sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

É RUSSA DE MÁ PÊLO!!!!! se comer e beber não converse sobre temas delicados


Em criança a minha dizia mãe que não se canta nem se usa chapéu à mesa. Nunca entendi porquê, mas já não fui a tempo de perguntar. Comer de boca aberta, mastigar e sorver sonoramente até entendo. Agora qual é o problema de cantar de chapéu à mesa?..... Aqui estou eu a dançar; talvez alguém num ato de rebeldia esteja a cantar do outro lado da mesa e de seguida eu sorva sonoramente a minha laranjada e alguém animado jogue um chapéu de viking ( o meu irmão tinha um nesta época) ao ar e um dos cornos do dito chapéu se vá espetar no braço de alguém, se for uma visita.... ooops mas só de brincadeira que nós não fomos educados a bater nos outros!
Uma coisa é certa, que tenho aprendido nos últimos tempos: Se comer e beber até cair para o lado escolha bem as companhias e não converse sobre qualquer coisa com seres vivos que acabou de conhecer. Principalmente sobre política e história. A festa pode acabar duma forma brusca, e duma forma imprevisível e até surpreendente, pois aquela russinha de má pêlo que quer casar e não tem cabelo ( era assim que o meu avô chamava a minha mãe e a mim enquanto fui russinha , mas casando ou não já era um orgulho para ele saber que eu sabia colocar pratos e talheres e copos com guardanapos na mesa. Que orgulho o do meu avô!) Mal sabia ele que quando a conversa dá para o torto eu, em honra à sua condição de trabalhador braçal alfabetizado, mas com os seus estudos básicos, eu viro a mesa ( em sentido figurado) que é uma beleza. Nem preciso de beber qualquer beberaje, seja de laranja, uva, cevada ou milho. Mas se beber também é chato. O botão clica quando é desrespeitada a minha força de trabalho ou a força de trabalho de outros que significa a dignidade do nosso sustento, assim como todas as lutas que isso envolve. Vou aos ares, o peito abre-se como se fosse voar para cima da pessoa e o surto é muitas vezes garantido. Ninguém sai ferido fisicamente, mas que pode assustar pode. De cordialidade não tem mesmo nada. É mais ou menos o equivalente aquelas pessoas que vivem na periferia e que de tanto serem segregadas e exploradas um dia explodem ou vão explodindo. Claro que não me poderei comparar literalmente a uma pessoa da periferia de tez mais escura que muitas vezes vive sem o saneamento básico e é criminalizada sistematicamente,mas existem sentimento de indignação por vezes semelhantes. Até mesmo por acontecer isso com elas. Já do outro lado, que se pode assustar com esse virar de mesa porque em algum ponto negligenciou a sua sensibilidade para com terceiros poderá eventualmente dizer que foi agredida fisicamente quando levou com um berro de basta no rosto. É chato? É. Mas também é chato mentir. Como tal, esse papo que considero furado em que se alega que a razão pela qual muitos brasileiros e querem morar no exterior por se sentirem inseguros no Brasil talvez estes tenham de repensar as suas atitudes em relação aos outros seres humanos. Sejam estes de outra cor, outro estrato social, trabalhadores ou moradores de rua. Alguém que está num lugar privilégiado e recusas-se a dar a mão, mesmo quando usa frases chave " Ninguém larga a mão de ninguém" ou que pelo contrário defende que " bandido bom é bandido morto" talvez se preste a que algo não tão diplomático aconteça. Pois não enxergou um todo e somento o que lhe convinha e lhe dava vantagem.
Enquanto for da russinha de má pêlo será umas punkalhadas do bem esses chacoalhos. O pior é quando é de alguém que não é convidado para as suas festas e é barrado nos terminais rodoviários para participar dum Carnaval de rua que supostamente deveria ser para todos. Assim andarão sempre inseguros e não haverá céu para tantos helicópteros. Quanto à consciência das suas mentirinhas cada um terá de fazer o seu próprio exame. Numa grande maioria dos casos somos nós que criamos a nossa própria insegurança quando não somos empáticos e gostamos de brincar de Pinóquio e encarná-lo a vida inteirinha.
Beijos e abraços desta russa de má pêlo que deseja um mundo mais belo
A Piu
Campinas SP 28/02/2010

O AZAR, O SURTO E A SORTE

Quando escutamos e também contamos as nossas histórias encontramos algumas semelhanças com a história de outras mulheres, independentemente do recorte geracional, social, cultural e econômico. Recolher histórias de mulheres Idosos é uma das minhas tarefas, que trago desde os tempos do mestrado em Antropologia, que no Brasil é chic estudar Antropologia. Enfim, tudo pode virar chic . Permacultura, veganismo, painéis solares, terapias holísticas e até práticas espirituais. O que é alternativo pode ser chic num estalinho de dedos. Um chiqueiro de impressionante. Mas bora ao que interessa!

Acabei de escutar hoje duma senhora de 87 anos a grande pergunta, A GRANDE QUESTÃO. Devemos fazer as perguntas certas dizem @s que seguem o caminho da espiritualidade, de conexão com nós mesmos. Hoje escutei a pergunta certa! Aquela que deveríamos fazer a vida inteira: " O que eu significo para mim mesm@?"

Quando nós sabemos quem nós somos é porque criamos intimidade com nós mesm@s, conhecendo assim as nossas sombras e a nossa luz podemos nos acolher e saber que rumo tomar. Por consequência somos capazes de criar intimidade com qualidade com quem está ao nosso lado.

Uma grande parte das mulheres não foi ou não é feliz no casamento, porém hoje muitas delas hoje podem escolher outro rumo. Embora algumas poderão correr o risco de ser perseguidas por um bom e largo tempo por quem deixaram para trás. No entanto se essa pergunta for feita desde a mais tenra idade, porque lhe foi passada, há fortes probabilidades das ciladas diminuírem.

Muitas mulheres, como esta, não encontrava uma porta de saída para os maus tratos a que estava sujeita. Aguentou apavorada até ao falecimento por doença do marido. Três décadas, até que chegou o alívio. Compreensível.

Sei de uma outra história que dá um bom roteiro, tanto de cinema como de teatro  ou de ópera. É uma história tabu, como tal nunca contada na integra pelos familiares da senhora já falecida há muitos anos atrás. Ora essa senhora, após um período em que o seu marido esteve hospitalizado, decidiu numa das suas visitas a casa presentear uma das suas refeições ou quiçá um chazinho, não sei, com uma dose considerável de veneno para rato. Resultado: chegando ao hospital, o homem ZÁS. Bateu as botas. No caso os calcanhares, pois estava acamado. Fizeram a autópsia e a senhora foi 5 anos para trás das grades.


Diante desta história eu coloco várias hipóteses para esse ato punível por lei:
1. A mulher estava cansada, exausta, daquele fardo de cuidar dum homem doente, talvez em estado terminal, e quis acelerar o processo.
2. A mulher encontrou naquela situação a oportunidade de se vingar de anos de maus tratos e sofrimento vindos do marido, sem se importar da pena que teria de cumprir. Seria até um descanso não ter que fazer comida e ainda contar para as suas companheiras de presidio o grito de liberdade, o surto ao qual ela se tinha permitido.
3. O marido era um bom homem e cansado, exausto, de estar naquele estado de saúde irreversível pediu encarecidamente à sua querida esposa para pôr término à sua vida. Isso tem um nome: eutanásia.

Eu nunca conheci essa senhora pessoalmente, só por relatos de terceiros. Porém eu tendo a ir para a segunda hipótese, perguntando ainda: Surtar é um direito ou um dever depois de muito se aguentar?
Talvez nem seja um direito nem um dever e sim uma consequência mais que compreensível. Com isto não defendo o seu ato de tirar a vida ao marido, mas o que se passa entre paredes e muitas vezes em espaço público entre marido e mulher é tão desgastante que a pessoa não aguenta mais, transitando provavelmente entre sentimento de alívio, arrependimento e não arrependimento.
Por essas e por outras que casar só por casar é um grande azar! Saber o que nós significamos para nós mesm@S é assaz deveras bastante significativo para atermos mais sorte nesta caminhada pelo mundo.

A Piu
Campinas SP 28/ 02/2020






Curta a página " AR DULCE AR" e se puder, quiser, se se tocar apoie este projeto de palhaçaria feminina sobre relações abusivas. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209/

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

COULD YOU BE LOVE, AND YOU LOVE

Abertura oficial do Carnaval em Bolhão Geral Zen na sexta. Tá fixe bacana de boinha. Aparentemente a rua parece poder ser ocupada por todos. Encontro uma amiga de alguns anos, que pode ter idade para ser minha filha e cujas feições assemelham-se com as da minha mãe. Diz-me ela assim: " Perguntaram-me agora se eu sou hippie e eu não sei o que responder." Digo-lhe eu assado: "Desde os 16 anos que me fazem essa pergunta e também não sei responder, talvez não seja assim tão importante." Lembra aquela vez em Berlim Leste no ido ano de 94 em que alguém me perguntou num barzinho saudosista  do Marx e do Lenin, bem pertinho de casa, se eu era redskin pela forma como me vestia. Assustei-me! Skin sei o que é e com certeza que não sou, mas não sabia o que era red skin *. Perguntei. Hoje responderia que sou uma punk do bem que de vez em quando joga as flores pelos ares quando a mostarda chega ao nariz, queimando horas de meditação silenciosa e outras conexões cósmicas. Quando o saquinho da paciência enche... Quase tudo vira gósmico. Utla! Sai da frente que a bufona vai passar. Sinto muito, mas por mais que queiramos ser espiritualizados existem vezes que fica difícil, porque somos apesar de tudo seres humanos com muitas sombras e também já andamos aqui há algum tempo para aguentar equívocos e distorções históricas e politicas. Desde já comunico que estou como sempre estive em assumir como sujeito histórico e cidadã todas as atrocidades que o meu povo de origem ( poruguês ) cometeu no continente americano e africano. Mas mentirinhas arrogantes proferidas por quem está num lugar de acesso facilitado à informação, já não falando do seu recorte social  da tez clareada lhe conceder privilégios que a uma grande parte da população não é concedida.... Dá licença! Já lá vamos.

Segundo dia do Carnaval no Bolhão, chego num intervalo entre um bloco e outro. Dou aquele rolê básico de bike pelo lugar. Os adolescentes da periferia, maioritariamente negros, são enquadrados pela policia em vários pontos do trajeto. Uma visão um tanto ou quanto deprimente. Não sei se estou a fim de esperar até ao próximo bloco depois desse testemunho visual de medidas segregativas.

Terceiro dia do Carnaval de Bolhão Geral Zen. A casa vai abaixo depois de escutar esta frasezoca que mexe nas entranhas desta sujeita que sou eu: " Portugal tem um sistema social, sistema de saúde e transportes à custa do saque que fez no Brasil.", diz garota branquita que tem idade para ser minha filha e talvez até tenha andado numa escola prestigiada ou não. De aparências está o mundo cheio.  Eu que sei? Diz esta e vira as costas. Sem diálogo. Falou e foi. Tá bom. Remoer é chato. Guardar ressentimentos ainda mais. Mas caiu a moeda ao fim destes anos todos, principalmente depois das eleições de 2018 no Brasil.  Uma pessoa, no caso uma garota que agora está a despertar para a vida, desconhecer a história do seu país e do país que um dia colonizou até há 200 anos atrás, desconsiderar as lutas internacionais dos trabalhadores nomeadamente em Portugal que viveu um período de fascismo de 48 anos onde se vivia no limiar da miséria.... E esse período os meus avós e pais viveram!!!... O barraco vai abaixo. Primeiro pela ignorância dos factos. Segundo por termos nos acabado de conhecer nem lhe ocorre que eu possa ter familiares ou amigos que foram torturados e até mortos numa luta anti fascista em que se levou décadas para se conquistar a democracia e um Estado Previdência manco. Ela, como muitos brasileiros que tem uma relação esquizofrénico com Portugal, entre o deslumbramento duma  Europa por ele idealizada e um desdém, um desprezo por um Portugal de onde os seus pais, avós e bisavós saíram. Essa desinformação  é constrangedora. Essa frase bateu muito fundo porque a escutei em outros momentos quando pedia ajuda ao que me respondiam:" Porque não volta para Portugal? Lá vai receber do Estado." De onde tiraram essa informação? Além de não ser acolhedor é sem noção nenhuma de classe, do que é uma classe precária que hoje existe num sistema neo liberal onde os direitos dos trabalhadores praticamente são nulos.

Depois disto fui pular o Carnaval. Olhando bem um Carnaval branqueado. Oh saudades das festas na casa em Lisboa com o pessoal amigo africano! Black Power forever! Além duma bela moamba ou duma deliciosa cachupa escutávamos Peter Tosh, Bob Marley e ska  para acreditarmos que ainda é bom ter esperança e que somos todos iguais e podemos estar de boa uns com os outros. Na casa uns dos outros e também na rua. Sinto saudades desses tempos, sim. Muitos desses amigos hoje voltaram para Angola, Cabo Verde ou estão por outros cantos da Europa.

Bora nos escutarmos mais e não colocar fasquia por baixo para assim nos responsabilizarmos como cidadãos que possam atuar conscientemente numa democracia participativa onde teorias e retóricas deixam de ser adornos.

Gratiluz  e abraços gratinados de boa vibração e alto astral a todxs nesta quarta feira de cinzas chuvosa para limpar equívocos



*Redskin no contexto da subcultura skinhead, é um skinhead de esquerda comunista ou socialista. Este movimento surgiu em oposição ao movimento bonehead que estava se desenvolvendo no mesmo período.



A Piu 
Campinas SP 26/02/2020



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

É TEMPO DE AGRADECER AO BRASIL E AO SEU POVO

Descobri há pouco tempo que o Mijuca é uma referência inspiradora. Não que eu seja adepta de fãs clubes, mas mais que fã sou fã do Mujica, como do Eduardo Galeano, como de muitxs pensadores e artistas da América Central e do Sul. Essa é umas, entre várias razões, pelas quais tanto admiro este continente de veias abertas mas de coração pulsante, como África.
Faz precisamente 8 anos que cheguei ao Brasil. Carnaval de 2012, inicio do primeiro semestre. Oito anos de muita resiliência, logo aprendizagem, de olhar para dentro com olhos de ver. De reaprender a sentir. Muitas perdas e muitos ganhos. Vários lutos de pessoas queridas, muito queridas. Amigas e parceiras de trabalho durante vários anos. E o que são perdas e ganhos? No Carnaval de 2014 partiu, do outro lado do oceano  a minha grande mãe, a minha avó materna, que tanto cuidou de mim, de nós, e passou princípios tão importantes como: honestidade, não julgamento da vida alheia, compromisso. Um mulher simples, mas não simplória. Uma mulher até um certo ponto resignada com a sua condição, mas com um olhar e gestos críticos e sensiveis.

Sempre que repasso estes oito anos até então vividos no Brasil, mas especificamente em Campinas no sudeste brasileiro que será diferente do nordeste, norte e sul, sempre lembro da resiliência do Mujica nos seus 12 ou 13 anos de solitária em que o fez repensar toda uma forma de olhar e defender as suas causas inabaláveis de justiça social. Ele sim, com propriedade, defende que a revolução é pelo afeto e pela escuta de todas as partes. Ele sim dá o exemplo do que é chegar ao poder sem abusar do mesmo e que agradece a essa oportunidade, mesmo que dura, de ter estado preso para se tornar um ser humano com mais amorosidade e compassivo.

Desta feita agradeço de coração a todas as pessoas no Brasil que me acolheram, que acolhem, que confiam em mim mesmo não me conhecendo. Agradeço a quem me abriu as portas da sua casa, a quem me deixou o recheio da casa que me passou sem me cobrar, a quem aceitou ser minha fiadora, a quem me recebeu na universidade mesmo a experiência ter mostrado que ter acesso à informação intelectualizada não significa sabedoria, á Denise que me mostrou várias linguagens e possibilidades de fazer teatro com formas animadas e ter-me passado um espólio de bonecos de  sua autoria o que abre o leque de possibilidades no mercado de trabalho, à Adelvane, à Geni e ao Leo que me fizeram retomar a palhaçaria em coletivo porque ser solitária é bom até um certo ponto, só para confirmar e confiar na nossa autonomia.. A todas as pessoas com quem tenho tido oportunidade de aprender a meditar e a curar me espiritualmente. Agradeço sem ironia a todas as patadas que levei e/ou que tenho levado, e aí lembro-me do Mujica com carinho e sem vitimização. Nós também crescemos pela dor até aprender a evoluir pelo amor sem desespero e com esperança de bons e inúmeros encontros auspiciosos.

OBRIGADA BRASIL E POVO BRASILEIRO DE DIVERSIDADES MIL , MIL GRATIDÕES GRATINADAS HAUX HAUX

A Piu
24/02/2020

A imagem pode conter: Ana Piu, a sorrir, closeup e ar livre

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

QUE M#DA É ESTA?


Até há relativamente pouco tempo eu sentia que falar sobre Portugal no Brasil não suscitava um interesse por aí além, mesmo compartilhando pensadores, músicos, artistas plásticas da " minha santa terrinha".  ( Santa terrinha ihihih  )
Levei algum tempo, anos diria, a entender qual a ideia generalizada ( equivocada) que se tem no Brasil acerca de Portugal e até mesmo da Espanha e Itália. Uma grande maioria de pessoas com quem tenho conversado coloca estes três países no saco dourado e glamouroso da Europa, onde todos somos ricos como se vivêssemos todos de rendimentos e fizéssemos parte da galerada branca brasileira que vive em condomínios com criadagem. Enfim. Hoje por obra e graça do espirito tanto da mídia e especulação financeira politica algumas pessoas despertaram um interesse para um Portugal que aos poucos se levanta daquele ir ao fundo do poço, que muitos em terras brasileiras nem se deram conta, logo esqueceram ( não todos claro!) de serem solidários para com os emigrantes portugueses, que não ofereciam aparente vantagem em se ser solidário. A pessoa não ostenta prestigio e os seus bolsos não estão recheados nem de reais, euros ou dollares. Então existe aqui um ponto muito interessante e curioso: numa lógica neo liberal, logo individualista e por consequência meritocrata, quem não se encaixa nessa melodia ou é um(a) irreverente fracassad@ ou é alguém que está tão vulnerável e resiliente fruto dos efeitos colaterais das medidas neo liberais, que é fazer d@s trabalhador@s peças desprezíveis e descartáveis que muit@s acham que podem usar e abusar. A nossa autonomia financeira é muito importante, principalmente quando esta vem do nosso trabalho. Quem olha o outro como se não fosse trabalhador e sim filho de gente rica porque vem dum suposto país rico (?....) ou que a pessoa aceita qualquer coisa, nomeadamente desrespeito, talvez precise de se informar e quiçá conhecer esses lugares fora do circuito turístico e outros circuitos bolha. Conhecer os locais, digamos. Conversar com os mesmos. Ecutar o que estes tem para dizer. Escutar sem escárnio, convenhamos. Reconhecer a sua humanidade no outro. Fundamental.
Ontem assisti a este documentário espanhol: " Que c#o se passa? " - Recheado de entrevistas, este documentário lança um olhar crítico sobre a desigualdade de gênero na Espanha, movimentos feministas e sua tentativa de mudar a realidade.-
Assisti legendado em português de Portugal, porque gosto de ler e pronunciar facto e subtil. Só que desde os tempos mais remotos da minha existência como espectadora as traduções portuguesas, principalmente quando toca a palavrões, são muito puritanas. Ihihih Sonsas e insonsas. Eu levei tempo a entender o titulo em português: Que r#o se está a passar? Cri cri cri Coño significa porra, merda, cara#o  AH! Que raio se está a passar? Raio?!?! Quem é que usa raio em Portugal? Quem fala: " Que raio se está a passar?" A minha avó dizia: " Raios o partam! " O que lembra aquelas frases da tragédia grega entre Deuses e Deusas. Também dizia " Rasta partiça!" Que é uma versão mais alentejana, logo mais cultura popular. A anterior é mais erudita. Ihihi
Eu traduzo para este filme que foi feito em pleno século XXI e que mostra como nós mulheres,seja em Espanha, Portugal, Brasil e outros países ainda temos salários mais baixos para ocupar o mesmo cargo, que somos penalizadas por assumirmos maternidade, que estamos sujeitas à brutalidade masculina: QUE MERDA É ESTA? Penso que faz justiça ao titulo original e à causa.
A Piu
21/02/2020





terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

EU SEI-ME, LOGO RE EXISTO - breves considerações sobre poliamor


#eumeamo #eumecuido #eudecido

Pois é, talvez os homens não saibam muita coisa sobre as mulheres. Talvez as mulheres também não saibam assim tanta coisa sobre os homens. Já nem falando dos trans. Eu não sei. Se sei é muito pouco. Travestidos conheço faz muito tempo, desde os 13 anos. Mas transgêneros é algo muito novo. Conheço o Laerte da época dos Piratas do Tiête. Eu não disse que sou da época dos Dinossauros Rex? ... Quando ele era homem. Admiro muito o caráter de Laerte. Grande ser humano! Não é demagógico e também chama a atenção para os preconceitos autoritários de alguns homossexuais e trans. Desconstrói, digamos.

Há uns dias dei comigo a ter daqueles fanicos acerca de conversas virtuais sobre poliamor com pessoas que nem nunca vi mais gordas nem mais magras. Lembrei-me duma fala duma feminista negra: ' Enquanto as brancas querem poliamor. Nós negras queremos ser amadas por um homem (no caso das heteosexuais). Entendo perfeitamente, sinto mesmo. 

Depois parei um pouco sozinha, ali bem no meio duma avenida do centro da cosmopolita São Paulo... Pensei: não estarei eu aqui ressentida por algum motivo porque umas tem muito e outras não tem nada? ahahah Enquanto ando aqui eu preocupada em perceber, enquanto hetero, em não me meter com nenhum esquerdo macho e assim caminho com solitude teira pelo caminho mas disposta a amar vitoriosamente, outras andam ali preocupadíssimas em pensar como falar com o namorado sobre ter uma mão cheia de casos amorosos. SENTI-ME TÃO CARETA COMIGO MESMA! DEIXA AS MULHERES ACREDITAREM QUE A SOCIEDADE NÃO É MACHISTA E VAI QUE JÁ ENCONTRARAM UMA SÉRIE DE HOMENS DESCONSTRUIDAÇOS E QUE DENTRO DELES ESTÁ TUDO RESOLVIDO E QUE DE MACHISMO E MISOGINIA NADA A APONTAR!!! ARRIBAAAAAA!

Mas depois fiquei ali a remoer se não será que essas relações ao qual as pessoas chamam de poliamor não serão relações superficiais... Depois na carona de volta para casa eramos só meninas mulheres moças, e eu da geração dinossauro rex mas conclui que mulheres mais jovens já tiveram que aturar umas machisses que penso: Isso ainda existe? Homens que não querem que as companheiras não trabalhem, tampouco que se realize. CARACA! MELHOR CAMINHAR SOZINHA E INTEIRA E COOL PELA VIDA! Elas também concordaram que a maioria das relações são superficiais. Aceitarmos isso não será falta de auto conhecimento que nos levam até umas grandes ciladas. Mesmo assim prefiro que a minha alma toque uma alma, e ir amando telepaticamente até que o amor se dá fisicamente. Eu não disse que sou do tempo dos dinossauros rex e também das bruxas do paleolítico? Ah pois, pois é?
Sabermos quem somos é muito importante para saber o tempo certo de avançar, recuar, suspender e avançar e/ ou seguir. Ah pois pois é ora pois pois! Mas uma coisa posso garantir: a maioria de nós, se não todas, gosta de ser galanteada e ter a liberdade de galantear e dizer: Quero! ou Não quero! Sem dramas posteriores nem bizarrarias confusas. Mas eu acredito que todes podem sempre se rever com tranquilidade.  Acho que muitos homens e trans também serão assim. Seremos assim tão diferentes assim uns des outres?

A Piu
Campinas SP 18/02/2020



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ARCA COM A ANA ARCA

Escrever desde  a região de Campinas, Estado de São Paulo, é muito significativo. Reza a lenda que Campinas foi o último município no Brasil  em que a escravatura foi abolida. Porém o escritor e jornalista Laurentino Gomes* veio desmentir esse mito no seu livro: " Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares". Ao que consta os seus livros sobre o assunto já venderam 25 mil exemplares. Significa que ainda há pessoas que lêem e compram livros.

Sinceramente penso que comprar um livro dum homem branco com acesso facilitado à educação superior -  não tem problema nenhum ser branco eu também sou além de portuguesa, a questão é o nosso posicionamento - que vem confirmar ou desmentir o "mito" acima referido não encontro assim tanta relevância. É como a velha história de que o colonialismo português foi mais brando (?!) e misturado que os outros tantos europeus... Granda balela!... Colonialismo é colonialismo. Subjugação é subjugação. Ponto final parágrafo. Vir suavizar uma M... da dessas ou é cinismo ou é ignorância. Ou as duas coisas.

Ah! Outro dia um brasileiro campineiro, cujos traços faciais da sua namorada pode se adivinhar descendência afro e indígena mesmo que a sua cor seja mais clareada, veio-me dizer que o Brasil nunca foi colónia e sim uma província de Portugal.. Primeiro, tentei entender onde ele queria chegar. Se me queria agradar com essa " mentirinha " para atenuar um projeto que até hoje é perpetuado no Brasil e enaltecido no " meu" Portugalito que virou um parque temático turístico para europeus com euros e outros deslumbrados por monumentos caducos, tais como o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém como exemplo dos mais icónicos. "Ai já tivemos o mundo na mão! Demos novos mundos ao mundo!" Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Enfim, um projeto neo liberal que tratou de chutar muitos portugueses qualificados para fora do país, com o pretexto da crise financeira e do desemprego galopante principalmente entre os anos de 2007 e 2016, sensivelmente, para vender o país a quem possa investir financeiramente nele, nomeadamente os aposentados brasileiros de classe média. Uma variação um pouco mais sofisticada da escravatura, pois o que muitas vezes se cria em Portugal são subempregos com salários abaixo do que é justo e sem benefícios sociais ou empregos com contratos um tanto ou quanto duvidosos em relação ao respeito e valorização de quem trabalha. E ainda há os trabalhos informais que muitos chamam de  empresário por conta individual. Nós artistas fazemos parte dos empresários por conta individual, vulgus prestadores de serviços a recibos verdes/ notas fiscais onde descontamos e não temos garantias sociais. Enfim, uma piada. A piada ainda se aguça mais quando do outro lado do mar, pessoas que poderiam estar um pouco mais informadas reproduzem o que a Globo passa. Mas eu já tenho uma na manga para a próxima que me vieram com a história que Portugal é demais: " Sim, sim. Agora o governo é socialista neo liberal. Contempla todos, até aqueles que votaram no Bozo e vieram para Portugal, não é mesmo?" Daí a pessoa pode ficar um pouco sem chão, pois aprendeu na escola tanto institucional como da vida que socialismo é uma coisa muito máááá. Enfim, a revolução é pelos afetos, aprendendo a dialogar sem querer nos jogarmos para os colarinhos da pessoa. Isto é o que aqui a Ana Arca acredita e tenta praticar no dia a dia.

Resumindo e concluindo, já é mais que hora de escutar outras vozes que não são minoria e sim são maioria. Minoria é uma elite ou um determinado números de pessoas a quem é concedida autoridade para formar opiniões públicas. E normalmente essa autoridade é reproduzida por homens brancos classe média. Não é que não possam falar, escrever, refletir, opinar como sempre fizeram. Mas é hora de escutar mulheres, homens, transgéneros de todas as cores,credos, orientações sexuais recortes sociais e culturais.

Inicialmente eu queria escrever um texto para a página "Ar Dulce Ar" sobre de que falamos quando falamos de libido, desejo e a importância dos homens escutarem. É este o momento de escutarem e desconstruírem a sua virilidade, para se tornarem mais sensuais, desconstruírem o síndrome de Don Juan, Casanova para realmente deixarem florescer o que há de melhor, de leve, de generoso, de permissão em se entregarem sem os condicionamentos fruto duma lógica patriarcal em que a competição, a disputa singram. Também queria falar de poliamor. E vou falar, mas não neste texto.

Eu também tinha escolhido esta imagem da Nina Simone para o texto dessa página para escrever sobre a importância de outras vozes femininas que não brancas e heterossexuais. E como é tão bonita esta foto não resisti e deixo aqui para não esquecer que todos países do continente americano foram colonizados à custa de escravatura. Província.... Ai ai!...


A Piu
Campinas SP 18/02/2020

https://www.acidadeon.com/campinas/docon/especial/NOT,0,0,1454542,escritor+derruba+mitos+sobre+a+escravidao+em+campinas.aspx






quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

NA ARCA DA ANA ARCA - parte II

Hoje pensei começar o texto avisando que eu sou do tempo do Dinossauro Rex, mas não  dum Dinossauro rex qualquer! Um dinossauro com uma franjinha de brilhantina que é um pouco depois do mais antigo dos dinossauros, mas na verdade eu não sou do tempo da brilhantina e sim do tempo em que quando comecei a escrever diários íntimos, descrevendo aquelas atividades rotineiras tipo: acordei, tomei banho, comi, lavei os dentes e fui para escola e depois voltei e li um livro da Mafalda e escrevi à minha pen friend de Singapura uma carta num ralo inglês de escola. Ah nesse diário também escrevia que me vestia, naturalmente não ia como fui colocada ao mundo. Primeiro por causa do frio, segundo porque não era moda. O que era moda na minha infância era nós meninas portuguesas vestirmos com roupa unisexo e termos o cabelo casual. Isto é, entre o curto e a tigelinha. Já não falando que furar as orelhas às bebés também era fora do projeto emancipatório. Também sou do tempo de assistir na tv portuguesa à " Malu Mulher " e à " Jornalista" protagonizadas pela hoje polémica Regina Duarte. Essa referência televisiva da causa da emancipação da mulher hoje é uma decepção para muitas e muitos. Enfim... Vivendo e aprendendo a jogar, nem sempre ganhando nem sempre perdendo , mas aprendendo a jogar. Como cantava a Elis Regina.

Assim sendo sou do tempo da Mafaldinha. Embora ela tenha deixado de ser desenhada no ano em que nasci. Eu queria dizer que sou do tempo do Dinossauro Rex de dentes bicudos e boca grande porque o celular veio ter às minhas mãos já eu tinha uns 26 anos. Logo livrei-me bacaninha de boa de todas aquelas febres, no meu ponto de vista armadilhosas, que são os tais dos nuddes e dos aplicativos de namoros. Desconfio que mesmo se tivesse pego a minha meninice, ali por volta dos 14/ 15 anos, eu teria torcido o meu narigão e dito: " Belhaque! Granda  maluquice um tanto careta! Não me vou decepcionar comigo mesma! Isto não condiz mesmo nada com aquele trabalho que estou a fazer para História sobre emancipação da mulher onde o ilustro com tirinhas da Mafalda e outros desenhos do Quino!!"

Porque me decepcionaria, pergunta você que está aí desse lado. Porque não vejo num nudde nenhum estimulo erótico que liberte a mulher e até mesmo o homem do orgulho de ser objeto de desejo imediato onde erotismo se confunde com pornografia. E como além de trabalhar com o corpo em cena por ser atriz e ter sido modelo nu em Escolas de Belas Artes em Berlim em nenhum momento fui assediada. Dizer que os alemães são frios diante do assédio que muitas vezes se vive no Brasil pergunto quem é mais frio. Afinal de contas a temperatura da  boçalidade é um tanto baixa. Muitas de nós mulheres não estamos a fim de calor viscoso. Dispensamos. Passamos para a frente. Então,  não encontro no nudde poesia nenhuma; além deste poder cair em mãos mal intencionadas e vazar no mundo virtual. Quanto a nós mulheres que posamos escrever literatura erótica ou desenhar e fotografar o nosso corpo e até entrar em cena como chegamos ao mundo nós com certeza que divulgaremos e mesmo que vazem para o mundo virtual até agradecemos a divulgação. Porque divulgar o trabalho é um trampo do caraca. Assim sendo, a gerência agradece.

Há dois dias escutei uma história duma avó que foi fazer justiça pelas suas próprias mãos à porta da escola ( não por ser particular, mas porque segue uma proposta pedagógica de cidadania, respeito e liberdade a coisa ainda é mais hilária. Em todas as classes socais esses abusos ocorrem. Temos que avisar essa geração que está a descobrir agora a sexualidade o que é ou não saudável ) quando um rapazola engraçadinho vazou um nudde da sua neta. O garoto escondeu-se na biblioteca. Afinal ele sabe que pode ter consequências e que agora sabe que se se mete com as matriarcas não há status nem prestigio que valha, pois uma matriarca pode virar uma loba uiventa sob a lua cheia. E normalmente muitas das matriarcas não estão interessadas seguir para a justiça, porque além de ser burocrático, é moroso e vai saber no que dá. É o meu caso. Eu conheço, nós conhecemos as leis que nos protegem. A lei da Maria da Penha e lei nº 5.278/68 de pensão alimentícia.

Eu tenho tido alguma preocupação de falar com as adolescentes mais próximas de mim acerca do nudde e perguntar-lhes qual o sentido faz essa prática. Uma respondeu-me:  " As meninas confiam no rapaz, ele é que é bobo!". 'Tá. Essa é um clássico: confiar. Mas no mundo virtual temos que estar cientes que mesmo o privado rapidamente vira público. Há necessidade de nos expormos a isso? Se há, a pessoa que segure depois da onda. Por ser da época entre o Dinossauro Rex a Mafaldinha também custa a entender o porquê de expor a nossa intimidade num espaço virtual que pode ser apropriado de várias maneiras. Uma coisa é falarmos ou criarmos obras e trabalhos literários e artísticos em torno das nossas experiências pessoais. Por exemplo, trazer a público que em algum momento ou em alguns momentos da nossa vida estivemos num emaranhado abusivo. E isso é nos expormos, mas também para avisar quem está ao nosso lado que não queremos mais nos sentir isoladas e confusas com aquela situação. No livro " Prazeres e pecados do sexo na história do Brasil" do Paulo Sérgio do Carmo ele escreve que a maioria dos homens brasileiros que abusam não sentem culpa e sim envergonhados quando são descobertos. Primeiro, não me parece justo generalizar. O Brasil é muito grande e existem homens de várias índoles. Eu tenho bons amigos brasileiros de coração que somos apenas bons amigos e nunca houve nenhuma malicia. Segundo, ainda não encontrei relação entre a vergonha e a falta de culpa. A  dificuldade é minha!!! Então a pessoa sente vergonha do quê? Do que vão pensar dela na aparência, mas se estas não forem descobertas vão continuar sem escrúpulos? Um dia haverei de compreender... Mas essa informação é preciosa! Quando nós falarmos publicamente sentimos-nos mais  protegidas e faz assim com que o outro lado pense antes de agir. O que é que normalmente um abusador faz? Isola-nos ou tenta nos isolar. Então, quero acreditar que estes textos, como de muitas outras mulheres assim como obras artísticas sejam estas performativas como plásticas sirvam para denunciar de algo sem ter que recorrer às autoridades. DA minha parte evito as instâncias maiores, quero continuar a acreditar, que todxs podem agarrar a oportunidade de se auto conhecerem e superarem essa limitação que é ver na outra pessoa um corpo para satisfazer o seu cio. Sim, porque existem por aí argumentos que defendem a poligamia alegando que os animais também são poligâmicos. Aproveitando, alguém conhece alguma espécie animal além do ser humano que pratique o poliamor ou que use o tinder surpresa, aquele aplicativo que só de pensar em ter curiosidade de entrar e conhecer já me auto decepciono comigo mesma. Pontos de vista, claro! Considero que esses aplicativos são a manifestação pura e dura  da dificuldade em nos conhecermos espontaneamente e nos relacionarmos. Se quando assim é, de vez em quando já temos umas surpresas!!! Imagina quando eu fantasio a minha identidade e caio também no canto d@a serei@ naquele mostruário de fotos de gostozice e perfis que é tudo incrível e interessantíssimo. Sei lá! Eu que sei! Sou da época entre o Dinossauro Rex e a Mafaldinha. Só acho é que os meninos também deveriam brincar com bonecas para aprimorarem o instinto de cuidar melhor. Nem precisam de serem pais depois! É só para lembrar que todxs temos instinto cuiadador.  Há uns que já cuidam. Aplausos de pé para esses de verdade!

A Piu
Campinas SP 13/02/2020


Curta a página " AR DULCE AR" e se puder, quiser, se se tocar apoie este projeto de palhaçaria feminina sobre relações abusivas. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209/































quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

NA ARCA DA ANA ARCA

Patrícia Galvão, conhecida como Pagu (1910- 1962), é uma das principais personalidades femininas do século XX no Brasil. Participante do movimento antropofágico, teve militância política e intelectual. Sua produção jornalística abrange quatro décadas. (...) Seu companheiro mais conhecido foi o modernista Oswaldo de Andrade ( 1890) - 1954). As escolhas amorosas do escritor também eram um indicativo de que ele valorizou mulheres combatentes que ousaram desafiar de diferentes maneiras a sociedade atrasado do seu tempo, exercendo a função de bailarina, pintora, militante ou estudante normalista. Entre essas mulheres, destaca-se a pintora Tarsila do Amaral (1886- 1973), que encantava a todos. (...) Ela sabia que o escritor não a amava. Ele admirava a sua inquietude e coragem. '" Procurava em mim o que  OUTRAS MULHERES NÕ POSSUÍAM." mais tarde, conta que, numa ocasião em que estava terminando de datilografar um artigo de Oswaldo, ele lhe falou que tinha marcado um encontro com uma tal de Lélia. " É uma aventura  que me interessa. Quero ver se a garota é virgem. Apenas curiosidade sexual." Oswaldo contou-lhe isso como se ela fosse um seu companheiro, no início de uma aventura. Pagu ocultou o tremendo choque que essas palavras produziram, pois tinham decidido que a vida deles seria pautada pela liberdade absoluta.
Do Carmo, Paulo Sérgio " Prazeres e pecados do sexo na história do Brasil"
Ed. Sesc . SP: 2019
Dando continuidade aos textos escritos especialmente para a página " AR DULCE AR" no facebook sobre palhaçaria feminina, violência contra  a mulher e relações abusivas vou compartilhar o meu ponto de vista sobre poligamia, monogamia e poliamor. Sublinho que é o meu ponto de vista, porque outros pontos de vista tanto no seio desta equipe de trabalho como quem lê pode ou não compartilhar desta mesma opinião. Logo, o que eu penso ou o que outra pessoa pensa não são verdades absolutas e sim opiniões, pontos de vista, visões de mundo segundo as nossas experiências e referências. Porém, uma opinião deve-se sustentar para não cair num achismo. Um achismo, como a própria palavra indica. é achar muitas vezes duma forma superficial. Acredito que para formar uma opinião precisamos de escutar, observar, viver, informar-nos antes de cair na nossa própria ignorância fruto de condicionamentos, sejam estes familiares, sociais, culturais, económicos. O que for.

Para sabermos mais profundamente quem somos, o que nos levou até este preciso ponto onde nos encontramos muitas vezes à deriva mas aqui no agora, precisamos de ir lá atrás. Ao estudar a história do Brasil estou a estudar também a história do meu país natal: Portugal. Aliás, do meu e de muitos que poderão ler este texto assim como os filhos ou netos, bisnetos daqueles que um dia por motivos vários emigraram para o Brasil. Logo, desde já assumamos o nosso passado comum com responsabilidade de daqui para a frente fazermos diferente ao invés de apontar dedos. Sem escárnio. Combinado? ;) Vamos rir de nós mesmxs para nos libertarmos ao invés da piadinha de português que no final das contas é piadinha do avô, da avó ou até mesmo do pai e da mãe. <3

Ao ler o livro acima referido dou-me conta que a história, não só do Brasil, é pautada por violência numa lógica patriarcal que dura há milhares de anos. As mulheres como valor de troca, a poligamia como uma prática para servir os homens e punir as mulheres na maioria das sociedades, sejam estas menos ou mais industrializadas.

Então vamos ao que me traz aqui, esperando ser breve pois as redes sociais estão repletas de informação. Muitas vezes fico naquela dúvida existencial transcendental para normal fundamental se os meus pensamentos um tanto céticos em relação ao poliamor são caretas, defendendo até um certo ponto a monogamia. Bom já não falando que me expresso dum lugar de mulher heterossexual. Mas outras pessoas falarão melhor das suas orientações sexuais, escolhas e modos de se relacionarem com ou sem afeto. Eu defendo as relações de afeto. Então tudo é possível quando existe afeto, logo respeito e escuta.

Há uns dias atrás tive um daqueles AHA ( a chamada sacada, insight) : Poliamor/ amor livre e práticas libertárias de auto gestão em coletivo só serão possíveis quando todos nos trabalharmos por dentro, quando nos permitirmos conhecer o que se passa cá dentro e a partir daí nos auto gerirmos, nos auto amarmos. Como posso pretender viver numa comunidade libertária se nem sei cuidar das coisas mais básicas do dia a dia que é lavar uma louça, manter o espaço onde descanso minimamente limpo e habitável? Como posso pretender ter um monte de casos com esta e aquela pessoa se nem a mim me entrego plenamente? Como posso esperar que  poliamor esteja enraizado no coração de cada um e cada uma se o que ainda vivemos, consciente ou inconscientemente, é centrado nas relações de possessividade, medo de perda, desconfiança, de falta de clareza e ao limite de mentira?

Aqui há um tempo assisti a um filme sobre a Yoko Ono e o John Lennon. Muito bonito quando este assume que em algumas vezes foi machista por querer o protagonismo só para ele quando ambos eram co criadores. Muito bonito também é o Lennon assumir que ao amar profundamente a Yoko Ono não havia espaço para terceiros. Isso não é ser careta. Não existem fórmulas, mas existe a prática de nos permitirmos amar de corpo e alma.

A Piu
Campinas SP 06/02/2020
Curta a página " AR DULCE AR" e se puder, quiser, se se tocar apoie este projeto de palhaçaria feminina sobre relações abusivas. https://www.facebook.com/AR-DULCE-AR-162965127817209/

domingo, 2 de fevereiro de 2020

02/02/2020 DIA MÁGICO PARA QUEBRAR ENGUIÇOS


#eumao #eumecuido #eudecido


Blablablablabla BOOM PAZZATRAPAZPAZ PA Queres que te diga voce é uma palhaça sem graça se eu fosse voce voltava para o seu país (...) SUA ISTO SUA AQUILO!!!!

Entre muitos e outros habituais impropério proferidos com consideráveis intervalos de bons pares de anos de absoluta  ausência e desresponsabilização paternal do dito cujo, esta frase escrita numa mensagem a 8 de Março de 2017 resume duma certa forma, até um pouco leve, diria, toda uma visão de mundo e de como se tratam as mulheres, principalmente as mães dos seus filhos.

Vamos começar por uma palhaça sem graça. Ah! Tenho que contextualizar! Nesse exacto momento eu estava indo estrear o meu solo de palhaça no Festival Palhaças do Mundo em Brasília. Solo esse criado na marra, pois foi criado por mim por não ter recursos financeiros para pagar a uma companheira para me dirigir. E cada vez se torna mais claro que temos que valorizar e remunerar o trabalho uns dos outros. Principalmente entre artistas profissionais que fazem desse oficio o seu ganha pão e assim sustentam os seus filhos mesmo quando alguns progenitores se esquecem dos seus deveres e também sa lei que lembra esse dever que quando não é cumprido é punível. Assim sendo só transcrever esta frase entre os milhares de devaneios explica muita coisa que na contextualização da situação aqui da palhaça sem graça que deve é voltar para o país dela se auto explica. Ou seja, ele nunca cumpriu com o seu dever ao abrigo da lei, eu estava indo para um festival  de mulheres palhaças em BRASÍLIA!!! Ele sentiu muito medo que eu metesse a boca no trombone e ainda ameaçou que estava louco para me encontrar em São Paulo quando eu voltasse. COMO É POTENTE É A MULHERADA JUNTA EM LUGARES E SITUAÇÕES ESTRATÉGICAS!!!! ESTAMOS JUNTAS , AH POIS É! E OUTROS HOMENS ESTÃO AO NOSSO LADO!

Primeiro que tudo, eu senti constrangimento pela imaturidade da frase. Eu sempre acho, quando me relaciono ou relacionei com alguém, que a pessoa não possa ir tão baixo. Mas esse ir tão baixo é manifestação do seu medo e da sua imaturidade. Eu senti aquela tristeza até compassiva dele achar que me atacaria por aí. Ihihih Primeiro: antes de o conhecer a minha trajectória artística já levava alguns anos. Segundo, há muitos anos que nãos nos vemos. Há uns 10 ou 12 anos. Terceiro, seria agora ele que rotularia a qualidade do meu trabalho profissional? ahahahaha essa é boa!!!! Quarto, o sujeito tem consciência que eu vivo do meu trabalho e sustento a nossa filha sem recorrer a ele, e sim recorresse talvez ele fosse parar atrás das grades por nunca ter cumprido com a sua obrigação?

Já o voltar para o meu país... Também é constrangedor. Uma frase que contem xenofobia, rancor, ressentimento e distorção dos factos. Quando o sujeito justificava os maus tratos por eu ser uma porca capitalista, exploradora, colonialista e até nazista significa que o sujeito de sangue ameríndio, cujos inúmeros povos originários deste continente eu respeito e admiro de coração a sua espiritualidade, precisa de voltar às raízes e curar-se juntos dos pajés. Nunca se enxergou a si mesmo, muito menos as mulheres com quem se relaciona. Na verdade é isso que eu desejo para este sujeito em especifico, que além de ter tido uma filha comigo tem filhos espalhados por aí. Desejo profundamente que ele volte à sabedoria ancestral do seu povo e se re conecte para lembrar-se de quem é e amar os seus filhos com profundidade, sem passar uma vida inteirinha a infernizar a vida das suas ex companheiras . Ah! E já agora que as suas novas companheiras não sejam traídas na confiança enquanto mantém a relação nem que na sequência os papeis se distorçam e se invertam. Isto é, o sujeito é o papa mulheres mais a sua companheira nem com um homem pode conversar.

Fica a dica,  neste ano da graça do amor de 2020. Ah outra coisa! Na próxima vez que eu for ao Rio de Janeiro, onde o sujeito mora, não ter que camuflar virtualmente a minha estadia na dita cidade, Por outro lado, eu alguma vez ter dito para o sujeito ir embora não foi do meu país, onde o mesmo morava e alegava que agora era a vez dele de roubar os portugueses e os espanhóis que foi o que fizeram com a América. Primeiro, eu não mandei fora do meu país e sim da minha vida. Que ele seguisse a sua com dignidade porque muita gente já não o podia ver na cidade. Para mim seria humilhante que alguém lhe causasse dano. Eu só queria que ele fosse embora. Eu só queria cuidar da nossa filha em paz e sossego sem ter medo de andar nas ruas de Lisboa nem de entrar em casa. Segundo, QUEBRA-SE AQUI O FEITICO,O ENGUIÇO, O MAU OLHADO O QUE QUISEREM!!!! Um sujeito que traz no coração esse ódio de vingança histórica e desconta nas companheiras europeias que no entanto quer se casar com elas para que a papelada burocrática seja vantajosa para o mesmo  eu quero distância !! Querido, sim querido, que um dia tanto te amei: bora fazer diferente dos nossos antepassados e respeitar a Vida e celebrar o Amor? E já agora amara com verdade os nossos filhos.

Muita gratidão mesmo à Geni Viegas e ao Leonardo Tonon que embarcaram neste projeto Ar Dulce Ar, um espetáculo de palhaçaria feminina sobre relações abusivas e violência contra a mulher. Entre na página do facebook " Ar Dulce Ar" e curta. :)

A Piu
Campinas SP 02/02/2020

Caramba! Que data mágica!!!! 02/02/2020