual

Eu cá sou de carne e osso
Saio para a rua à hora do almoço
Também sou um pouco crua
pois, penso que a vida também se vive na rua

Eu cá sou assim e sou assado
vivo o presente e não o passado
eu cá já vi o muro
qual será o nosso futuro?

Eu cá desejo que seja legal
Que vá para melhor e não para mal
Eu cá aguardo atentamente
o percurso do rio e seu afluente

Eu cá sou mesmo uma garota pirada
amanhã é outro dia, mais uma parada
Eu cá dou ares de quero lá saber
mas quando fico seca por dentro água tenho de beber

Eu cá gosto de viver
assim passos dias
a olhar
a ouvir
a sentir e a ver

pipiripipiu
17.10.2013

FADO EM FÁ SUSTENIDO E DÓ MAIOR


Aiiiiiii esta vida!ca goniaaaaa!
cagoniaaaaa! cagoniaaaaa!
poderia ser uma alegriaaaaaa! Aiiiiiii pois poderiaaaa!
Mas isso é pecadoooooo! Um grande pecadooooo!
Tá tudo erradoooooo! Tenho o traseiro cagadooooo!
Tá tudo erradooooo! Mas tá tão quentinhoooo
Só mais um pouquinhooooo!Só mais um pouquinhooooo!
Sofro e sofro é um sofrer que já desconheço outro viveeeer!

Sonho com a revolução, mas sou um cagããããooooo
Quando chega a hora de me chegar à frente...
Doi-me o dente.
Digoooooo que não é bem assim e penso que só penso em miiiiim.

Mas nem ém mim eu pensoooooo. Dispenso-meeeeee
Destito-me do meu próprio quereeeeer

Tá tudo erradooooo
Governo erradooooo, país erradooooo.
Já nem falo do amoooor
Que dissaboooooor! Agarro-me a sucedâneos de amor. Menos maaaaal. Mas sinto-me sóóóó! Aiiii que dóóóó!
Não estou atentooooo! Que desalentooooo!

Sinto-me maaaaaaalllllll. Nada é transcendentaaaaalll! E agoraaaaa? Tenho a pernaaaa torta? Onde está a pooooortaaaaa?
Ali estááááá elaaaaa! É o meeeeeuuuu amoooor! Lá vai elaaaa! Vou saltaaaaaaar pela janelaaaaa e vou ter com elaaaaaaa
Vou-me emancipaaaaarrrrr! Já não digo azaaaarrr!
Em mim está o mudaaaaaarrrrr!

Ah pois é! Ah pois é! Ah pois é! Olarilólé!Olarilólé!

Tenho a minha amada aqui ao pé! Ah pois é! Tou enamoradooooo! Nãoooo! Acabou-se o falsário! Não, não é pecadoooo!

Ah pois é! Ah pois é! Ah pois é! Olarilólé!Olarilólé!

Ah pois é! Ah pois é! Ah pois é! Olarilólé!Olarilólé!

obs: o "ela" pode ser uma musa de carne e osso, falível e amável, como a tal da revolução. Essa tal de revolução, que.... olha... deve ser uma tal de tranformação interior, uma mudança de paradigma. E.... que... que pressupõe perseverança. Bem, sei lá! Sei lá!

A piU
Br, 18.10.2013

FADO SECULAR II parte


Aiiiiiii Essa coisa do Impériooooo
Assunto sériooooooooo Assunto sériooooooooo
Não queremos que mandem em "nós"
Mas alguns pensam como os nossos tetra avós

Aiiiiiiiii queremos ser independentes
mas "reproduzimos" velhos valores dementes
"achamos" que navegamos por mares nunca antes navegados
andamos equivocados andamos equivocados
ais os vikings ai os esquimós são muito mais antigos que os nossos avóóóós

Agora gritamos pelas nossas mães
vamos ser imperilazados pelos alemães

Quando mudará o 'nosso' pensar?
e a dignidade de todos respeitaaaaaar?
Sem imperaaaaaar
tampouco exploraaaaar
muito menos genocidar
aiiii que memória curtaaaaaaa
para não sentir culpaaaaa

Mas a questão não é culpabilizaçãoooooo
e sim responsabilizar
por uma vida com melhor respiraaaaar

OLÉ! ASSIM MESMO É QUE É!
OLÁ! JOGA FORA VELHOS VALORES COM UMA PÁ!

A piU
bR, 19.10.2013

FADO SECULAR


Aiiiiiii como tudo não avança
e a minha pança? e a minha pança?
ainda dá para comer. depois vamos ver. depois veeeeeer.

Tivemos o mundo na mããããoooo. Aiiiii Pois então!

Pois entãooooooo
Há quanto tempo isso foi? Já morreram as vacas e
nem ficou o boi!

Aiiiiii demos novos mundos ao mundo mas não soubemos ir a fundooooo
Ai ca ganância dá cá uma ânsiaaaaaa
Somos tão bonzinhos quando não somos mesquinhos

aiiiiiiiii
aiiiiiiiii
quero o meu paiiiiiii
aiiiiiiiii
aiiiiiiiii
não sei em que acreditaaaaarrrrr
mas que azaaaaaaaarrrrrrr

sou um ser só e descontente na multidããoooooo
pois entããããoooo
pois entããããoooo
UNIÃO?!
Aiiiiiiiiii Deus meeeeeeu! Que palavrããããoooooo

Terrim tim tim Terrim tim tum cada bola toca um
Olarilólé Olarilolé bora lá dar ao pé

A piU
Br, 19-10.2013

DIÁRIO DA ANITA

Meu querido diário,

à medida que vivo menos sei e alguma coisa vou compreendendo. Essa história que em todo o lugar as pessoas pensam, agem do mesmo jeito!.... hmmmm Não é bem assim. Venha alguém que viaje falar uma coisa dessas! Só se viajou em pacote turistico! Ou então limitou-se a assistir na tv ao National Geographic. Só pode! Cada vez acho (pois é digo acho porque isto não é um artigo científico, e a erudição de vez em quando dá comichão, vulgus coceira pois rima com snobeira) mais que essa coisa de se ser frio ou quente tem muito que se lhe diga. "Ai porque os alemães são frios e os do sul são calorosos." Balela! Agora não me apetece dissertar o porquê da balela. Convido cada um a viajar, sem dinheiro de preferência, e ir ao encontro do outro. Cada um tirará as suas ilações sem precipitações.

Hoje aprendi a distinção entre ideia e intenção, conversa de pessoas que estudam! Ora bem! Ideia é quando se tem algo sólido e concretiza-e, intenção é quando não passa da ideia. E esta, hein! Eu quando tenho intenção levo uma ideia até ao fim, mesmo que demore. Não sou de desistir, só quando não compensa mesmo nada.

Enfim, quanto a mim (sim falo de mim porque convivo comigo todos os dias. é pouco canseira, mas não tem outro jeito maneira!) tenho a ideia de realizar os meus sonhos, estar com pessoas que valorizo e que me valorizam e fazer da minha vida, dos meus oficios um prazer. Sofrer cansa muito e não compensa.

"Prontos", meu querido diário, espero não ter sido muito chata. pois tenho amigos que acham que o facebook é uma treta. Talvez seja quando o usamos de forma pouco clara para nós mesmos. Mas eu curto. Prefiro ver o face como um encontro de amigos, do que como uma arena romana, muito menos como um bidé. Aiiiii quem limpa depois?!

beijos, meu querido diário
que os nossos sonhos se concretizem

pipiripipiu

MUNIR MUSTAFÁ



Todos os dias Munir Mustafá aconchegava-se naquela árvore e sonhava. Quando muito calor estava ele ficava olhando as folhas ora paradas,ora batendo levemente levadas por uma morna brisa. De noite ficava olhando a chegada das estrelas e mergulhava o olhar num lua grande e gorda que beijava o horizonte de areia.

Sonhava com Naima. Naima era de outro povoado. Gostava de vê-la correr com o seu cabelo que parecia uma nuvem de pó. Naima corria incansavelmente em direção ao Atlas. Subia e do topo, entre macacos e neve, acenava para Munir Mustafá. E escutava as fábulas de Násser. Em pensamento Munir Mustafá pedia-lhe para voltar, receava que Naima mergulhasse numa fábula do óasis. Munir Mustafá e Naima eram do deserto. Naima sentia curiosidade pela grande árvore onde Munir Mustafá se aconchegava. Rondava a árvore ora aproximando-se, ora afastando-se com proximidade.
Naima voltava, mas era de outro povoado. As outras meninas do povoado de Munir Mustafá olhavam Naima com alguma desconfiança. E Naima rodava sobre si própria de braços abertos para ver o seu cabelo balançar.

Aos poucos as duas povoações foram crescendo tornando-se uma só. Naima e Munir Mustafá agora estavam mais próximos. Faziam parte da mesma povoação. Naima continuava a subir o Atlas para brincar com os seus amigos divertidos macacos. Munir Mustafá subia a árvore e ria-se. Já não temia que Naima não voltasse. Aliás! Prenderam um fio que ligava a sua grande árvore ao topo do Atlas. De lá de cima os dois funambulavam. De lá de cima poderiam olhar os imensos detalhes e o extenso céu. Agora Naima contava as fábulas de Násser a Munir Mustafá e ele até já tinha curiosidade de saber onde ficava o oásis.

Naima e Munir Mustafá, os filhos do deserto junto ao Atlas.


Munir = o iluminado
Mustafá = o escolhido
Naima= delicada
Násser = o criador de fábulas

pipiripiu
Barão, 18.10.2013

O TU PIAS?


Sonho contigo todas as noites
todos os dias
estás do outro lado da rua
e eu tento alcançar-te

É um sonho idêntico ao que eu tinha
como uma pessoa querida que já foi deste mundo
mas tu tens vida

No sonho, eu nunca consegui alacançar essa pessoa
Era um sonho e ela já tinha ido
Mas tu pertences ao mundo dos vivos

Sonho encontrar-te no meio da estrada e caminhar ao teu lado
sentir a textura e o calor do chão
Simular que te segredo ao ouvido só para sentir o teu cheiro

Pipiripipiu
20.10.2013

obs: O TU PIAS são piações versaláticas da Piu, que anoligazam a vontade de uma nova ordem mundial (isso é possivel ou é só utopia?) como quem quiser e estiver para aí virado pode ver como um pó eme da amoreeee. Tem para todos os gostos e feitios. Cada um que se deixe levar pelos seus desvarios.

CARTA AO PORTUGALITO

Meu querido Portugalito,

vejo-te tão desfocado, tão descentrado. Sabes uma coisa? Sinto que a nossa relação é semelhante aquela de velhos casais de namorados que já não tem mais nada para dizer um ao outro mas levam tempo a se separarem. Sentem carinho um pelo outro, mas devem seguir caminho. É isso, meu Portugalito. Custa tanto assumir que me quero separar de ti. Por vezes penso que não dei e não dou o meu melhor, mas há tanto tempo que tento voltar a ti como uma filha pródiga e só encontro farsa.

Desculpa, mas há anos que sinto isso. Mesmo muito antes da crise. A primeira vez que me fui tinha 20 anos. O auge das injecções de dinheiro da comunidade Europeia. Fui para Berlim. Não ter sol custa-me muito, mas decidi que só voltaria se valesse a a pena. Ahahaha nem te digo nem te conto. Não vou entrar naquele discurso que o pessoal não quer trabalhar, porque não é bem assim,mas alguns se puderem meter ao bolso sem muito rigor no trabalho... Enfim, com 23 anos ganhei uma bolsa da Gulbenkian (das únicas instituições que faziam a vez do extinto ministério da cultura) e lá fui para Paris estudar teatro. Depois voltei para a fantástica Expo 98. QUE FARSA! QUE FIASCO! Aí pude confirmar a esquerdalhice oportunista que assim que se vê com poder e dinheiro reproduz aquilo que critica. E ética´não consta no glossário. Deixei-me ficar mais uns tempos. Viajando quando podia. Pensei viver no Brasil, Cabo Verde, Dinamarca, Berlim (não é a Alemanha toda que desejo para a minha vida). Mas sabes que mudar requer fôlego, alguma direção. Pois. Não vou entrar em detalhes. Mas se me tivesse só comigo talvez tivesse ido antes. Hoje encontro-me no Brasil com as minhas duas filhas. Existem muitos aspectos que poderiam aqui ser melhores. Como em todos os lugares. Mas uma coisa que desejo para elas e para mim, para nós é energia no viver.

Sabes, Portugalito, desejo que passes bem como te convém. Sempre que sei de ti fico triste. Mas como velhos amantes quero manter amizade, penso que é o minimo. Rancores nem pensar! Mas cada um na sua. Outros amores virão, porque não somos de um só lugar e o mundo é grande.

um abraço forte do fundo do coração
e cuida-te! Cada cravo vermelho que encontrar no meu caminho lembrar-me-ei de ti, porque mesmo separados por ti sinto carinho.

Ana Piu
Brasil, 20.10.2013

PARECE APARECER


Aparentemente a aparência é parecida com o que aparenta ser. A aparência parece ser o que aparenta não ser, mas é. Mas até nem é. É quase, mas ainda é o que não mais parece vir a ser o que aparenta ser há muito mas falta deixar de aparentar para vir a ser realmente o que parece que já é.

a piu
br, 20.10.2013

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A LUA E O CINEMA

A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava para ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!

Leminski, Paulo "Toda poesia", São Paulo: Companhia das Letras, 2013

MUNIR MUSTAFÁ

Todos os dias Munir Mustafá aconchegava-se naquela árvore e sonhava. Quando muito calor estava ele ficava olhando as folhas ora paradas,ora batendo levemente levadas por uma morna brisa. De noite ficava olhando a chegada das estrelas e mergulhava o olhar num lua grande e gorda que beijava o horizonte de areia.

Sonhava com Naima. Naima era de outro povoado. Gostava de vê-la correr com o seu cabelo que parecia uma nuvem de pó. Naima corria incansavelmente em direção ao Atlas. Subia e do topo, entre macacos e neve, acenava para Munir Mustafá. E escutava as fábulas de Násser. Em pensamento Munir Mustafá pedia-lhe para voltar, receava que Naima mergulhasse numa fábula do óasis. Munir Mustafá e Naima eram do deserto. Naima sentia curiosidade pela grande árvore onde Munir Mustafá se aconchegava. Rondava a árvore ora aproximando-se, ora afastando-se com proximidade.
Naima voltava, mas era de outro povoado. As outras meninas do povoado de Munir Mustafá olhavam Naima com alguma desconfiança. E Naima rodava sobre si própria de braços abertos para ver o seu cabelo balançar.

Aos poucos as duas povoações foram crescendo tornando-se uma só. Naima e Munir Mustafá agora estavam mais próximos. Faziam parte da mesma povoação. Naima continuava a subir o Atlas para brincar com os seus amigos divertidos macacos. Munir Mustafá subia a árvore e ria-se. Já não temia que Naima não voltasse.  Aliás! Prenderam um fio que ligava a sua grande árvore ao topo do Atlas. De lá de cima os dois funambulavam. De lá de cima poderiam olhar os imensos detalhes e o extenso céu.  Agora Naima contava as fábulas de Násser a Munir Mustafá e ele até já tinha curiosidade de saber onde ficava o oásis.

Naima e Munir Mustafá, os filhos do deserto junto ao Atlas.


Munir = o iluminado
Mustafá = o escolhido
Naima= delicada
Násser = o criador de fábulas

pipiripiu
Barão, 18.10.2013


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

QUEM SOMOS?




Não somos nada e somos todos. Somos matéria. Somos espírito. Somos bosta. Somos ar. Somos água límpida. Somos água turva. Somos monstros. Somos grandes. Somos monstros frágeis. Somos grandiosamente monstruosos. Somos fogo que aquece. Fogo que queima. Fogo que destrói. Somos mar. Mar de amor, de horror, de dor, de sabor. Somos odor. Somos também paz. E também amor. Uma questão de escolher de que lado da vida queremos estar.

SER ORIGINAL ou Anita na idade dos porquês




Já tudo feito. Sim, já tudo pode ter sido feito. Qual o problema? Já tudo foi feito. Já tudo foi pensando, criado, realizado. Já tudo foi realizado? De certeza? Então, porque ainda sofremos de profundas desigualdades de oportunidade? Porque ainda vivemos numa hegemonia secular camuflada de democracia? Talvez seja impossível sermos originais. Vivemos no mesmo mundo, no mesmo tempo. Temos inquietações semelhantes algumas vezes sentidas de maneiras diferentes. Não será a originalidade uma invenção bastante recente? A questão talvez não seja ser original ou deixar de ser e sim ter liberdade de pensar, liberdade de errar, liberdade de questionar, repetir, de perguntar, de nos inspirarmos. De termos rigor sem ser rígidos. Porque dizem que a educação está falida? Porque a educação virou um negócio, porque não se é dada importância suficiente ao conhecimento como algo libertador, democratizante. Porque não se substitui carreira por percurso? O que falhou desde a revolução francesa? O que falhou desde o Maio de 68? Porque continuamos a repetir velhos padrões e modelos? Modelos. Padrões. Não nos damos liberdade de sair desses padrões em prole do rigor. Mas concluo que podemos ter rigor sem sermos rígidos. Podemos ter a ética de saber quais os autores que já pensarem inquietações semelhantes sem que nos aprisionemos em modelos de escrita que nos bloqueiam. Podemos citar autores porque com eles dialogamos, porque nos apropriamos de uma reflexão teórica com base na observação, na escuta, na leitura, na prática.  Para que serve a produção de conhecimento? Para onde vai esse conhecimento? Serve quem e o quê? Porque nos desmotivamos? Porque a escola é vista com algum enfado? Porque talvez não se escutem as necessidades do individuo enquanto ser pensante e interveniente num espaço. Talvez porque não é dada atenção a uma realidade ou várias realidades que se vivem no dia a dia.

A piu
br, 17.10.2013