quinta-feira, 13 de junho de 2013

COLOCAR O DEDO NA FERIDA

 A voz do Caetano é aquela voz de sempre. Aquela voz que faz parte do meu imaginário. Através da sua música, das suas letras eu fui criando um imaginário sobre o Brasil e de alguma forma sobre o meu posicionamento no mundo. Não foi só o Caetano, mas é dele que estamos  a falar. Há pouco tempo atrás escutei um amigo ou outro falando que o Caetano "já não era bem o que já tinha sido". Na realidade ainda não entendi porque é que ele se tornou uma pessoa não grata para alguns dos seus admiradores. Na viagem de Lisboa para São Paulo assisti a dois filmes:"Coração Vagabundo" sobre Caetano Veloso e "José e Pilar" sobre o José Saramago. Num dos livros que andam no virote das minhas mãos apareceu este trecho que talvez me faça novamente pensar que quem coloca o dedo na ferida passa a ser um maldito. Bom, aguardo outras opiniões.


'O que tenha dificultado tudo desde sempre é o fato de nunca antes ter havido no Brasil uma figura popular com tanta pinta de intelectual quanto eu. Não sou um mito nacional, na medida em que o Pelé o é, na medida em que Roberto Carlos o é. Nem pretendo sê-lo. (...) Como Glauber (mais ou menos involutariamente) tornei-me uma caricatura do líder intelectual de uma geração. Nada mais. Um ídolo para consumo de intelectuais, jornalistas, universitários em transe. Só que jogando sem grandes grilos nos apavorantes meios de comunicação de massa. Isso, creio, é o que fez com que esperasse demais de mim.
Na sua miséria, a intelectualidade brasileira viu em mim um porta-estandarte, um salvador, um bode expiatório.
Agora sente-se masi descansada ao ver que pode jogar sobre as costas de uma pessoa como eu a responsabilidade por coisas que não seriam da alçada de qualquer deus. Tais como:
A tão exuastivamente discutida (e melhor do que ninguém pelo tropicalismo, depois do Cinema Novo) necessidade de que têm os povos subdesenvolvidos de imitar padrões internacionais."

 Veloso, Caetano (2005) 'O mundo não é chato", org. Eucanaã Ferraz. Companhia das Letras, Brasil.

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