Eu tive uma mãe, acho que ainda tenho apesar já ter ido lá para o
eterno se existir há uns largos anos, que cresceu na ditadura
salazarista. Na escola primária tinha uma professora à maneira. Uma
professora bacanona. Uma professora que guardava zelosamente o jardim da
escola. Ninguém lá podia brincar para estar impecável para
os senhores inspectores. Ao que dizem a professora Carmen, que não era
Miranda, era careca. Más línguas? A minha mãe além de olhos verdes tinha
uma longa trança loura. Bom, isso poderia criar algum transtorno à
senhora. Mas talvez não fosse exatamente isso. A minha mãe recusava-se a
regar o jardim nos dias em que os senhores inspectores vinham
inspectar. Também reusava-se a vender as porras das flores
que a
professora Carmen, que não era Miranda, obrigava as crianças a venderem.
Resultado: PUXÃO NA TRANÇA! TOMA E VAI BUSCAR! Para mim é dos atos de
resistência à violência mais relevantes que tenho na minha memória
ancestral. A minha mãe era uma criança ruça de má pêlo nos negros anos
50. Ato de coragem ou de inconsciência? Boa questão.
A piU
Br, 20.06.2013
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