terça-feira, 4 de junho de 2013

PIM PAM PUM


Meu querido diário, ontem voltei a ter o prazer imesurável de degustar uma refeição no bandeijão. Para quem desconhece, o bandeijão é o refeitório, a cantina universitária do espaço por onde deambulo neste momento. Existe ainda o verbo bandejar, como deves calcular existe igualmente o diminutivo, tal como o aumentativo:"Bora no bandê bandejar?"
Pela módica quantia de dois reais a pessoa mata a sua fome,  numa bandeija linha I Guerra Mundial, essa necessidade básica que a todos nos assiste. Mata a fome a todos menos aos seres de luz, que se alimentam do ar e da paisagem! A esse estádio ainda não cheguei! Talvez, um dia!... Bom, meu querido diário venho te dizer que tenho tido a sincera honra de contactar e até mesmo bandejar com a reduzida população negra ou a dar ares a tal que acede a este campus universitário. Sinto-me sinceramente uma priviligiada de estar com esses "priviligiados", que não fizeram mais do que merece-lo. Ontem entre outros estudantes estavam um doutorando da Bahia. Conversa aqui, conversa ali o rapaz fala que onde ele vive é normal o pessoal andar de arma e que ele até acha a arma um objeto bonito. Mas que não é para matar ninguém. Só para matar coelhos. Meu querido diário, eu contive-me para não lhe dizer que existe um Passos de Coelho no meu país que se iria assustar com a história. Também não lhe contei que o Augusto, depois de vários anos a viver entre a Dinamarca e a França, foi assassinado na sua terra natal no domingo passado. No caso, preferi escutar o que o rapaz tinha para falar e tentar encontrar algum sentido no seu gosto estético por armas, que acredito piamente que não as use para fins nefastos. Mas conhecendo um tanto ao quanto esse Brasil brasileiro desde o Matogrosso, passando pelo Amazonas e descendo o litoral de Belém do Pará até ao sul da Bahia, assim como a cidade carioca, mais o Estado de Minas Gerais com destino no Estado de São Paulo, que mesmo sendo dos mais ricos e desenvolvidos do  país sofre da profunda mazela transversal a todos: discrepância social/segregação social. Perante tamanha violência só podemos "esperar" que manifestações de violência ocorram aqui e ali.
O Brasil, de todos os países que conheço até à data,  pode ser dos mais incríveis, fantásticos, maravilhosos para se viver. E digo isso  do fundo de mim. Tem um clima ótimo (sim aos poucos vou aderindo ao caordo ortográfico, lamento quem se agarra à lingua como algo morto e estanque), uma natureza luxuriante, pessoas amáveis e solidárias muitas e tantas vezes como nunca vi em muitos lugares (nos países africanos dizem que se vive essa solidariedade. Conheço mal Cabo Verde, mas penso que deve ser semelhante). Porém, e esse porém é muito sério as extensões de favela são de perder de vista e os condomínios fechados nascem como cogumelos.

Achar uma arma bonita não é algo que condiz com o meu estilo. Talvez tenha de ativar o tal do relativismo cultural e um pouco de humor negro. Consigo até imaginar o sujeito levar a arma enfiada nas calças e de repente ter de coçar a virilha, acontece a qualquer ter uma coceirinha na virilha, e ....PUM!

Querido diário, o texto já vai longo tenho os meus afazeres mas  uma coisa que se avoluma cá no meu pensar é que se a cantiga é uma arma, se o pensar é uma arma, se a liberdade de expressão é uma arma, então façamos do pacifismo uma arma. Essas armas aprecio-as. Deveras que aprecio. O resto remonta às telenovelas brasileiras da minha infância que achava que era só novela, mas não. A "Escrava Isaura", "O Bem Amado", "O Casarão" não é novela,não. É uma realidade que urge irradicar.

A piU
Br, 4 de Junho de 2013

imagens do blog: http://tiagopraca.blogspot.com.br/

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