segunda-feira, 30 de setembro de 2013

PULGUINHAS DO MEU CORAÇÃO OU SE PORTAM BEM OU ATIRO-VOS AO CHÃO!

Algures alguém escreve: "O amor e uma aceitação completa. Se amas o cachorro e não amas também suas pulgas, não o amas! " Rapidamente viajo até aos meus 7 anos, daquela vez que uma carraça/ um carrapto se instalou nas minhas costas depois de grandes abraços de carinho ao meu amigo do peito, o Farrusco, um cão de rua que eu adoráva. Pergunto a esse alguém que escreveu algures que temos que amar as pulgas, se as carraças também estão contempladas. A febre da carraça pode causar morte..  Será que foi a primeira vez que quase morri de amor?  Dar umas pedalas de bike, dar um mergulho no mar para deixar as mortes de amor se diluirem no ar. Escutar música também é fixe. Beber uma jolinha ou temos um vinhito e cantar em frente ao espelho:
"So messed up i want you here
In my room i want you here
Now we're gonna be face-to-face
And i'll lay right down in my favorite place
 
 
And now i wanna be your dog
Now i wanna be your dog
Now i wanna be your dog
Well c'mon"
 
Eu quero ser o teu cão? Essa tá boa! Realmente não sei lá muito bem o que é ser cão de alguém... Espero que não seja uma coisa opressiva. O Caetano Veloso canta: 
 
 Eu quero essa mulher assim mesmo
Alucinada
Eu quero essa mulher assim mesmo
Despenteada
Eu quero essa mulher assim mesmo
Descabelada
Eu quero essa mulher assim mesmo
Embriagada
Eu quero essa mulher assim mesmo
Intoxicada
Eu quero essa mulher assim mesmo
Desafinada
Eu quero essa mulher assim mesmo
Desentoada

Ele há quereres para tudo. Ainda bem! Desde que o pessoal não se atrofie um ao outro. Como a mãe Coragem do Brecht diz:" Suportar um imperador e um papa é sinal de uma coragem tremenda, e isso custa a própria vida deles!"  É também fixe bacana quando o Criolo canta:  "Não precisa sofrer para saber o que é melhor pra você." Pois boa  questão. Estou contigo Criolo e esta coisa de passarmos a vida inteira a angariar pulgas para nos coçarmos chiça!!!.... Ok! Podemos domesticar o carrapato que há em nós, ms poupemos o próximo.  Sugá-lo até ao tutano também não é justo! Estilo: "Olha! Isto é assim! Existem uma imensidão de pulgas e carrapatos em mim que vais ter de aturar!" Camaradas e amigxs!... Criar expectativas em relação ao outro é muito chato (se é chato coça, se coça faz ferida eheheh) pois incute-se uma responsabilidade no outro sem precedentes! Mas sempre dá para cuidar da nossa pulgaria e carrapataria o melhor que podermos. Sim, por que o pulguedo e a carraçaria sempre hão-de de rolar por aí. E sempre dá para ensinar uns números de circo às nossas pulgiunhas para que não nos moam muito a cabeça, o querer e o sentimento.



 
 
 











 

OBSERVANCIAS ELUCIDATIVAS PARA QUESTÕES INCONCLUSIVAS

- Então, o seu trabalho está carregado de uma abordagem militante que esvazia o conteúdo  de objetividade num enquadramento positivismo relativo e relacional com as partes constituintes de um todo.
- Uma abordagem militante?
- Pronto! Politica!
- Diz, então, que o meu trabalho é panfletário?
- Panfletário não, mas a sua visão tem um teor politizado.
- Mas como não ter se a vida real tem tensões, conflitos, negociações?
- Olhe! O que lhe sugiro é que trabalhe o conceito primeiro que falámos anteriormente.
- Fala do individuo alternativo inserido no mainstream?
- Não faça confusão! Vê como lhe digo uma coisa e a sua tendência é ser tendencioso? O contrário! Trabalhe o conceito de mainstream alternativo! Liberte-se dos velhos padrões paradigmáticos e lance-se na práxis epistomológica da desconstrução da lógica vigente. Onorize a sua reflexão para que a objetividade não se esbata. Compreende?
- Perfeitamente...

A piU
Br, 30.09.2013
◦ Anorexia ◦
artist: Santiago Alvarez

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

JÁ NÃO HÁ MAIS MULHERES COMO ANTIGAMENTE!!

Alice chatice diz que não quer programas de pantufa. Diz que sofre de claustrofobia familioide. Diz que não quer  ficar em casa com olhinhos de carneiro mal morto à espera daquele gesto de alargar a gravatinha, mais o beijinho com sabor a reunião justificativa. Dá-lhe achaques e fornicoques. "Que chatice!" diz Alice quando a querem pôr num chinelo a par com uma refeição de micro ondas à luz de velas verde flurescente!

Carlota que não sufoca tem a casa de pantanas! Diz que quando a casa está de pantanas significa que está a produzir! A escrever, ler, crescer.  Carolina deita-se no meio do seu aparente caos e sente-se realizada. Carlota diz que o que a sufoca são os ins e uns ons. Não liga ao bons tons e inventa mil sons.

a piu
Br, 27.09.2013


Enki Bilal

ATÉ LEVANTAR VOO


"No rigor do inverno e no esplendor da primavera norueguesa entre brisas e turbilhões de paixão, orgulho, ciúme, animosidade e indefrença até à separação final.
Isso acontece não só com os indíviduos mas também com os grupos de teatro. O principal motivo das suas crises e da dissolução que as segue é o tédio. Por trás dessa palavra se escondem situações muito diferentes entre si.
O tédio vai se infiltrando clandestinamente porque o ator não é mais estimulado pelo diretor ou porque este não é mais estimulado pelos atores. O tédio aflora de uma atividade artística que virou rotina. Os desafios já são conhecidos e, geralmente, surgem sempre nas mesmas condições de precariedade material.
O tédio pode ser sexual: o interesse pelo próprio parceiro vai desaparecendo e uma atração imprevista joga você nos braços de um colega. "

Barba, Eugenio "Queimar a casa, origens de um diretor", São Paulo: Perspectiva, 2010.

A mulher avança segura da sua vulnerabilidade
Avança sabendo dentro de si que a perfeição é uma ideia imperfeita
Avança fazendo da sua vulnerabilidade uma força
Recua quando a insegurança não lhe oferece confiança suficiente para arriscar
Avança e recua
Arrisca e não se arrepende de cada trambolhão que dá
O seu cavalo é selvagem
Selvagem cavalo que procura correr cadenciadamente com semelhantes nas diferenças
Avança e recua na esperança de alcançar um H maisculo
H de Humanismo, Honestidade, Humildade e (H)entrega
Heta Heta! Cavalo louco não faças a mulher cair só porque sim!!
A mulher avança e recua procurando estimulos maiores e leves até que levante voo.

a piu
Br, 27.09.2013




quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A MEDALHINHA QUE HÁ EM MIM

As meninas Vivian com moinhos de vento, Paula Rego

Ontem às 22.38 do horário de Brasilia recebia do meu querido pai uma latita para colocar lápis, pinceis, pen drives e afins. "Só recebes a latita se souberes quem é a pintura da tampa da lata!" "Paula Rego, páááá! Nem dás luta!" Dentro da latita vem daqueles kits viagem de avião. Uma daquelas máscaras para os olhos dormirem e uma toalhinha. Bom acho que vou usar essa tapadeira de olhos durante o dia para ver se apuro um pouco os outros sentidos. A toalhinha será para limpar as esfoladelas e suores prováveis de supostos acidentes.

Às 22.38 já eram 2.38 na minha terra natal. Pois é, não me esqueço das minhas raízes dando um chute bem forte nos patriotismos caducos que só separam pessoas.

Tenho uma medalhinha que comprei a um artesão em Buenos Aires. O nosso mundo é feito de medalhinhas. Não é mesmo? A cada instante somos medalhados, tresmalhados, condecorados, descorados, classificados, descalcificados.  A minha medalhinha não é mais nem menos que um garfo com três dentes e sem cabo, com dois olhinhos e um sorriso simpático. Um olho de cada cor. Um cor de sol e outro cor de folha de árvore reluzente sobre esse sol. Trago a medalhinha portenha num fio a que chamo colar. É a minha cara, a medalhinha. Não se trata de uma colher e sim de um garfo. Uma cara com cabelo em pé, um olho de cada cor e um sorriso.  Um garfo que espeta para acolher que olha  ou que tenta olhar de diferentes perspectivas, que sorri e que tudo faz por sorrir. Muitas vezes o sorriso não se expressa no rosto mas é expressamente necessário olhar a vida com um sorriso. Nem sempre acontece! Mas faz-se por isso. Não se pode ser tudo nem ter tudo. E o que é ter tudo? Será que quem tem tudo não dá o devido valor a cada conquista, a cada gesto? Por vezes andamos distraidos. Pois é."Quem tem mãe tem tudo, quem não tem mãe não tem nada.", diz o porvérbio. Bom, eu não tenho tudo então. A minha mãe já foi há um bom tempo atrás, tinha eu 11 anos. Nesta altura do texto já uns peitos se apertam e umas lagrimitas acenam. Porém nunca quiz que tivessem pena de mim. Por vezes omitia tal informação emocional. Defesas. Sinto a falta dela. Claro que sinto! Mas tenho um pai! Veio-nos visitar e ajudar-me um pouco. É bom. Também queria que a minha mãe que me deu à luz estivesse aqui, mas nem sempre é possivel ter tudo o que desejamos.

Será que entrei na ternura dos quarenta?! Que pirosada!!!! Que bregada!!!! Ternura dos quarenta! tzzzzzzzA ternura é sempre que nós queremos. Aiiiii outra pirosadaaaaaa!!! brrrrrrrr Daqui a pouco estou a falar da crise dos quarenta. Nãããã! Cansei de crises. Crises existenciais, crises de valores, crises financeiras. A bem dizer ando aqui numa viragem existencial. Balanços. Não fora eu do signo balança/ libra. De vez em quando a coisa balança, peso daqui, peso de acolá, mas sempre procurando o equilibrio. De vez em quando sinto-me como um moinho de vento. Ar. Ar. Mas não somos vento? Sentimento? Energia e movimento? A ver se a minha medalhinha feita de garfo com dois olhinhos e um sorriso trará sorte, harmonia, tranquilidade. Sorte? Pois é! Sorte! Será que a sorte existe ou somos nós que a atraimos?

Medalhinha, medalhinha do meu coração se eu vacilar muito nesta vida dá-me um abanão.


pipiripipiu
Br, 26.09.2013

A MENINA QUE TRAZIA TRÊS ROSAS NO PEITO

Três rosas no peito a menina trazia. Uma vermelha e duas brancas. Ao inicio eram meros botões que cresceram junto com o peito. Um peito pleno de rosas. A menina foi crescendo. As rosas agora eram maiores e já não cabiam no peito. As três transbordavam. A vermelha caiu. A menina sentiu um enorme vazio dentro de si. Abraçou-se com tanta força que as outras rosas se desfizeram em pétalas. Um longo tempo a menina ficou abraçada a si como um caracol dentro da sua casquinha redonda. Uma brisa leve bateu em si A brisa transformou-se em vento. A menina abriu os braços e o peito. De olhos fechados e cabeça para trás, a menina sentiu o vento bater, refrescando, ordenando, desordenando as mais profundas dores e amores também.
As pétalas sairam voando, umas machucadas, outras intactas e vistosas.  A menina assombrada viu as pétalas esvaziarem o seu peito. Depois  manteve-se de olhos ora abertos, ora fechados deixando que o vento preenchesse os espaços vazios. Sentiu-se a limpar por dentro. Deitando-se no chão entregou o peso do seu corpo ao chão. Sentiu o calor de terra assim como o frio do ar. Aconchegou-se. As pétalas brancas foram cobrindo o seu corpo. Abriu os olhos e viu uma rosa vermelha em botão sair da terra que estava ora gretada, ora macia. Maciez. Sentiu maciez. Desejava sentir maciez. Sorriu.

piu
Br, 26.09.1973

Dedicado a Carmen Kohan e Denise Valarini




sexta-feira, 13 de setembro de 2013

NA ERA DO BISCATE

Estamos na era do biscate. Bisca daqui. Bisca dali! A biscate way of life! That's it; Aliás that's hit. O hit parade, a parada é não ser efectivo é ser biscate! Trabalhar por tuta e meia! Dar o couro e o cabelo e agardecer muito por ter conseguido aquele biscate. Minto injustamente! Em terras tropicais ainda há contratos vitalicios! Ora bem! Ora pois! Não é para todos! Um contrato e ainda por cima efectivo! Efectivamente estou surpresa!  Mas terei de me chegar mais de perto para entender que contornos tem essa efectividade. Como tal, vou-me silenciar em relação a esse assunto. Quanto à era do biscate!... E pá! Tá aí! Há que aproveitar! Um biscate, seja ele de que teor for, dá-nos a liberdade de dizer:" Ai não quero mais! Já não me serve! Vou partir para outra, porque a minha liberdade concede-me este não sei o quê de descompromisso, de "eu sou livre e tu és livre". É assim mesmo! Aproveitar hoje que amanhã não sabemos se por cá andamos! Somos free lacers. Tem estilo ser free lancer. Alguém perguntar:"O que és? Qual o teu prato preferido?" e a pessoa responde: "Sou free. Free Lancer. Não me comprometo com ninguém e ninguém se compromete comigo! Livres que nem pássaros de latex com asas de aluminio inoxidável! Sorrimos, passamos de raspão pela vida porque nos entregarmos a uma causa é demodé, entregarmos-nos a alguém? Nem pensar!! O melhor é conjecturar supostas suposições justificantes argumentativas para que continuemos na era do biscate. Porque a era do biscate dá-nos imensas hipóteses de escolha, a principal é a de esquecermos quem somos, para onde queremos ir.

biscate: trabalho temporário, pessoa temporária, algo temporário e descartável que pode ou não causar pele de galinha, consoante as sensibilidades

A piU
Br, 13.09.2013


REFUGIADOS


O que faz ir. O que faz ficar. O que faz partir e não regressar. O que faz recomeçar. Recomeçar uma vez e mais outra. O que faz respirar. O que nos move. O que nos desvia. O receio de uma vez mais levar um empurrão e mais outro empurrão que nos fragiliza e fortalece, que nos faz levantar lenta e vigorosamente. O que faz continuar. Um desejo de porto de abrigo. Um desejo de porto de abrigo onde as dores, as perdas se transformem em gestos simples de acolhimento. O que faz partir. Não sentir acolhimento. O que faz continuar. Fazer de nós mesmos portos de abrigo. O que faz fugir. O receio de novamente sofrer, o receio do não acolhimento. O que faz regressar. A esperança de uma leveza. De um calor. O que faz viver. Saber que existe um porto de abrigo.

a piu
br, 13.09.2013

SEXTA FEIRA 13 ou ONTEM UMA VACA PRETA ATRAVESSOU-SE NA FRENTE DO CARRO

Vou fingir que sou forte, que aguento tudo
Vou fingir que sei fingir e que é muita bom fingir que se finge
Vou fingir que nada me incomoda, que nada me causa transtorno
Vou fingir que nunca tive nem tenho medo
Vou fingir que nunca boicotei os meus mais intimos desejos
Vou fingir que está tudo bem, está tudo sempre bem
Que não trabalhei até ao final da gravidez, que fui para casa dois meses sem licença de vencimento
E que não faz mal
Vou fingir que nunca fui explorada
Vou fingir que não estou cansada de ser precária
Vou fingir que nunca paguei a conta de ser mulher e de fazer as minhas escolhas
Vou fingir que somos todos sempre em qualquer cuircunstância solidários
Vou fingir-me distraida
Vou fingir que não sei que incomodo ninguém por falar, por meter o dedo na ferida
Vou fingir que a vaidade é uma virtude
Vou fingir que me borrifo para a erudição, para me rir de seguida daqueles que só usam a erudição para ostentação e não para partilhar e transformar este louco mundo
Vou fingir que adoro leviandade
Vou fingir que a nossa infantilice é super engraçada (alguma é. Outra....)
Que adoro que nos tratemos uns aos outros como caixinhas de izopor para jogar fora no segundo seguinte
Vou fingir que as garagalhadas socias estridentes são verdadeiras, genuinas
Vou fingir que esta sociedade de consumo e de suposto conforto é ÓTIMA
Vou fingir que não somos uns meninos mimados, bebés chorões sem eira nem beira
Vou fingir que não vale a pena estarmos juntos
Vou fingir que me valho sózinha
Vou fingir que os humanistas são realmente humanistas
Vou fingir que os grandes discursos bastam
Vou fingir que aquela paixão camuflada por algo ou alguém é suficiente
Vou fingir que não faz mal nos desprezarmos
Vou até fingir que trairmos a confiança uns dos outros é que é o correto
Vou fingir ser amarga, porque sei muito intimimaente que quero manter a minha doçura
Vou me fingir mal humorada para que no instante seguinte solteuma ruidosa gargalhada
Vou fingir que não me perdoo nem perdoo, porque assim no seguinte instante poderei surpreender com um abraço caloroso
Vou fingir que os abraços calorosos não são precisos
Vou fingir que a precariedade não rouba tranquilidade para se cuidar e amar de quem se quer bem

A piU
Barão Gerê, 13.09.2013



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

MULHER SENTADA

E a mulher pensou que já nada pensava. E mulher pensou que já não precisava mais de pensar. Esperou ser tocada. Supreendida surpreender-se. A mullher pensou que iria deixar de pensar para se deixar surpreender.  Do centro da terra escutou um gemido. Parou para escutar atentamente. Um gemido com pequenos passos. Parou. Deixou de pensar. Sentiu que já não pensava mais, bastava sentir. Do centro da terra um fiozinho de lava percorreu um longo caminho para que... Para que... E a mulher deixou de pensar para se deixar surpreender.

a piu
br, 11.09.2013

Egon Schiele Mulher Sentada


11 DE SETEMBRO



Há exatamente 12 anos, a caminho de um Festival de Teatro parei num posto de serviço para dar as papinhas a uma menina que estava com quase um ano. Umas 11 horas. A mesma hora que agora estou a escrever do outro lado do mundo. Um grupo de pessoas olhava para uma televisão. Parados ali, de boca aberta, de pé, no meu do caminho. Pensei:"Que alienação! Tudo embasbacado em frente à tv!" Não liguei e continuei o meu caminho. Uns kms mais à frente paro noutra estação de serviço. A tv mesmo em frente à mesa. "O que é aquilo? Um filme? Uma noticia? Estranho..." A mesma imagem que se repete incessantemente. Um avião contra uma torre. Que estranho... Não demorou muito tempo para me inteirar. Muitas hipóteses se colocaram de quem tinha cometido o atentado. Inclusive Cuba! Confesso, desculpem se firo susceptibilidades, que tive um "prazer" semelhante aquele  quando os toureiros  levam uma cornada no meio das nádegas, mesmo no olhinho cego que normalmente não está à vista em praça pública. Maltratam os animais, neste caso os touros, é o que merecem!... No caso das torres gémeas é que morreram muitas pessoas inocentes.Mas na hora, naquela fracção de segundo o que brotou do mais recônditro do meu ser foi:"Acham-se os donos do mundo, promovem guerras, ditaduras e bombardeios é o que merecem. Merecem isto e muito mais!" Porém, volto a repetir morreram muitos inocentos. Muitos, mas muitos. Como tal lamento pelas vitimas daquele atentado horrivel. E o mais sinistro é que o pensamento que me ocorreu diante de tantas hipóteses de quem poderia ter sido... Foi! Ladies and gentelman! Now, something completely different! Eles próprios!...Os "amaricanos" com as suas perversidade. Ezimios em inventar a doença para depois inventar a cura!... Sempre com o objetivo, lá está, de imperarem e lucrarem. Lamento, mas a história do Bin Laden mais os seus muxaxos está muitoooooo mal contada.

Há exatamente 40 anos andava eu a caminho de sair do liquido amniótico quentinho, mais dia menos dia. Do outro lado do mar, mais propriamente no Chile havia um golpe de Estado promovido pelos amiguinhos americanos. O máximo! Outras ditaduras militares na América Latina já estavam curso para combater o comunismo, que também não é flor que se cheire enquanto regime autoritário. Porém, o regime de Salvador de Alende era um regime democrático que defendia a liberdade de imprensa, o pacifismo e.... a reforma agrária.

Pois é, há quarenta anos atrás a menina Ana fazia umas piscinas de liquido amniótico na barriga de sua mãe, enquanto cá fora os dias estavam contados para uma longa ditadura fascistas de 48 anos no seu paízinho à beira mar plantado com visões estreitas... Tão estreitas que enquanto a Inglaterra, a França e outros países europeus já tinham descolonizado 20 anos antes, o Portugalito matava os seus cidadãos na idade mais vigorosa numAguerra colonial que durava há 12 anos.

Há 40 anos atrás no Brasil que também "desfrutava" de uma ditadura militar desde 1964, era feita esta linda música dos Secos e Molhados:

MULHER BARRIGUDA

Mulher barriguda que vai ter menino
qual o destino
que ele vai ter?
que será ele
quando crescer?
Haverá guerra ainda?
tomara que não,
mulher barriguda,
tomara que não...

A 26 de Setembro de 1973 nasceu a Anita Menina Rabina asmática de pernas tortas. Porque será? Talvez porque o mundo cá fora nem sempre seja muito respirável. Com as pernas tortas porque dava jeito à indústria ortopédica ou porque quem nasce torto tarde ou nunca se endireita? Mas existem algumas vantagens em ser-se torto. Uma delas é que fica mais fácil de dançar por entre a chuva a outra é "como o outro diz", o Zé Mário Branco diz: "Não me emprenhem mais pelos ouvidos!" E já agora, não me emprenhem mais pelos olhos! Nem pelos sentidos! Peço todos os dias ao universo para que não nos nivelemos por baixo. Aquele argumento que o outro é fundamentalista ou sub desenvolvido... Uma balela! Pode até ser verdade! É verdade! Todavia, um alibi para não nos emanciparmos a nós mesmos. Ahhhhh o outro é assim e assado, então eu sou muita bom! Ou!! Eu não sou lá grande coisa mas o outro é tão mau ou pior!... E lá vamos nós contetinhos, reconfortadinhos, aos saltinhos pelos corredores afora da vida, com ideias pré feitas, perfeitas, rarefeitas sobre nós mesmos e os demais . Num "aahhh é assim! Não tem jeito!..." Porém... Se cada um abrir o olhito e arregaçar a manguita da sua blusita e fizer o seu quinhãozito, talvez o rumo do fumo até fique melhorzito, mais respirávelzito.

A piU
bR,11.09.2013






terça-feira, 10 de setembro de 2013

A IMPORTÂNCIA DO DETALHE

Ver a Mona Lisa ao vivo e a cores foi uma perfeita desilução. Um quadro piriri para um mar de gente. E cabeças e mais cabeças, mais os imprescíndiveis flashes.  La Guernica de Picasso é um mundo. Uma surpresa em tamanho e detalhes. Mergulhar no detalhe de uma imagem. Viajar nesse detalhe. Viajar no detalhe da pincelada esbanjadora do paupérrimo Van Gogh. Ficar diante do Toulouse Lautrec horas infindáveis, viajando no movimento do quadro de grandes dimensões e no fluxo de visitantes que deambulam pelo Museu num consumo quase obcessivo entre câmaras de filmar e fotografar. "Eu estive aqui e vi isto, isto e mais isto, mais aquilo e o outro." Subir à Torre Eiffel e tentar não arrotar o crepe carissimo que se compra  lá em baixo, só para garantir que não se vai ficar com fome até à noite. Comer na rua são os olhos da cara! Mas olhares mais atentos ou pelo menos menos desatentos repara que a uma certa hora do dia os supermercados e bistrôs fornecem as sobras dos dias aqueles que por necessidade ou posicionamento social vivem das sobras do consumo.

Gosto dos detalhes. Fico feliz quando toco alguém ou quando alguém me toca. Uma plateia de um. Neste caso uma plateia de dois. Neste caso uma plateia de três. Ou uma plateia de três? Eu e tu somos um ou somos três? Quando a comunicação se dá somos três, pois saimos de nós, do nosso detalhado mundo individual, para acontecer algo no detalhado mundo da comunicação, da troca. Talvez seja por isso que as massas, as revoluções de massas não me convençam. Muito ruído para pouco detalhe, para pouca transformação.

piu
Br, 10.09.2013

pintura: Leonardo da Vinci

DEVANEANDO

E nos meus devaneios matinais, vespertinos e nocturnos lá vou cantarolando a tal da Janis Joplin a propósito do episódio de carros ocorrido no passado domingo. A minha preferida: Mercedes Benz. Assim que me sento para trabalhar "quingas!". Toma lá Joplin. Tento não cantar em simultâneo, pois não estou sózinha na sala e além de incomodar é irritante aquele cantarolar de quem está de ouvidos tapados para o exterior. Pior que um karaoke! Enfim, passo os olhos por outras músicas que estão ali à mão de semear da Janis: "Maybe", "I need a man to love", "Summertime', "Piece of my heart" . Chego aos Doors: "Touch me". E o que aparece sabe-se lá porquê? O Vitorino com "Vou-me embora vou partir". Divago por um texto que poderia começar pelos titulos em "ingalês", pois quando chego ao do Vitorino penso:"Eh pááá! Partir outra vez? Uma vez mais?! Não me apetece? Estou bem onde estou." Ando um pouco mais para a frente e dou de caras com o Manu Chao:"Se me das a elegir me quedo contigo".Então, penso: "Oh Manu Chao! És um chato! Deixa-me da mão! Vou mas é almoçar que jejum não alimenta coração!"

pipiripiu
barão gerê, 10.09.2013

DO MELHOR QUE HÁ


Meu querido diário,

no domingo, dentro do nosso calhambeque, passámos por um descapotável daqueles todos XPTO chiqui miqui, um "espera aí espera aí, que pensas tu da vida?". Um carrão branco daqueles à clip "amaricano" onde normalmente tem um um viril rapaz de peito inchado pela malhação e respectivos aditivos. Um viril rapaz de boné, vestido de branco com um brinco de ouro. Ao seu lado vem uma mulher adorno. Boazona, claro! De estudado sorriso largo com uma melena solta e sensual. Enfim, meu querido diário, vivemos num mundo fantástico plástico. Para não pirar de vez lá vamos nos rindo. Desta feita eu ia atrás da dita bomba no meu calhambeque falando à Mouraria, à pessoal do meu bairro de Lisboa: "Ouve lááá! Tás te a passaaaari! Tens a mania qu'és o quê!? Vens aqui pró meu bairro arrotar postas de pescada faço-te a folha!" Enfim, uma risada dentro do calhambeque com a minha gangue. E nós, por acaso, no enlaço do dito carro. Ao ponto de uma da minha perguntar se eu estava a seguir o man. "Eu não!" Continuamos a rir! Passados uns dois ou três semáforos a capota começa a subir! Iuuuuu genial! O cara rapaz moço homem tá com meduuuu! Salta à minha memória aquela cantilena de infância de uma publicidade da citroen:"Com capota sem capota ele é o melhor que há! Mihail! Citroen!" Paramos ao lado dele. Um rapaz aparentemente franzino porque o vidro escurecido anti perigo não deu para ver melhor. O rapaz moço homem toma coragem e olha para a nossa gangue constituida por mim e por duas crianças.
Moral da história: quem tem c.... tem medu. Quem ostenta que masque uma chicla de menta!




sexta-feira, 6 de setembro de 2013

PASSA MAIS UM CADINHO QUE ESTOU QUASE A FICAR SECA

- Ai minha é quietinha.Não incomoda nada. Mesmo nada!

- A minha não! A minha fica entrando no meu quarto me perguntando coisas! Quer conversar! Me desconcentra!Ai o que é isto?!?!?A capa do meu Marx está manchada! A mulher limpou o meu Marx com Ajax anti bactéria!! Vou falar com o pessoal para a despedir!!

- Vocês lá na Europa! ... Como é? A coisa tá feia, não? Já não dá para pagar mais o carro, nem a prestação da casa, nem pagar a faxineira?

Oh doce nostalgia dos tempos de estudante, saída da casinha do papá e dos miminhos da avó. Oh doce nostalgia do caos da primeira casa partilhada com mais quatro camaradinhas igualmente acabadinhos de sair das saias da mamã. Que porcalheira doce de se recordar! Uma enooooorme toalha que cobria a grande mesa da cozinha para não se ver a porcalhada de louça suja e restos de comida! bilhaaaqueeee! Oh doces discussões para reafirmar a tabela de tarefas que tinha sido transgredida por alguém que desencadeava efeito dominó de desmazelo! Qual faxineira qual quê! Nem burguês o tem! Se liga rapaaaaz! Relaxa babyyyy!Isso é coisa de "novo mundo" velho mundo! Criadagem só nas peças de teatro do Gil Vicente que nós estudávamos lá na escola, durante aquelas conversas para boi dormir de quem era ou não burguês. Oh doce nostalgia dos tempos de estudante, onde quem não era alternativo era estigmatizado. hmmmmmm Isso também , não!!! Mauuuuuuu! Viva a Lisete com o seu estilo brega,mas Lisete! A própria! Fora do rebanho alternativo.

Um destes diasainda nos encontramos todos no Clube da Pesca lá em Évora, se é que ainda existe, e brindamos à não criadagem, à maluqueira de aprendermos a cuidar do nosso espaço individual e colectivo  e em tertúlia leremos Gil Vicente, Brecht, Garcia Lorca e outros ! Aguardem a minha visita um destes dias, com direito a elogios e piropos, claro!!

A piU
6.09.2013
Imagem: Rebordosa



















ESTAR NAS DOBRAS

Gosto do inacabado porque dá margem para continuar. Gosto do que é considerado menos belo. Gosto de arte bruta, de arte naif, gosto da expressão de cada um. Que beleza! Gosto da liberdade de expressão. Que beleza incrível! Gosto do entusiasmo dos motivados, dos valorizados, dos acolhidos. Gosto das dobras, daqueles que se encontram nas dobras ou que os colocaram nelas. Surpreendem. Surpreendem-se. Gosto de partilhar o prazer de estar junto e que a cumplicidade se instale dando confiança para se voar, para nos expressarmos. Gosto do compromisso de estarmos juntos, de nos responsabilizarmos em voltar.

Tem sido para mim um enorme prazer poder dar um apoio, mesmo que temporário, ao trabalho já iniciado pela Denise Valarini e outros profissionais. Trabalho esse que consiste em ensaiar e apresentar um espetáculo com os alunos do Instituto Norberto, alunos com deficiência intelectual entre outras questões psico motoras.

É estimulante trabalhar com essas pessoas, pois a sua criatividade, sensibilidade e generosidade estão lá manifestando-se de uma outra forma, de outro jeito mas talvez muito mais interessante porque não formatada. E se for oferecido campo para isso!.... Zás!!!! Ninguém os segura. Nunca entendi muito bem porque as pessoas chamam lerdas umas às outras, porque quando há escuta, atenção, novas portas e janelas se abrem, novos caminhos.

Grata por esta experiência, Denise.

Ana Piu
Br, 6.09.2013

A FORÇA DA NOSSA FRAGILIDADE

Ser forte é também ser fraco. Umas vezes forte, outras fraco. A força da nossa fragilidade. A fragilidade da nossa força. A força de nos deixarmos afetar. Deixarmos ir. Deixarmos-nos ficar. Afetar. Afetarmos-nos. Chegar e partir. Restar. E o que resta? O que é que resta? Resta sermos? Resta estarmos? Resta estarmos mesmo quando partimos? Resta não partir. Manter intacto o que mais há de valioso numa força vulnerável, numa vulnerabilidade fortificante.

a piu
Barão Geraldo, seis de Setembro de dois mil e treze


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artist: Catrin Welz Stein

TRIDENT DE CEBOLA E ALHO



Baixou a cabeça num suspiro cansado e triste. Fixou o olhar na tecla "A". Os ombros caíram. Os olhos deambularam pela mesa. Um AAAAAA profundo em surdina percorreu o peito, ficando encravado na garganta. Os ombros voltaram a cair, estremecendo um pouco. Precisava daquele momento. Precisava de lavar o peito com algumas lágrimas pequenas, incisivas e teimosas.
Um riso de aparelho começou a soar pela sala. Uma gargalhada em forma de fio dental foi em direção à tecla "A". Gargalhada invasiva com cheiro a xixi de cão que quer marcar território, pensou.
Concentrou-se na tecla "S" até chegar à tecla "enter", Tirou uma cebola da bolsa. Comeu-a em largas dentadas com casca e tudo, Depois foi a vez de comer 7 dentes de alho, um por um bem maStigados, na esperança de se concentrar para não sair do seu lugar. A gargalhada permaneceu. O olhar chegou "A" tecla "backspace". Levantou-se dirigindo-se ao jovem imberbe com uma pequena penugem a ameaçar barba junto à orelha direita de quem olha de frente. Aproximou-se e perguntou as horas jogando aquele hálito rarefeito e dedicado aquele momento. A jovem criatura imberbe regozijou de felicidade e numa gargalhada ainda mais incisiva e sem fim perguntou:"O senhor tem mais dessas tridentes de cebola e alho? Adorei!" O homem virou costas ainda com a gargalhada ricocheteando nas suas costas. Concentrou-se na tecla "ESC" e tentou trabalhar mais um pouco, suspirando aqui e ali um "A" um pouco triste, muito cansado e bastante patético.

A piU
Br, 5 09. 2013

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

MUITO AMOR PARA DAR



- Dótora Lorena! Dótora Lorena! Como é que eu lhe posso dizer isto sem levar a mal?... É que eu, Dótora Lorena, tenho muito amor para dar! Tanta gente para amar!
- Compreendo... Mas não tem ninguém, assim que você queira dar de uma forma mais especial?
- Tem Dótora Lorena, tem. Mas como é que eu faço?
- Olhe! Vamos por partes! Até lhe digo mais! Não vou cobrar nada por esta consulta, porque é tão óbvio! Vai-me dizer que tem muito amor para dar, mas que existe alguém especial para si?! Francamente!! Desculpe a falta de paciência! Mas francamente! Não me tire do sério! São 19 horas e 31 minutos do horário de Brasilia, acordei às 6 horas e 18 minutos do mesmo horário, a vizinha já me empurrou o carro pedindo para eu ter fé em Deus, a criança já deixou cair um copo com água em cima do computador e você vem com essa história para boi dormir?! Não me enerve! Não me enerve! Vamos os dois nos concentrar nesta pequenina folha e olhar para os veios que a constituem. Depois vamos os dois beber um chá juntos e você vai pensar e sentir o que quer realmente e não me venha com histórias de isto e daquilo. E se eu o vir a preguiçar, justificando-se que a confusão é maior que a clareza enfio-lhe com o chá pelas goelas abaixo. Muito amor para dar! Muito amor para dar! Amor físico? Esse não conta! Esse não é amor! A isso chama-se outra coisa. Amor da alma? Amor pleno ou amor aos bochechos? A última vez que escutei isso foi de um amigo que vive numa cidade cosmopolita de gente open mind e que fala "Achtung! e Aba! Aba!" E o homem estava cansadíssimo! Cansadíssimo! Tudo muito livre, mas possessivo em simultâneo! Aba! Aba! Achtung! Achtung! Concentre-se e não me enerve que com isto tudo já são 19 horas e 38 minutos.
- Acha que ainda vou a tempo?
- O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo tempo tem. Vá olhe para a folhinha, esvazie a mente e depois beba o chá! Cháissa! Cháissa! E com isto já são 19 horas e 44 minutos do horário de Brasília!

A piU
Br, 30. 08.2013

CARTA


Meu querido Portugal à beira mar pranteado,

como vai a saudinha? Bem sei que é Verão , os dias são grandes e maravilhosos para dar um mergulho na praia. Hoje deve estar cheia a praia. Com crise ou sem crise umas cervejolas não faltam, não é? Eu sei! Escrevo pranteado e não plantado pois lá nos alentejos profundos prantear é ficar. Logo faço o jogo de palavras entre pranto (choro) e prantear-me (ficar). Ouvi dizer, muito por alto, que vais proibir os piropos. À pressa procuro no dicionário de antônimos e sinônimos (pelo acento circunflexo já percebeste que é brasileiro! ) o sinónimo de piropo. Não encontro e vou a elogio. Essa palavra tão bela que muda relações e até pode mudar um bocadinho do mundo! Então queres proibir o piropo? Tá certo. E já agora, as portuguesinhas trigueirinhas voltarão a usar cinto de castidade quando os seus amados e amantes emigrarem nesse país que está a fechar, não sei bem se é para balanço da casa ou falência definitiva? Não te escapas desta Portugalito! Ouvi dizer que pensas fechar TAMBÉM a Cinemateca Portuguesa, que além de preços democráticos é um marco importantissimo na divulgação de cinema? Falo de cinema retrospectivo, de realizadores. Não do cinema pipoca de shopping. Agora entendo porque queres proibir o piropo, o elogio. Porque cada vez há menos a elogiar-te. ÉS OU NÃO ÉS? que questão, ããã? Queres entristecer ainda mais o teu povo, não é? Porque assim podes fazer de ti um imenso resort cheio de campos de golf onde os nativos se sentem nada. Nem um piropo, elogio são dignos de tecerem uns aos outros. Não falo de porcalhices do tipo:"Oh boa! Fazia-te a folha! Grandas mamas!" Não, isso pode explicar aos teus viris nativos que mete nojo às delicadas trigueirinhas. Mas podes dizer que um elogio, uma admiração sentida, um valorizar o outro é super, mas super fixe e transformador. Por exemplo:" Gosto tanto de ti, admiro-te tanto que não me importava de derreter-me num abraço teu." É bom dizer isto a alguém, não achas Portugalito? Um dia, quando tomares juízo nessa tua cabeçinha maluca também desejo dizer-te o mesmo. Por agora, espero que te voltes a concentrar. Eu tenho calma. Sem pressas. Mas aviso já que há limites para a paciência. Achas que deva esperar? Olha eu estou aqui e vou ficar por aqui. Mas gostava de te saber mais saudável. Faz-me sorrir e até rir com gosto de te saber bem. Cansei de prantear por ti. Sa ra va?

A piU
BR, 31.08.2013
IMAGEM: João Abel Manta


ROMANOFF, O ESCRITOR MALDITO



Romanoff de Soares Alenquer Didier Mustaffa Tupã Kusturika Surinah era um escritor maldito. Fazia por isso. Já nada tinha a perder, tudo o que viesse era ganho. Viveu vários anos no deserto e outros tantos em alto mar. Das vezes que vinha a terra relacionava-se atenciosamente com quem se cruzava. Ria-se por dentro e por fora das importâncias que cada um dava a si mesmo e à vida. Houvera uma vez, várias vezes que Romanoff de Soares Alenquer Didier Mustaffa Tupã Kusturika Surinah definhava de fome, enfermo em seu leito alguém se abeirou dele contando-lhe histórias para o reconfortar. Uma delas era das transformações corporais que essa pessoa pensava fazer para ficar mais bela. Tentou não se indignar, apenas fez com que o seu estômago sorrisse mansamente. Depois resolveu escrever, escrever, escrever Em alto mar escreveu. No deserto escreveu. Não se importaria de ser escorraçado ou admirado. Queria estar do lado dos malditos, porque assim veria muito mais claramente cada detalhe, cada mecanismo de mecanismo vários. E nesse compasso maldito pleno de amor rir-se-ia com a boca escancarada, ora desdentada ora adornada com dentes de ouro ancestrais. Rir-se-ia medos e receios que nos assombram todos os dias. Rir-se-ia das hipocrisias. Rir-se-ia das babozeiras. Rir-se-ia estridentemente ou num riso cínico ou num riso cúmplice, ou num riso doce. Rir-se de ser Romanoff de Soares Alenquer Didier Mustaffa Tupã Kusturika Surinah, aquele que assusta as pedras da calçada mas que se recusa a pisá-las. Porque para ele ser maldito era não recear a sua doçura de boca escancarada.

A piU
Br, 1.09.2013

OS HOMENS TAMBÉM CHORAM?



Várias certas vezes Romanoff de Soares Alenquer Didier Mustaffa Tupã Kusturika Surinah deu consigo próprio, consigo mesmo próprio a chorar. Sabia intimamente que o seu riso brotava também do choro. Romanoff de Soares Alenquer Didier Mustaffa Tupã Kusturika Surinah não sentia vergonha por chorar. Sentia orgulho nessa capacidade de ir ao mais fundo de si e deixar-se desaguar. A sua vulnerabilidade era também uma força que brotava de querer ser mais ele próprio, consigo próprio, consigo mesmo próprio.

a piu
br,1.09.2013

INGREEN



Ingreen gostava de apreciar belezas alheias. Não considerava a sua beleza extraordinária, tampouco impactante. Surpreendia-se quando alguém se impactava com a sua beleza. Imóvel, o seu olhar dançava deleitando-se com cada esquina de um acontecimento. Considerava-se invisível e deleitava-se com as sardas de alguém, com o olhar brilhante de outro alguém, no sorriso e no gingar de anca. Também se deleitava em observar a respiração dos apaixonados, assim como os amedrontados pela paixão que teimava em assaltá-los. Ingreen viajava nas horas observando cada movimento do vento. Depois, enfiava as mãos dos bolsos sem fundo, voltando para casa ora se sentindo só ora sentido uma plenitude de tudo aquilo que observou, viveu e respirou.

a piu
br,1.09.2013

OS INSTANTES

Aquele instante parado. Detido num tempo atemporal. Um instante parado num movimento de vento sem passado, nem futuro. Momento suspenso, intenso, complexo, desconexo, perplexo. Um sorriso timido e teimoso preso ao cabelo que vai e volta.

um adeus eterno e com muito carinho para a Beatriz Quintella, para a minha querida amiga Bia. Ficas no meu coração, querida Bia. Um abraço de até até até já já já para a minha querida Julieta. Torço por ti. Torço por nós.