sexta-feira, 30 de novembro de 2012

NATAL TROPICAL

Um sentimento de estranheza paira sobre o meu ser. Calor de Verão e Natal soa a estranho. No meu ser paira igualmente esse espirito e esse palavrear que está entre cliché e o poético. Essa sensibilidade delico doce que em demasia causa azia. O culto da personalidade assalta as minhas vísceras. Fico com suores frios e sentimentos de culpa.... Assumo esse narcismo e sigo em frente. Busco uma foto dos tempos em que pela primeira me deparei com neve. Menina e moça ou moça e menina liguei para a terra natal, isto pela época do Natal, anunciando excitadamente que nevava em Paris. Não tou com essa foto...Bom, mas anos mais tarde percebi que toda aquela neve era brincadeira de crianças perante um mar escandinávo congelado onde dava para patinar nas calmas. Não sei se dava para ir até à Suécia, mas que dava para dar umas trasseiradas na boinha,. Ah pois que dava. Hoje, encontro-me aqui sentada , entre o calor, o ar condicionado e os enfeites de Natal. Até que até poderiam ser adaptados a uma realidade tropical... Digo eu... Ver bonequinhos com cachecol debaixo de 35º.... Soa curioso. E pipoca a fazer de neve é no minimo genial. Bem, agora vou clicar a ver se a imagem sai e o culto da personalidade se reconforta. E já agora posso olhar uma imagem de Inverno que deixei para trás,  e que nada me incomoda nem tampouco me deixa saudades. Por enquanto!...Pois eu cá curto bués o sol e o calor. No Natal, no carnaval...é mesmo bestial!
Porém, contudo no entanto não podertei fazer juz ao culto da minha personalidade.... Entre pastas e documentos aos molhos não encontrei uma singela foto da Anita na neve. Porém, fica a promessa de vir a publicar tal raridade... Como boa cultivadeira do culto da minha personalidade que SOU, apesar de negligente. Enfim, uma personalidade narcisica negligé. Aquele ares de quem dá a entender que não ém as até é. Que não quer saber, mas até quer. Aquele ar negligé, degradé, blassé. Ahhhh bahhhh oui quand même!

a Piu

br, 30 de nov.2012


terça-feira, 27 de novembro de 2012

ORQUESTRA DE VONTADES

Há que tempos que ando às voltas com esta coisa da liderança, de dirigir, de tomar  as rédeas, de tomar o touro pelos cornos, de tomar a iniciativa, de orquestrar. Talvez tudo o que eu pense, diga, fale, balbucie não passe de lugares comuns, banalidades, redundâncias sem importâncias. Mas também acho, eu cá acho muita coisa, que quando o que se sente vem lá das profundezas das vísceras não pode ser assim tão banal e superficial. Talvez não tenha uma argumentação sofisticada, mas a que é a sofisticação sem sentimento? Um sentimento vivido, observado, mastigado, cuspido, reciclado, aprofundado, simplificado construido, desconstruido e renovado?

O palhaço é um transgressor. Joga o jogo das hierarquias. Mostra o quanto elas são rídiculas quando arrogantes. E se o afirmo será por um  trabalho por mim desenvolvido com outros companheiros e companheiros deste oficio e que está  embutido no couro, na derme. Se improvisar é propôr, aceitar a proposta do outro, aceitarem a nossa proposta então improvisemos com base na escuta e códigos, alfabetos combinados, negociados. E se em vez de hierarquias chamarmos cargos, lugares de responsabilidade, funções especificas?

Bom, mas afinal o que é isso de dirigir? Dirigir uma casa, uma associação, um grupo, uma empresa, um Estado?  O que é assumir a liderança? É possivel liderar sem ser autoritário? Ser-se líder é impôr a nossa vontade ou orquestrar vontades comuns e ter a batata quente de tomar decisões dificeis, de tomar a iniciativa, de dar espaço aos outros para que sintam que aquele projeto também é deles? O que é liderar afinal? É ter um posto? Um estatuto para que os restantes bajulem e agradeçam muito mas muito por ter um chefe que tome as decisões por si. Liderar não é orquestrar? Valorizar cada elemento da equipa? Conceder responsabilidades e sub lideranças ?

Parece-me às vezes, a mim também me parecem muitas coisas, que se confunde um cargo, uma responsabilidade com algo mais haver com o  ego, cuja batuta é:”Se não estás comigo estás contra mim.”
Mas repito, pergunto-me e pergunto: liderar não será uma orquestra, uma polifonia com silêncios, intensidades, intencionalidades diversas?
Fale-se que está falido o ensino, a educação. Porque será?

Imagem: Maestro Kurt Masur

A piU
BR,nov.2012

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

ESTE MEU ROSNAR


Meu querido diário, lá no meu bairro os garotos correm atrás dos lagartos para os comer. Bilhaqueeee Penso e sinto . Mas bilhaque porquê?, pergunto-me. Porque sou uma urbanoÍde enojada com manias de neo rural ou porque gosto realmente de lagartos e lagartixas a saracotearem no quintal? Não me causam fornicoques. E as chitalhada das moscas nem vê-las. Mosca, esse bicho chato. Quantos aos mosquitos/ pernilongos já não dá para dizer o mesmo. De noite é aquele zumzibar e aquele ferroar que desconfio que a ópera do meu roncar advém de tal bicharada.
Meu querido diário,  ontem vi o coelho que visita o meu quintal numa correria objetiva, sobrevivente. E porquê? Um gato quase que o pegava. P pior, meu querido diário, é que o filho da gata do gato, aliás da gata!, andou durante a noite nas imediações.  E porquê? Porque está com o cio. Tentou entrar pela janela da cozinha e quebrou um copo de vidro com o rosnar da fera bera. Do meu rosnar! Também rosno quando não sou pontual. Aaaarggghhhhh Esse terrível hábito de querer ser pontual e não falhar aos afazeres. Confesso que tenho me despistado um pouco com os meus afazeres. Consultas de dentista, assinaturas em cadernetas escolares. Mas prometo a mim mesma focar-me e não rosnar tanto comigo.
Meu querido diário,  ontem a Martita que vive na Dinamarca fez uma visita. Ela esteve em Israel. Eu já não sei o que pensar dessa maluqueira que dura há décadas. Só sei que matam pessoas inocente  em nome da religião, da territorialidade, da identidade e do diabo a quatro. Que mundo louco este que temos acesso à informação (mas que informação?) e não podemos interceder quase nada.
Será que quando não conseguimos vencê-los juntamos-nos a eles? Mas a eles quem? Aos que não cumprem os acordos de paz, aos que não cumprem com a sua palavra e já agora aos que não são pontuais. Mas será que é assim tão importante ser pontual? Eu cá acho que sim. Pelo menos as pessoas com quem eu tenho trabalhado que levam isso como exigência  fizeram-me crescer batuladas.
Meu querido diário,  ontem vi uma moça do outro lado da rua. A sua linguagem corporal dizia-me que não deveria ser brasileira. Um jeito subtilmente nervoso, agitado. Quando repreendeu o cão que urinava uma esquina percebi que era portuguesa de Portugal. Será que este jeito “neurótico” de ser português vem no “nosso” ADN?
Meu querido diário,  ontem tentei deslocar-me somente da minha bicicleta em segunda mão. Ploftt um pneu! Constatei que “só” nos países onde o consumo é sublinhante (os ditos países desenvolvidos) é que o pessoal consegue comprar em segunda mão artigos praticamente novos e baratos. Pudera! É o consome ou nem chega a consumir e a deitar fora.
Meu querido diário,  ontem deixei a mala do carro aberta com a mala do show da Marta lá dentro.  Ninguém abriu. Ninguém roubou. Meu querido diário, destas avarias com chaves esquecidas em portas já são muitas. Será que tenho uma sorte de ouro ou influencia  eu não viver em condomínio fechado em casa isoladas? A Marta chamou-me palhaça. Eu acrescentei :”Palhaça portuguesa. Aliás! Palhaça portuguesa com costela alentejana.!” Meu querido diário, gosto de ser palhaça, de ser portuguesa e de ter costela alentejana. Porém, a neurose coletiva que se vive em terras lusas fazem-me rosnar e perguntar-me: ”O que ainda me faz estar ligada a um país que as pessoas boicotam a sua vida, que preferem colocar barreiras nos seus sonhos vivendo uma vida de frustração num mundo do “inho” e do “ando”? Do coitadinho, do pobrezinho, do pequenino, do obrigadinho, do medinho, do cola com cuspinho, do vai-se andando no carrinho do Armando: Umas vezes a pé, outras caminhando”.
Meu querido diário, acho que não é nada boa ideia de juntar-me a eles se não conseguir vencer. Mas antes demais tenho de vencer este meu rosnar.

A piU
BR, NOV.2012

ENA PÁ!

- É pá, tás bom, pá?
- Eu tou, pá! E tu, pá?
- Eu não, pá!
- Já trabalhas, pá?
- Eu não, pá. E tu, pá?
- Eu já, pá!
- Com quem, pá?
- Na empresa do papá.
- Ena pá!
- E és competente, pá?
- Sei lá, pá!
- Sabes, pá?
- Só sei, pá, que já nada sei, pá.
- Compreendo, pá.
- É  a vida, pá.
- Pois, é pá. Pois é.
- Tá mal para todos, pá.
- Pois tá, pá. Pois tá.
- E onde é a empresa, pá?
- É baril, pá!
- E onde a empresa, pá?
- Num lugar que rima com "IL", pá.
- Tou a ver, pá. Tou a ver.

A piU
br, nov. 2012

sábado, 24 de novembro de 2012

SER DO CONTRA

- Tu és canhota?
- Canhota não. Esquerdina. 
- Mas és?
- Não, não sou.
- Mas és do contra.
- Do contra? Como do contra?
- De esquerda.
- De esquerda? E isso é ser do contra?
- É.
- Mas a esquerda ainda existe?
- Tou a ver que gostas de agradar a gregos e a troianos. Gostas de ficar ali no meio. Dando uma no (es)cravo outra na fechadura.
-E tu? O que é que és? Se tens tantas coisas para apontar em mim deve ser porque já olhaste para ti ou ainda falta olhar. Talvez seja melhor nos revermos a nós mesmos antes de apontar o dedo.
- Eu não digo! És do contra e és torta. Não dá mesmo para falar contigo!

"luduai off life"
A piU
br, nov.2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

LUSUAI OFF LIFE

- Gostava de tocar ferrinhos.
-É paaaa, não te metas nisso. Dá muito trabalho. Mas queres tocar ferrinhos para quê? Seres profissional dos ferrinhos ou só porque sim?
-Porque sim. Porque gostava.
-E paaaa! Porque é que não não aprendes a tocar violoncelo?
-Mas eu só gostava de tocar ferrinhos.
-Lá tás tu! Sempre a sonhar.
-Também gostava de sonhar mais.
-Mauuuu! Isso já é pedir muito!

A piU
Br, nov.2012

LUSUAI OFF LIFE

- E pá, tu és tramada.
- Atão porquêi?
- Porque és.
- Porque sou porquê?
- Porque parece que não passaste da idade dos porquês?
- Por isso sou tramada.
- Pois. Pois.
- Mas eu só gosto de fazer as coisas bem.
- Olha mesta.... As coisas bem?! Deves ter a mania que és boa. Muita boa.
- Mas porque é que só fazemos o cola com cuspo, o em cima do joelho, e não fazemos uma coisa realmente real bestial fenomenal? PORQUÊ?
- Eu não digo!.... Deves ter a mania que vais mudar o mundo. Tu és tramada pá. Poupa-te pá- Poupa-te. Não ganhas nada com isso. Aqui entre nós: só perdes. És tramada!..
- Pois. Pois. Mas pois porquê pá?

"lusuai off life"
A piU
BR, NO 2012

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A vida aos traçinhos

(...) Debaixo do pano está uma gaiola. Dentro da gaiola está um pássaro. Dizem que canta mais quando está tapado com um pano. Pudera! Canta porque quer sair dali. Não vê o mundo debaixo do pano. Canta um canto bonito. Ninguém desconfia que é um canto triste. E quanto mais canta mais o pano permanece direito, engomado sobre a gaiola. Um dia ele lança um grito tão agonizante que decidem colocá-lo numa gaiola maior. E lá vai ele, esse tal de canarinho (ou piriquito?). Nunca deu para perceber se era um ou outro, sempre ali por debaixo do pano bordado a ponto cruz!

Lá vai ele transferido para uma gaiola suite. Por momentos pode ver o mundo aos traçinhos. Mas vê. Não canta. O tal do passarinho está estupefacto com tal surpresa. Leva algum tempo para ser novamente tapado. O pano está a acabar de ser bordado. Por não cantar, rápidamente lhe colocam um pano que não tapa por inteiro a gaiola. Canta um pouco. Um dia Balbina, achando-o triste por não cantar, mete a sua mãozinha na gaiola para o pegar e acariciar. Cá fora, pousado sobre a palma da mão de Balbina ele recebe os afagos dos deditos, fechando os olhos.

Volta a pô-lo dentro da gaiola. E no instante em que está a mudar a água e a alpista o pássaro de pequeno porte pousa as suas patitas na portinhola, bate as asas e sai voando às cegas. Esvoaça pelas paredes e pelo teto da marquise, indo contra as coisas. Até que as suas asas levam-no em direcção à janelita entreaberta. E sai voando aos tropeços. O mundo que conhecera debaixo do pano e mais tarde aos traçinhos apresentava-se agora grande, libertador e assustador.

Deu-lhe sede. Bebericou duma poça escura no meio da estrada. Passou um carro por cima dele, mas nada lhe aconteceu. Cansado deixou que a fome o paralisasse. O seu coraçãozinho não resistiu muito mais tempo. Depois dum profundo suspiro pousou a cabeça como poisava dentro da sua gaiola e fechou os olhos.

Balbina chorou muito. Sentiu-se culpada de ter deixado fugir o passarinho. Tentou convencer-se que ele estaria bem. Estaria livre.
Para limpar a alma saiu para a rua deixando que a chuva a encharcasse. O ar estava quente e a chuva caindo cada vez com mais força. Abriu os braços. Riu-se por se sentir livre, entregue às intempéris. Havia um bafo quente no ar, mas de repente começaram a cair pedrinhas. Granizo. Pedrinhas de gelo. Parecia gelo picado a cair do céu.

Voltou para casa com a roupa, o cabelo colados ao corpo. E a sua alma mais aliviada. (...)

A piU
Br, 21 de novembro de 2012

"Historietas maluquetas da menina Balbina ou o canto da piripipiu"
imagem: Tayla Nicolleti

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

PRISIONEIRO DE MIM PRÓPRIO

Hoje percebi que sou prisioneiro de mim próprio, Que todas as minhas ansiedades, os meus medos, as minhas angústias, os meus dogmtismos, as minhas raivas contra os outros, o meu receio de me dar mal e de não ser aceite, de ficar só são as g
rades de mim próprio. Como tal, vou-me silenciar e num exercicio de exorcição vou pintar o meu próprio enclausuramento. Pode ser que me liberte de mim e me reinventa. Fixarei o olhar no que estou a fazer e depois logo se vê.

a piu br, 14 de Novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

ALTERNATIVO GOURMET


 Subúrbio de Lisboa 83/84- A minha mãe passou a ser macrobiótica por questões de saúde. Leva a dieta à risca. Cozinha depois de vir do trabalho. Cozer arroz integral demora uma eternidade. Bebe sumo de couve, de beterraba, de alface. É preciso muita dedicação para ser macrobiótico, penso.
Paris lá por 96 ou 97- Paris é lindo! É chique! Tem glamour! Os cafés Parisienses! Respira-se arte na rua! Postais, postalitos de Picasso, Chagall, Lautrec, etc. C’est beau Paris. Caramba que fome! Bem que me apetecia comer um crepe! Mexilhões com pommes frites nem pensar!! Custam os olhos da cara! Deixa ver se tenho dinheiro para um crepe! Bom, o mais barato é de canela com açucar, mas continua a ser caro. Bon, mais bom! Esqueçe lá isso! Tou com uma fomeee! Ora o mais  baratito não é mais nem menos que um macbosta! Uau! Concentra-te! Fixa o olhar no infinto! Tás com fome.  Tás no centro(existe um  só centro em Paris?) e não existem supermercados para comprar uma peça de fruta e um pão. E naquelas lojinhas de conveniência continua a ser mais caro que um mac bosta.

Berlim 94- Chiça! A fruta parece um batalhão de soldadinhos de chumbo. Igual. Do mesmo tamanho. Bonita por fora e sensaborona por dentro.

Lisboa 99- Um mês a viajar no Matogrosso e já não posso ver carne à frente. O estômago até se espiraliza! Caramba! Tantas plantações de soja! Um monte de queimadas para fazer estas plantações! E onde estão as pessoas que viviam neste território antes das plantações? E o pessoal que come soja em alternativa à carne o que diria ou pensaria de tal impacto ambiental e humano?
Um mês a fazer teatro no Matogrosso?! Mas lá tem teatro? Isso é lugar para fazer teatro?

Lisboa 2000- “Vais ter o teu bebé no Matogrosso?! Que loucura!”  “ Há milhares e milhares de anos que nascem e morrem pessoas em todas as partes do planeta. Hoje nasce-se e morre-se tanto em clinicas privadas como em hospitais públicos.”, respondo.
Bem que gostava de fazer um parto natural, daqueles no meio da água, mas o bolso tá furado. Vai ter de ser no tal do hospital. Não dá para parir de cócoras. Não dá jeito à equipa hospitalar. Azar. Paciência. O corpo pede. Mas o bolso tá furado.

Serra da Lousã 2002- O bolso continua furado. Mas arranja-se sempre maneira . Toma lá copo de leite, ó miudinha! Utla! Levo com um olhar reprovador duma vegan! Leite de vaca! Oooops!
Lisboa 2005- Depois de dar à luz, num hospital público tratada a pontapé pela equipa mas com ótimas instalações, um familiar traz uma caixinha de morangos biológicos. Uau! Muita bons!! Pequenos e doces! Devem ter sido caros! Mas valem a pena provar.
Copenhaga 2010- Leite de arroz. Muitaaaaa bom!!! Frutos secos! Maravilha! Ai se eu pudesse comer e beber assim todos os dias!...
 Lisboa 2005/ 2011- Tem um monte de supermercados chineses e indianos no meu bairro. Dá para comer algas, tofu, mizo a preços baixos. Mas de onde surgem esses produtos para serem tão baratos?
Brasil 2012- Gostava de ter as minhas filhas numa escola com uma pedagogia libertária, mas o bolso continua furado. Quero acreditar que o Estado de São Paulo está a investir no ensino público. Pelo menos a tentar.
Penso em fazer uma horta no meu quintal. Ainda não fiz... Mas o que planto cá no fundo de mim é que as nossas escolhas “só” a nós nos dizem respeito. Julgar os outros por não seguirem o que nós achamos bem é cair naquilo que criticamos. Escolher em função do que desejo, quero e posso. Principalmente poder. Bem gostava que os transportes públicos funcionassem realmente e que não saisse mais barato, em algumas situações, andar de carro. Bem gostava de ser mais alternativa, mas por vezes sai caro. Das duas uma, ou mudamos radicalmente a nossa vida e vamos para uma comunidade no meio do campo. E o que implica viver numa comunidade? Ter uma linguagem comum assente na tolerância ou seguir cegamente dogmas? E depois  dar de caras nessas mesmas comunidades com pessoas a comer carne às escondidas dos outros.
Parece até uma brincadeira de crianças mimadas.Como um conhecido falou:” Quanto mais olho para a minha carteira, mas percebo que não posso agora ser alternativo. Não tenho alternativa para ser alternativo....!” Consumo consciente sim. Sustentabilidade também. Paroquismo... Bilhaqueeeee E depois tem um pequeno detalhe: de que lugar falamos quando falamos? De que lugar escolhemos quando podemos escolher?
Talvez numa outra vida tenha sido queimada na fogueira e tenham feito de mim um churrasco. Mas eu até acho que a minha carne é muito dura de roer e pode causar indigestão.

A piU
Br, 12 de Novembro 2012

PIU BIO


Umas vezes Piu
Outras bio
Quero ser micro
E também macro

Na night
Sou light
Uma rural
Fenomenal

Busco a essençia
Na ciência
E no natural
Sem cair demasiado no essencial

Sou moderna
Vivo numa caverna
Sou crua
Banho-me toda nua

Se me bradam com pudor:
“Ai que horror! Ai que horror!”
Olho com desdém
Não devo nada a ninguém

Falaram-me do caminho da luz
Ai Jesus! Jesus!
E  se a minha comarca
For ser anarca?

Que loucura!
Que utopia!
Não lembra nem a uma cotovia!

Gosto muito de animais
Cães, gatos
E outros que tais

Os seus direitos são fundamentais
Mas por vezes (!?) há crianças que são mortas comos pardais
Vivem como ratos no esgotos
E essas nem sempre nos caem no goto

Pequenos criminosos
Que constragem a vista
Limpemos, então, a pista

Tem piada tanto fundamentalismo
Quando se esquece o humanismo
Assim como assim dá-nos segurança um dogmatismo
Que vem lá dum tal de catolicismo
Proferido do sofá
Enquanto se sorve um rajá *

Defendemos sim os animais
Mas já não sei se nós somos racionais
Ou irracionais
*marca de sorvete nos anos 70 em Portugal
A piU
Br,12 de Nov. 2012
Imagem:”Flying Princess” de Ricardo Nunes

domingo, 11 de novembro de 2012

SABEM MUITO

-Ah esse pessoal sabe muito. Tem bolsa família. Tem casa paga na periferia. Sem preocupações em pagar contas. Um monte de ajudas sociais. Por cada filho recebem umas notas. Quanto é mesmo? 50? 100?Precisam de mais? Como precisam de mais? Eles estavam habituados a muito menos! Agora tá bom demais para eles? Tão melhores que eu!
- Se é assim tão bom porque não vais viver nas condições em que vivem? Para a periferia onde o acesso é a modos que mirabolante.
- Vais me dizer que passam fome?
- Tu sabes se passam fome ou não? Aliás, já pensaste que a pessoa que circula no teu circuito não passará eventualmente fome, privações? Ou achas que o pessoal vai todo ao Pão de Açucar comprar pão italiano, arroz e feijão biológico?
- Vais me dizer que já passaste fome! Privações?
- ............................
- Ahhhhhh Essa tá boa!
- Pois, nunca consegui provar que sou pobre, muito muito pobrezinho para ter as esmolas do Estado. E mesmo que tentasse provar, o Estado demonstraria que afinal não sou assim tão pobrezinho para receber um apoio. Mas sei o que é ser precário. Também sei o que é o pessoal não saber agarrar oportunidades ou não estar motivado para tal. Mas...
- Tás a ver! Eu não te digo que esse pessoal sabe muito!

A piU
Br, 11 de Nov. 2012

UM SER COPOFRÁGICO

Eu cá sou uma pessoa deveras coprofágica. Eu subo a um palco e faço de conta que faço de conta. Às páginas tantas já não dou conta das contas que faço. Profiro complexidades que nem eu entendo muito bem o que são, mas mantenho a pose. Uma pose com um olhar no horizonte e outro na coprofagenia. Gosto de ser quem sou. Eu e os meus amiguinhos e amiguinhas elogiamos-nos muito. "Estavas ótimo naquele papel de rei édipo que no final resolve o seu problema com umas lentes da multiópticas!" ou "A tua projeção de voz é excelente. Vê-se que fumas cigarros Lucky Sricke!". Bem sabemos que o mundo não nos entende, a nós e às nossas concepções e ilações conceptuais de uma coprofagia complexa alicerçada em diferentes níveis transcendentais de entendimento e percepção do nosso umbigo coletivo. Porém não é a esse mundo inculto que que queremos comunicar. Aliás, nós não queremos comunicar absolutamente nada. Simplesmente ser. Ser coprofágico com muito segurança e incontinência. Juntos resistiremos a esse mundo vão que não vislumbra o nosso ser.



 A piU Br, 11 de Nov. 2012

CARTA DE INTENÇÃO

Carta de intenção (máximo 1250 toques) Venho por este meio afirmar que a minha intenção é uma intenção bem intencionada de intentar novamente e uma vez mais. Faço tensões de numa tensão relaxada e atenta a esse relaxamento físico e mental revisitar caminhos nunca antes percorridos deste modo e de certa maneira. Pretendo assim e como tal desfrutar um desfrute a modos que desregradamente com entrega
em meu ser para com os outros seres seguindo as regras por vós propostas e apresentadas. Peço perdão se ainda faltam 877 toques para completar este quadro de intenções, mas é que eu sou uma pessoa muito poupadinha e venho dum país, aliás dum continente, com medidas de austeridade que não me permitem grandes voos no pensar, perspectivar e palavrear. As minhas "sinsérias" cordialidades e amabilidades com muitas boas vontades e intencionalidades 
 
A piU Br, 10 de Nov. 2012

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Quem não chora não mama

Quem não chora não mama! É mesmo assim! É a lei da natureza e de algumas culturas onde os direitos humanos e o direito à cidadania só são salvaguardados quando se chora muito, se pedincha. E quando conseguimos representar o nosso papel de
coitadinhos, pobrezinhos, muito necessitados da caridade (da politica pastoral como escutei ontem de alguém) aí temos 'direitos", ajudas concedidas numa lógica hierárquica com pretensões a Estado previdência. Como se o Estado Previdência tivesse de assentar em paternalismo desresponsabilizantes. Isto é, o cidadão desresponsabiliza-se dos seus deveres e direitos de cidadania para ocupar um lugar onde o poder paternal dá uma esmola, uma esmolinha, porque é bonzinho e compreende aquela situação de extrema necessidade. Vai daí que a pessoa deve ficar eternamente agradecida por ter sido compreendida enquanto criancinha deficiente, mulher necessitada com uma catrefada de filhinhos ranhosos, velhinhos sem eira nem beira. And so on, and so on. No fim das contas a dignidade fica resumida à boa vontade de quem está acima e tem o poder de decidir. A piU Br, nOV.2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

mumumumumumummmmmmmmmmmmmmmmm

The night is white
Lots of sounds outside
Lots of sounds inside
I dream
I can’t dream
She is in the other side of the streat
I can’t touch her
One day and she goes, again
I can’t touch her
I can’t cry
Then, I can sleep again
But a very very little word without end in my mouth
In my heart
Mumumumumumumumumum

a piu
br, 7 de Novembro de 2012

NOITE BRANCA

A noite é branca
A noite está branca
Um monte de sons lá fora
Uma montanha de sons e ruídos cá dentro
Sonho
Não consigo sonhar
Não posso sonhar
Não posso tocá-la
Um dia ela vai, outra vez
Não posso tocá-la

Não posso nem consigo gritar nem chorar
Por fim consigo adormecer
Mas uma pequena, pequeníssima palavra sem fim na minha boca,
no meu coração
mãe mmmmmmãããããããeeeeeeeeeee

a piu
br, 7 de Novembro de 2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pensadoria

Pagam-te para pensar? Oh messa! Para pensar?! Pensar o quê? Eh pá, desculpa lá! Eu vergo a mola todo o santo dia. Acordo às cinco da matina. Às cinco!!! E a ti pagam-te para pensar!! Olhó artista!! Pensar o quê? Sim, pensar que há uns que vergam a mola no duro e os outros pensam. Divagam. Opiniam. Mas pensar o quê? Para quem?! Olha, eu também penso. Penso como vou pagar as minhas contas ao fim do mês. E isso também se paga? Paga-se esse pensamento? Vou já patenteá-lo. Olha pá, se não fosses meu amigo dizia-te: "VAI TRABALHAR MALANDRO!" Vai trabalhar pra a estiva que isso de pensar é para meninos!"

A piU
br, 7 de Novembro de 2012

I LIKE

- Olha, eu hoje recebi 5 likes. Gostos. Curtis.
- Cinco? Só?! Quantos amigos tens tu? Eu cá tenho 2500!!
- 2500!! Caraças!! Que canseira. E dás conta do recado? Já pensas-te convidar todos para um jantar? Bom, mas quantos gostos, curtis tens por dia?
-Uns... 77, 84.
- Olhaaa, parabéns! És uma pessoa muito popular, mas muito só. Não?
- Até posso ser só, mas admiram-me.
- Mas também há malta que cur

te mas não diz, não demonstra. Não se manifesta.
- Mas isso de não se manifestar é normal!
- Pois, mas isso de ter muitos ou poucos likes, curti e gostos também não me preocupa! O que conta é a qualidade e não a quantidade!
- Siiiim, mas confessa lá que não gostavas de teres mais gostos e curti.
- lá tás tu! (...) Tá beeeeem tens razão!

A piU
Br, 7 de Novembro de 2012

Tal e tal

De vez em quando sou literal
outras anseio pelo litoral
coloco-me na lateral
que de perto ninguém é normal

Não sei bem o que é moral
de quando em vez dou ao pedal
esvoaço feito pardal
umas vezes cheiro bem
outras mal

Sou meio que paranormal
e a melhor do meu quintal
eriço-me e penduro-me no estendal
antes que se arme um vendaval

Protego-me com um dedal
e rato fruta fora da época sanzonal
Gosto do que é transcendental
assim como daquilo que é banal

Afinal o que é original
onde parece tudo igual?
Dou ares de femme fatal
mas isso é história para boi dormir e tal e tal

A piU
br, 7.11.12

De helicópetro

 "Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral."
Caetano Veloso

CENA1:

Que coisa! A pessoa tá cansadissima, tentando pregar olho e um helicópetro sobrevoando meu quintal. Que coisa! Vai ver é um helicopetro vindo para o hospital e que não tá conseguindo aterrar.

CENA 2:

Uau! Que cidade linda! Transpira beleza. Deve estar cheia de gente bonita! Alguém falou que aqui se vive um clima de paquera constante. Hmmm Que barato!

CENA 3:

Voçê vai ter de ir de carro. O helicópetro quebrou.

CENA 4:

Isto é o quê? Fa quê? Favela? O que é isso? Do helicópetro não dá para ver. Tem gente vivendo aí? Aaaaah! Tá zoando! Isso é cenário para rodar filme!

CENA 5:

Sim, na cidade só dá mesmo para pegar helicópetro. O trânsito é infernal! E eu até que sou uma pessoa bastante democrática. Não tenho helicópetro privado. Só pego público.

A piU
Br, 7.11.12

ESTOU AQUI

A terra abriu-se em brechas
Violentos abalos
Abalou e ficou no mesmo lugar
Ferozmente caem das escarpas longos lençois de água
Caem ferozmente sobre o coração da terra
Gotas, gotículas de água caem sobre o rosto
O olhar pousado nos grandes e viris lençois de água acalmam, limpam o pensamento
Escarpas que servem como fronteiras
Fronteiras naturais
Fronteiras naturais?!
Fronteiras que dividem três nações no coração da América Latina
Fronteiras construidas em cima dessas brechas
Dessas feridas milenares

Gotas caem do rosto
Ruas insalubres
Mercado de utilidades inúteis
Plásticos, borrachas, tecnologias duvidosas de maquinetas para tirar borbotos e darem choques que paralisam o "colega"

Fardas azul ameixa
Fardas dum castanho caqui autoritário, datado e atualizado
Soldadinhos de chumbo guardando fronteiras

Carimbos em mãos com boa vontade, má vontade, sem vontade de dar vontade
Motivadas para desmotivar

Coração nas mãos acalmado pelas longas quedas de água

E o coração em sobressalto continua caminhando carimbado, descarimbado, descompassado, autenticado e reconfortado pela luxuriante natureza bruta e abrupta
Natureza pisada, disputada, carimbada, aberta em profundas e milenares brechas, em seculares feridas
Driblando continua sua trilha, seu caminho de sinuosos percursos

Fugindo para a frente, para os lados mas nunca para trás
Mantendo-se do mesmo lado da rua
Atravessando a rua sem medo
Atravessando a ponte controlando o receio de coração nas mãos
Com as gotas caindo do rosto
Olhando em frente
Segurando a pequenina mão
Dez dedos
Uma letra em cada um e um polegar erguido
E S T O U     A Q UI

a Piu
Br, 7 de Novembro de 2012