sexta-feira, 28 de março de 2014

CINCO VEZES FAVELA#

Cinco vidas
cinco histórias
cinco corações que batem
cinco dedos em cada mãe e em cada pé
Dez olhos junto a cinco bocas
Cinco vezes favela

Ana Piu
Brasil, 28.3.2014

# titulo do filme Miguel Borges (Zé da Cachorra), Joaquim Pedro de Andrade (Couro de Gato), Carlos Diegues (Escola de Samba Alegria de Viver), Marcos Farias (Um Favelado), Leon Hirszman (Pedreira de São Diego). Brasil, 1962

DIGNIDADE (histórias viajeiras)

Eu não tenho muitos estudos, né? Mas a gente aqui não tem essa não de escolher o que come. Não tem mesmo, né. Se a gente não come macaco, a gente passa fome. Se a gente não pesca, a gente passa fome. Tem época que nem um milho a gente consegue. Como a gente faz?  Se a gente não come macaco, a gente passa fome. Se a gente não pesca, a gente passa fome. Veio um pessoal aí falar que não é bom comer animal, não. Que eles sofrem muito e são como a gente. Mas se a gente não come a gente sofre. Se a gente passa fome, a gente morre. Esse pessoal que veio aí tem estudos, né? Mas não vive na selva. Teve um que nunca tinha visto uma cana de pesca. Já pensou? Como ele faz? 


Ana Piu 

Brasil, 28.3.2014


imagem: floresta amazônica




UM DIA HEI-DE SER UM BEST SELLER DE FRASES CURTAS E QUASE ÓBVIAS! VÃO VER! ME AGUARDEM!




"A capacidade de rir de nós e juntos é a mais bela capacidade de nos revolucionarmos dentro de nós."

"Rir é inerente ao ser humano!"

"As onças também riem! Não vamos cirar aqui polémicas sobre especismo!"

a na Piu

imagem: clowns sans frontieres




DIGNIDADE (histórias viajeiras)

Nas costas leva a mochila com o necessário para que o peso seja leve. Debaixo do braço direito leva o pano com brincos, colares e pulseiras. Tudo feito na ponta do alicate. Tem também um colar com dentes de macaco, outro com dentes de jacaré, brincos com escamas de pirarucu.

No meio do caminho encontra um cachorro morto. Deve ter sido atropelado recentemente. Olha para a sua dentição e resolver aproveitar para catar material para futuros colares e brincos. Um homem passa de moto. Passa direto e sente pena do mochileiro. Meia hora mais tarde volta com um marmitex de arroz, feijão e alguns pedaços de carne e farofa para dar ao mochileiro. O mochileiro surpreende-se. O homem da moto explica que achou que ele quisesse comer o cachorro morto no meio da estrada. O mochileiro aceita o marmitex, mesmo tendo dinheiro no bolso. Oferece para quem ofereceu o marmitex. "Bom proveito!" fala o motoqueiro. O mochileiro, como forma de agradecimento, oferece o colar mais caro que tem no pano. Um colar de dentes de macaco lá de outras paragens, lá para os lados da selva. Despedem-se. Cada um no seu caminho. Um a pé, o outro de moto.

a na Piu
Brasil, 28.3.2014


TI ANTRO (27 de Março, dia mundial do Teatro)


Volto sempre aquelas velhas e cruciais questões:"O que me faz fazer isto!"; "O que me faz continuar?!"
Olho para a estes 40 anos e penso: "Todas as escolhas que até agora fiz não me arrependo, independentemente se nem sempre tem aquele happy end à Walt Disney."

Esta foto data de 1992. Pois é, como a Mercedes Sosa canta:"El tiempo passa". Porém o tempo não tem de ser algo como um peso pesado, enfadonho e medonho. "Nós estamos por aí sem medos! Nós sem medos estamos por aí!" como canta a Elis Regina.

Muitas caminhadas aconteceram. Os tais dos encontros e desencontros. Em algumas situações, por amar tanto a arte do ator tinha sede de rigor e entrega e quando tal não acontecia aliado ao abuso de poderes vãos ( lá estou eu com o meu mau feitio) fui catalogada de conflituosa. Depois, quando párava, pensava, analisava, auto refletia perguntava-me:"Enervar-me com o menos mal e o tanto faz é ser conflituoso? Então quero ser conflituosa!" Mas no fundo, no fundo todos nós queremos se aceites. Quem não já se trata de um caso palógico (?), clinico (?). Não? Pergunto.

Aos 16 anos começo a fazer teatro na escola com um professor de filosofia que... foi um dos grandes responsáveis no meu modo de olhar a arte do ator. Ele desafiou com a questão:" Quando escolhem fazer algo porque escolhem?"

Para mim sempre fez sentido ir onde o povo está, como o Milton Nascimento canta. Ir onde o panorama cutural e artistico era inóspito inexistente. Em 1995, no Alentejo profundo, as pessoas tinham a memória dos saltimbancos nos anos 40, 50. Depois disso nada. Fiz e faço teatro de rua, teatro na rua pago pelos municipios e outras entidades institucionais para que o público tivesse acesso sem pagar. Hoje pergunto-me se isso é uma boa politica. Muitas vezes pensei que sim. Hoje questiono, visto que muitas vezes a mentalidade é:" Se é gratuito é ruim. Aquilo também eu sei fazer!" Em suma, não se valoriza. E o quanto é dificil, por vezes, o público vir... MaS também o quanto é gratificante ter pessoas de baixo de chuva marcando o lugar, limpando piso molhado para atuarmos em cima de andas/pernas de pau. Isso passou-se num festival de teatro de rua na Alemanha, no mesmo ano em que atuamos em Montemor o novo, no Alentejo para um par de idosos que estavam no banco do jardim, à torreira do calor de 40 graus nas três da tarde alentejana de um Verão paradão. Enfim... para a frente é que é caminho!

Já investi muito na formação, no trabalho. Muitas vezes a contar moedas. Outras numa boa. Outras tantas a viajar por lugares lindos com pessoas lindas e a ser tratada como uma donzela. Não me queixo. Faz todo o sentido de viajar com o trabalho que acreditamos e democratizá-lo. Sei que sou inconveniente e até mal cheirosa para alguns ao sublinhar que abomino abusos de poder e elites, porque os abusos de poder e as elites não permitem democratizar o sonho de viver, a arte de resignificar, de criar outras e novas possibilidades enquanto atores sociais.#

# com essa do abuso de poder e das elites... fico à perna! Qualquer dia encontram-me o calcanhar de Aquiles e falam:"Aahhhh afinal! Afinal! Também não és perfeita! Tives-te agora um comportamento elitista e abusas-te do teu poder!"
Pois é... Ninguém é perfeito e ainda bem! Mas há que estar atento!

Ana Piu
Brasil, 27.3.2014

imagem: 1992: Escola de formação de Actores do Centro Cultural de Évora, Portugal. Trabalhando teatro físico com textos de Racine, orientado pelo Allain Légros com Victor Correia e Ana Piu.



Foto: TI ANTRO
(27 de Março, dia mundial do Teatro)

Volto sempre aquelas velhas e cruciais questões:"O que me faz fazer isto!"; "O que me faz continuar?!"
Olho para a estes 40 anos e penso: "Todas as escolhas que até agora fiz não me arrependo, independentemente se nem sempre tem aquele happy end à Walt Disney."

Esta foto data de 1992. Pois é, como a Mercedes Sosa canta:"El tiempo passa". Porém o tempo não tem de ser algo como um peso pesado, enfadonho e medonho. "Nós estamos por aí sem medos! Nós sem medos estamos por aí!" como canta a Elis Regina.

Muitas caminhadas aconteceram. Os tais dos encontros e desencontros. Em algumas situações, por amar tanto a arte do ator tinha sede de rigor e entrega e quando tal não acontecia aliado ao abuso de poderes vãos ( lá estou eu com o meu mau feitio) fui catalogada de conflituosa. Depois, quando párava, pensava, analisava, auto refletia perguntava-me:"Enervar-me com o menos mal e o tanto faz é ser conflituoso? Então quero ser conflituosa!" Mas no fundo, no fundo todos nós queremos se aceites. Quem não já se trata de um caso palógico (?), clinico (?). Não? Pergunto.

Aos 16 anos começo a fazer teatro na escola com um professor de filosofia que... foi um dos grandes responsáveis no meu modo de olhar a arte do ator. Ele desafiou com a questão:" Quando escolhem fazer algo porque escolhem?"

Para mim sempre fez sentido ir onde o povo está, como o Milton Nascimento canta. Ir onde o panorama cutural e artistico era inóspito inexistente. Em 1995, no Alentejo profundo, as pessoas tinham a memória dos saltimbancos nos anos 40, 50. Depois disso nada. Fiz e faço teatro de rua, teatro na rua pago pelos municipios e outras entidades institucionais para que o público tivesse acesso sem pagar. Hoje pergunto-me se isso é uma boa politica. Muitas vezes pensei que sim. Hoje questiono, visto que muitas vezes a mentalidade é:" Se é gratuito é ruim. Aquilo também eu sei fazer!" Em suma, não se valoriza. E o quanto é dificil, por vezes, o público vir... MaS também o quanto é gratificante ter pessoas de baixo de chuva marcando o lugar, limpando piso molhado para atuarmos em cima de andas/pernas de pau. Isso passou-se num festival de teatro de rua na Alemanha, no mesmo ano em que atuamos em Montemor o novo, no Alentejo para um par de idosos que estavam no banco do jardim, à torreira do calor de 40 graus nas três da tarde alentejana de um Verão paradão. Enfim... para a frente é que é caminho! 

Já investi muito na formação, no trabalho. Muitas vezes a contar moedas. Outras numa boa. Outras tantas a viajar por lugares lindos com pessoas lindas e a ser tratada como uma donzela. Não me queixo. Faz todo o sentido de viajar com o trabalho que acreditamos e democratizá-lo. Sei que sou inconveniente e até mal cheirosa para alguns ao sublinhar que abomino abusos de poder e elites, porque os abusos de poder  e as elites não permitem  democratizar o sonho de viver, a arte de resignificar, de criar outras e novas possibilidades enquanto atores sociais.#

# com essa do abuso de poder e das elites... fico à perna! Qualquer dia encontram-me o calcanhar de Aquiles e falam:"Aahhhh afinal! Afinal! Também não és perfeita! Tives-te agora um comportamento elitista e abusas-te do teu poder!" 
Pois é... Ninguém é perfeito e ainda bem! Mas há que estar atento!

Ana Piu
Brasil, 27.3.2014

imagem: 1992: Escola de formação de Actores do Centro Cultural de Évora, Portugal. Trabalhando teatro físico com textos de Racine, orientado pelo Allain Légros com Victor Correia e Ana Piu.
















quinta-feira, 27 de março de 2014

OMMMMMM LET ou LET IT BE ou TO BE OR NOT TO BE, GRANDA QUESTÃO!

Posso fazer aqui já uma citação só para dar um ar mais que mais áquilo que vou dizer. Pego naquele livro que trouxe lá da biblioteca que primeiramente eu tinha fotocopiado  há uns bons anos atrás, só que em versão inglesa e ZÁÁÁÁSSS faço já qui um brilharete do cum escamartilhão. Cito  o admirável Eugenio Barba e do seu livro faço um cavalo de batalha: "A Arte secreta do ator, dicionário de Antropologia Teatral". Quingas! E se ainda disser que já tive o prazer de participar em dois seminários do Odin Teatret e do ISTA (International School Theatre  Anthropology) faço duplo brilharete.

Pois é, mas como todos nós, aqueles que escolhemos fazer do teatro um estilo de vida, um modo de olhar, ler, interpretar, atuar no mundo sabemos que essa escolha não é um brilharete. Cá no meu entender tudo o que vai fundo não é brilharete. E todos nós, fazedores de teatro, bem sabemos que queremos muito. Se não quiséssemos não escolheríamos. Investimos. Investimos muito na nossa formação para informação daqueles que pensam que é só preciso jeito. Talento. 1% de talento para 99% de trabalho. Muitas vezes passamos dificuldades. Muitas vezes. E agora vou ser arrogante: por vezes parece que estamos a dar pérolas a porcos, que parece que é um favor nós existirmos... Mas depois, quando as salas se enchem, quando a rua é o nosso palco, quando os corredores de hospitais, presídios, campos de refugiados alteram a sua rotina para esse momento de transformação, para esse momento extra cotidiano sabemos tão bem o quanto as almas se enchem. As nossas e do querido e respeitável público.

Porque hoje é dia internacional do teatro, porque os 365 e até mesmo os 366 dias do ano respiramos esta arte. Sonhamos com ela. E mesmo quando o caminho não é claro continuamos lá. Caminhando. Mergulhando. Dilatando.

Viva quem faz da sua vida uma obra de arte! A vida sem arte carece de vida.

(Isto cá no meu entender. Claro!)

pipiripipiu
Brasil, 27.3.2014

quarta-feira, 26 de março de 2014

DIGNIDADE (histórias viajeiras)

Lá no meio do deserto o homem vende tapetes, sandálias, túnicas.
Lá no meio do deserto o dinheiro não vale nada de nada.
O homem quer trocar. Desafia o forasteiro a outros hábitos. Desafia a regatear.
Lá no meio do deserto, o homem troca duas túnicas e um pequeno  tapete por um par de sapatos e casaco para o frio da noite do deserto do Sahara. Por cortesia oferece um pequeno colar de lã.
Lá no meio do deserto troca-se. Comunicar é uma troca. Redundâncias que o dinheiro faz esquecer quem tudo acha que se compra sem uma troca de olhares, sem o adivinhar subtil de respirações e silêncios

a na Piu
Br, 26.3.2014

terça-feira, 25 de março de 2014

HISTÓRIAS ACERCA DE PÁSSAROS E SEUS VOOS


TUCANO
o tucano é um pássaro desajeitado os seus olhos são doces inocentes dentro do seu bico segredos se guardam
tem tucanos de muitas cores mas os seus olhos são sempre doces e o seu andar desajeitado
os tucanos voam nunca vi bandos de tucanos
talvez eles sejam solitários
CONDOR
o condor é uma ave magistral nunca vi um condor passar ou já vi? um condor passa em bando?
as asas são grandes ocupam o espaço o espaço dá espaço para as asas do condor passarem caso contrário o condor fica com dor
certa vez um caçador deu um tiro no condor mas o condor é magistral não sentiu dor, não sentiu ódio sentiu algo transcendental
no seu coração de pássaro da dor se fez clamor "mais paz!" gritou o condor num voo planado no ar "mais paz e mais saber ser e estar" foi isso que o condor desenhou com o seu voo entre a terra, o céu e o mar

ARARA
De coloridas e vistosas penas, arara dá ares carismáticos. 
Precisa de ar e de espaço. 
E grita na sua voz rouca: arara arara arara. 
Por isso se chama arara. Arara, quando sente confiança, pousa na mesa e até mesmo no ombro. 
Pudera a arara pousar confiantemente em todos os ombros e seria a ave mais feliz da selva. 
Mas na mesma é feliz, quando abre as suas grandes e coloridas asas e do topo das árvores de grandes raízes enxerga um ou outro ombro pousável. As araras são bonitas com suas cores alegres. Lembram que o sol existe, mesmo quando este se esconde atrás das nuvens. As nuvens são imprescindíveis, pois quando se derretem lavam a alma.

pipiripipiu
Brapiu, 25.3.2014


PENSAR O PENSAMENTO


Ao pensar o pensamento
pensou-se
ao pensar
realizou-se
escrevendo-se
desenhando-se no espaço
no espaço inscrito
passou a ser
a estar 
no espaço
inscrito
no pensamento
pensado 
inscrito
aqui
e ali
 aqui 
ao ser
ao estar
desencaixotou-se
abrindo espaço
no espaço

A piripipiu
imagem: Saul Steinberg

A AÇÃO DE VER

"Quando Siddartha deixou o palácio do pai e foi à procura da última verdade. passou seis anos estudando filosofia e vivendo uma vida ascética numa gruta perdida nas montanhas. Mas nenhuma iluminação surgiu. Conforme passava o tempo, Siddartha começou a se despertar e ficar confuso sobre o que deveria fazer. Um dia ele ergueu os seus olhos e viu a estrela d'alva, cujos os raios penetram no interior do seu ser, e ele, então, encontrou esclarecimento. Ele deixou a gruta e começou a viajar pelo mundo para tornar sua experiência conhecida, e outros pudessem dividir a liberdade que ele agora gozava.
 Você pode ter olhado para as estrelas milhares de vezes. Mas, subitamente, você vê uma estrela de uma nova maneira, que conduz a esse tipo de entendimento que é uma experiência total. Esta é a ação de ver: reagindo a esta ação, você se descobre e o outro é revelado a você."
(Eugenio Barba em conversação com atires do ISTA de Bonn, 1980)

in Barba e Savarese "A arte secreta do ator, dicionário de Antropologia Teatral", Editora UNICAMP, São Paulo. Campinas, 1995

segunda-feira, 24 de março de 2014

E AÍ? VAI UMA COPA?

Meu querido diário,

hoje no caminho para a escola da Sô Dona Flor passamos por uma daquelas camionetas que distribuem refris. Não era uma camioneta qualquer com refris quaisquer. Os refris que ali se encontravam emparelhados, unidos como as uvas estão no cacho, são os mesmos cuja a  eficácia para desentupir canos é atroz.

 Mais à frente veio um fedor a esgoto. Uma onda de mau cheiro. Por acaso (ou talvez não tenha sido por acaso). Logo a Sô Dona Flor falou:
- "Bilhaqueeee a coca cola cheira mal! Mas olha, continuou, agora na copa podes ganhar um dinheiro a vender."
- "Achas que posso ganhar dinheiro com os meus pasteis vegetarianos?", perguntei.
- " Nãããoooo! Achas?! As pessoas que vão à copa querem é beber! Não querem comer! Podes vender bebidas!"
"Ah entendi, a copa toda ela é uma embriagues! Entendi!", respondi.
Depois pensei cinicamente:" E agora com a marcha da família estamos abençoadas relativamente ao relativismo da espiritualidade e da integridade física e psíquica do cidadão comum."

piripipiu
Brasil, 24.3.2014


ATÉ QUANDO ESTA INGENUIDADE MINHA QUE BROTA DO MAIS FUNDO DO MEU SER?


Meu querido diário, nestes últimos dias o cachorro da minha amiga, que viva numa rua paralela à minha tem "nos" feito visitas várias. E eu, no meu mote "make love not war" ou"tudo é paz quando não é zás trás pás" penso: "Fixe, porreiro, massa, bacana! Até os cachorros se visitam na casa uns dos outros!" Ainda pensei se o cachorrito também não gostaria de variar de dieta e vir almoçanhar com a sua amiga Nica!

Só que há um detalhe! Ele é ele! E a Nica é ela! Resultado... Coiso! Coisaram! Prontus! Têem direito à vida e ao prazer que daí retiram! Com a salvaguarda! Não tenho vontadinha nenhuma de ser avó de uma ninhada de cachorritos!

Agora que assim mesmo é que é, é! Claro! Quer vai! O outro aceita, bora!
Mas o que me passou pela cabeça que eles queriam ser "só" amigos?!?!

Entretanto o telefone toca. "Oi! Alô! Quem fala?"; "Bom dia! Sou consultora de vendas..."; "Olhe, desculpe, mas não atendo chamadas de marketing e vendas. Um bom dia e bom trabalho!"

Pelo menos a minha ingenuidade em relação a este episódio último já se dissipou há muito. Mas a Nica e o Tinoco puseream-me a pensar sériamente. Muito sériamente nas minhas ingenuidades latentes subjacentes.

nota: não coloco uma foto de ambos os caninospor respeito à sua privacidade.

pipiripipiu
Brasil, 24.3.2014

AVÓS, BISAVÓS E TETRAVÓS


"Esta nova ideologia não é mais da sociedade burguesa, que sempre tentou criar uma imagem de si mesma (ainda que fosse uma imagem ideológica) na história; esta versão da formação de identidade baseia-se no esquecimento." ( Werz, 2004, p.221)

Há quem diga que dos fracos não reza a História. A questão é perceber o que se considera por fracos e qual a História que se quer contar. Quem é quem. Por a História muitas vezes só écontada por uma voz ou algumas vozes oficiais, pelas vozes dos vencedores ou das vitimas. A história
tem lacunas. Sim, porque a História oficial fala de vitimas, mas não escuta estas realmente,que História é essa? Quando as vitimas, de algum modo detém o poder, onde ficam as outras vitimas? Veja se o caso do Holocausto. Porque se fala sempre dos judeus e não se fala nem dos ciganos, homesexuais, deficientes físicos e psiquicos e dos comunistas? Sim! Os comunistas até hoje oferecem perigo! Como se outras frentes de resistência não existissem!

No sábado, dia 22 de Março de 2014 houve uma marcha da Família aqui no Brasil contra os comunistas!... Sem comentários.... Contra os comunistas!? Essa mesma oligarquia que é capaz de falar:"Vocês vieram-nos colonizar!" Essa mesma oligarquia que supostamente anda nas ""melhores" escolas nem um conhecimento profundo tem da História, tanto secular como contemporãnea. O mais preverso é prestar uma vassalagem aos EUA. Um deslumbramento sinistro por um Império que promoveu as ditaduras militares na América Latina desde os anos 60.
Enfim, a ignorância e o obscuranturismo de quem não abre mão do seu podre poder.

Deixo aqui uma imagem daqueles, que considerados da terra do colono, resistiram. Talvez a sua História não reze nos manuais oficiais, mas não por serem fracos e sim porque abalam com as estruturas. E isso incomoda muito.

Ana Piu

Brasil, 24.3.2014

sexta-feira, 21 de março de 2014

INVISUALIDADES E OUTRAS CEGUEIRAS

Meu querido diário,

hoje, mesmo agora, agorinha mesmo descobri que por estas bandas não se usa a palavra politicamente correta para cego: invisual. Resultado: levei com três pontos de interrogação. ??? Tomaaaaa! E eu a querer usar o meu linguajar prosaico.

Pois, pois, ora, pois, pois, as palavras têm um peso uma consistência, um odor consoante o modo como as usamos. Hoje escutei a palavra: gostossissima. Imaginei que ao chamar a alguém de gostossissima a a palavra contida de peso, textura e forma se dissipe no ar de tão superlativa que é. De olhos arregalados e mãos estendidas com pequenos tremelicares nas pontas dos dedos a boca profere: gostossiiiiiiissimaaaaa. E palavra dissipa-se no ar assim como o corpo alma alvo de tal adjectivo, quem sabe elogioso.

Meu querido diário, hoje voltei a escrever com C: facto, contracto, tacto e acto, como sempre escrevi sem acordos ortográficos, nem diplomáticos. Hoje escrevi com aquela minha essência mutável. Olhei para esta imagem com duas escadas em forma de C. Olhei e observei com a minha visão umas vezes quase invisível outras subindo a descidas das escadas para fugir da cegueira a que posso estar consignada se a atenção se dissipar no aaaaaaaar.

piripipiu
Br, 21.3.2014


MÃOS

Mãos
mãos juntas
mãos individuais
mãos que se separam 
que se encontram
que respiram

mãos prontas
mãos imaginativas
mãos com vida
mãos que fazem caretas às mãos caretas

mãos com olhos
mãos com tacto
de facto
mãos em contacto



a na piu
in Brapiu, 21.3.2014

quinta-feira, 20 de março de 2014

QUE OS CRAVOS VOLTEM A SE ERGUER

"no sé lo que tienen las flores, llorona
las flores de un camposanto.

Que cuando las mueve el viento, llorona
parece que estan llorando
que cuando las mueve el viento, llorona
parece que estan llorando"


La Llorona 
Raphael

Tem dias em que bate aquela saudade dos amigos, de rirmos juntos de nós mesmos. Tem dias que bate aquela saudade das ruas da cidade de onde vim,mais as petiscadas até alturas horas na casa deste ou daquele, mais os mergulhos no mar.

A Primavera está a chegar lado outro lado do mar. É tempo das árvores em flor, daquela alivio do Inverno ter acabado. É tempo da luz límpida primaveril e da promessa de dias quentes com mergulhos no mar.

Tem dias que não quero saber o que se passa mais no meu país e quando sei dá um aperto no coração. 
Um país não é uma entidade abstrata. Um país é feito de pessoas e essas pessoas estão desmoralizadas, não veem a luz ao fundo do túnel.

Ontem um estudante brasileiro falou que tinha chegado de Coimbra. Sete meses em Coimbra. Opa! "O que você sentiu? O que achou?", perguntei. "Mais do que uma crise financeira, há uma crise de identidade. Há um saudosismo. As pessoas falam que há 40 anos atrás é que era." Ao mesmo que sinto desconsolo respiro de alivio. "Ao menos não afirmam que há 500 anos atrás é que era bom! Pelo menos há 40 foi quando se deu a queda do regime fascista e uma promessa de liberdade e mudança enchia a vida das pessoas!"

Tem dias que não quero saber mais o que se passa no meu país, pois é uma sensação de impotência perante uma neurose coletiva. É como quando algum dos nossos amigos, ou até mesmo nós, cai numa depressão profunda e parece que nenhum auxilio, nenhuma ajuda é válida. Parece que nenhuma contribuição nossa parece surtir efeito.

Muitas vezes paro e penso:' Não vou escrever nem comentar mais nada sobre Portugal,pois estou na face da muda de pele como uma serpente.Sinto que estou a mudar de pele.Preciso de me libertar do que ficou para trás, mas não sou de abandonar quem quero bem. Vou escrever coisas positivas que sugiram sorrisos e quem sabe risos." Então lá vai!

OXALÁ QUE OS CRAVOS DE ABRIL  VOLTEM A FORMAREM UM BELO RAMO DE FLORES PARA JUNTOS SE ERGUEREM

Ana Piu
Brasil, 20.3.2014







quarta-feira, 19 de março de 2014

HABIB, MEU BOM RAPAZ

Hoje na minha terra, de lá de onde nasci e vi a luz do sol pela primeira e que me pegaram ao colo,  é dia do pai. No ano passado também foi e desde que me conheço é. Uma das primeiras pessoas que me deram a conheço foi o meu querido paizinho. O mesmo que me levou nas cavalitas e que o desporto preferido era levar-me nas costas como um saco de batatas. Nos serões televisivos deitava-me ao comprido no sofá e fazia do seu estômago a minha almofada. Um forrobodó! Toda aquela chinfrineira de ruídos vindos das profundezas do seu ser. Um organismo em locomoção. Havia a parte a parte de ele rir-se daquelas comédias britânicas legendadas. E eu à época iletrada unilingue tentava-me rir em uníssono das disparateiras dos " Goodies" e da "Familia Bellamy". Ri-me, certa vez num episódio, dos Goodies voarem pelos feitos loucos nas suas bicicletas. Riso em uníssono glorioso.

Na mesma época também de vez em quando perguntava para o meio pai se fulano de tal ou sicrano ou até mesmo beltrano era rico. Como resposta levava sempre esta embrulhadinha:"Não sei! Nunca lhe contei o dinheiro." Moral da história cá no meu entender desde a mais tenra idade: se é rico é lá com ele. Até pode ser mas não aparenta e pouco importa. Até pode não ser e aparentar... Pois. Pobre coitado que vive das aparências!..."

Vinha hoje por aqui nos pensamentos sentidos e conclui: o mê paizinho é o mê melhor amigo e que está cá para o que der e vier. Grande amigo! Por vezes, como acontece com os bons amigos, batemos de frente. Ele não está a ver o filme todo ou sou eu que estou nos making off e também escapam algumas coisas... Faz parte. E o que posso agradecer o goodie meu pai por se ter proposto a me educar para a liberdade, tolerância e autonomia não esquecendo a sua grande preciosa ajuda em momentos delicados deste nosso viver. Quanto ao titulo Habib é que outro dia uma amiga que o tom da minha pele era dourado e eu prontamente respondi que apesar da minha mãe ser branquinha como a cal o meu pai pode passar por árabe. Não sei se lhe agrada ou não. Dessa não se escapa! Pois tudo ao sol da Tugolândia foi habitado por mouros. Ah pois! Quanto ao nome de novo cristão, judeu, também não se escapa. Mas a esta hora o Habib, meu bom rapaz já estará a pensar:"Lá está ela com as suas teorias e discursos" POIS ESTOU HABIB DA SILVA FIGUEIREDO! :D ;)


Danka you, muchas thanks, verys obrigadovskis, gracias muitas

Ana
Brasil, 19.3.2014

Série britânica: The Goodies

terça-feira, 18 de março de 2014

MAKING OFF DE ILAÇÕES EM CONSTRUÇÃO


ANA PIU


VERDADE INTIMA

É por uma verdade intima que te amo,
Estranho.
Porque não há como desobedecer ao amor ...
Portanto eu te amo na penumbra, soterrando o sentimento com explicações diversas.
E a cada dia que me calo, disfarço e me desfaço...
Do que há pulsando vivo aqui.
Mas confranjo o meu coração porque estreito o peito.

É de uma verdade crua esse meu amor,
Estranho.
E escondo tua existência atrás dos pensamentos
Que pra te ter perto
Me atiram longe.
Congelo em silêncio tua imagem
Mas minimizo rápido o teu sorriso-tela
Como quem mancha os dedos
Na tinta fresca do desejo
E, por medo de uma possível rejeição
Desfigura toda a aquarela.

Marla de Queiroz

sábado, 15 de março de 2014

ABRAÇO


Era tão frágil, tão frágil que ao amar não amou, porque tentou fragilizar quem amava. Era tão frágil tão frágil que fingia-se de forte. Só um beijo poderia fazer submergir aquele sufoco de amar e não saber amar. Só um abraço sem palavras. Só. Saciando o desejo tantas vezes boicotado.

a piu


COLAGENS DE DIÁLOGOS NA ERA DO PASTICHE VIRTUAL



 Feliz e tranquila
pois a sinalização aponta a cada novo passo que o caminho é por esta estrada que escolhi andar.
Coração pleno e calmo (Lia)
...
quando estamos felizes com o que somos e fazemos o coração fica pleno e plana tranquilamente num delirio calmo.(Piu)

todo o excesso de seriedade não tem interesse nenhum, é só uma forma de egocentrismo.(Pedro)

dosagens para embalos do sábado a noite:

a consciência da pequenez aflora monstros mitológicos nos interiores (Isabela)

bora lá dar a volta ao texto!: a consciência da grandeza interior aflora pequenos montros fabulosos que fantásticamente cócegueiam as dosagens embaladas pelas noites e os dias da semana que abraçam o sábado (Piu)
 
 

Piu no Brasiu

Piu no Brasiu


"Aqueles cãezinhos treinados para fazer coisas giras aborrecem-me ; porque não têm paixão e a sua graça não convence. (...) Não sei se chore se boceje." Pedro Aires, artista plástico, Lisboa, Março de 2014

Por vezes choro, mas temos de ve...z em quando poupar água. Uma questão ecológica. De vez em quando bocejo e quase dormito quando os lugares, as relações são inóspitas. Depois penso, tentando pelo menos escutar-me que sentido faz tudo isto, que sentido faz para mim tudo isto. Gosto de rir. Gosto de rir junto. Gosto rir de mim. Gosto de rir de nós juntos para encontrar sentido numa resignificação de tudo isto. Desta nossa vida vivida. Encontrar aquele fino e delicado equilibrio entre calma e delírio.

Fazer as coisas sem alma aborrece, esmurece a motivação. Não ter paixão é não ter alma. Seguir a alma, o coração, a paixão tem um preço, mas a alma não tem preço. Por conseguinte, desse jeito maneira... fazer o quê?

Cada um encontrará a resposta dentro de si. Não existem receitas. E quem achar que existe pergunto onde se encontra a sua alma e paixão.

a piu
Brasil, 15.3.2014
 

A SERIEDADE DO RISO


Aqui há uns tempos em palco alguém brincava, caricaturava:" A vida é toooodaa opressão!" Ri. Ri de verdade. Com a sinceridade de considerar um absurdo a vida só ser vista num ponto de vista. Porém... É mais fácil de rir de quem pensa que a vida é toda uma opressão quando se está num lugar confortável. Pois... De que lugar nos rimos? Rimos quando sentimos fome ou quando temos a barriga cheia?
 Quanto a esta frase aqui publicada dá que pensar e respiro de alivio. Respiro por saber que no fundo no fundo aqueles que olham de esguelha a reação do oprimido e até se sentem ofendidos pela sua frontalidade não passam de uns oprimidos também, que só falta balirem:"Mééééé"
 a piu
 Br, 15.3.2014

sexta-feira, 14 de março de 2014

CORPO NO ESPAÇO 2

O impulso da guitarra no não lugar que é um território

a piu
Br, 14.3.2104

CORPO NO ESPAÇO 1

As mãos pelos pés
os pés pelas mãos
a cabeça procura o coração
e o corpo sabe que existe o espaço e também chão

a piu
Br, 14.3.2014

foto: Loublanc



As outras violências

Neste encontro iremos falar da Não-Violência no contexto do progresso social. Eu acho extremamente interessante que se abordem temas em Moçambique, sobretudo se  fizermos de maneira inovadora e com abertura para encontrar soluções. Existe nos nossos países- eu falo de nosso continente- uma tendência para substituir o pensamento crítico pela facilidade de apontar culpas e crucificar culpados. O mundo surge como uma coisa simplificada em que os culpados são os outros e as vítimas somos sempre nós. Esta facilidade é muita tentadora, mas é uma mentira. (...)

Todo o  o nosso discurso continua centrado na culpabilização do passado colonial e da dominação estrangeira. A culpa é sempre do Outro. Esse outro pode ser uma outra raça, uma outra etnia, uma outra religião. Nós estamos sempre isentos de procurar dentro de nós as causas profundas dos nossos problemas. (...)

Existe, enfim, a violência terrível que é o vivermos com medo. Existe essa outra violência maior que é considerarmos a violência como um facto normal. (...)

Esquecer os deveres básicos da solidariedade é uma violência, uma cobardia escondida em nome do bom-senso. (...)

Esquecemos que todos os povos do mundo são pacíficos, à partida. Os povos não são um produto genético, imutável. São produto da História. E a História pode facilmente converter os desejos de paz em violência pessoal e social. (...)

Porque temos ideias preconceituosas sobre nós mesmos, ficamos surpreendidos e não sabemos como reagir perante as repentinas irrupções de violência. E ficamos satisfeitos por encontrar culpados. (...) Nós falamos  da reacção violenta de cidadãos pobres contra um sistema que produz pobreza. (...0 E nós temos de curar a doença e não apenas os sintomas. (...)

Ser rico é produzir emprego. Ser rico é produzir riqueza. (...)

Grande parte dos problemas resulta de ficarmos calados quando podemos pensar e falar.
Marthin Luther King dizia: " Mais grave que o ruído causado pelos homens maus é o silêncio cúmplice dos homens bons que aceitam a resignação do silêncio."

Couto, Mia "E se Obama fosse africano e outras interinvenções" Caminho, Lisboa: 2009


A FALAR É QUE A GENTE SE ENTENDE (Série tolerançias nas andançias das crenças umas vezes outras não suspensas)

- Ainda hoje estive à conversa com Deus.
- A sério? E o que conversas-te com ele?
- Perguntei-lhe se ele existe mesmo?
- E ele o que respondeu?
- Primeiro ficou calado durante um bom tempo, depois respondeu que essa pergunta seria eu que teria que responder, não ele.

pipiripipiu
Br, 14.3.2014


imagens: Marjane Satrapi "Persopolis!
1. Marjane com Maomé
2, 3. Descartes com Marx

quinta-feira, 13 de março de 2014

UUUUUUFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFF

É tão chato ser rival
quando podemos acolher o outro como igual

É tão duro competir
não nos permite permitir

É tão drástico estarmos sós
e levar dentro de nós nós

É tão dramático estarmos sós
lembra-nos que somos uns grandes totós

É tão bom compartilhar
quando nos outros podemos contar

É tão bom estar atento
e saber quem nos dá alento

É incrível dar alento
assim é o suave o vento

Tão bom os ventos de mudança
Dá mais prazer à dança

É bom virar a mesa
a casa
e ter a certeza que a nossa natureza somos nós que a fazemos


a piu
Br, 13.3.2014




SEM TITULO

Os dias nem são fáceis nem difíceis. Uns dias mais fáceis, outros mais difíceis. Muitas vezes dificultamos a vida uns aos outros porque achamos que assim é que deve ser. Fugimos da simplicidade como se ela não fosse profunda, como se a simplicidade não fosse aquele traço que abarca complexidades, paletas de mil fatores para que o mundo não se encerre no nosso ponto de vista, não se encerre no nosso circuito de vivências, nas nossas ideias preconcebidas até mesmo de que não somos preconceituosos. Quantas vezes o nosso preconceito é alegar que não somos preconceituosos?

Porém, quando os nossos alicerces, aquilo que achávamos como quase certo começa a ruir tentamos sorrir e fingir que não se passa nada. Sofisticadamente encontramos nomes, conceitos, conjecturas tais para pensar o que outros, até mesmo alguns de nós em algumas circunstâncias, sofrem na pele.

Ontem, José Eduardo Soares deu uma aula de Antropologia  inaugural. É interessante escutar pessoas que expõem ideias com clareza e despojamento, que não precisam de afirmar que são, porque já são. É bom, até diria delicioso, escutar uma pessoa erudita que sorri e tem humor. Tantas vezes isso é raro que quando acontece é como uma lufada de ar fresco. Não será o humor é uma capacidade que não se ensina, mas que se aprende e exercita-se que revela inteligência emocional? Uma coisa, entre muitas, que foi marcante na sua fala e que é para levar bem guardado no cérebro, no coração e em  todo e qual parte do corpo alma que reproduza e manifeste inteligência foi a seguinte: "Quando alguém aponta uma arma está estendendo uma mão. Estender uma mão é um pedido de socorro, de empatia, um pedido de reconhecimento pela sua existência. Tirando aqueles que a usam tecnicamente." Interessante, não? Quando alguém não é inserido, reconhecido, logo violentado muitas vezes procura mecanismo desajeitados para chamar a atenção. Dá que pensar quanto a nós, atores sociais, como nos colocamos. Será que muitas vezes não agredimos, mesmo que involuntariamente? Será que quando alguém nos tenta agredir a nossa resposta pode ser mais empática? Manter a calma é um desafio, reagir é uma prática. Enfim... Ser e estar aprende-se com a vida vivida.

Nessa aula cujo o titulo era :" Escravo, xamã, parangolé e rolezinho: escrever o social depois de Junho na primeira pessoa" falou-se também da luta dos garis. Pois... Quem limpa o "nosso' lixo se esse pessoal pára?

No debate final falou-se com algum tom de preocupação que jornais internacionais europeus cobriam a noticia dos garis (homens do lixo em greve no Rio de Janeiro) que no Brasil a escravatura ainda vigora! Claro que vigora! Qual é a dúvida? Os gringos não dormem, por vezes sonham com o trópicos, mas a escravatura, a segregação, a homofobia, o machismo está à vista de todos. Ou não? Ou quem se desloca de helicóptero não olha pela janela enquanto lê a Time e o Le Monde Diplomatique? E quando chega a casa bebe um suco de laranja servido por alguém e toma um banho no seu jacuzzi de sorriso cansado, porque amanhã é mais um dia de reuniões e escritório? Ou andamos tão preocupados com a nossa vida o nosso futuro individual que esquecemos voluntaria ou involuntariamente de olhar para o que nos rodeia e interagir?

O professor José Eduardo dos Santos ainda afirmou a uma dada altura que muitas vezes as pessoas que não são acadêmicas sabem mais do que se passa na vida social. Sim. Não? Talvez? Qual é a dúvida?


Ana Piu
Brasil, 13.3.2014






terça-feira, 11 de março de 2014

O KISPO, O CASACO VINTAGE, O CAPUCHINHO VERDE COM AS SUAS BOTAS ORTOPÉDICAS


Do lado esquerdo está o mano velho com o seu Kispo bestial. Sim! Porque um Anorak não é resistente aos dias invernosos madrilenos. No meio está a mãe Bia com um casaquinho, pá! que se eu o visse agora no armário faria o mair sucesso nas noites frias de Buenos Aires e até mesmo de São Paulo! Grande estilo! Gosto das golas! Depois estou eu com aquela capinha verde que durou anos até chegar à cintura. Um ponche e peras! Já as botas... ortopédicas... Fizesse chuva, sol, calor, Verão, Inverno... Enfim... Acho que depois desse calvário nunca me habituei a toda e qualquer coisa que fosse ortopédica!!!... Já não falando daquele aparelho para os dentes cuja fala saia cuspida...

Esta foto data de 1979. Madrid.  Penso que foi a minha primeira saída ao estrangeiro. Memorável. Ficamos vidrados, eu e  aquele ali do Kispo, colados numa vitrine a olhar para uma tv color! Não desgrudávamos tal era o entusiasmo! Também comi pela primeira vez yogurtes da Danone e recebia cromos em troca, cromos do Ursinho Jackie. A Fanta e a Coca Cola também era um" tu cá tu lá" nunca antes visto. Enfim, o consumo galopava em Espanha muito, mas muito mais que no Portugalito. "Nós" somos sempre os últimos, mas depois não nos ficamos atrás! Temos os maiores shoppings da Europa e uma árvore de Natal muitaaaa grande que se vê via satélite!

Hoje penso que curto mesmo é o calor! Em todos os lugares do mundo há maluqueiras, a vida e a morte convivem de perto. Na Colombia o cidadão comum tem de levar com as maluqeiras dos narcotráficos e outras indústrias de armamento financiadas pelos Big Brothers, na Dinamarca entre a plataforma e a linha do metro tem uma uma parede fibra de vidro para as pessoas não se suicidarem ali, no Brasil a desigualdade é tão grande que o perigo espreita em cada esquina ora das forças da autoridade ou ora pelo segregado, em Portugal algumas pessoas morrem aos poucos num slogan "No future", em Paris quando lá vivi a linha de metro para minha casa foi alvo de atentado bombista. Naquele dia e naquela hora tinha ido ao cinema, caso contrário não estava aqui a escrever estas babozeiras.

Enfim, não temer viver! Não temer aceitar que mais tarde ou mais cedo voamos para o espaço sideral. Enquanto isso aproveitemos para aquecer alma com Kispos, com casacos vintage, com folhas verdes de bananeira com abraços sinceros. E mais! Não esquecermos que podemos ser muito bacanas sem sermos bananas! Bananas no sentido de andar por cá só por andar. Porque andar por cá é muita boooom!


Pipiripipiu
Brasil, 11.3.2014

A BELEZA DAS MULHERES E DOS HOMENS (acerca dos dias internacionais das pessoas)


Há muitas mulheres bonitas
homens também há
há homens e mulheres bonitas por dentro e por fora
há quem se fixe na boniteza exterior e se esqueça de alimentar o interior
há quem guarde a sua beleza como um diamante dentro de um cacto
só acede quem está disposto a abrir caminho entre os espinhos e se surpreender
há quem transborde beleza interior que a exterior rende-se à sua insignificância

andamos muito preocupadas e preocupados em competir com uns e com outros que perdemos a oportunidade de sermos mais competentes entre nós
muitas vezes trocamos solidariedade por rivalidade
assim como preferimos a mentira à verdade
a obscuridade à transparência
ser livre é ser transparente?
ser transparente é deixarmos-nos afetar pelas outras belezas
já agora interiores?
ser livre é então libertarmos-nos do nosso ego.
não?
obter conhecimento é conhecermos quem somos?

Ana Piu
Brasil, 8.3.2014
Delores Costello, Ziegfeld Follies — com Fania Naili.



ALGUMAS PERGUNTAS QUESTIONÁVEIS



Uma mulher é punk quando é o que é e já está?
É punk porque reativa?
Reage e isso não é suposto.
O que é suposto é sentir-se amada pela sua aparência, porque a sua essência até poderá ser admirável mas apresenta perigo?
Uma mulher punk deve ser queimada na fogueira como as bruxas da Idade Média?
A mulher que não compete com as outras mulheres nem homens por momentos de êxtase e de felicidade empacotadas é menos mulher, é menos ser humano?
Uma mulher que se solidariza-se com as outras mulheres e homens que desejam o que ela mesmo deseja é ingénua? É babaca? É parva? É utópica?
Uma mulher que orienta a sua sexualidade e a sua vida como muito bem entender é frígida? Porque não sabe o que é BOOOOOOM!
Então que sejamos frígidas e frígidos até que um ou vários abraços quentes, calorosos, amigáveis,companheiros aqueçam as mulheres e os homens que se engasgam com a mentira.

A na piU
Br,8.3.2014



sexta-feira, 7 de março de 2014

O QUE FAZEMOS QUANDO PENSAMOS EM SEXUALIDADE

O QUE FAZEMOS QUANDO PENSAMOS EM SEXUALIDADE

Amanhã é dia Internacional da Mulher. A dia 8 de Março de 1917 mulheres russas manifestavam-se contra a entrada da Rússia Czarista na Primeira Grande guerra e por melhores condições de vida e t...rabalho. Um dado que desconhecia e que passei a conhecer no google amigo.

Este Maio faz 46 anos que o Maio de 68 apontou para uma viragem na página da História.

Até que ponto viramos a página?
Até que ponto conseguimos virar a página?
Até que ponto aprendemos com a História ou simplesmente esquecemos os seus contornos, tornando-os algo difuso, algo distante e quase inexistente?
Até que ponto é que desejamos sermos vistos como heróis e heroínas em tempos de obscuridade?
Até que tempo temos a coragem de sermos quem somos, de errar, rectificar e continuar sem fazer dos outros seres desprezíveis?
Até que ponto estamos dispostos e dispostas a tratarmos-nos de igual a para igual?

Não foi assim há tanto tempo 1917, muito menos 1968. O que desconhecemos? O que nos esquecemos de nos lembrar na hora de agir e de nos relacionarmos?

Há uns 14 anos atrás tive a oportunidade de viajar pelo Brasil quase todo. Falo quase, porque o Brasil é imenso e diverso, assim como as pessoas que nele habitam. Do Amazonas até ao Paraná tem gente de diversas cores, tamanhos, feitios, ambições e modos de se relacionar. Há 14 anos atrás cruzei-me com alguns viajantes de estrada, malucos beleza, artesões. Uma experiência inesquecível do que é viver "à margem", de forma alternativa onde os laços de solidariedade são efetivos. Porém algo foi bastante marcante nesse encontro e viagem. O machismo, o modo pouco respeituoso e até mesmo violento dos malucos tratarem as suas namoradas, companheiras e amantes é constrangedor, revoltante. Nessa hora a paz e o amor passa a ser uma bandeira irónica para tanta maluquez insana. Maluquez essa que contemplava os machos de se envolverem com esta, outra e mais outra, mas há minima suspeita muitas vezes imaginada que as suas meninas, mulheres ficassem com alguém era motivo de violência psicológica e física.

Olho para o meu caderno de anotações e transcrevo para este texto:

O que é sexo de qualidade?
Existe sexo sem amor?
Amor e afeto são a mesma coisa?
Sexo sem afeto tem qualidade?

Deixo este texto em suspenso para voltar mais tarde a ele na esperança de escutar outras vozes. Deixo o texto em suspenso, ainda por escrever porque a nossa História também ainda está por escrever nas nossas mudanças de comportamento, no nosso modo de nos relacionarmos, nesse grande desafio que é gerir a nossa auto estima e estarmos realmente atentos uns aos outros.

dog shave the queen
um dia seremos mais, eu bem sei

A Na Piu

Brasil, 7.3.2014