terça-feira, 22 de abril de 2014

INSPIRADOR GARCIA MARQUEZ


Tem aquela lombada de amarelo torrado que desde sempre saltava à vista na estante da casa de infância. Outras lombadas, de outras cores haverão. Esta era das Edições Europa América. "Cem anos de solidão". Duas vezes lido. O que marcou? O cigano Malaquias que falava em sanscrito e os peixinhos de ouro que um dos Aurelinos Buendias fazia para, quando finalizados, desmanchar e voltar a fazer. Imaginava um homem introspectivo que esvaziava a sua mente através dessa ação continua que a cada peixe e instante que se repetia se aperfeiçoava para logo se desmanchar. Na contracapa a apresentação do livro fala sobre solidariedade. Marcante.

Gosto dos escritores que escrevem literatura. Que nos levam para imaginários a partir do real. Gostos dos realismos fantásticos. Pulsam. Transpiram vida. Transpiram a pessoas que vivem e sonham. Foi o Garcia Marquez, mais o Sepúlveda, a Isabele Allende, a Laura Esquivel, o Eduardo Galeano, o Jorge Amado que me apresentaram a América Latina por palavras, antes de pisar esta terra de natureza luxuriante onde o luxo e o lixo convivem. Onde a beleza beija a feiura se entrelaçam. Onde muitas vezes amor e dor são caras da mesma moeda. Terra de sonho e feridas abertas. Terra que com todos os "ses", "ques" e "mas" pulsa vida, porque é um melting spot continental (esta expressão inglesa além de dar estilo define bem esse cruzamento de gentes que por diferentes motivos vieram e vivem nesta terra). Viva nas nossas memórias quem por bem veio e está, pois a escrita pode ser uma arma (pacifista).

Ana Piu
Brasil, 19.4.2014



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