segunda-feira, 24 de junho de 2013

A TRANÇA LOURA DA MINHA MÃE

Eu tive uma mãe, acho que ainda tenho apesar já ter ido lá para o eterno se existir há uns largos anos, que cresceu na ditadura salazarista. Na escola primária tinha uma professora à maneira. Uma professora bacanona. Uma professora que guardava zelosamente o jardim da escola. Ninguém lá podia brincar para estar impecável para os senhores inspectores. Ao que dizem a professora Carmen, que não era Miranda, era careca. Más línguas? A minha mãe além de olhos verdes tinha uma longa trança loura. Bom, isso poderia criar algum transtorno à senhora. Mas talvez não fosse exatamente isso. A minha mãe recusava-se a regar o jardim nos dias em que os senhores inspectores vinham inspectar. Também reusava-se a vender as porras das flores
que a professora Carmen, que não era Miranda, obrigava as crianças a venderem. Resultado: PUXÃO NA TRANÇA! TOMA E VAI BUSCAR! Para mim é dos atos de resistência à violência mais relevantes que tenho na minha memória ancestral. A minha mãe era uma criança ruça de má pêlo nos negros anos 50. Ato de coragem ou de inconsciência? Boa questão.

A piU
Br, 20.06.2013

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