domingo, 31 de outubro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - III


Eu " num lu disse-le" que Piu foi um nome que me colocaram lá pelos 15, 16 anos?!?! Ah também conheci há pouco tempo uma artista incrível, uma coreógrafa, bailarina e cineasta negra franco brasileira: Ana Pi. Estou apaixonada pelo trabalho dela e pela homenagem que ela faz às suas raízes e história do seu povo. Nesse fluxo continuo falando sobre o lado de lá do cá do lá do cá do meu povo português na esperança que novos diálogos, entendimentos, encontros de escuta e observação afinada aconteçam para que novas narrativas se imprima no tempo e no espaço.
Aquela minha amiga duma santa terrinha que em 1991 tinha 718 habitantes na freguesia, em 1970, época que nós as duas nascemos, 1209, e hoje tem 690 quando se referia aos " vizinhos emigrantes e ao francês estúpido mal falado" ela referia-se a vizinhos portugueses que emigraram para França, Suíça ou Alemanha e estavam a passar as suas férias de Verão, em Agosto de 1991, na terra. Ela não estava a ser xenófoba ao escreve isso, pelo contrário. Os emigrantes da terra normalmente chegavam com a mania da superioridade. Na maioria uns coitados, que foram tendo algum poder aquisitivo à custa de muito trabalho que os franceses e outros não queriam fazer e de sacrifício ( não comer direito, viver em periferia/ banlieu com os mesmos contornos da periferia brasileira). Muitos desses emigrantes tinham saído de Portugal com uma mão à frente outra atrás, muitas sem documentos e com muita fome na barriga ainda durante o fascismo português e também já na democracia. Uns sem saber ler nem escrever, mas quando chegavam à santa terrinha falavam um francês tão arranhado como o seu português que agora renegavam porque o que lhes dava status era falar "marriage", " Alors! Bonjour!" ," viens avec moi". Na juventude, entre nós, essas pessoas eram motivo de piada acrescido ao facto de muitas serem reacionárias porque despolitizadas. Hoje, ao fim de 30 anos eu olho para esse nosso escárnio como uma prepotência nossa, uma falta de empatia de entender que os novos ricos que o são à custa do seu trabalho em países europeus são sobreviventes. Já o " francês estúpido mal falado" deve ser um jovem, filho de emigrantes ou neto, que também está a passar o seu Verão na terra e arma-se aos cucos com as garotas que podem ser mais ou menos acanhadas mas que também são inteligentes o suficiente para não quererem aturar sabichões.
A minha passagem por " Paris da França" foi outra. Eu fui como estudante de teatro com uma bolsa de estudos duma Fundação sediada em Portugal, a Calouste Gulbenkian, e morei na cidade universitária na Maison do Portugal nos idos anos 1996/97. Tentava não ficar muita na bolha do estudantes portugueses da casa onde morava porque estar num outro país é conhecer para lá da bolha das minhas referências e sair das diásporas e guetos mais ou menos evidentes. Eu tinha saído para o mundo e era no mundo de mil diversidades que eu queria estar. Sabia bem voltar à Maison dou Portugal para falar na minha língua materna sem ter que pensar nas palavras e construções frásicas e misturar francês, inglês e espanhol e adaptações do instante do português para qualquer coisa. Mas há uma coisa que ainda me intriga entre os emigrantes portugueses, como aqueles acima referidos, porque é que eles não falam português entre eles e sim um franciu ora mais gramatical ora mais farrusco? Pergunto... Em Paris os chineses falam chinês entre eles, os italianos idem, os turcos idem idem idem aspas aspas, etc e etc.
Quanto a mim eu faço questão de honrar as minhas origens que são do povão, sem patriotismo, tampouco saudosismo de feitos duvidosamente heroicos que subjugam outros outros povos e tentam aniquilar as suas identidades. Faço questão de recordar que somos todos diferentes e todos iguais muito antes das disputas territoriais, religiosas e de recursos naturais e humanos.
Nesta foto está uma parte do meu cartão/ carteirinha de estudante. No próximo texto mostro a outra parte. Tudo uma questão de marketing, já dizia o mê primo João Micas, filho dos kamaradas meus tios.
A Piu
Br, 31/10/2021






quinta-feira, 28 de outubro de 2021

CARTA DUMA JOVEM AMIGA DA SANTA TERRINHA

Salgueiro, 14 de Agosto de 1991

Ana

Hoje estou na minha quinta#, fugi da minha aldeia, da minha família, dos meus vizinhos emigrantes e daquele francês estúpido mal falado.

Nunca pensei que estar aqui fosse tão bom, nunca pensei achar estas duas montanhas que tenho à minha frente são lindas, sempre achei que esta propriedade fosse igual às outras, no entanto hojer acho que é especial. Que estupidez! A paisagem é a mesma, o barulho da água a regar a erva é igual, os animais são os mesmos, continuam iguais, comem, berram, estão sujos, estão lindos.

Bom, acho que o mal é meu, pois só agora e que me apercebi daquilo que tenho à minha volta, à minha frente, campo, campo, a Natureza.... Isto é lindo. Devo-te isto a ti e aos outros, pois aprendi a dar mais valor a isto. Obrigada.

Talvez eu não me tenha revelado muito bem, não sei, por um lado acho que tens razão por vezes adquirimos outra linguagem, que não é a nossa, mas acredita que por vezes é sem querer, pois entras num grupo diferente, aprendes algo, mas a tua linguagem mas a tua linguagem vem sempre de cima ou seja acabas sermpre por mostrar aquilo que és. Pelo menos comigo é assim.

Talvez seja dificil de para ti perceberes isto, mas tenta ver as coisas desta maneira, eu sou alguém que tenta acompanhar duas realidades, a do mundo e a da minha aldeia,por vezes é dificil, pois se parares um pouco, perdes a pedalada e já acabaste como a maioria das pessoas, brutas, egoistas, estúpidas, - sei lá!Acho que é disto que eu fujo. E é isso que eu critico, mas por vezes dou comigo a reagir da mesma maneira como eles reagem, aí revolto-me, mas já é tarde...

Que confusão não é... deixa lá, eu sou mesmo assim, muito complicada, um dia eu explico-te. 

É esta minha linguagem, confusa, sincera. Enfim, linguagem de " "Mariazinha",pois a minha cultura não dá para mais, ou talvez a minha imaginação seja preguiçosa, não sei. Espero que percebas, e que a sintas como senti a tua alma de poeta, admiro-te muito Ana, és dotada de uma sensibilidade que eu invejo, és aquele tipo de pessoas que eu julgava existirem apenas nos livros ( já sei, achaste piada, não é?) Continua assim que chegas lá, já chegaste? Se já, parabéns e felicidade. Continua lutar pelo teatro, que é uma das coisas mais belas que existe e que está tão mal tratado.

Já é noite, hoje durmo ao relento no meu terraço, o céu está lindo, acabei de ver uma estrela cadente, pede um desejo por mim.


Para ti Ana um grande abraço, um abraço dos meus brutos, lembras-te deles,não lembras? ;) 

E.

# quinta: chácara

obs: repare-se no selo como tributo aos navegadores portugueses... As narrativas estruturais estão aí para desconstruirmos



quarta-feira, 27 de outubro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - II

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - II
Hoje vou contar a minha experiência com o Living Theatre em 1995, ou 96? em Montemor-o-Novo, uma cidade vizinha de Évora onde eu frequenatar o curso de atores no Centro Cultural de Évora e mais tarde viria a fazer parte dum elenco onde continuei a apresentar pelo Alentejo profundo. Eu comecei a minha trajetória profissional na terra dos meus avós, mãe e tia. Fiz, naquela época, o movimento inverso. Eles migraram em 1949 para o súburbio de Lisboa e eu saí de Lisboa e fui para o Alentejo, do Alentejo para o mundo. Já assisti a umas maõs cheias de teatro, performance, manifestações artisticas variadas onde artes visuais obviamente estão contempladas, assim como música e afins. Reconhecer quem veio antes de nós além de fundamental deveria ser um dever ético, se não corremos o risco de não sair da nossa conduta pirralha armada aos cucos, achando que estamos na vanguarda e na crista da originalidade. Como artista a reinvenção é fundamental, senão corremos o risco que a mesmice tome conta de nós.
Em 1995 ou 96, 21/22 anos se tinham passado depois da revolução dos cravos. Essa era a minha idade, e lá está eu estava consciente que fazia parte duma geração pós moderna, e que os grandes ideais de cooperativismo, reforma agrária e direitos dos trabalhadores andavam ali numa corda bamba, num cai cai balão na rua do " poderia ser mas não é não". Sim, no meu ponto de vista a minha geração tem um olhar irónico, cinico e em alguns casos até sonso, em outros cansado, outros ainda bora levanatr o queixo e seguir com dignidade nem que tenhamos que sair do país que tantas vezes nos tem mostrado que não fazemos faltinha nenhuma. Sim, sermos divertid@s e rir das nossas realidades pode até parecer uma fuga mas é enfrentar a derrota de algumas utopias e não deixar de trazer utopia no coração.
O interior de Portugal ainda é acanhado, tradicionalista, provinciano. Quem é de Portugal ou conhece com o minimo de profundidade sabe disso. O pessoal teatreiro das redondezas foi quase todo participar da oficina do Living Theatre. Tivemos a oportunidade de conhecer a Judith Malina, que fundou em 1947 essa companhia nem Nova York. The Living Thetre com toda a certeza teve a sua importância e impacto numa época, mas a proposta que eles traziam para o Alentejo dos anos 90 era completamente desfazada da realidade. Espera aí... Eu sempre riu quando me lembro... Eu e a minha amiga Cristina do Aido nos ensaios em cima daquele amontado de pessoas umas em cima das outras no chão, em que uma se levantava por impulso e dizia umas palavras de ordem: " Avante! Liberdade para todos! Pão para o povo! Eles nãos nos vencerão! "ou a esfregararem-se num ato entre paz e amor e a orgia. Nós as duas passavamos nervoso para não rir descaradamente daquele brincar às revoluções num país que se tinha vendia à comunidade económica europeia e que uns tantos, nomeadamnente de esquerda tinham-se beneficiado no individual ou na sua panelinha com essa vendilhice. Depois eu não me via a ir para a rua provocar o Ti Jaquim, a Dona Maria, a Tia Alzira, o compadre Manecas, mais a comadre Catrina com esse esfreganço orgiaco que tinha dado prisão nos EUA nos anos 60 ou 70. O pessoal do Living Thetro tinha ficado lá atrás, com a agravante que se nós chegamos num lugar, numa região, país que não é o nosso a primeira coisa é entrar em contato com as gentes, as pessoas daquele local. Criar vinculos ao invés de provocar gratuitamente. Qual é o interesse de eu chegar perto da minha avó e chocá-la só por que sim? Qual é o interesse de irmos para a rua ou convidarmos as pessoas para uma sala e não entender as suas necessidades, a sua história e reproduzirmos as mesmas coisas que fazemos há 20, 30, 40 anos? Com isto não estou a desmerecer o trabalho desse grupo, mas questionarmos faz parte desse dever de sermos sujeitos históricos e no caso artistas, poetas, e cidadãos com vários oficios.
Isso é o mesmo que a pessoa chega a Portugal, a esta altura do campeonato e pavonear-se que está na terra das infinitas oportunidades e que ainda para mais está na Europa. Parece até piada, daquelas irónicas porque demonstra desconhecimento e falta de afeto,empatia para com povo português trabalhador que rala, rala, já não passa fome como há 40 anos atrás mas também não se encontra na Europa tal e tal, bambam. Pronto, tirando isso seja bem vinde quem vier por bem, sem preconceito, ranço histórico canalizado em pessoas do povo que não são responsáveis pelo colonialismo, e que também sofreram e algumas ainda sofrem da exploração do seu trabalho.
Valeu de coração chegar até aqui, acreditando que estes transitos intercontinentais sirvam para estramos mais próximos num abraço fraterno de escutas e entendimentos mútuos.
Vou continuar a rir do esforço que eu a Cristina faziamos para não rir, mas riamos, com as barriguinhas a tremer ou a levantarmo-nos para dizer palavras de ordem entre o épico e o melodrámático: " CHEGA! BASTA! SOMOS MULHERES!" Ihihihih Eramos muito cínicas! Mas do bem! Do bem!
A Piu
BR, 27/10/2021
Crédito: Amanda
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terça-feira, 26 de outubro de 2021

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - I

Hoje vou escrever sobre Portugal e Brasil, esses trânsitos, encontros, desencontros, solidariedades, liberdades, aprisionamentos, equivocos e breves elucidações. Vou dar continuidade ao texto anterior, não sei se conseguirei chegar até à parte da questão do que é privilégio e oportunidade. Mas bora lá!
Aviso já que escrevo em escrita fluida, o que sair é porque a alma precisava de falar. Não aquela alma chorona cheia de ais e uis que se não for batizada não vai para o céu. Embora esta foto é tirada no dia do batizado do meu irmão que está no colo da minha avó alentejana, ao lado do seu marido ( alentejano) pai da minha mãe e tia, e que não encontra impedimento algum de fumar em lugar fechado, na frente duma criança e duma mesa com comida. Outros tempos! Bem ditas varandas, quintais e esplanadas!
Esta foto é de 1972. Acho... Ou 71? Por aí. Eu ainda não tinha nascido, mas estava quase a dar à costa. Não sei se o meu primo João ainda estava em Angola com os seus pais, pois o seu pai fora convocado para ir até lá na sequência da guerra com as colónias, que para os países africanos era a guerra pela independencia. Devo já dizer que o meu tio fazia a parte logistica do batalhão, nunca matou ninguém, ao passo que a minha tia foi alfabetizadora e conta histórias dela de anti racismo, de defender os seus alunos negros por igualdade de trato sendo ameaçada de ser afastada do ensino. E vai saber se não poderia sofrer outras sequelas. Foi avisada para baixar a bola, ponto final parágrafo. Então, com esta informação já vemos que a História compõe-se de pessoas e estas também são seres pensantes com sentimento que fogem à linearidade da narrativa linear e oficial. Então, bora combinar de olhar para as pessoas como seres humanos e não catalogá-las pela nacionalidade e proferir um discurso de preconceito e ao limite de ódio, mesmo aquelas que se misturam com cordialidade dando um mix de falsidade e escárnio. - ufa! É insuportável a falsidade!. Tá bem! Tá bem! Eu responsabilizo-me em meditar... - MAS, XÔ! ESTE CORPO NÃO TE PERTENCE! Não estou a brincar! Existem narrativas e sentimentos que se apoderam de nós. Do nosso corpo e alma. Limpa. Limpa. Bane essa onda, essa má energia.
O mais impressinante nesta foto é que o meu primo João, filho desses pais que no pós 25 de Abril de 74 assumiram-se como comunistas mesmo com as contradições da vida, da existência e do sistema neo liberal. O João É IGUAL AO NOSSO AVÔ MÁRIO!!! Só agora percebi ao aumentar a foto. Vamos honrar então esses nossos avós que recordam as nossas origens de pessoas simples e trabalhadoras.
Ah! Eu queria falar das detenções do "nosso" querido Sérgio Godinho em terras brasileiras, em 1971 e 82, cujo motivo foi ele fazer parte da trupe teatral Living Theatre! Sim, todos eles foram presos por fazerem um teatro considerado subversivo, contestatário. Só que o que constou no processo é que eles eram maconheiros. Um clássico. Foram torturados, jovens kamaradas brasileiros em vias de conhercer a resistência portuguesa e internacional. Antes de enfiar o dedo na cara dos " estrangeiros", principalmente dos portugueses que defenderam e defendem a justiça e iguladade, e levantar bandeiras como se fosse um eterno carnaval sem conteudo. O Carnaval serve também para contestar, para zombar do poder vigente. Não são só mamas e bundas para satisfazer a lógica patriarcal, do lucro, da vantagem e do privilégio. Bora escutar os sujeitos históricos e estudar história de várias fontes. Vamu ki vamu. O google está aí para googlar.
Como as redes sociais estão cheias de informação e ir partilhando pequenos ensaios de escrita em doses curtas não dispersa tanto, na próxima continuarei com a minha experiência com os Living Theatre em 1994 no Alentejo, berço dos meus avós maternos, da minha mãe e a da tia quea acima citei.
Até ao próximo texto! Tudo uma questão de markerting já dizia o mê primo, o sô dotô kamarada João Micas.
Ah! A mim também me batizaram aos 8 meses. Como umas teatreiras portuguesas dizem: " As boas meninas vão para o céu, as outras vão para toda a parte." E ir para toda a parte não significa ser fácil ou subjugarmos-nos às ilusões do instante e sim estarmos conscientes das nossas escolhas. Isso para mim, claro. FILHA DA DEMOCRACIA! FASCISMO NUNCA MAIS!
A Piu
BR, 26/10/2021

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

HÁ PIU


 O meu nome é Piu. Espera! O meu nome é Ana, que pode-se ler da esquerda para a direita e da direita para a esquerda.  De cima para baixo, de baixo e para cima e na digonal em todos os sentidos. Durante alguns anos, na escola, fui Teresa porque as mães das meninas da minha idade resolveram pôr Ana às suas filhas e T fica já no finalzinho do abecedário. Teresa é muito bonito e está lá nos documentos, mas o meu nome é Ana e também Piu. Piu está fora da identificação burocrática. YÁ! Piripipiu! Inicialmentente Piupiu, pintainho, Kalimero e Piu quando aos 18 anos cantei no meu primeiro curso de actores ou atores, ou actrizes ou atrozes  a música do Sérgio Godinho: " O galo é o dono dos ovos", uma música feminista e anti fascista escrita por um homem português agora com os seus 70 e alguns anos. Para quem não conhece o Sérgio Godinho é um canto- autor esquerdum português,desertou da guerra de Portugal com as ex colónias e sobreviveu como porteiro e outros trabalhos para sobreviver,  participou do Maio de 68 no Paris da França, viveu numa comunidade hippie no Canadá e participou do carismático filme " Hair" e participou do movimento artístico e cultural revolucinário português nos idos anos 70. Certa vez passou pelo Brasil, ainda durante a ditadura militar, em 1971,  e foi preso. Segundo ele levou um choquezinhos no miolo para abanar, depois foi liberado para a sua terra natal... As noticias que chegaram é que ele portava maconha. Mas todes nós sabemos que os motivos foram politicos. Todes aqueles que conhecem a trajetória do Godinho, e dos movimentos anti fascistas portugueses.  Hoje já estou avisada sobre a prática difamatória de alguns. 

O meu nome é Piu porque colocaram-me esse apelido, essa alcunha, devido ao narigão e 'aozolhos', assim como cabelo, a maioria das vezes curto. Piu com U, U de união que algumas vezes está mais em voga que outras, U de útero porque o tenho e mesmo quem não o tenha não deixa de ser mUlher com U. Gosto desse nome hibrido. E agora não sei maios como continuar o texto porque o horário da reunião está à porta e não cheguei sobre o que queria escrever que é sobre privilégio e oportunidades.  Eu sou a Piu, Ana Piu que começa a falar duma coisa e enverda por outra. Quem me conhece "sabe-la". Ah  pois "sabe-la"" Pronto! Até a esse tal texto; Tudo uma questão de marketing, já dizia o mê primo. Esse aí.... o sô dôtor kamarada João Micas tambémsaiu  cá um com as suas teorias do marketing pós pós moderno! 

Inté!

A Piu

Br, 25 /10/2021

crédito: Amanda Dumont

domingo, 24 de outubro de 2021

LIBERDADES, SEUS ABUSOS, E ACHISMOS


Em 1979 foi proclamado nas Nações Unidas o ano Internacional da Criança. Nesse ano eu ingressava na escola para aprender a ler e a escrever. Um direito que cobria, supostamente, todas as meninas e meninos da minha idade. No país onde nasci e cresci a liberdade de expressão tornou-se um direito conquistado 6 meses depois de eu ter chegado ao mundo. Durante a infância e a adolescência achei, repito ACHEI, que todas as pessoas no mundo tinham o direito à liberdade de expressão com base no conhecimento e não no achismo. Porém, fui entendendo que não era bem assim e que eu própria tinha os meus achismos e com toda a certeza ainda tenho. Achar que o que é evidente para mim é evidente para os demais. Isso é um achismo. Em criança não me ocorria que em Portugal, o meu país natal, ainda havia trabalho infantil e quando ia a inspecção geral do trabalho os patrões das fábricas escondiam as crianças. Mas depois isso passou a ser noticia nacional. Também achava e acho que o que está diante dos olhos das pessoas é tão evidente que não deveria haver espaço para o individualismo agregado à má intenção, maquiada de: " Ai eu não sabia! Eu não percebi!", assim como quando alguém fala algo nós escutarmos ao invés de reagirmos com a nossa criança ferida, o nosso ego, o nosso orgulho magoado.

O que aquele sujeito lia, entendia, compreendia quando vasculhava a intimidade de uma mulher que nem pessoalmente conhecia e se achava no direito de hackear as contas internauticas da mesma? Será que ele realmente lia, Já que vasculhava? Ou a sua obcessão era encontrrar algo hilário, pornográfico como a sua própria intenção? Como este se relacionaria com as pessoas, homens e mulheres, com quem convivIa no presencial? Ao mesmo tempo que dava uma de impostor anos a fio mesmo quando a careca da sua cabeleira farta tinha sido descoberta o sujeito era um tanto ingénuo. Teria consciência que existiriam uns impostores ainda mais da pesada do que ele, num país como o Brasil onde existem mais privilégios que oportunidades, e que caso insistisse poderia levar um susto? Como um teórico filosófico antropofrágico que come saladas e hamburgueres de soja talvez achasse que uma mulher era para comer mesmo e que passar a perna a todes, nomeadamente aos irmãos, e ainda passar por fofinho seria e será um privilégio de sabichão. 

Ainda permanecia a esperança de termos a oportunidade de nos  olharmos nos olhos uns dos outros, com a vantagem da máscara destacar o olhar. e rirmos juntos como um mantra " Eu perdoo-te, tu perdoas-me por qualquer indisposição e mal entendido, assim como abuso de confiança. Eu liberto-me. Eu liberto-te. Tu libertas-te. Tu libertas-me."

A paisagem na foto é beirã, da região das Beiras em Portugal. Não tem nada de glamour para mim. Aliás, deve ter acontecido algo lá muito muito atrás em gerações passadas ou em vidas passadas, para quem acreditar com fundamento nisso, que me faz faltar o ar e uma imensa melancolia instalar-se em mim. Eu identifico-me com o sul, Alentejo, assim como com a grande Lisboa e igualmente não enxergo esssa identificação nem com glamour tampouco com vergonha das minhas raízes. Como diz José Saramago, prémio nobel da literatura, são as pessoas do povo porque é de lá que eu vim que me representam.

A memória daquela mocinha brasileira que foi estudar para uma cidade que eu estudei há trinta naos atrás volta a assaltar-me, de vez em quando acordo sobressaltada com essa memória duma mulher que por impulso e achismo desconsidera outra mulher sem a conhecer pessoalmente pela sua nacionalidade, cor e lugar onde mora atualmente.  Tampouco conhece a história de vida da familia e de outros portugueses que lutaram e lutam pela sua diginidade com o seu trabalho sem explorar ninguém e na pior das hipóteses são explorados. Desconsiderando que muitos sofreram consequências fatais por serem anti fascistas, mesmo quando lhe é inforamado letra por letra.  Ela representa uma mentalidade de alguns seres viventes de origens mescladas que não honram a ancestralidade europeia do povão embora  queiram muito conhecer e estra na " Europa", sabendo lá o que isso dignifica para quem desconhece o dia a dia dos trabalhadores portuguesers. 


Ter a oportunidade de estudar não deveria ser um privilégio e sim uma oportunidade de nos transcerndermos.Assim seja, assim é.

Paro. Olho para a minha paisagem interior e repito: " " Eu perdoo-te, tu perdoas-me por qualquer indisposição e mal entendido, assim como abuso de confiança. Eu liberto-me. Eu liberto-te. Tu libertas-te. Tu libertas-me." Rir e brincar junto dá saúde e faz crescer, combinando que tu não pisas nos meus calos nem eu nos teus. Gratiluz, Gratigrati. Gratinados.

A Piu

Br, 24/10/2021

sábado, 23 de outubro de 2021

CARTA ABERTA AO MISTER SPOCK


Caro Mister Spock, até hoje eu tenho as minhas dúvidas se és um personagem imaginado ou exististe mesmo. Tu e os estrumpfes - schtroumps- por aqui smurfs.  Eu sou muito mais fã dos estrumpfes ao ponto de trazer na mala uma sérire deles que os reuno desde os meus 7 anos! Há maluquices para tudo. Mas tu sempre que aparecias não importarva o que fazia ou dizias. Sei que eu ficava ali de boca aberta a olhar para as tuas orelhas e imaginando que todos os seres humanos do futuro teriam umas orelhas de duende como tu e que voltariam ao lar estrelar. Também ficava impressionadissima com o teu telefone futurista que dava para ver outra pessoa no ecrã, por aqui tela, da tv. Hoje eu sei que isso é mais que ultrapassado diante do whatshapp com chamada de video, do tal do skipe que saiu de moda, do zoom e do google meet que estão em alta como outras plataformas que nos vemos todes ao mesmo tempo e até fazemos aulas de dança, mimica, construção de cenário e escultura, aprendemos a mexer em programas de edição de video e som! Sem sair de casa, só para te dar uns ralos exemplos. Uma loucura! Nunca pensei! Acredito que por estares muito à frente nem te surpreendas. Eu sempre me lembro de ti quando vou para alguma reunião, aula remota e ao mesmo tempo que te vejo muito à frente és datado. Quem diria isso há trinta ou quarenta anosa atrás? Já os estrumpfes são os meus amigos que começavam por habitar os meus bolos de aniversário e depois ficavam minuciosamente arrumadinhos numa prateleira do meu quarto, enquanto tu aparecias na tv. Hoje até faço pequenos episódios com os meus seres azulinhos e posto no you tube. Qual quer dia as minhas orelhas até se tornam como as tuas, igualitas aos duendes seres terrestres vindos das estrelas. Já não digo nada. Daqui a trinta anos ou até menos mando-te noticias acerca das transmutações genéticas durante o próprio ciclo da vida. Ah pois! Poizé!

A Piu

Br, 23/10/2021

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

POR HOJE É ISSO

Aquele ano de 2012 foi muito mas muito doido. Como se tivesse entrado num túnel ora luminoso cheio de esperança, ora escuro e húmido com uma série de partida e chegadas, chegadas e partidas. E baldes de água fria, Sim, o meio académico é em muitos casos hostil, um antro de vaidades onde para uns se valorizareprecisam de humilhar os outros. Algo doentio que precisa de ser falado para mudar.
Em Fevereiro desse ano chegava ao Brasil. Pleno Carnaval e no auge da narrativa que o Brasil era um país emergente, economicamente falando, ao passo que o sul da Europa definhava e continuava a definhar e aqui parecia que ninguém sabia de nada. Só algo muito superficial e recorrente entre várias camadas sociais, tipo: " É... lá tá feio. Mas o dinheiro fez-se para gastar e bora gastar". Sempre houve uma alegria oba oba que até hoje eu tento entender. Vou continuar a ler Darcy Ribeiro e Eduardo Galeano, mas em doses homeopáticas para não ficar demasiado para baixo.
Naquele dia 21 de outubro de 2012 eu fiquei muito, mas muito para baixo mesmo. Eram 18.30 do horário de Brasilia quando recebi a noticia do falecimento do Zé, o sujeito que se encontra ao meu lado com a guitarra em mãos. Naquele preciso momento percebi o quanto eu nutria um profundo carinho e amizade por esse ser humano que era o Zé. Chorei vários dias. Uma semana talvez ou mais ou quando me lembrava dele. Como eu enxergo o Zé, palhaço Côcô e também Dr. Cinho do Céu nas visitas hospitalares é o de um sujeito que foi ao fundo do poço, fez as escolhas mais erradas porque nocivas para ele e ergueu-se, com a ajuda da arte da palhaçaria, segundo ele. Não era um sujeito fácil, como ninguém é, mas foi dando o seu melhor e levando alegria ao seu público, criando boas amizades e deixando boas recordações, apesar dum passado sombrio. Para mim esse exemplo de força de fazer diferente é imensamente belo porque humano. Fiquei sem chão com a sua partida, assim como fiquei sem chão com a partida de mais duas colegas desta equipe: a Bia, mentora do projeto de visita de palhaç@s ao hospital, e a Maria que escolheu pôr termo à sua vida. Com a Maria a terra desabou sobre mim... Era o ano de 2015. Durante anos, até hoje pergunto-me qual o sentido que faz levarmos alegria aos outros se não cuidamos de nós mesmos e daqueles com quem nos relacionamos.
Como diz o Claramunt, professor nosso de palhaço hospitalar: "Melhor palhaço, melhor pessoa." Acredito que esse lema adequa-se a qualquer um de nós independentemente do oficio, da profissão.
Criar vinculos afetivos com base na sinceridade e honestidade dispensando suposições e desconsiderações dá saúde e faz crescer por dentro.
A Piu
Br, 21/10/2021



quarta-feira, 20 de outubro de 2021

AMIGO É COISA PARA SE GUARDAR A SETE CHAVES


 

Aqui estão @s três camaradas há uns anos atrás numa cidade satélite de São Paulo. Dois grandes amigos. Seres humanos bem intencionados com quem já ri muito, mas muito mesmo. " Os três camaradas" nós apresentamos uma vez ou duas, mas o mais divertido foi escrever o roteiro e ensaiar. Três patetões que decidem fazer a revolução, cheios de ideais, mas cada um quer ir numa direção diferente, não se escutam direito e quando chega a hora do " Bora lá!' só falam " Bora lá! sem sair do lugar. Eu no meio de dois palhaços inusitados. Dois amigões que podem contar comigo para o que der e vier. O Thiago agora foi com a sua familia viver para um outro lugar, senti saudades deles antes de partirem e todas as história de solidariedade e entre ajuda, assim como os natais e aniversários passados juntos. Familia sem se de sangue, mas família. Temos a piada interna de eu alterada, por estarmos perto de pessoas que comemoravam o golpe encabeçado pelo Temer. Aquele foi o primeiro dia do resto da minha vida quando gritei porta fora desconstruindo todas as cordialidades do bem conviver: " OS PUNKS NÃO MORRERAM!" Uma situação chata, porque me alterei, mas quiçá necessária e passado o escândalo tornou-se piada entre nós. O Thiago é um homem que me comove com o seu amor infinito pela sua companheira e filho, mantendo a dignidade de ser quem é. Tentou ser garçon, mas imaginem um palhaço a servir às mesas?!?! Melhor ser autonomo e fazer malabares no semáforo. Sim, é mais que digno é muito digno e ganha o seu sem estar à mercê de qualquer patrão, não significa que todos os patrões sejam mauzões. E o seu solo deve estar cinco estrelas. Bora lá apreentar sem medos, senhor Thiago!

Já o Henique é um sujeito em que há sempre aquela cumplicidade. Há uns dias atrás encontrei-o na rua. tive de me afastar para tirar a máscara e rir quando ele diz assim: " O Thiago é um bom homem. Pois  a maioria, minha filha, são todos uns machistas." Ele é dos únicos que curto que me chame de "minha filha". Ri da constatação dum amigo gay e também por ser um homem. Sempre tive bons amigos gays que entendem a condição feminina. Adoro que  percebam que as mulheres, no geral, estão sujeitas a mentirinhas, jogos, subjugações. Só me pergunto porque é que algo tão evidente para uns não é para outros? Mural da história: as evidências andam de mão dada com as necessidades e também os lugares de previlégio. Adoro os bons amigos e estes dois são para a vida. O Thiago é um coração grande que dificilmente enxerga maldade nos outros, já o Henrique dá o toque quando a coisa parece muito megalomana e não se sustenta, Ele avisa discretamente, mas avisa. Ser amigo para mim é isso. Sentirmos o coração das pessoas, ajudar no que está ao nosso alcance e apoiar sem julgar a vulnerabilidade do outro. 

SUCESSO THIAGO, AMANDA, BENJAMIM E BEBÉ QUE ESTÁ PARA CHEGAR. Eu torço por vocês e acredito que o Henrique também. O nosso kamarada.

A Piu
20/10/2021

terça-feira, 19 de outubro de 2021

E ASSIM VAI A VIDA - baboseiras transcendentais de final de dia

 


Aqui há uns dias o "mê" primo que vive numa outra cidade, dum outro país muito mas muito longe mas que fala a mesma língua, diz-me ele assim, isto uns dias antes do seu aniversário durante umas introspecções minhas sobre a essência do ser, do estar, do escutar e do se relacionar nas nossas interpessoalidades ( agora falei bem ou num falei?) : "Eh pá! Estava eu aqui a passear ...", diz ele, " e vi-te na rua!", "Tu viste-me?!?! ", perguntei-lhe intrigada. " Olha só!", respondeu. E eu, lá tá, aceitei as evidências. e disse-lhe que não era a primeira vez que eu me cruzava comigo própria numa qualquer ocasião dentro deste planeta terra. Já o ursinho não me parece ser o Micha, o de Moscovo 1980, mas tá com bom ar. Tem ar que come temakis de algas e arroz integral com gergelim. Mural da história: gostei de me ver. Gostei sim. Ao lado do ursinho que não é o Micha mas tem um ar simpático. Porreiro. Bacana. Amigável.

A Piu
Campinas SP 19/10/2021

sábado, 16 de outubro de 2021

O MEU ANO 2000 COMEÇOU COM A NINA

Já me salvaste a vida quando eu levada por umas enchentes. Se não fosses tu eu tinha ido pelas fortes chuvas tropicais. Já te posicionaste com mulheres que me destrataram por eu ser branca e portuguesa, mesmo eu estando do lado delas, entendendo a sua luta e me solidarizando. Já me fizeste virar do avesso. Quem nunca se virou do avesso com um filho? Eu sei que tu sabes que eu eu sei quais as motivações e intenções que nos movem neste grande desafio que é viver, amar, ser solidária, amiga nas horas das celebrações, dos apertos, dos preconceitos que nos assaltam quando desavisadas. AMO-TE NINA. A ti à outra chavalita que não aparece na photo. A mana Maria Flor, que no dia da vacinação levou trinta segundos para responder que era prada, porque antes de chegarmos ao Brasil nenhuma de nós precisava de afirmar a nossa cor, bastava sermos quem somos como sempre é e sempre será, acolhendo quem nos quer bem e desejando bem a quem está perdido em algum labirinto mental para que possa se reencontrar no seu coração.

A Piu

Campinas SP 16/10/2021








sexta-feira, 15 de outubro de 2021

ANITA NA SUA EUROPA


 Eu nunca morei na Suiça.Tenho sérias, serissimas dúvidas se me adaptaria. Tão asséptica, tão bem comportada, tão clean, tão modelo, tão silenciosa, tão barulhenta controlada. Acho que surtaria. Pronto esta é uma ideia preconcebida que eu tenho acerca " Chuicha", que é como o tipico emigrante tuga da santa terrinha fala. Da Chuicha conheço os " chiclates", os " ralógios" e as "naifas" - naifa é uma giria que vem de knife que atalhando é "canibete", para os que trocam os vês pelo bês. 

Nunca tive na Suiça, a não ser numa dessas escalas aeronauticas, mas nem saí do aeroporto. Logo da Suiça conheço pelos filmes e fotos. Também que é um paraíso fiscal, antro de dinheiros colocados em bancos fruto de corrupções várias de países espalhados pelo mundo, nomeadamente sob o jugo de ditaduras e genocidios. A Suiça dever ter uma enegia no campo dos copos subtis muita mas muita marafada, só que lá está a maquiagem social deve conseguir cobrir aqui e ali aos mais desatentos ou desavisados. Mas na Suiça existem várias organizações pela paz e o Carl Jung é de lá. Aí já a curiosidade emerge. Mas não sonho viver na Suiça, como não sonho viver na terra do Tio Sam. Gosto do Bob Dylan, da Patti Smith, da Susan Sontag, do Lou Reed, do David Byrne e até gostaria de conhecer NY, mas não morro de amores pelo American Way of Life.  Mas se fosse para a  Suiça ou para os States tentaria conhecer melhor a História daquele lugar, suas resistências e re existências e nutrir admiração e carinho pelo povo, mesmo que os seus manda chuva sejam de se jogar as mãos à cabeça e se arrote muita cueca cuela.

Tenho dificuldade de entender porque alguém pode ir para um país levando um ranço histórico assente na mentira. Como se irá relacionar com as pessoas que lá estão, com o lugar? Uma verdade não me ofende. O que me ofende é a mentira. Afirmar que a Europa causou profundos estragos nos outros continentes é uma verdade lamentável. Que o genocidio aos povos originários é muito maior que o Holocausto e ninguém fala publicamente para que todos entendamos com a devida seriedade é muito grave. Agora afirmar que o Estado Previdência de Portugal que é mais que manco mas que é fruto da luta dos trabalhadores é do saque do roubo ao Brasil?!?! ISSO SIM É OFENSIVO. Eu não quereria viver num país de cara lavada, mas cheio de manchas na pele escondidas com cremes cheirosos e caros, que vive da corrupção mundial ou de saques que aconteceram ou acontecem. Eu não me sentiria bem de estar num lugar onde o odor a podre sente-se a léguas e eu ainda distorço factos históricos porque nem me dou conta que o que me ensinaram na escola é mentira para servir justamente o poder. Vocè, sim você que é um tantinho reativo e gosta de ser beijado, fica ofendido por alguém chamar atenção? Chamar a atenção é um ato de amor com a esperança de sairmos da ignorância, se não os beijos sabem bem até um certo ponto mas traz sempre um traguinho de gosto amargo, azedo, estragado, fora de validade. Validarmos-nos mutuamente é muito bom. Dá saúde e faz crescer o amore. 

Olhem, aqui sou eu na minha Abóboda city, um lugar suburbano que por acaso é na Europa periférica, mas poderia ser aqui no Abc Paulista ou no interior de São Paulo. Sou eu, vestida de preto como muitos de nós já passou por essa fase dark side of the moon com as benditas botas alentejanas. Eu com o melhor amigo do ser humano: um cachorro. Mas mesmo assim eu continuo a amar e a acreditar na Humanidade de todes nós. Os cachorros não desenvolvem o sentido critico, mas dos humanos espera-se que aproveitem essa apetência. Uma apetência muito atraente e beijável

Beijus nos beiçus

A Piu

Campinas SP 15/10/2021 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

MADAME CRÔQUÉTE'S CRÓNICA


 Madame Crôquétes poderia ser ou é uma personagem ou persona dum qualquer roteiro de cinema mudo do Chaplin ao Eisentein. Sim, são dois realizadores europeus . Não há que sentir vergonha ou constragimento de se ser europeu. Vergonha e constrangimento é querer subjugar e desprezar terceiros. 

 O primeiro britânico foi perseguido nos EUA aquando, sim aquando é o meu jeito de fala r e escrever sem imposições respeitando a lingua viva que é no caso o português que também serviu para o projeto politico de aniquilar identidades e unir povos pela luta pela Independência - leia-se e conheça-se Mia Couto. Sair das polaridades é emancipatório. Já o Eisentein úm cineasta russo do inicio do stalinismo.

 Madame Crôquétes foi criada por volta de 2001/02 em Portugal. Portugal agora 'tá chique, mas para os trabalhadores da cultura a m.. erda continua a ser a mesma. Será que algum petista do " não dá mais o Brasil" vem trazer alguma formula mágica para Portugal? Seja bem vind@ com a devida consciência de classe e da luta das classe trabalhadora portuguesa ao invés de assumir o papel de padreco de apontar podres a pessoas que nunca usufriram do colonialismo.  Madame Crôquétes aa compreensão, entendimento e conhecimento histórico. 

 Madame Crôquétes é uma senhora que surge 100 anos depois da Belle Époque. Repare-se nas botas  alentejanas, botas dos trabalhadores/ camponeses do sul de Portugal, região enclave entre a Europa e a África.

Madame Crôquétes com a sua bolsinha com a moeda anterior ao euro que depois da entrada na União Europeia tudo aumentou para o dobro, mas mesmo assim pagar com euros é chique, dá aquea sensação que estamos na Europa civilizada.

Madame Crôquétes  ri mas ri de quem chama ao Alentejo, terra dos seus avós trabalhadores explorados de EUROPA. Ri mas abraça, acolhe por que estarmos informados é um movimento. Como  Madame Crôquétes está do lado Movimento Sem Terra, dos Movimentos Indigenas, e Afro descendentes como também está do lado dos trabalhadores do seu povo, que no caso é o português.  O preconceito fruto do desconhecimento é uma perpetuação da violência capitalista, obscurantista.

Prosperidade aos brasileiros e barsileiras , descendentes de portugueses, indigenas, negros e outros do mundo inteiro com conhecimento de causa que visitam, passam ou residem em Portugal. CONHECER A HIST[ORIA É UM ATO DE AMOR QUE NOS TIRA DOS DISCURSOS DE ÓDIO OU ODIOSOS ACHANDO QUE ESTAMOS A DEFENDER A JUSTIÇA E IGUALDADE. - Escrevo em maísculas como um sublinhar, não tomem com um grito descontrolado... Embora... Por vezes me descontrol diante das im´[umeras manid-festações de ignorÂncia e preconceito. EU HONRO OS MEUS AVÓS PORTUGUESES TRABALHADORES E ISSO NINGUÉM PISA!

Conhecer a História é muito sensual. Você sente tesão pela ignorância? Cri... Cri... Cri. E-U N-Ã-O!!!! VITÓRIA AO DISECERNIMENTO E A VIDA SORRI E ABRE CAMINHOS! Bárbaro isso, não? Sem nhanhanha.

Namachá, Namaçorda! 

A Piu

Campinas SP 14/10/2021

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

IN ÓTICA

 

Nunca esquecer que lembrar de onde viemos, onde nos encontramos e para onde queremos ir dá mais clareza no caminhar. - A Piu 1 de Maio de 2017
Ontem veio aquele "ahaha", aquela sacada, aquele "é isso!" de algo tão evidente.  Há um tanto de aninhos que a Aninha anda neste 'camenhari' e só "onte", há coisa de umas mãos cheias de horas é que ela percebeu o sentido explicito, escancarado, escarrapachado da palavra exótico, exótica. Uma ótica externa, exterior. OH MY DOG! A  Aninha que já caminha há uns aninhos já sabia que exótico era algo diferente, um tanto distante do lugar de onde surgimos nesta luz sideral desta terceira dimensão, algo ao qual não estamos familiarizades. Vou usar aqui o "es" porque sim. Por existem outros géneros que pedem para serem incluidos e assim deixarem de ser exóticos. São seres humanos com direito 
à inclusão como todo o restinho da Humanidade que ainda dança na melodia da separatividade.

"Todos iguais todos diferentes" este era o lema lá nos anos 90 em Portugal do SOS Racismo que estava associado a um partido, ao qual votei umas tantas vezes. Mas há muito que estou distante do que se passa em Portugal em termos partidários. Não vivo no mesmo e estou imersa em outras pegadas politicas, que não partidárias. Mas posso avisar que este ano vou continuar a marcar presença, como em anos anteriores, na Feira Anarquista de São Paulo. 
Ontem começou o curso com Lau Santos " Da Elinga ao Oriki, ações contra coloniais em cena". Esse é um dos meus propósitos em estar no Brasil: ir ao encontro, conhecer, escutar, aprender, aprender a aprender com outras vozes, outras formas de fazer tantas vezes invisibilizadas e silenciadas, até perseguidas e subjugadas. Para mim o curso já começou bem quando o Lau Santos chama a atenção que falar de branquitude colonial tem a ver com uma ideologia e como esta é posta em prática e não com o fenótipo da pessoa, os seus traços e a sua cor. Ufa! Deu aquele alivio para me sentir bem vinda e não vista de forma atravessada e eventualmente confundida com alguém que vem por pura cusriosidade exótica e ao limite apropriar-se de conhecimentos e práticas teatrais que por  detrás destas existe uma forte componente de resistência à subjugação colonial ,ancestralidade e espiritualidade.
Diante destes encontros, destes estudos como artista das cenas e roteirista e também aquela que escreve embora nunca tenha publicado nada, mas nunca é tarde, posso sim perceber como as minhas raízes, a minha ancestralidade dialoga com esses encontros que se reescrevem sem invasões, apropriações e subjugações. 
Não esquecendo  também a minha espiritualidade, mesmo que não siga uma religião em concreto porque espiritualidade e religião são coisas distintas embora possam-se ligar. Existem seres muito religiosos cuja espiritualidade, esse alinhamento consigo e com o entorno respeitando os semelhantes e os eventuais diferentes, fica num lugar um tanto duvidoso. E alguém que trabalha a sua espiritualidade sabe que a caminhada é grande e que a perfeição não existe, logo o trabalho é diário. Não vou agora adentrar pelo feminismo liberal e pelo sagrado feminino em que algumas mulheres defendem que nós somos as mulheres maravilha e que sozinhas conseguimos ter sucesso e sermos muito mas muito ricas desde que vibremos energias positivas, descredibilizam o ativismo, negam  a existencia das desigualdades sociais e a importância das mulheres em cargos politicos. Enfim... Amadurecer também é uma prática diária até ao último sopro. Para todes nós, "ÓBVIULIUS"!
Bom, porquê esta foto? Porque sim. Porque me apetece homenagear a minha avó e todas aquelas que vieram antes de nós e que não tiveram a possibilidade de aprender a ler e a escrever. A minha avó alentejana, do Alentejo que é um lugar de encontros entre povos europeus e do norte de África. Só que da passagem dos mouros não reza a  história nos manuais escolares, somente fala que eram invasores e infieis a Deus e que "nós, os cristãos" os derrotamos.
Bom, vou voltar aos estudos onde as batalhas e as perdas e os ganhos não são foco para outros entendimentos de "todos diferentes, todos iguais", numa in ótica, numa ótica de inclusão mútua. assim como respeito e insprações várias para uma nova ordem mundial no aqui agora.
A PiuBr, 08/10/2021