quinta-feira, 24 de abril de 2014

TER ESPERANÇA MOVE (série: comemoração do fim do fascismo)

Tantas coisas para escrever. Tantas coisas para repensar, rever, reatar, ressuscitar. A escrita é motivação. Só a motivação faz-nos avançar? Posso escrever sobre o boletim de ocorrência do  atropelamento onde o atropelador fugiu. Posso falar do escrivão da policia civil e de me rir por ele, ao telefone, falar que o Brasil é o país dos feriados. Mas como ganha uma merda não se sente tão extorquido. Será que ele é considerado subversivo por pensar assim? Quem diz subversivo, diz comunista. Gostei dele. Gostei do seu profissionalismo e do seu despojamento. Vi uma pessoa com um coração e um cérebro. Não era um policial com colete anti balas, mas também vi uma pessoa no policial com o dito colete. Vi uma pessoa, ao me deter nos seus olhos e no modo de falar. Por detrás das nossas vestimentas estão pessoas, umas mais humanizadas outras esquecidas de exercer esse humanismo.

Podemos até dar uma de alternativos, de revolucionários de trazer por casa que a horas certas saímos à rua para reivindicar o que no dia a dia não exercemos realmente. Hoje, espero que haja festa no meu país. Que os 40 anos do fim do fascismo motive uma vez mais para sairmos à rua e nos juntarmos. De sonharmos, agindo juntos. Não numa de sucedâneo de revolução. Cansa brincarmos às revoluções, cansa de acharmos que somos muito libertários mas que no fundo não sabemos cuidar da nossa liberdade. Cansa atropelarmos-nos uns aos outros e ir embora. Cansa tratarmos-nos ao pontapé e com desdém. NINGUÉM É DESPREZÍVEL.

Gostaria que a nossa revolução fosse realmente interior, que a paz não fosse um caminho. Sermos generosos uns com os outros e não nos negligenciarmos com disputas de egos, com palavras e teorias do que idealmente gostaríamos de ser mas não temos a coragem de assumir. A resposta não está nos partidos. Não a encontro. A resposta está em nós, em sabermos que somos seres incompletos e nos completamos quando juntos realmente estamos. Quando somos solidários. Quando nos colocamos no lugar do outro. Quando não recusamos um abraço. E que na troca não seja um pontapé e sim também outro abraço. Quando criamos bem estar uns para os outros. Isso é transformador. O resto são sombras de transformação, revoluções de estante de supermercado na banca rota. Tenho esperança, porque a esperança é a última a morrer.

aNA pIU
BR, 24.4.2014
foto: Piuzinha à porta da fábrica, 1977




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