segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

QUAL A DIFERENÇA ENTRE PRIVILÉGIO E OPORTUNIDADE? TEM DIFERENÇA OU É A 'MEMA' COISA? - I


Gostaram deste look nerd, de este ar profundo, conjecturalde intele que tu al. São 'ólicus' a sério! São 'si' senhora! Não sei se é da idade, do tempo a olhar para a telinha, o livrinho mas o que é facto é que o olho tá pitosga. Os olhos! O olho! Já agora! É os óculos ou o óculos? Na minha terra são os óculos, além da palavra ser plural são duas lentes. Mas o óculos também está certo. É um só objeto. Isso é motivo de discussão inter continental? Não existem coisas mais importantes para debater? E ali (ou lá?) no muro é grama ou relva? Ahhhh Pegadinha! é trepadeira. Espera aí! Vou ver se aqui se fala trepadeira, pois pode-se levar para um sentido erótico e logo a pessoa é mal interpretada e ao limite alvo de insinuações... Ufa! Respiro de alívio! É a mesma palavra. Tem um livro do Italo Calvino que em italiano é 'El barone rampante" cuja tradução em Portugal é " O barão trepador". Ihihihih uhuhuh Ai credo! Pára com isso. Claro que aqui no Brasil não é... Deixa ver. " O barão nas árvores". Pronto, impecável!

'Barão' é uma gíria que os mochileiros no Brasil, pelo menos foi com eles que aprendi, é o sujeito ricaço 'cheio da mordomia'. O feminino é 'baroa'. Já playboy, segundo essa tribo, é o cara que se acha o bambambam e pode gozar de algumas mordomias ou nenhumas, mas gostaria de ascender ao lugar daquele que o oprime por isso já vai ensaiando.

Há um tempo atrás aqui a caixa de óculos, mas só de vez em quando!, assistiu a um documentário sobre rappers na periferia, não lembro o titulo, e um deles falava mais ou menos assim: " Quando o cara começa a ter fama e a ganhar grana ele baixa a bandeira da comunidade e da opressão e não quer dividir, não quer compartilhar. " Pois é! Uma fala bem lúcida!

Assim sendo, qual a diferença entre privilégio e oportunidade? Tem diferença ou é a 'mema' coisa? É pecado ser ou tornar-se priviligiado? O que é pecado? Achar que não se merece usufruir duma bela oportunidade ou que o melhor é ter o discurso do sofrimento " que isto está mal para todos", porque já não pode trocar todos os anos de carro e se vai falar que está tudo bem ainda alguém pede ajuda? O que é privilégio e oportunidade para uns não é para outros? Quando se ocupa um lugar de privilégio é normal e aceitável não estar nem aí para os outros? Nem perceber ou fazer de conta que não tem nada a ver com isso. Bueno, yo que sei?

Até ao próximo texto!

Beijus

A Piu

Br, 24/01/2022

 

sábado, 22 de janeiro de 2022

QUAL É O MESMO O NOSSO VALOR? E O DA VIDA?


 Ali estavamos nós no tão esperado ano de 2000, repleto de profecias apocalipticas, que de uma forma ou outra foi indo no fluxo. O meu ano começara com o inicio da minha primeira gravidez e a trabalhar como sempre. Aqui estarei com 3 ou 4 meses de gestação, mesmo ao vivo e a cores não se notava. Foi-se notar lá para o sétimo mês. Para todos os efeitos, notando-se ou não, tratar com gentileza uma mulher cai sempre bem. Na verdade eu ainda não vivia aquele sobressalto eminente de imposturas, agressões e ameaças do progenitor da minha filha que na época viviamos juntos. A coisa engrossou quando a petiz nasceu, uns meses mais tarde da dita estar já entre nós. Talvez quem estivesse ao meu redor já lesse alguns sinais que o dito não me respeitava na plenitude, mas eu fui relevando. Aqui estou eu com a companhia do Chapitô em Lisboa, que no final da temporada eu meti a mochilinha nas costas e mais um espetáculo do meu repertório de co autoria com o dirtetor Juan Ramon e lá fui para o Brasil. Dois meses na estrada a assistir a festivais de teatro e ainda apresentei em Salvador da Bahia, grávida, e em Cuiabá, já depois de ter dado à luz.

Nessa época ainda não sofria a ameaça do sujeito invadir a sala de espetáculos para armar o barraco que ele mesmo tinha construido na cabeça dele. Isso aconteceria uns ano ou dois mais tarde de voltaa Portugal quando eu trabalhava com o Teatro Meridional em que a sala estava sempre lotada no centro de Lisboa. Imaginem o que é ir trabalhar, entrar em cena sempre na incerteza de tal situação, do " homem das cavernas" entrar por ali adentro para grande vexame. O mais curioso, é que aqui a 'capitalista exploradora portuguesa" como ele tentava me ofender é que garantia uma fatia considerável do sustento com os seus múltiplos cachês e salários de vários trabalhos, desde trabalhar numa companhia, a dar aulas de teatro em escolas, a trabalhar com mulheres encareceradas. Tempo algum eu me abalei com esse tipo de insulto de ser uma artista de teatro de m....da ou palhaça sem graça. Eu conheço o valor, a potência do meu trabalho e o que quero ainda aprofundar e desenvolver. 

Por outro lado eu não tenho que provar o meu valor a quem não me dá valor, principalmente com quem tive intimidade. Só me pergunto o que faz alguém querer se relacionar com outra pessoa se for para espezinhar, ou pelo menos tentar.  Quanto a um homem que parece que ainda  está na Idade da Pedra e achar que uma atriz ou performer é uma vadia e vai com todos... Lembra aquela charge argentina: se te apaixonas pelo Che Guevara não lhe queiras cortar a barba. 

Vou-me explicar melhor: se te apaixonas, ou finges apaixonares-te, por uma atriz palhaça não queiras ou não esperes que ela deixe de o ser e que passe a desacreditar no seu próprioo trabalho. Já ser vadia, galdéria, talvez isso seja uma projeção da tua conduta. Mas se a pessoa é isso porque te apaixonas, ou finges apaixonar-te, por ela? Também adianto que da minha parte, cada vez mais, dá cá uma perguiça envolver-me com qualquer um. Imagina com vários ao mesmo tempo?! A partir de agora prefiro auto observar-me e observar quem eu estou a fim. como temos estado em confinamento mais restrito ou não aproveito para ir expressando quem eu sou. Quem se inspirar, FORÇA! Escrever, pintar, atuar, fotografar, esculpir, filmar é manifestação da nossa alma e sairmos do silenciamento.

Infelizmente, os casos de relações abusivas continuam-me a surpreender, vindos de homens que eu tomava em consideração. Artistas, atores, músicos que parecem estar muito à frente mas quando entram filhos ao barulho parece que a coisa ainda se agrava. Assustados com a responsabilidade começam a descontar na mulher e nas crianças. Quem não conhece um caso ou outro dum casal que tem um filho ou filha que lhe é diagnosticado cancro/ cancer na primeira infância e o  sujeito começa a infernizar tudo e todos. Sim, agora também me refiro a um caso concreto duma querida amiga que teve que segurar a onda da doença da filha e  ainda ter que levar com esse marmanjo que parecia tão boa onda. Chavalo, espero que tenhas acalmado os teus ânimos. Se não sabes lidar com as pessoas e com a vida pede ajuda profissional. Ainda há outros que não teem filhos mas são igualmente toscos, ao limite babacões como os dois casos que relatei no texto anterior.

Isto não significa que todos os homens sejam uns escrotos, nem que as mulheres precisam de estar sempr a avisar e a educar sobre como ser ser humano. Falo aqui numa relação homem/ mulher porque de momento é o que urge falar. Mais para a frente podemos falar de outro tipo de relações, embora eu tenha mais familiaridade com esta: heterosexual e por acréscimo de maternidade. Depois ainda veem as relações de amizade e profissionais.

Beijos e abraços e até ao próximo texto. 

A Piu 

Br, 22/01/2022

Curta a página " AR DULCE AR" e se puder, quiser, se se tocar apoie este projeto de palhaçaria feminina sobre relações abusivas.

 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

CARTA ABERTA E CONFISSÕES A ELZA SOARES

 

Querida Elza Soares,
hoje partes para uma outra dimensão, a dimensão da memória. Eu tive uma professora de filosofia que dizia que a pessoa só morre quando a última pessoa que se lembrar dela se esquecer ou morrer. Bom, não será assim ou mais transcendente, mas o que é facto é que tu permanecerás na memória de muit@s de nós. Partiu uma estrela de 91 anos com uma vida extremamente trágica, dois filhos que morrem de desnutrição nas primeira ssemanas, fruto dum casamento abusivo e pedofilo, um filho dado para adoção por falta de recursos para criá-lo, uma filha que é sequestrada ainda pequena pelos cuidadores enquanto tu trabalhavas no inicio dos anos 50, outro filho ( na foto), perde outro filho dos oito já em idade avançada por doença. Teve uma relação polémica de 17 anos com o futebolista Garrincha de quem sofria de maus tratos. Entraste em depressão, tentaste o suicidio, passaste a ser usuária de drogas pesadas e levantaste-te de novo e cantaste como uma mulher do fim do mundo até ao fim do mundo.
As minhas histórias de abusos por parte de homens olhando bem não são nada, mas também são muito. Se me permites aproveito para me libertar aqui dessa babaquice, dessa boçalidade de homens, por acaso todos brasileiros e por acaso nunca me aconteceu com mais ninguém a não ser com esses três num dado momento simultâneo. Não significa que em outros lugares não hajam abusos. Um deles era um ex companheiro, pai da minha primeura filha. Um clássico, não? Os pais dos nossos filhos, em alguns casos, acham que podem tratar de qualquer jeito e ameaçar de coisas muito piores e ainda veem com um choradinho de vitimas.
Para mim, mulheres como tu não temerem assumir publicamente que foram vitimas de violência doméstica é duma coragem extrema,porque é a tua palavra contra a do(s) agressor(es) e é uma exposição da tua vulnerbalidade e dor, Vou-te contar aqui uma situação tão absurda, mas que não deixa de ser abusiva. Já muito depois de me ter livrado, que é mesmo assim, do ex companheiro pai da minha filha, que naqueles dois/ três anos de convivência e sobressalto eu já nem sabia se havia de rir ou de chorar ele sempre voltava e volta tal qual fantasma da casa assombrada para encher a paciência de mentiras, acusações e outras enfermidades. Abandona, não se responsabiliza e ainda volta de quando em vez para chatear ( num espaço de 6/ 7 anos. deve ser porque 7 é um número mágico...)
Aquele ano de 2014 começou logo bem. Um tal de Rodrigo Pereira ( nome falso) envia um e mail. Vejamos alguns trechos:
"Você é muito badernera, love you 😊 E o seu blog é bacana." Pergunto se ser baderneira é bom ou ruim: Eu acho bom baderna. Imaginei que iria ficar confusa, de qualquer
forma não seria possível nos conhecermos, eu não sou uma pessoa real.
Espero que não se incomode com um elogio de um desconhecido. Eu só
estava curioso para saber se iria responder, e o que escreveria.
Parece divertido escrever para pessoas que não se conhece. 😊"
Como eu já tinha passado por vários litos entre 2012 e 2014, estando nós em Janeiro e a minha avó viria a falecer em Fevereiro, respondo: " Sim, viver é divertido."
depois de vários blá blá blá acerca duma paquera duvidosa continua:
" Me parece que o momento que se diz que se gosta de uma pessoa é o
momento de uma intrincada árvore de escolhas, dúvidas e conjecturas
por parte da outra pessoa. Como se o ser humano por natureza nascesse
para viver isolado, ou então apenas estabelecendo relações de
"comércio" entre seus pares. O primeiro pensamento é "o que vou
ganhar com isso"? Como se o sentimento de afinidade que uma pessoa
possa ter por outra, mesmo que à primeira vista, fosse algo
extremamente incomum, artificial, ou então disfarce para alguma
conspiração maior. Está com medo da conspiração? Você logo correu
atrás para resolver o mistério, não é mesmo? Eu devo ser de Suzano...
concluiu. hahahaha... fique com a sua conspiração."
Estamos diante dum sujeito letrado, cheio de lábia. Refere-se a Suzano, porque eu tinha um conhecido de lá duma companhia de teatro profissional e que por acaso é gay, mas ele deve ter achado que tinhamos um caso. Por acaso o fulano é charmoso e boa gente, mas tem orientação sexual. Pena.
Nos entretantos eu já tinha percebido quem era o fulano. Frequentava o mesmo Instituto da Universidade, só que em filosofia. Até hoje eu pergunto se ele entendeu bem a parte da Ética. Eu estava tão pelos cabelos com a piadinha sem graça que aconselhei um livro de budismo Zen. Furiosa a aconselhar ler Zen. Ahaha. Daí o cara pálida responde:
Feb 4, 2014, 7:5
" kkkkkk... não leia essas coisas, esses livros são feitos para donas de casa de classe média maltratadas.
Estes kkkkkk como deixam mareada!... Pergunto: e o que são donas de casa classe média? o que é classe média aqui no Brasil? e o que é ser maltratatado
?'
Sem resposta....
Ana, sabe porque se conta piada de Português no Brasil?
Aqui a Ana responde:
" porque se conta? até adivinho, visto que o seu nome é português. talvez já tenha sentido na pele (ou não. mas se sentiu imaginos como se terá sentido) posso dar uma dica... porque a incapacidade do pessoal se rir de si próprio é escassa. rirmos-nos de nós mesmos manifesta humildade e inteligência. também se porque se conta piada de português, porque aqui a desigualdade de oportunidades, as relações de poder são tão grandes e mesquinhas éque cada um quer se mostrar mais inteligente que o outro e não se toca que ao rir-se do português lerdo e colonizador está-se a rir de si mesmo. também penso que não é pela erudição dos livros que as pessoas se destacam. destacam-se por serem empáticas, caso contrário perpetuam relações de violência e descriminação. piada de português, brasileira bunda na Europa, brasileiro querendo ganhar vantagem na Europa e outras xenofobias não tolero. sou intolerante com a intolerância e descriminação que é um ato de violência. como tal, se quiser manter um diálogo sem baixar o nível pode contar comigo. sublinho ainda que tenho amigos de todas as cores, etnias e nacionalidades. como tal agradeço que o nível não baixe assim como não cou comparar as minhas leituras com as suas, muito menos estudiosos e praticantes das suas teorias, como o brasileiro Sérgio Veleda. tenho amigos brasileiros desda a minha infância em Portugal e trago-os em boa conta. grata
Rodrigo Pereira: " kkkk... confesso que fui preconceituoso em achar que a burrice é uma propriedade dos portugueses quanto ela é adotada amplamente. Mas a piada não teria sentido se dissesse que você seria só uma burra entre tantas outras burras. Sem falar que isso se tornaria muito impessoal. Eu tinha algumas escolhas para se fazer a piada: Um papagaio, uma freira e um português. Por razões óbvias escolhi a ultima. 😊 "
Lá vem o kkkkk. Ooooommmmm
" Acho que não tem nada a ver esses emails. Já falei que foi engano. E não há muitos interesses em comum para que nós possamos manter uma comunicação produtiva. Acho que vou te mandar para o spam... me desculpe a indelicadeza, mas é que existem pessoas que trabalham e não tem muito tempo para esses tipos de email.
ciao"
Pronto, e assim a pessoa que é mal educada, mal formada e depois fala que ela tem que trabalhar, como se fosse honesta e trabalhadeira e a outra um desocupada sem eira nem beira, tampouco familia para cuidar. NÃO SOU TUA MÃE, PÁ E JÁ TENHO AS MINHAS. E também se achas que sou uma novinha descoladaça que bate palmas quando o descoladaço faz uma poia no meio da sala citando autores tás enganado. Ah! E respeito às novinhas! Combinado?
Depois, mais tarde, para aí um ano depois descobri em spam que me invadiam este e mail de várias cidades do Brasil desde o Rio, a ao Recife como a Sumaré. Desse enxurilho de invasões mantive este para abordar o meu ex.
em Windows" - Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2014 às 20:09. Este dispositivo foi adicionado à tua conta.
Sistema operativo: Windows 7
Browser: IE
Localização: Rio De Janeiro, RJ, BR (IP=186.246.245.248)
Falou que não era ele e ainda tive direito aum monte de impropérios, dede ser colonialista capitalista do pior a ser palhaça sem graça e artista de teatro de m...da.
Também havia um fulano desse mesmo Instituto que mandava mensagens a mim e a outra moça estudantede filosofia e minha aluna de palhaçaria. Nunca o vi, se o vi não sei quem é. Mas parece que o fulano não consegue lidar com a presença de mulheres a estudarem na mesma universidade que ele, um pirralhote que se o visse oferecia-lhe uma mamadeira, entretantanto denunciei as mensagens dele para o facebook sem nunca ter respondido ao fulano porque nem sabia quem era. A resposta dele é esta:
" Isso que você fizeram é crime. Eu sabia que tinham me posto um keylogger, já vinha desconfiando há tempos. Obrigado pela informação.
acuso alguém de espionagem
espiono
Lindo. clap clap clap
Isso é invasão de privacidade enorme.
Quando meu facebook estava fechado pra você, lembra? Como você conseguia olhar?
É disso que está me acusando mesmo?
MESMO? "
Enfim, Elza. Nós temos mesmo que aturar isto? CLARO QUE NÃO! E esta é só uma parte da história. E meter a boca no trombone mais do que um direito é um dever para que outras mulheres tomem coragem de sair do silêncio e não permitir serem maltratadas nem importunadas e pedirem ajudam quando a coisa não pára.
SEGUE EM PAZ, QUERIDA ELZA!
A Piu
Br, 20/01/2022

DRAMAS, EMARANHADOS E ESTRANHAMENTOS FAMILIARES- HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XXX


 É a mais pura verdade que estes últimos 500 anos não são pêra doce. Não significa que a pêra é sempre amarga, também tem umas surpresas boas. Mas parte da pêra ou está podre ou é amarga, as doçuras temos que as reinventar. Reinvenções como reparos históricos daquilo que já passou e não tem como negar. Os estragos do colonilismo fruto da expansão maritima. Enfiar a cabeça na terra como a avestruz não me parece que seja solução e vir com argumentos tipo:" Ah! Se não fossem os portugueses eram outros! As tribos africanas também guerreavam entre si e não se sabiam governar! Ah no Brasil era e é muita terra para poucos indigenas! Ah! Quando os indigenas existiam (?!?!) os holandeses e franceses também os mataram! Nós não temos que pedir perdão , pois o que passou passou e no caso do Brasil já saimos daí há 200 anos! Escravatura? Já existia em África! Ah! Os países africanos não queriam independência agora não queiram vir para Portugal! Oh preto vai para a tua terra! Nascestes antes de 75 em Angola, Moçambique, Guiné, S. Tomé, Cabo Verde? Eras português? Agora já não és! Queres entrar na fortaleza da Europa? Vais ter que ter cabedal para aguentar!" Enfim, uma série de lugares comuns recheados de preconceito, racismo, desresponsabilização histórica que infelizmente alguns seres do meu povo português ainda espirra, cospe, arrota, quando não vomita. Mas isso não desresponsabiliza os cidadãos brasileiros, angolanos, moçambicanos e todas outras nacionalidades envolvidas nesse processo histórico de colonização e as suas ganâncias e oportunismos. Veja-se o caso da Isabel dos Santos, filha do camarada (???) ex presidente angolano José Eduardo dos Santos. É a mulher mais rica de Portugal, isso também não deve ser o mais dificil, e mais rica do continente africano!!! Ok... Voltemos ao beijo da serpente Portugal, Brasil.
O repórter Carlos Fino na sua tese de doutorado/ doutoramento sobre o estranhamento entre lusos e tropicais, entre portugueses do hemisfério norte e descendentes de portugueses e europeus do hemisfério sul tem toda a razão: os que ficaram são parte desse projeto colonialista e que em muitos casos o perpeturam até aos dias de hoje. Que @ cidadã brasileir@ tende a ter uma relação de amor/ ódio com Portugal fruto do que se aprende na escola e da narrativa da mídia. Eh pá!... Eu levei tempo a entender isso e ainda estou a entender. Por um lado é surpreendente e até irritante que um brasileiro branco com essas origens ancestrais venha dizer: " Vocês portugueses vieram- NOS colonizar." Bom, primeiro eu não vim colonizar ninguém, nem conheço alguém da minha linhagem que o tenha feito, se o fez não há memória ou registro disponivel. Segundo, esse deslocamento distorcido dum sujeito histórico revela aqui duas coisas: que sente vergonha da sua anscestralidade ( talvez seja compreensivel, caso a coisa tenha sido prosperamente feia, Tipo, é bisneto ou neto dum fazendeiro, dum empresário corrupto. Enfim, cada um terá que meter a mão na consciência e na árvore geneológica) e que é mais fácil encontrar um bode expiatório mesmo que seja um cidadão comum português que estava num outro lado da vida, numa outra luta. Numa luta pela liberdade, pelo fim do fascismo e do colonialismo.
Já o Fino propor um feriado nacional no Brasil no dia 22 de Abril, penso que seria nesse dia, " Dia do Cabral". Oh my dog! Sem noção!!!! Que ondas de violência não aconteceriam neste país?!?!?! Se ainda fosse o " Dia da Reconciliação".... Não, espera. Soa a beatice, a coisa de padreco que faz a m.... e depois abençoa. " Dia do reparo histórico". Tá bem assim? Mas aí, também terá de haver um feriado no 15 de Março " Dia do fim da ditadura militar". Seria uma boa ideia! Já fazia liga! Primeiro a pessoa comemorava o Carnaval, descarregava as visceras, beijava quem tinha que beijar ( isto agora é algo mais lá para a frente) e depois começava ali umas 5 a 6 semanas de comemorações do dia 15 de Março até ao dia 22 de Abril. Assembleias populares, congressos onde se escutavam os movimentos indigenas e negros, das mulheres, dos trans, dos homosexuais. Um fórum como acontecia em Porto Alegre. Nessas comemorações haveriam espaços por todo o território onde escritores, ativistas, artistas periféricos, indigenas, negros apresentassem o seu trabalho e as suas reinvindicações. Nesse fórum estarima presentes portugueses e portuguesas, fossem diplomatas, politicos, como artistas, escritores, cidadãos de qualquer oficio. Bom, penso que seria um passo para o beijo doce. Quanto mim, a partir de agora, só quero beijos doces porque já tive a minha dose de cidadãos equivocados com ódiozinhos de estimação e que cobardemente descarregam numa mulher, no caso eu, mas poderia ser outra qualquer.
Eu sinto-me muito aliviada de estar no Brasil e não em Portugal. Sinceramente. O meu estômago ainda não está preparado para me cruzar na rua com turistas brasileiros de classe média alta a engolirem pasteis de Belém e a tirarem fotos no Mosteiro do Jerónimos e a exclamr o tempo todo: " Maravilhoso! Até parece Miami com todos estes yates junto à Torre de Belém!" Também não tenho estômago ainda para intelectuais brasileir@s que fazem lives para o Brasil falando que estão na Europa, em Portugal, e quando encontram um parceiro de profissão falam:" Oi cara! Temos que nos encontrar na França!" Aaaaargghhhhh essa ostentação deslumbrada eurocêntreico esquerda gourmet com un ranço de estimação escondinho pelo português e até uma certa dose de superioridade também me tiram do eixo. Vão onde quiserem que eu também já fui. Essa cagança, vaidadezeca cafonita dos diferenciados, é que é dispensável.
Em suma, nestas conversas todas diplomáticas e de estranhamento raramente eu encontro alguérm que aborde com profundidade e seriedaee a importância de escutar as dores e necessidades dos outros povos, os amerindios e afro descendentes e africanos. E olhem que são muitas. Ainda não passou.
A Piu
Br, 20/01/2022
Ilustrações do artista plástico português João Abel Manta. Montagem minha.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XXX


Menina dos olhos tristes/ O que tanto a faz chorar/ O soldadinho não volta/ Do outro lado do mar. (...) A lua que é viajante/ É que nos pode informar/ O soldadinho já volta/ Está quase mesmo a chegar./ Vem numa caixa de pinho/ Do outro lado do mar/ Desta vez o soldadinho/ Nunca mais se faz ao mar.
- Célebre canção portuguesa de intervenção com poema de Reinaldo Edgar de Azevefo e Silva Ferreira e composta por José Afonso -
Ontem o meu pai veio logo me avisar que a minha mãe não tinha somente o curso de datilografia, que poderia ser feito apenas com 4 anos de escolaridade. Ela tinha completado o ensino secundário. Coisa incomum para a época, principlamente para a classe mais baixa e para as mulheres. A dita professora que era Carmen, mas não era a Miranda, como fascistazinha que se prestava não incentivava os seus alunos a seguir os estudos, fossem meninas como meninos, sendo que uns iam no turno da manhã eos outros à tarde. Isto é, azulinhos para um lado e cor de rosinhas para outros. Onde é que eu já ouvi isto há pouco tempo? Além de não incentivar, não apoiar, ainda boicotar os alunos no exame de admissão do primário para o secundário. Há que lembrar que o analfabetismo em Portugal até 74 andava em torno dos 90%. Manter as pessoas na ignorância era um projeto politico.
Mas a minha avó, que tinha o quarto ano, mas que não pudera seguir os estudos para ser alfabetizadora como desejara era magana, muito mais sagaz e inteligente que essa Carmen. Mexeu-se pelos seus próprios meios para que as suas duas filhas dessem continuidade aos estudos. Há uma história lendária da minha avó e mãe com essa fascistazinha. Certa vez, foi enviado um problema de matemática para a minha mãe resolver. Ela resolvia, e voltava a resolver e dava sempre errado. Resultado: réguada atrás de réguada, Ela levava o problema para casa, a minha avó resovia com ela. Voltava à escola... Réguada atrás de réguada. A professora nunca resolvia o problema na frente da menina com a menina. A réguada era a mestra.A minha avó dizia que era impossivel dar outro resultado. Até que a Carmenzita percebe que as soluções, que só vem o resultado e não a equação toda, no final do livro estava errada!!! Onde é que eu também já assisti a isto, mas duma forma mais sofisticada em meio académico?
Para os mais precipitados que adoram tirar conclusões muito rápidas e orgulham-se muito da sua assertividade, este casal, que são os meus pais, SÃO MUITA RICOS, PÁ! BRANCOS PRIVILIGIADOS, CARA! Também já me indispus com essas precipitações pirralhas de quem se acha muito militante, ativista mas na tal da hora da escuta generosa acionam a sua meritocracia ganha, provalmente com muito esforço porque as suas origens são igualmente lá de baixo. Mas como eventualmente entraram na lógica da competição, num país como o Brasil em que o acesso à educação ainda não é para todos, como há cinco décadas atrás em Portugal, a coisa precipita-se num ataque verbal com base em desconhecimento de causa.
Este é um aerodromo (aeroporto pequeno) perto de casa. E era um dos passeios dominicais ou sabáticos! Ao sábado ou ao domigo, vá. A principal razão do meu pai não ser convocado para a guerra em África é que este fez o serviço militar obrigatório na Força Aérea. Além de ter o secundário completo, já era qualificado para outros postos de trabalho, não sendo somente carne para canhão, como uma grande maioria. Lembrar que os soldados eram tramsportados em navios de Portugal para Angola, Guiné, Moçambique não nas mesmas condições dos escravos mas com sentença de trauma, mutilação e morte rápida ou lenta. Muitos desertaram e uns tantos se oposeram a esta guerra. José Afonso, José Mário Branco só para dar um exemplo dos mais emblemáticos, mas muitos outros eram igualmente contra.
Então, care leitor brasileiro: Portugal, enquanto um todo, precisa de assumir todos estes últimos 500 anos com honestidade e ter consciência dos estragos que causou, mas a História não é linear e antes de arrotar postas de pescada sobre uma só versão como se fosse a única e colocar-se de fora pense bem qual o lugar que vossa excelência ocupa na perpetuação de privilégios, desigualdades, atrocidades fruto de resquicios escravocratas E observe bem se um parente, um irmão amigo (?) não tem comportamentos fascistazinhos. Avise-o, por favor, antes de querer chutar os outros. Não precisa de chutar o seu irmão, como não precisa de chutar ninguém. Há uns fascistazinhos que precisamos de manter muita distância, há outros que talvez só precisem de serem avisados da sua babaquice e freados. Porque tendem a zombar das mulheres e não só como do seu próprio irmão. Custa assumir? Acredito, mas tenho a certeza que é libertador para todas as partes.
E assim podemos-nos olhar nos olhos uns dos outros com leveza, rir junto de tudo, menos rir das mulheres, duma nacionalidade porque acha que são todos burros, duma pigmentação dérmica, da fé alheia, das orientações sexuais alheias, da pessoa ser muito gorda ou muita magra. Isso... bilhaque. Só vale rir com ética e de quem oprime porque se acha acima dos outros. Concluindo: dar muito espaço para o Amor e erradicar o ódiozinho de estimação.
A Piu
Br, 18/01/2022


 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

BIA, A MINHA MÃE - HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XXVIX


Maria Rosária, Bia, nasceu em Colos do Alentejo, concelho de Odemira, distrito de Beja a 17 de janeiro de 1947. Em 1949 migra com os seus pais e irmã mais nova para Abóboda, concelho de Cascais, distrito de Lisboa. Frequenta a escola pública durante os ano 50 tendo pesados confrontos, hoje considerado desobediência cívil, com a sua professora primária por não vender as flores do jardim da escola aos seus pais de origem humilde para arrecadação de fundos, sabe-se lá se para a escola se para a professora. Recusar-se a cuidar do jardim da escola para poder brincar no recreio quando os inspectores dessa época de regime fascista visitavam a escola, sendo que as crianças eram proibidas de brincar no recreio no resto dos dias. As represálias da professora era castigar e puxar as suas longas tranças, mas não ela não cedia.

Nos anos 60 faz o curso de datilografia e passa a trabalhar como funcionária pública nos CTT, Correios de Portugal. Como era comum, e ainda é, o salário de uma mulher era mais baixo que o do homem para a mesma função. Casou-se com o meu pai a 9 de Setembro de 1969. Ambos ascendaram à condição de pequeno burgueses, trabalhadores e contribuintes dos seus impostos. Já depois do 25 de Abril de 1974, revolução dos cravos para acabar com o fascismo e a guerra em África, ela dizia: " Para quê votar, se são eles que decidem por nós?". Faleceu a 11 de Janeiro de 1985 por negligência médica. Se fosse viva, agora estaria aposentada/ reformada e teria esse retorno da contribuições fiscais. Coisa que não acontece com a maioria dos artistas, como eu, que me mesmo pagando impostos e segurança social nos anos que vivi e trabalhei em Portugal a recibos verdes/ nota fiscal temos direito.

Este é um dos pontos nevrálgicos da questão! Não diria que a minha compreensão seja linear, lerda e lenta. Lenta até pode ser, mas é dialética. Primeiro vazio, depois estupefacção, de seguida interrogação, depois eventual revolta, irritação vá, depois meditação ( eu sei que esta deveria vir  em primeiro lugar!!! Estou a aprender), depois compreensão que existe uma narrativa oficial comum desde a pessoa que levanta a bandeira dos trabalhadores ou dos coxinhas, processamento de toda essa informação, depois estratégias para me apaziguar e decidir escrever uma série de textos para honrar as minhas raízes para chegar a quem é preciso chegar, pois eu não tenho queda para ser influenciadora digital para massas, há quem o faça muito melhor. 

Essa do sistema de segurança social em Portugal existir por conta do saque ao Brasil, assim como a Revolução Industrial (?!?!?!?) ter sido feito perlo mesmo saque SÃO DUAS MENTIRAS REDONDAS, CABELUDAS, IGNORANTES, INSULTUOSAS. Primeiro: nem a coroa portuguesa que saiu daqui há 200 anos investia no seu país, os saques era para uma oligarquia, onde já vai esse lucro depois de 200 anos?!?!?, tampouco o regime fascista investiu no país em prole dos trabalhadores, segundo não houve revolução industrial significativa em Portugal , o país sempre se manteve rural e miserável até 1974, terceiro as conquistas dos trabalhadores são sindicais, quarto uma artista, só para dar um ralo exemplo, em resposta ao meu pedido de ajuda para entrar no mercado de trabalho brasileiro, nem que sejam dicas, responde: " Porque você não volta para Portugal? Lá pode viver da ajuda do Estado." Esta resposta desconstroi a ideia que todos os brasileiros são acolhedores, revela uma ideia equivocada acerca da condição trabalhista dum artista em plena crise financeira e de desemprego e posterior a isso, assim como levanta a interrogação: " Que eleitorado dito de esquerda é este que além de desconhecer o lema o " povos do mundo inteiro uni-vos" não é solidário?"

Cada vez dou mais razão a essa frase da minha mãe que partiu tão cedo, acrecentando ainda:"  Para quê votar se não me informo, não me questiono, não me solidarizo, não desobedeço às narrativas oficiais promovidas pelo topo da pirâmideem que as pessoas engolem tudinhos e acham que estão super informadas só porque passaram por uma universidade e até votam a favor dos trabalhadores, mas na hora do vamos ver é cada um por si."

PARABÉNS, BIA! Onde estiveres que esteja em paz! Não vai ficar mais nada entalado na garganta. Se existirem outras vidas espero-te encontrar e voltar a colher lirios do campo, a fazer bolos e já agora ensinas-me a tricotar e a bordar que essa parte eu não sei. A tua neta Flor sabe tricotar, peço a ela. Foste tu que a ensinaste em sonho? Sei que me ensinaste muitas coisas, umas sem ser em sonho e outras sim.

A Piu

Br, 17/01/2021

domingo, 16 de janeiro de 2022

AVÔ MÁRIO - HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XXVIII

 


A 15 de Janeiro de 1913 nascia em Colos do Alentejo, concelho de Odemira, destrito de Beja o meu avô Mário, filho de trabalhadores braçais nesse imenso latifundio. Mário dso Santos frequentou os quatro anos do ensino primário, sabia ler e escrever e era trabalhador braçal, tanto no latifundio como mais tarde pedreiro na grande Lisboa. Casou-se com a minha avó Rosária a 21 de Março de 1946. Migrou para a zona rural da grande Lisboa com a esposa e duas filhas, uma delas minha mãe, em 1949. Faleceu em 1999. No mesmo ano de 1913,nascia Álvaro Cunhal em Coimbra filho de advogado e também advogado vindo a filiar-se no partido comunista português no final dos anos 20, passando rapidamente à clandestinidade, tendo estado preso em total isolamento na prisão de Lisboa, entre 1951 e 1959. Fugiu da mesma em 1960, tendo sido acolhido na ex URSS. 

Ao que consta o meu avô nunca esteve envolvido com politica ou pelo menos não se fala se ele sofreu alguma sequela das inúmeras greves dops camponeses que ocorriam no Alentejo. Se aconteceu ele não falou ou falou para muito poucos. Até 1974 a maioria das pessoas não tinha consciência de classe e se tinham sofriam o medo das garras da dotadura, que perseguia, torturava e matava. AS PESSOAS NÃO PODIAM FALAR, ERAM DENUNCIADAS POR MUITO POUCO. Vivia-se um clima de desconfiança, durante 48 anos. 

Na prisão, o Álvaro Cunhal produziu muitos desenhos e pinturas como esta que é dele. Homem carismático que no meu entender não olhava a meios para atingir os fins em prole do partido. Sinceramente nunca tive o chamado de me juntar às massas do grande comicio de domingo à tarde, no último dia da festa do Avante. Aproveitava para visitar a Bienal de Artes Plásticas ou de ficar na livraria entre livros e cds nos idos anos 80. Comecei a ir todos os anos a essa festa organizada pelo partido comunista desde os 11 anos. Muitao teatro, música, jazz, rock. música popular portuguesa e brasileira ( o chico Buarque atuou nesses palcos), arte, comidas tradicionais dos países da ex URSS. Muita propaganda politica desse bloco que dourava a pilula, isto até 1989. Não consigo digerir como alguém que esteve diante do Staline na Rússia continuasse a defender de unhas e dentes um comunismo stalinista que a História prova todos os crimes cometidos, tão ou mais nefasto que os de Hitler. Uma causa pelos direitos dos trabalhadores e sua dignidade que rapidamente se degenerou.Melhor!  Na raíz já começava assim. Veja-se o que aconteceu ao Lenine e a muitos pensadores, artistas, camponeses que foram aniquilados. Eu não subscrevo. E surpreendo-me como ainda hoje alguém possa defender um regime assim. Das duas uma: ou não quer enxergar, ouvir ou é psicopata. Falando cruamente.

A minha avó sempre dizia que ela tinha sorte, pois o seu marido nunca  lhe bateu. Ao inicio eu não entendia a dimensão dessa fala. Depois fui percebendo que a sua condição era uma excepção, nomeadamente entre as suas irmãs. Uma delas, a tia Clementina.... Não aguentou ser maltratada. Sofreu as consequências. E hoje, dia 16 de Janeiro. Entre o aniversário de 119 anos do meu avô e o aniversário da minha mãe que seria amanhã. nascida em 1947 é para honrar tudo o que aconteceu dentro dessas origens humildes onde as pessoas foram-se erguendo à custa do seu trabalho sem negar de onde vieram e em que condições nasceram, cresceram e ainda tiveram a oportunidade de assistir e viver à queda do do fascismo em 1974. Vou escrevendo assim para que a memória não se apague e eu internamente me organize quando vierem com papos furados que todos os portugueses são do piorio. Uns são COM CERTEZA, principalmete quando defendem a volta do fascismo, são saudosistas com o Império perdido e não se dignam não só a olhar para os cidadãos de povos que foram escravizados com olhos e abraço solidário de seres humanos que dignifica a vida e a celebra com os seus desafios de sobrevivência e existência. Pronto, esta é uma das estratégias que encontrei para não me passar, saltar tampa, quando brasileiros, moçambicanos, angolanos, o que for usarem dum argumento, muitas vezes mentiroso, para insultar pessoas de nacionalidade portuguesa só porque sim,porque foi isso que aprenderam na escola, tanto na época da ditadura como agora. Raros são os que conhecem as lutas de resistência anti fascista  e anti colonilaista portuguesa . Acredito que o Chico, como o Milton, o Ivan Lins, o Zeca Baleiro ( falando só dos pop star) conheçam porque muitas parcerias foram feitas com o músico Sérgio Godinho. Escutar e enxergar sem reproduzir lugares comuns é REVOLUCIONÁRIO.

A Piu

Br, 16/01/2022

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

HANNUSKA- HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XXVII


 Naquela época eu ainda estava desavisada duma série de coisas que eu achava que estava avisada e que mesmo assim nós já tinhamos dado um grande passo em frente na emanciapaçaõ da mulher. Aos 16 anos já conhecia de trás para a frente a revista " Mulheres" na ida década de 80 ( quando ainda aqui no Brasil se vivia oficilamente a ditadura miltiar) que se não estou em erro pertencia ao MDM ( movimento democrático das mulheres) que é a organização das mulheres do partido comunista português. Sinceramente nunca fiz tensão de me filiar em nenhum partido, como tal essas revistas chegavam através da minha tia.  Hoje ainda me pergunto até onde a sua geração ( agora na casa dos 70) se emancipou. Eu não bato pala a ideologias, mas aquelas revistas  foram um marco nos meus 15/16 anos.

Para mim viver em liberdade, sem censura, perseguição, prisões e outras atrocidades era adquirido, inquestionável. As mães adolescentes já faziam parte dum passado recente, assim como a violência contra a mulher. As mulheres agora podiam estudar, trabalhar, viajar sozinhas, decidir se ficariam juntas ou  a solo, se seriam mães ou não. O casamento no meu circuito de pessoas não era mais O OBJETIVO. Anita ingénua....

Depois veio a vida com as suas lições irónicas, onde o que faz parte da nossa vida privada e intima dialoga (in)diretamente com (in)consciente coletivo.

Novembro de1999, na divisa entre Espanha e Portugal a policia/ o policial (ai ai essa discussão da lingua.... enfim) manda o carro parar. Estou eu e o meu companheiro, mais tarde pai da minha filha:" Manaus? Amazonas? Você é de lá? Mas vivem lá gente?" Olhem o que está por de trás deste espanto!!! Muita coisa mesmo! Das duas duas: ou o fulano acha que tudo é floresta e ninguém (civilizado) mora na floresta e que quem mora não é gente ou acha que todos os povos da floresta já foram desta para melhor com a chegada dos colonos. Não sei o que o gajo pensou, mas infelizmente há pessaos que aparentemente não são tão brutas e teem o mesmo tipo de surpresa. 

Em relação a esse companheiro.... Volvidos 22 anos sei que ele, além de machista, é transtornado. E eu que pensava que nunca viveria uma relação abusiva! Eu que tinha lido todas as revistas " Mulheres"!!!!:P  Sinto muito por ele e pelo mesmo ter tecido a sua própria armadilha junto da justiça judicial. Respiro de alivio por desta vez não ter sido nada em relação com a violência contra as mulheres. Para não se vingar, vá.... Mas está preso ao seu destino. Porém, eu desejo profundamente que ele tenha a oportunidade de encontrar curandeiros do seu povo, que volte à floresta dos seus ancestrais,  e que se cure com as plantas de cura. Apesar de tudo, este é o meu desejo mais profundo para a sua alma hoje ainda ou tão aprisionada e desnorteada. 

Outubro de 2012, Brasil. Faço-me acompanhar por um compatriota. Não namorava um português há muitos, mas muitos anos! Já nem me lembrava como era. Ihihih Vão pensar que sou namoradeira. Não sou. Mas pensem o que quiserem. Desde que não me invadam e vasculhem as contas das redes sociais, como um sujeito que ainda o estou para encontrar frente a frente fez, durante anos. Ele não quer  ser encarado e faz tudo ou quase tudo para que o seu irmão também não se cruze comigo. Tudo virtualmente. Um dia até postou aquela imagem da Yoko Ono e do Lennon WAR IS OVER.  Como o irmão estava com uma mocinha, lá longeem Portugal,  ele achou que eu já não me jogaria para cima do irmão e o desmascarasse. Ihihih E assim se fazem os roteiros da Globo. Também desejo que esse também abra a mão de ser playboyzinho suburbano branquela cheio da tese e se cure dele mesmo e deixe de se armar em esperto, sabichão, com as mulheres e com o seu prório irmão. 

Mas vamos a esse ex namorado português da minha idade. Eu achava que já não existiam sujeitos da nossa idade, hoje na casa dos 40 e até 50 que ainda tivessem um pensamento e atitude colonialista, logo arrogante, em relação ao Brasil e a Angola, que foi os paíse que o receberam na década de 2010. Eu fiquei abismada, até aflita, com a sua postura racista em relação aos angolanos, xenofobia com os brasileiros e achando que já não existiam mais indigenas. ONDE FUI AMARRAR O MEU BODE?!?! Abismada por uma pessoa ter crescido num Portugal sem colónias ser colonialista!.... Aflita porque não quero ser confundida com esse perfil de pessoa, seja portuguesa ou não. Seja feliz, realiza-se, não me tente é convencer que o Brasil é uma grande M... da para se viver e interagir. Por essas e outras os ranços luso tropicais estão aí. Eu estou fora disso, por isso conto a minha, a nossa história. A do lado B da História, dos que não compactuam com narrativas arrogantes, logo repeltas de violências simbólicas. E o machismo, assim como o racismo querides leitores, é um tumor que urge ser retirado dentro de nós. Cada um terá de fazer a sua parte.

A Piu

Br, 13/01/2022


quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

PAÍSES IRMÃOS (?) - HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XXVI






O narcisismo das pequenas diferenças é um conceito criado por Freud em 1918 em que se sinaliza que a existência das pequenas diferenças entre povos,que em algum aspecto são iguais e que se tornam a base da estranheza e hostilidade entre si ao ponto de tomar proporções de antipatias, rixa se até guerras. 

Essa dos países irmãos sempre foi uma pulga atrás da orelha. " Ai os nuestros hermanos espanhois", " Ai o Brasil e Portugal ou Portugal e o Brasil são países irmãos." Por acaso nunca ouvi isso em relação a Cabo Verde, S, Tomé e Principe... Talvez alguém já tinha dito isso. Eu nunca ouvi. Procuro no google sobre Angola, país de petróleo, diamantes que do imperialismo português passou vários anos em guerra civil com as duas potências da guerra fria. ... " Ai Angola é um país irmãos mas tudo está `flor da pele." Porque será? 

Também começo a duvidar sobre essa questão de se ser irmão. Existem irmãos que carecem de irmandade. Até podem aparentar ser muito amigos e cumplices mas sacaneiam-se na frente e muitas vezes pelas costas. Por essa ordem de ideias nós somos todos irmãos, porque somod parte da Humanidade. Porém, algumas vezes ficamos no nível 1 ou menos 1, quando somos egoistas, ao invés de partilhar guardamos só para nós, só pensamos no nosso prazer e a outra pessoa que se lixe, ficamos cegos com a maratona do prestigio, do sucesso, do poder, de vencer sobre os outros, da aquisição de bens que ao limite são fruto de exploração e saque. Quem não conhece essa história? Colocarmos-nos nela e olharmos com olhos de ver, escutar todas as partes e saber qual a nossa responsabilidade, o que nos pertence ou não é um caminho.

Tenho sérias dúvidas se Portugale e Brasil são assim tão países irmãos com irmandade. A tese de doutoramente/doutorado publicada como livro do português Carlos Fino " Portugal- Brasil: raízes do estranhamento" deve ser interessante de ler, Ainda não li, mas abaixo está uma entrevista com o  autor e a resposta dos académicos brasileiros. O Fino tem razão quando diz que Portugal conhece muito mais do Brasil que o Brasil de Portugal. A cultura norte americana e o seu estilo de vida para muitso brasileiros é o exemplo a seguir. Nem dá para comparar  momenteo algum Portugal com os EUA. Eu pessoalmente desconfio de quem afirma que os EUA são um modelo de sociedade. Fico bastante apreensiva. Ninguém é perfeito.... Não é que Portugal seja. Existem modelos de sociedade? Existem, os países escandinavos,mas tendem a se tornar condominios fechados.  

Sim, há um ranço, um escárnio, um desdém de parte a parte consciente ou inconcientemente. O Fino diz que o brasileiro pode perder um amigo, mas não perde a oportunidade duma piada: seja sobre a burrice dos portugueses ou do seu sotaque. Eh pá.... Quem nunca passou por isso? Eu já passei VÁRIAS VEZES e com pessoas que faço questão de ser amiga ou em ambientes de trabalho. " Ah não liguem é portuguesa!", no exato momento que eu contrapunha uma ideia que nada tinha a ver com essa ponte luso tropical, era uma aula de pedagogia!!!

Eu também não concordo com a ideia do Fino em haver um feriado nacional no Brasil para sinalizar a chegada dos portugueses. Propor o dia de Cabral, como há o dia de Colombo nos EUA e alguns países hispânicos, é de muito mau gosto, porque colonialista e racista. Aí o Carlitos derrapou. O Carlos Fino é um português que lutou contra a ditadura fascista portuguesa, mas como ele próprio diz existem narrativas enraizadas fruto de propagandas politicas. O Salazar batia no peito e fazia  os outros bater, se não eram perseguidos, torturados e morto,s que " ANGOLA É NOSSA!" e o Getúlio Vargas também adotou uma politica de rechaçar os migrantes portugueses da época. 

Bom... Vamos ao que mais me salta à vista é que neste debate teórico e prático entre portugueses e brasileiros, na sua grande maioria são brancos se não todos, com sobrenomes portugueses. O Fino fala dos indigenas e dos negros como algo do passado...Embora existam, ÓBVIO, pensadores, ativistas, artistas indigenas e negros. Mas na verdade neste debate, como em muitos outros, tenho a sensação que ninguém lhes pergunta nada.... Lá está! O narcisismo das pequenas diferenças, onde Portugal precisa de assumir com honestidade os danos causados pelo colonalismo ( o que ainda não é muito comum) e a igual honestidade do Brasil em assumir que esse projeto de privilégios numa estrutura social desigual,  de exploração, desmatamento, genecidio  continua em curso até há um minuto atrás. 


A Piu

Br, 12/01/2022








FONTES:


Brasil rejeita herança portuguesa, diz autor de livro sobre relação dos países

https://www.pressreader.com/brazil/folha-de-s-paulo/20220101/281672553281024

Acadêmicos rechaçam tese de lusofobia entre brasileiros

https://br.financas.yahoo.com/noticias/acad%C3%AAmicos-recha%C3%A7am-tese-lusofobia-entre-133100807.html

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

A BANDA DOS EH PÁS - HONRANDO AS MINHAS RAÍZES - XXVI

 

Naquele Verão de 76, pá, formamos aquela banda, pá. Foi uma banda dum momento só para mais tarde recordar,pá. Da esquerda para a direita está a Bia, a 'nha mãe, que no dia de hoje mas no ano de 1985 (por azar) partiu para um outro plano na sequencia do coração não ter resistido a uma anestesia geral. Lição nº 1: anestesiaramos-nos ou deixarmos-nos anestesiar seja lá do que for é muito sério. Como ela sempre dizia que iria morrer nova temos a lição nº 2 que aprendi com o querido Káká Werá, escritor e palestrante indigena Tupi Guarani: cuidado com o que falamos acerca de nós. Usar ó 'eu' é igualmente muito sério.
De seguida temos o João, mê pai, o de polo vermelho. Ainda está aí para as curvas mas com um pouco de mais barriguinha. Lição º 3: quem tem mãe tem tudo, quem tem pai que é avô também tem. O João teve a sorte de não ser convocado para a guerra em África que durou entre 62/74. Lição nº 4: agradecer esse tipo de sorte é muito importante. Segue-se o Pedrito, o mê bro, que esse aí tem cá umas sortes! Nasceu no dia da poupança, na noite do dia das bruxas, do Helloween. Durante a infância ele recebia 1.000$00 do Estado português numa conta poupança, acho que mensalmente. E esta, hein? Lição nº 5: divide aí com o resto da banda ou já gastaste tudo? Depois vem o Ti Zé, o motoqueiro, com o cabelinho à Genesis Band. Também teve a sorte de não ser convocado para a guerra, porque entretanto esta acabou no exato momento que ele poderia ser convocado. GRANDA SORTE. Das duas, várias: ou ía e não voltava, ou ía e voltava traumatizado ou desertava como muitos e tantos e só poderia voltar quando tudo acabasse como acabou com a dita revolução dos cravos. Lição nº 6: nunca esquecer essa revolução que pôs fim a um fascismo de 48 anos, a uma guerra em África de 12 anos e um colonialismo de 500 anos. Quanto à democracia, esta exercita-se com avanços e retrocessos e novamente avanços. De seguida vem a Paula uma prima jovem que teve a sorte de viver a transição do fascismo para a democracia. Como todas as mulheres que já estavam na área e as que viriam a seguir. Uma democracia é muito importante para a condição da mulher e seus direitos, mesmo que ainda não sejam todos alcançados. Nomeadamente salários iguais e divisão de responsabilidades na maternidade, por exemplo.
De seguida temos a meninada! A minha prima Silvia, a de blusa amarela, que provavelmente foi das primeiras mulheres da nossa familia a ter um curso superior, no caso em biologia. Ao lado está uma vizinha que eu não tenho memória logo não vou falar de quem não conheço, assim como a menina de vestido branco junto ao meu pai. E finalmente venho eu com as clássicas botas ortopédicas e dedinhos em V. Para todos os efeitos viviamos momentos Vitoriosos pós fascismo que sempre anda aí à espreita na esquina mais próxima. Por isso é sempre bom recordar quem nós somos para não nos colocarem em qualquer lugar, nomeadamente de bodes expiatórios.Ser portuguesa e português significa também Humanidade e sentido de união, solidariedade e todas essas coisas que nutrem a alma. Depois há os portugueses merreca como há os franceses. os holandeses, os brasileiros, os angolanos, os suecos, etc, etc. Eh pá, gente boa e gente merreca há em todos os cantos do mundo. Quem não sabe disso é playboyziho e playgirlzinha suburbana, nham nham nham. Quem diz é quem é! Lava a cara com chulé.
Lição final: viver é uma grande lição, porque afinal não viemos só aqui a passeio, pá. E é uma grande sorte estarmos viv@s com todos os desafios ca vida nos oferece,pá!
A Piu
Br, 11/01/2022