quarta-feira, 29 de junho de 2022

SIM, VIDAS INDÍGENAS IMPORTAM


 Eu teria uns 30 anos quando um portal de luz ofuscou o meu olhar. Fiquei parada, numa suspensão entre o olhar se esbugalhar e procurar o carreirinho de formigas mais próximo. Não, não me tornei um ser totalmente iluminado que pudesse abrir uma seita e propagar: " Eu despertei! Vocês podem despertar desde que me paguem muito bem e eu possa ter 100 Rolls Royce na porta e possa dançar descalça no jardim da minha mansão!" Não, não foi isso que aconteceu e não faço questão que aconteça.
Ora,estava eu num interior de Portugal quando entrei numa biblioteca, de caracteristicas libertárias, e dei de cara com um livro grosso de capa dura: A História dos Indios Brasileiros. Eu que sempre tirara boas notas, algumas vezes a máxima, a História fiquei aterrada. CLIK: " Claro! É óbvio! Como é que eu nunca tinha pensado nisso?!?! Porque é que ninguém fala disso? Porque nunca aprendi isso na escola?" Esse livro foi escrito por vários antropólogos brancos. A organizadora do livro, a Manuela Carneiro da Cunha , que por acaso é portuguesa, chegou a dar uma aula no meu mestrado de Antroplogia Social. Porém, com todo o respeito e sem as idolatrias tão frequentes no meio académico, hoje eu prefiro ir beber ddiretamente da fonte. Prefiro escutar os próprios indigenas, tanto os que estão na aldeia como os que estão nas cidades, por exemplo o Ailton Krenak, o Daniel Manduruku, o Kaká Werá, o Davi Kopenawa entre muit@s outr@s.
Esta máscara eu adquiri em 2001 em Manaus numa daquelas lojas da FUNAI, um organismo que supostamente defende os povos nativos. Já deve ter protegido em muitas situações, mas em outras... Vai lá vai! Atira-te ao mar e diz que te empurraram. Eu sei que o que vou agora chamar a atenção não vai agradar a muitos de vós outros. Paciência. Ser conivente com o que não é justo é que não é mesmo nada sustentável.
Bem sabemos que o golpe do Temer para destronar a Dilma foi uma jogada de poder em que o machismo e os classismo estavam e estão presentes. Uma mulher como presidenta representante dum partido trabalhista que lembra da importância da Comissão da Verdade, sobre as vítimas da ditadura militar? Vamos tirar essa marmanja do poder! Por outro lado, numa outra ocasião, no SESC Campinas assisti a vários filmes de cinema indigena, e o chão desabou debaixo dos meus pés quando assisti a manifestações dos movimentos indígenas, muitos que tinham sido eleitorado do PT a gritarem: " Dilma assassina!"
Deixo este trecho duma matéria, na esperança que o PT e o seu eleitorado reveja as prioridades e o que defende ou não: ' O governo da presidente afastada Dilma Rousseff é frequentemente criticado por ser um dos que menos fez, nos últimos 30 anos, pelos assentamentos de reforma agrária e as áreas protegidas – Terras Indígenas (TIs), Unidades de Conservação e Territórios Quilombolas. Os números confirmam essa realidade. A paralisação no reconhecimento dessas áreas, segundo os especialistas, guarda relação direta com os acordos firmados por Dilma com sua base parlamentar fortemente ruralista."
Encontramos-nos no próximo texto!
Beijus e abraçus!
A Piu
Brasil, 29/06/2022

terça-feira, 28 de junho de 2022

MIS CAR@S AMIGUES


- Meu caro amigo me perdoe, por favor, se não lhe faço uma visita. Mas é que agora apareceu uma certo embrogloio de saúde desafiador e mando noticias nesta fita. Aqui na terra estão jogando futebol, tem muito samba, muito show e rock and roll. Ums dias chove, noutros dias bate o sol. Mas o que eu quero é lhe dizer que dê lá por onde der a vida é porreta, mesmo não podendo de momento pedalar e também não tendo motoreta a minha meta é podermos-nos encontrar. A todo o pessoal: ATÉ JAZZ! -
- versão piuzeira da música " Meu caro amigo" do Chico Buarque.
O que se vivia no ano de 1977 em Portugal com toda a certeza não era o mesmo que se vivia no Brasil. Brasil, como todos nós sabemos, assim se espera, vivia uma ditadura militar desde 1964 até 85, oficilamente. Ao passo que em 1974 chegou a democracia em Portugal com sabor a liberdade, mesmo que muitas vezes atrapalhada pela euforia de quem a tanto esperava há muito e sem saber muito bem o que fazer com a mesma por falta de hábito.
Outro dado importante é que em Portugal sempre se soube mais do que acontecia e acontece no Brasil do que o contrário. Nesta minha casa de infância os vinis de MPB datam de 1970, assim como os livros de Jorge Amado. Ainda não conheci muitas pessoas brasileiras que conhecem-se com profundidade a MPP, música popular portuguesa, que nesse meu país se chama de música de intervenção. Muito menos a cultura portuguesa com as suas criatividades e resitências. 'Tá, uns conhecem José Saramago, mas não me admira nada que um ou outro teime que o Saramago seja brasileiro, como já ouvi aqui que o Gabriel Garcia Marquez era mexicano. Eh pá! Duas figuras que ganharam o nobel da literatura retratando a as opressões e resistências dos seus países. É como dizer que o Gilberto Gil é jamaicano...
Nesta idade, além de acompanhar na tv a preto e branco cinema de animação de várias partes do mundo, principalmente da Europa do Leste, pelo Vasco Granja, que por acaso ou não era comunista já durante o fascismo, acompanhava as músicas de intervenção para a criançada do José Barata Moura, que também por acaso ou não era comunista. Uma época em que muitos eram comunistas e tomaram a frente da cultura e educação durante uns tempos. Uns deixaram de o ser, por motivos vários: desilusão, mudança de paradigma... Outros ainda se mantém aí firmes nas suas ideologias, ao limite dogmas. Desde que vivamos numa democracia e a coisa não azede por autoritarismo cada um é livre de abraçar o que quiser.
Também acompanhava o " Sitio do Pica Pau Amarelo" versão anos 70. Deliciava-me com aquele mundo de fantasia vivido entre seres humanos e seres fantásticos e mitológicos num espaço verdejante e arborizado. Como criança não encontrava ali nem racismo nem classismo. Embora, possa haver, mas isso não me influenciou. Pelo contrário, via adultos e crianças brincando de faz de conta. Durante a infância eu achava que o Brasil era todo assim.
Até aos 12 anos, por escutar muitos cantores de MPB, eu achava que toda a gente no Barsil pensava como o Milton Nascimento e o Gilberto Gil, o mesmo que abria e fechava os episódios do Sitio. Fiquei confusa quando em casa me disseram que o Brasil vivia uma ditadura. Ainda fiquei mais instigada em conhecer artistas que mesmo em tempos sombrios eram tão criativos, com energia para cima e profundos.
Depois quando vim para o Brasil em 2012, em pleno governo PT, eu achava que a população estava muito mais esclarecida em relação ao que se passava dentro do Brasil e fora, internacionalmente. Havia uma certa euforia no ar, talvez promovida pela mídia:" Ah! O dinheiro é mesmo é para se gastar!". Ora, enquanto a Europa, principalmente no sul, vivia-se uma crise financeira com uma dívida externa lixada, coisa que aqui parecia que ninguém sabia, no país tropical celebrava-se a possibilidade de gastar tudo com cartão de crédito. Nada contra nem a favor. Primeiro, que para muitas pessoas poder comprar parcelado é uma forma de terem acesso a bens quea antes não podiam adquirir. Por outro lado, as pesssoas endividarem-se por consumirem o que precisam e não precisam... Talvez, em algum momento lhes caia a ficha que isso não é sustentável nem para elas nem para o planeta. Já o cartão de crédito ter-se popularizado/ democratizado no governo do PT, apesar dessas vantagens e desvantagens do seu uso, prova que o PT tomou uma medida neo liberal democrata, se é que assim se pode dizer. O PT NÃO PRATICA COMUNISMO. Chiça! Caramba! Porquê esse fetiche?
Bom, alé! Inté ao próximo texto acerco disto e daquilo.
A Piu
Brasil, 28/06/2022

segunda-feira, 27 de junho de 2022

O BRASIL (NÃO) É PARA AMADORES - e algumas coisadas curiosas

Olha, pois eu acho... Pois, pois e outra vez pois... que o Brasil é para amadores contrariamente ao que dizem por aí. Tem-se que amar muito para segurar o chuchu beleza. A pessoa vira e volta a virar e mesmo que não saiba dançar o vira passa a aprender a " se virar". Invoca o seu animal de poder, tenta adestrar a fera que tod@s temos dentro de nós só que há uns e outres que acham que são só luz, tod@s el@s devoção à mãe terra, mas não prescindem de incomodar os outres até prejudicar o seu trabalho em tempos de home office com a sua prepotência e a sua bela viatura de cá para de lá para cá, achando que a vizinhamça está ao seu serviço, debaixo do seu jugo e que é superior aqueles que são ou estão ou aparentam estar em situação de vulnerabilidade. Sinceramente esse sindrome de superioridade e autoristarismo é um resquicio gritante de escravatura, onde a meritocracia e o poder aquisitivo fala mais alto que escutar as necessidades da existência e subsistência alheia. Este é "só" um exemplo entre vários que já tive o "gosto" (?!) de vivenciar ao longo destes dez anos...
Ai a portuguesa, que não veio aqui para explorar ninguém nem ser explorada e fica com achaques quando presencia alguém a ser explorad@. Mas aqui a tuguinha, que sou eu para vias das dúvidas, também toda ela é Ooommmm até que a respiração fica ofegante, quando a tentativa de entendimento e respeito mútuo é algo que já se esgotou há muito. Quando a galerada não enxerga a galerada do entorno como trabalhadora!... Aí porca torce o rabo e o Bambi dá pinotes. Não respeitar o trabalho de quem trabalha, principalmente de mãe solo, é o GRANDE, INCOMENSURÁVEL calcanhar de Aquiles da Piuzinha... Ela vai aguentando, aguentando até que um belo dia de luz solar... Pois, pois pois ora pois pois pois, morreram as vacas e ficaram os bois, se desrespeitam muitas vezes o trabalho da Hanuska em algum momento e que se repete por vários e boicotam... Aí o seu Bambi lá de infância mais o porquinho amarelo vão pelos ares, dando pinotes ao som de oinc oinc, como quem diz:" Ser de luz opaca, escuta bem desta só vez: não mexe muitas vezes comigo que pode dar m..."
Pronto, assim assumo aqui à vista de toda a gente, que não estamos aqui para enganar ninguém, o meu eu inferior que há dentro deste recptáculo que é o meu corptchi, onde coabita luz e sombra. Pronto, e assim vai a vida. Gentileza gera gentileza, ignorância pode gerar m.... Acontece oupode acontecer. E você car@ leitor@, também assume o seu eu inferior e traballha-o para o superar ou acha só que é só o Coiso que é um eu inferior indigno de ser chamado de ser, muito menos humano?
Há uns dias fiz uma provocação, espero que tenha sido acolhida com carinho e reflexão, num grupo de estudos de teatro de formas animadas. Para mim é um tema, senão O TEMA: como abordar a violência de forma artística, ética e em algumas circunstâncias didática. Ou seja, assumir com honestidade os nossos monstrinhos internos, acolhe-los. Os nossos "Bolsonarinhos" que tanto nos repugnam, mas eles existem também. Quando os assumimos e trabalhamos a fundo no individual e no coletivo para não crescerem; quem sabe torna-se um antídoto para que os Bolsonaros da vida não subam ao poder e não representem absolutamente ninguém. Isso é possível? Não sei... Cada um, uma e ume terá de fazer a sua própria transformação. E dar um grande BUUHH aos Bolsonarinhos internos e externos. Aqui está uma rábula para mamulengo. " Brincar de bater nos monstrinhos que existem dentro e fora de nós para que estes não ganhem protagonismo".
Nos entretantos, entre outros livros leio: O EU SEM DEFESAS da Susan Thesenga. Deixo um cheirinho para continuar no próximo texto: " A raiva por si mesmo, não é um aspecto do eu inferior. A raiva é uma emoção natural. É uma campainha de alarme da nossa psique, que avisa que algo vai mal dentro de nós e no ambiente. A raiva nos ajuda a agir, a mexer. a mudar. Sem ela, poderiamos ficar inertes em situações não saudáveis. Sem ela, carceríamos da vontade de nos defender e defender as pessoas que são maltratadas. "
Até ao próximo texto acerca da urgência de destronar o Coiso, as coisadinhas do quotidiano do dia a dia de nariz empinado em estilo New Age, do poder e dos pós e contras da oposição. e o que esta, a oposição, necessita de rever.
A Piu
Br, 27/06/2022

quinta-feira, 23 de junho de 2022

BREVIDADES ACERCA DE PRECONCEITO E SOLIDARIEDADE


 " Grândola, Vila Morena/ Terra da fraternidade/ O povo é quem mais ordena/ Dentro de ti, ó cidade (...) Em cada esquina um amigo/ Em cada rosto igualdade/ Grândola, Vila Morena/ Terra da fraternidade" - José Afonso

Antes de construirem a auto estrada/ rodovia que liga diretamente Lisboa ao Algarve, Grândola era sempre paragam obrigatória com direito a esticar as pernsa e brincar debaixo dum sol escaldante de Verão. onde os brinquedos municipais eram feitos de chapa de aluminio. No Brasil também já vi! Uma desinteligência planetária comum duma época. Podemos assim rir das nossas desinteligências juntes ao invés de rir do "outro"com escárnio e alguma arrogância.

Estamos, acredito, em 1977. Três anos antes a música " Grândola Vila Morena" é passada na rádio na madrugada de 24 para 25 de Abril para que o Movimento das Forças Armadas avance e realize com sucesso um Golpe de Estado que colocaria fim ao fascismo de 48 anos e ao colonialismo de séculos. José Afonso foi um poeta, músico, compositor  português que simboliza as lutas anti fascistas e anti colonialistas. Não sei se ele hoje voltaria a cantar que "veio da mata o homem novo do MPLA". Mas acredito que continuaria a cantar: " colonialismo não passará! Imperialismo não passará!". 

Pronto aqui temos um resistente português que esteve ao lado do povo negro africano que foi censurado, inibido de exercer a profissão de professor pelo regime fascista português e perseguido pela PIDE ( Polícia Internacional e de Defesa do Estado). Como ele outros e outras. É claro que as pessoas que estavam informadas, despertas e que ousavam questionar e se opor ao regime era uma infima parte. Talvez ainda seja. Primeiro que tudo o medo e a alienação são os principais motivos das pessoas aceitarem e se resignarem com a opressão.

É compreensível que as pessoas sintam medo quando as consequências são nefastas. O que é para mim incompreensivel e díficil de digerir é quando as pessoas já estão informadas ou gozam de fontes de informação várias, internet por exemplo, vivem em liberdade, pelo menos aparente, e escolhem a alienação e reproduzir lugares comuns, assim como se acobardam na hora da solidariedade e vão pelas uniões por conveniência individualista, onde o que importa é serem vistas como bem sucedidas, mesmo que aparentemente, e com o status que possa surgir daí. 

A alienação é um estado de espirito de não sabermos de facto quem somos e o que viemos aqui fazer. Uma desintegração de nós mesmos, logo uma desunião com o Todo, com o coletivo que engloba a Humanidade e o planeta com todos o que nele habitam. 

Nestas viagens de carro dumas 7 horas por aí, hoje é metade, eu parecia o Burro do Shrek: " Já chegámos? Já chegamos?". Uma ladainha logo que saímos de casa em cima da ponte 25 de Abril!!! Porém, hoje ainda continuo a perguntar em relação à liberdade, à consciência expandida em tempos de avanços, retrocessos e outra vez avanços e depois retrocessos:  " Já chegámos? Já chegamos?". Depois respondo para mim mesma que é mais importante viver o tempo presente e estar no tempo presente do que ansiar em chegar a algum lugar. A chegada é no aqui agora onde nos relacionamos sem preconceito e com a solidariedae que está ao nosso alcance.

A Piu

Brasil, 23/06/2022

terça-feira, 21 de junho de 2022

MESMO ASSIM ANTES ERA MELHOR... (?!...)

 Esta boneca de pernas longas para fazer pliês, demi pliês, alengês, pirrouettes já a adquiri no Brasil. Estava dentro duma caixa de brinquedos num bazar e piscou o olho para mim. Tirei-a do meio daquela molhada de brinquedos de plástico e borracha e abracei-a. Então, segredei-lhe ao ouvido: "   Para onde eu for tu vais comigo." Também lhe pisquei o olho.

 Naqueles anos que estive com o meu ex companheiro angolano, pai da nossa filha, tive a oportunidade de conviver de perto com a sua família e algumas pessoas angolanas que frequentavam a casa da mesma. Um dia, numa noite portuguesa e fria de Natal , quando o pessoal já estava um tanto regado assisti a uma discussão que além de me assustar entristeceu. Encontravamos-nos, penso que no nono andar onde havia uma varanda aberta. Alguém que era do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola)  começou a discutir com alguém que era da UNITA ( União Nacional para a Independência Total de Angola) . Aparentemente eram amigos... Num instante percebi que não e que no calor da discussão algum poderia levantar voo em queda livre desde a varanda até ao meio da rua.Ali já não era o Tuga branco que era o inimigo. Eram dois angolanos negros que provavelmente lutaram pela Independência de Angola. Irmão lutando contra irmão. Dois oprimidos oprimindo-se entre si.

 Em alguns encontros familiares eu também escutava da minha sogra, que pertencia ao MPLA e seus amigos, que mesmo assim na época dos portugueses era melhor... Isso também me entristecia. Significava que agora estava péssimo, mesmo tendo  sido oprimido e escravizado pela colonização portuguesa até 1974..

 Ufa, ufa. Até ao próximo texto que falaremos dos tugas que foram rompendo com o colonialismo e o racismo.

 Eu gosto desta boneca como ela é,  mas ainda vou vesti-la como uma Bessangana, uma grande dama de trajes de pano.

Beijucas!

A Piu


O VIETNAM PORTUGUÊS




Esta boneca, a quem chamei de Maria Canela, foi dos presentes mais bonitos que recebemos quando a minha filha mais velha nasceu. Foi oferecido por uma amiga da minha tia, que é branca. Uma informação com alguma importância para o irei escrever a seguir.Seria excelente já não termos que falar de questões de gênero e raça. Infelizmente ainda é necessário para que novas formas de nós enxergarmos e nos relacionarmos aconteçam efetivamente.

No caso desta filha ela também tem sangue indígena, além do peninsular ibérico. Por ora falarei das origens da sua irmã mais nova e o breve convívio que tive com a sua família paterna angolana e negra. Talvez hajam pessoas que se relacionam com as outras por puro exotismo e curiosidade em saber se as pessoas se envolvem da mesma maneira na Gronelandia ou nas ilhas do Pacífico. Enfim, cada um e uma e ume terá o seu grau de consciência acerca da sua objetificação e objetificação d@ outr@ e exotização d@ outr@.

Afirmar que existe algum povo que esteja totalmente isento de racismo e xenofobia seria uma falácia da minha parte. Talvez existam e eu faço questão de conhecer. Provavelmente os povos indígenas cuja missão é disponibilizar a cura espiritual através das cantorias e medicinas da floresta de outros que não os seus parentes.

Hoje início uma temática que para mim ainda é cara e ainda está envolta de silêncio,  trauma, equívocos, tomadas de consciência, encontros e desencontros.

Portugal foi dos últimos países na Europa nesse complexo processo de descolonização. Entre 1961 e 74 Portugal esteve em guerra com as ex colônias africanas. Guiné Bissau, Angola, Moçambique foram os principais palcos de guerra onde morreram milhares e milhares de parte a parte, não falando dos que voltaram amputados física e psicologicamente. A geração do meu pai viu a juventude roubada, saqueada por um regime fascista que obviamente censurava quem se opunha, perseguia e prendia os desertores que conseguia achar e autoritariamente manda jovens rapazes para defenderem um território invadido, subjugado, escravizado durante séculos. Ninguém se beneficiava com as colônias a não ser a oligarquia portuguesa. A MAIORIA DO POVO PORTUGUÊS VIVIA NO LIMIAR DA MISÉRIA. Os mesmos que eram carne para canhão.

No meu ponto de vista um anti fascista que se preze saberá ou tentará informar-se que outros anti fascistas e anti colonialistas existirão dentryduma mesma nação. Quem achar que os alemães são todos nazis ou que todos os portugueses são todos colonialistas é reacionário. Pronto, há que dize-lo com frontalidade e todas as letras. Da resistência não reza muito a história, porque não convém. Então teremos que conversar mais uns com os outros transitando generosamente entre o lugar de escuta e de fala.

Afortunadamente o meu pai não foi convocado para a guerra. Mas muitas crianças da minha geração tiverem que conviver com ex combatentes que surtavam a meio da noite com os pesadelos ou surtavam "simplesmente acordados" durante o dia e a família tinha que abrir fuga até se acalmarem.

Convivi intimamente com o pai da minha segunda filha que foi ex combatentes da guerra civil angolana nos anos a seguir à independência. Irmão matando irmão... Depois desertou para Portugal e só voltou a Angola quando já tinha a garantia que não seria julgado em tribunal militar por ter desertado.O mesmo que dizia e diz que existem mais armas do que brinquedos em Angola.

Ufa, até ao próximo texto sobre a questão.

 Vida longa, leve e alegria no coração a tod@s nós é o que eu desejo.

A Piu

Brasil, 21/06/2022

 #arte #arteterapia #muñecoterapia

domingo, 19 de junho de 2022

O QUE ESTÁ AQUI E PARA LÁ DA LINHA DO HORIZONTE?


Pelos dentes acabadinhos de chegar na boca tenho 6 anos. Estamos no Algarve, sul de Portugal, no ano da graça do senhor de 1980. É Verão, a época mais desejada e feliz e mais que merecida. São as primeiras férias escolares ainda me estou a recompor do baque de ter saido das saias da avó, da mamã e do papá ( Espera aí! Não é por nada mas o meu pai não usa nem usava saias, mas até acho bonito. Fora de brincadeiras. Um Kilt cai sempre bem para quem aprecia. Eu aprecio. Só não aprecio tanto ou quase nada a folcolorização da imagem instutuida como feminina e apropriada por alguns homens caindo nos esterótipos de que algumas mulheres querem se desenvicilhar porque são fúteis, clichés que perpetuam o poder soberano dos homens que não olham para a condição feminina e do seu próprio feminino na essência. Meras performances e pouco mais. Diria até uma competição subtil ou não com as mulheres. Mas isso são gostos. Pontos de vistas. Apreciações, Se alguém não concordar comigo ÓPTIMO! ÓTIMO! Significa que não estamos sozinhas no mund@ e que a diversidade e a liberdade de expressão sem ofender gratuitamente os demais está em curso. Uns anos depois conheci O Laerte nas revistas Chiclete com Banana. Eu curtia, ainda curto com algumas salvaguardas de humor classista, racista e machista que surgia de quando em vez, bem na onda humor punk. Hoje A Laerte, que optou pelo sexo feminino e vestir-se como uma mulher dentro desse padrão estético instituido, admite que mesmo assim não pode falar pelas mulheres e quando era O Laerte deu umas belas dumas mancadas. Honestidade acima de tudo. Faz bem e faz crescer. Eu gosto da Laerte e da sua elegância ao seu vestir dentro dum padrão feminino. Na verdade aprecio a estética hibrida, unisex ( como se dizia nos anos 80). Por exemplo este meu maiô lembra uns que o Variações usava. Mas é a mais pura das coincidências. Este meu maiô estava pequeno, mas eu continuava banhar-me com ele e as suas maçãzinhas estampadas.
Ora eu sendo deste tamanhinho e até um pouco maior como hoje não conseguia enxergar o que estava para lá da linha do horizonte. O meu pai respondia que era África e que se eu esticasse o pescoço poderia ver animais da savana: leões, girafas, rinoceronte ( animais que não existem na floresta Amazónica como alguns sujeito no Brasil acham que sim quando querem defender a dita dos incendios.). É muito importante conhecer minimamente a fauna que habita o mesmo território que nós. Por exemplo, nos idos anos 70 e 80 além da fauna humana dos tugas nas praias algarvias tinha a fauna humana dos "ingaleses". Ou seja, o Algarve já era e é uma espécie de colónia britânica, onde os cardápios estavam escritos muita vezes só em inglês e o veraneante tuga, o nativo, era de segunda. Espero que tenha mudado. Há anos que não vou ao Algarve, mas ( NO MEU PONTO DE VISTA) Portugal rendeu-se a um turismo tão massificado que abro mão, pois já conheco e mesmo assim as multidões e os parque temáticos que as cidades e vilas costeiras e interiores se tornaram nos últimos 6 anos não é bem a minha praia. Mas dá para imaginar todos os turistas juntos a uma só voz polifónica: " Oh it's wonderful this sun! Oh é maravilhoso este pastel de Belém!"
Por falar em Belém!... Eu ía falar dumas coisas sobre Portugal e os países africanos lusófonos que raramente são faladas e as complexidades dos sujeutos históricos e a vida que tem muito mas muito mais dobras do que os filmes de mocinhos e vilões... Hoje fazer algo a preto branco não significa que as realidades sejam a preto e branco. Palétes de paletas de cores é o que não falta. Mas fica para depois (OLHÓ O MARKETING!)
A Piu
Brasil, 19/06/2022

sexta-feira, 17 de junho de 2022

LUGARES DE FALA E ESCUTA


     Das coisas que considero mais ,mais mesmo mais, importantes na vida é a realmente sair da casca. Qual a         mulher que nunca escutou quando É ela mesma ou tenta SER:" 'Tás muito saidinha da casca!" Pois é, quem     quer virar uma omelete no prato de alguém com um fiozinho de vinagre balsâmico a serpentear a dita com         uma folhinha de manjericão a dar aquele toque ulálá? EU TAMBÉM NÃO!
Hoje, que precede o dia de ontem e antecede o dia de amanhã, para mim cada vez é mais importante ocupar o lugar de escuta. Por vezes não vou gostar do que escuto e observo e 'ozolhos' ficarão feito farois como quem diz: "Estou a ouvir a bem? O que está a acontecer aqui? Vou aproximar-me um pouco mais sem esquecer de olhar para o lado para estar ciente que a realidade é uma entre várias. Ah! Então é isso! Então, 'tá bom..."
Isto foi o que me aconteceu há uns anos atrás, uns dez, quando cheguei ao Brasil e caí de paraquedas num núcleo de estudos feministas numa conceituada universidade. Senti-me assim... Um pássaro fora de água, um peixe sem asas, uma casca de ovo sem gema e clara lá dentro. Nunca conhecera mulheres brancas, ditas feministas, pertencentes à elite intelectual com todos os seus privilégios assegurados, mas lá está reinvindicando o seu lugar no meio ainda de lógica tão patriarcal como o académico.
Eu não fazia parte daquela casta, daquela classe social, daquele leque de valores. Não fazia, nunca fiz nem pretendo fazer. Tenho consciência das minhas origens que são do povo, do campo, da terra e mesmo já não sendo camponesa nem doméstica como a minha avó nem funcionária dos correios como a minha mãe e sim artista profissional, estudiosa, tenho consciência de classe. É claro, ou quase claro, que fui equivocadamente confundida e provavelmente ainda o seja com essa elite branca que ainda goza de privilégios herdados do tempo colonial. Sou branca, tenho olhos azuis, o cabelo mais para o claro do que está na fotografia ( aqui é uma corzinha vegana que eu achei que fosse mais clara e deu neste escuro que muito alegrou as minhas filhas, pois segundo elas realça o olhar. Quando me surpreendo nem precisa de cor de cabelo para os olhos sairem de órbita).
O que é facto é que eu prefiro escutar feministas negras, como a Grada Kilombo, a Djamila Ribeiro, a Sueli Carneiro, escritoras e pensadoras indigenas, afirmem-se estas ou não de feministas, mulheres brancas da classe trabalhadora ( como as que conheci em Portugal) do que... Vou ser bem sincera: escutar mulheres brancas da elite que acham super emancipatório quando nos anos 80 descobriram que a sua doméstica podia congelar as refeições para que a intelectual que cita Beauvoir podesse se alimentar. Ai! Dá licença. Tem tanta gente interessante para escutar e que foi durante séculos silenciada do que faze parte dessas tertúlias. Nada contra, mas também nada a favor. Como a Djamila Ribeiro diz: " Diferentemente das mulheres brancas, as negras lutam pelos seus filhos e homens negros para que estes não sejam presos e mortos, tampouco explorados." Com isto não quero dizer que não goste ou que não ame os homens brancos, mas esses mais do que nunca precisam de baixar a crista de galinhos garanhões e escutar quem nunca foi ouvido ou tendo as suas falas desprezadas e ridicularizadas.
Assumir os lugares de privilégio de fala e abrir mão dos mesmos vale muito mais que um voto num qualquer partido dito defensor dos direitos dos trabalhadores. É pelos trabalhadores e trabalhadoras? Então apoia-@s para que não virem nem omeletes nem carne para canhão, prepetuando pirâmides sociais obsoletas.Cada um@ de nós que faça a sua parte.
A Piu
Brasil, 17/06/2022

quinta-feira, 16 de junho de 2022

BE GOOD, PIU


BE GOOD, PIU
" Sabias que o que fez mal ao António Variações foi ele ter o bigode oxigenado? Respirou uma e muitas vezes o bigode até que... pronto...". Esta era a versão duma amiga minha de escola, com 9 anos como eu. Não sei se ela tirou aquilo da cabeça dela ou se ouviu em casa em tom de "piada"(?!) ou como forma dos pais de contornarem um tabu da época. Ser homosexual e ter AIDS. Duas coisas que no inicio dos anos 80 colapsava a moral e os bons costumes, assim como ser filho de pais divorciados, que era visto iguamente como uma maleita. Já não falando que as feministas portuguesas e seus movimentos eram motivo de chacota: " Ah! Essas aí são é mal comidas! São lésbicas!" Enfim, chega a dar aquela preguiça de dialogar e até de explicar a quem fala uma coisa dessas. O mais mirabolante é que volvidos 40 anos ainda haja uma malta, uma galerada que até se acha muito à frente que pensa e age dessa forma. Umas vezes discretamente, outras à descarada. Mesmo assim prefiro os à descarada, porque esses mostram o que são não se fazem de amiguinhos, aliados da nobre causa feminista mas na hora do vamos ver o que querem é comer as mulheres, ostentar o feito e descartá-las, assim como pretenderem brilhar mais que elas, quando no fundo no fundo estão cientes da sua própria mediocridade.
Ai Piu! Be good, Piu. É que de vez em quando a mostarda chega ao nariz e em vez do bigode ficar amarelo cor de piriquito fica cor de mostarda Dijon, para dar aquele toque gourmet arockalhado. Sim, porque quando o valor das nossas vidas, do nosso trabalho, das nossas escolhas é desconsiderado nós, pré indigos ou indigos soltamos a nossa fera de poder nesta Nova Era que está aí. Espera-se que a Nova Era seja sermos mais solidári@s e fratern@s com essa capacidade de evoluir emocionalmente e prezar os demais ao invés de desprezar.
Dois anos antes eu bati com a cabeça, a fonte como o dedo indica na foto, no canto dum banco de pedra. Até hoje tenho tatuado essa pontinha de banco com baixo relevo. Aconteceu na escola logo de manhã antes das aulas começarem. Não me doeu, mas tive de levar pontos e o olho ficou depois inchado. Essa minha amiga, que foi testemunha, relatou aos colegas que o meu olho abria e fechava/ abria e fechava com direito a mimica com a mão. Imaginem o horror do relato. Já se vê pelos dois exemplos que ela era uma jovem menina com propensão a noticias fake, a distorções de factos.
Estão a ver o meu nariz? Foi ele que em composição com os olhos e a boca me deram o nome de Piu. Nessa altura, na escola, eu era a Teresa porque haviam muitas Anas. Ai originalidade dos pais! 😉 Mas o meu nariz ainda era meio batatinha. Essa amiga , que era a que "" liderava""" as amigas tipo:" Já não vamos ser mais amigas da não sei quantas!" e depois fazia umas boquinhas e virava a cabeça, tinha outra estranha mania... Coloca-nos em roda e dizia:" O nariz da Neide é assim, o da Anabela é assado, o teu Teresa é cosido... ( acariciando o seu próprio nariz) O meu é perfeitinho!.." Levei anos a entender o porquê daquela chachada. Mais tarde caiu a ficha! Ela tinha voltado, uns anos antes, com os pais de Moçambique com a independência deste país. Eram "só" resquicios de racismo e mania da superioridade. Mas isso é outra conversa que fica para outro texto.
Enquanto isso vou usando o meu bigode para dar realçe ao meu nariz, que perfeito ou não, é meu. Aliás, é sempre importante desconfiar de quem se acha muito perfeitinho ou perfeitinha. Ali há gato! Ali há qualquer coisa que cheira a esturro. Estão a ver as vantagens de ter um nariz grande? E se as narinas estiverem dilatadas ainda melhor! Ah pois é!
A Piu
Br, 16/06/2022

terça-feira, 14 de junho de 2022

AS VARIAÇÕES DO SANTO (?) ANTÓNIO


 Hoje é dia de Santo António, padroeiro da cidade de Lisboa para onde o Variações, que também era António, filho de camponeses, foi viver ao sair da santa terrinha no Minho. A Lisboa de hoje não é a mesma que o António Variações conheceu desde os anos 50, quando migrou com 12 anos com o quarto ano de escolaridade para trabalhar, até ao inicio dos anos 80. Porém, Lisboa sempre nos lembra em algum momento o seu provincianismo, a sua pequenez com mania das grandezas. Coisas que os povos teem... O português é assim, como haverão outros iguais, mas também tem coisas fixes. E parece-me que mesmo assim é mais importante focarmos nas coisas fixes e nas menos fixes fazermos a diferença ou pelo menos tentar. O Variações fez a diferença. OLÉLÉ SE FEZ! O próprio dizia que não era ele que tinha que se adaptar a Lisboa e sim Lisboa teria de se adaptar a ele.
Homem de aparência exuberante, presença em palco igualmente exuberante e muito genuína. Nunca escondeu a sua homosexualidade e o amor infinito à sua mãe. Ao que consta no trato pessoal era um homem simples. Sem caganças, digamos. Aquela vaidade e arrogância que ocupa muito espaço. Eu não o conheci pessoalmente mas a minha mãe sim. Ía cortar o cabelo ao salão unisexo dele no centro de Lisboa. Penso numa foto dela com um penteado cortado por ele, mas seria especulação da minha parte. Para todos os efeitos além de hoje ser o dia de Santo António foi o dia em que o Variações nos deixou em 1984, uma das primeiras vítimas de Aids vindo a falecer de pneumonia..
"Eu quero que a minha música seja algo entre Nova York e a Sé de Braga." MUITO BOM! Um homem cosmopolita com coração na santa terrinha, fã incondicional da fadista Amália Rodrigues e admirador da estética de tudo o que era santinho e santinha.
Ele era ele, não com a intenção de provocar por provocar e sim tinha uma urgência de se expressar, mesmo não sabendo música. Uma urgência de SER. No filme que assisti ontem sobre ele há um diálogo dele com a mãe. Esta pergunta se ele é feliz, ao que responde que acha que não nasceu para ser feliz.
Olha António, todos nascemos para sermos felizes e para fazer os outros felizes. Tu não serias execepção. A tua excepção é teres tido a coragem de assumir que eras uma ave rara num país que ainda só tinha 10 anos de democracia, deixando muita décadas de fascismo para trás. Combater a tacanhez. a machisse alpha sonsa e hipócrita, não é fácil e esta para se disolver leva tempo. Outra coisa que eu admiro também muito em ti é o facto de não caires em clichés e trejeitos exagerados só para provares aos outros que eras homosexual. Tu eras tu próprio sem imitações e folcolorizações de ti mesmo. Não sei se foste santo, desconfio que não, mas eras boa pessoa e partiste no dia do Santo António em Lisboa. Pronto, coincidência sincronicidades da existência.
A Piu
Br, 13/06/2022

segunda-feira, 13 de junho de 2022

UMA MULHER QUE FEZ O QUE TINHA QUE FAZER


 É óbvio,ou quase óbvio porque o que é óbvio para uns não é para outros, que  o grande feito da vida da pintora Paula Rego não foi ter sido condecorada pela rainha da Inglaterra ou pelo presidente da República portuguesa. O grande feito estava na sua obra em si, no seu trabalho dedicado, continuo e irreverente. Sim, ser condecorada por uma realeza britânica de estuturas tão conservadoras e rigidas, onde não há quase lugar para relações de amor e sim contratos de conveniência protocolar onde o feminino está ao serviço das regras, significa que mesmo a esses ela consegue tocar a alma, a sensibilidade. Reconhecer a obra desta artista ainda em vida é dar sinais que mesmo assim os tempos são de mudança. O mesmo se aplica ao governo português que goza duma jovem democracia de 48 anos. Nem todos os governos deste país iriam condecorar a Paula Rego. Ela toca em assuntos muito delicados e polémicos, tal como o aborto e a violência contra a mulher. Para muitos conservadores e fascistas ela é uma desnaturada, uma ofensa pública. 

Por outro lado não dá para negar que ela vem dum seio familiar privilegiado, atipico dum Portugal da época em que nasceu. Nos idos anos 30 a maioria da população portuguesa passava fome e frio sem condições básicas e saneamento básico assegurado. Que bom que o seu pai era republicano e anti fascista e teve visão e condições  para a mandar para Londres para estudar, depois desta ter passado pelo Colégio Inglês em Portugal. Foi um serviço à Humanidade que este senhor fez e que a sua filha deu continuidade, mas ao conhecer a vida da Paula tomamos conhecimento que esta também foi vitima de machismo. Pronto, mas fez a sua parte sem se preocupar em agradar a gregos e a troianos e sim expressar o que lhe ia na alma com um sarcasmo "infantil', cruel e pueril. Para mim era isso que ainda dava mais graça aoo seu trabalho e ouvi-la falar era desconcertantemente delicioso. 

Paula Rego (Lisboa, 28 de janeiro de 1935/  Londres, 8 de junho de 2022)

A Piu

Br, 13/06/2022

AI SI IU. IU SI MI?

 Era uma vez um homem, por acaso era aquele mas existiam outros semelhantes, que ainda não tinha descoberto o que realmente era o Amor. Amar. Amar-se para poder amar e ser amado. Nesse aspecto ele não seria muito diferente de muitos outros seres humanos e humanas.

Um dia uma mulher apareceu inusitadamente na vida dele e ele na dela. Nadela seria um nome lindo e até pontual para dar aquela mulher. Nadela ficava na dela a observar. Um dia disse-lhe, ao homem sem sequer o conhecer pessoalmente: " Tu és especial. E olha, estar com alguém, entregar-se a alguém não é uma competição, uma corrida de mil metros ou uma maratona cá pessoa volta a coxear, com os bofes de fora a transpirar por todos os lados mas digna de subir ao pódio, se ainda tiver forças, para receber a medalha de ouro ao som do seu hino nacional. Quem é para se encontrar e ficar junto acontecerá."

Não se sabe ao certo o que o homem entendeu ou quis entender. Nadela durante anos pensava todos os dias naquele homem, sem excepção. Por vezes alegrava-se outras encolhiam os ombros. Pensava:" "Esse aí não é mau homem. Só precisa de ser menos inseguro, não projetar as suas "safadezas" nas mulheres achando que estás não são dignas de confiança. Talvez um destes dias ele confirme que ser jovem, gostoso não dura para sempre. Ou será que dura?" Nadela imaginou o homem com a barba toda branquinha tipo papai Noel e um cabelo comprido com estilo e com a madureza de entender que ela sempre o amara mesmo não o conhecendo pessoalmente. Isso muito depois do homem solicitar, implorar(?) romances à comunidade feminina. Nadela diria com carinho na certeza que ele é um homem inteligente e sensível, mas que nesse aspecto ele precisava de se atualizar. Nenhuma jovial mulher madura cairia nesse babado. Ele era mais do qie assumir  o papel de homem carente metralhadora, que atirava para todos os lados. Talvez tivesse "sorte", mas temporária. Nadela sabia intimamente que não era nada disso que o homem procurava para ser feliz. Outra coisa seria abrir mão dos privilégios do patriarcado em que além de ser homem era branco. Se tinha passando vestibular, se se formara num curso tão bonito porque criativo e era reconhecido pelo seu trabalho qual a dificuldade de desaprender a lógica patriarcal?

Um dia Nadela visitou a sucapa, na calada duma tarde quieta, uma obra sua exposta. Uma almofada preta da sua solidão e outras solidões. Nadela ficou um pouco triste. Gostaria de saber que o homem sabia lidar com as suas emoções, sentimentos e solidões. Um trabalho bem mais desafiador que passar num vestibular para passar numa universidade conceituada.

Nadela quase quase tinha a certeza que o homem com quem nunca falara pessoalmente em algum momento permitir-se-ia largar a pose social da gostosura safadinha e mergulhar na plenitude de si mesmo. Nadela ficava na dela e aguardava novos sinais de fumaça da sua fogueira interior, criativa, amorosa e igualitária para com as mulheres. Aí o poder da sincronicidade de acontecimentos e encontros seria surpreendentemente fascinante. Será que teria de esperar que a sua barba ficasse toda branquinha ou seria antes?

A Piu 

Br, 12/06/2022