terça-feira, 29 de abril de 2014

OS FILHOS DA MADRUGADA


O pessoal, que nasceu em Portugal entre o final dos anos 60 até ao final do século passado do milénio passado, já nasceu num sistema de consumo e num formato quase preparado para o servir, com excepção do trabalho precário a que esteve na sujeito aqui e ali ou até mesmo numa constante até aos dias de hoje.Enfim, somos os filhos da madrugada da revolução e também "somos os filhos da mãe drogada", viciada no consumo e no conformismo dea aceitarmos condições de trabalho precárias, onde o contrato de trabalho não existe, muito menos qualquer direito laboral em caso de gravidez, doença e invalidez. Somos os filhos do recibo verde (por aqui nota fiscal). Somos obrigados a pagar impostos altissimos que não reverberam nas obras públicas como deveriam reverberarar, nomeadamente na qualidade de ensino e na resposta do sistema de saúde pública face à necessidade da população.Como trabalhadores precários, o despedimento nem se chega a efectivar, para descarga de consciência do patrão. Basta dizer que não precisa mais dos serviços prestados pelo colaborador. Há trabalhadores, nomeadamente professores entre outras profissões mais e menos qualificadas, que trabalham durante anos para o Estado nestas condições.
Devo sublinhar que o pessoal que nasceu entre o final dos anos 60 até ao final do século passado do milénio passado, na sua maioria, teve acesso ao ensino superior e a viajar, contrariamente a muitos pais e avós desse pessoal.
Porém, muitos, durante os seus verdes anos, diziam à boca cheia:"EU NÃO GOSTO DE POLITICA, NÃO ME INTERESSO POR POLITICA. SÃO TODOS UNS LADRÕES!" Pois...
Relato ainda um breve episódio que me fez, não recuar, e sim parar e pensar. Aos 15 anos, estava eu no 8ºano, houve uma manifestação contra a Prova Geral de Acesso (PGA) que consistia numa prova de cultura geral em sistema americano (cruzinhas, esperas o quê?).  Foi a primeira vez que saí à rua. Lá fomos nós para o centro de Lisboa. Enfim, eu já estava habituada a ser a ave rara do pedaço numa escola onde as pessoas na sua maioria ostentavam roupas de marca e vinham pedir o meu capacete da moto para mostrar que elas tinham moto. Adiante, assim que chegámos dei por mim num parque temático do Woodstock. Logo pensei:"Eh pá! Viemos saltar o Carnaval a fingir que somos todos hippies? E o propósito que aqui nos trouxe? Bom! Assim sendo! Vou dar uma voltinha e já volto!"
Hoje, mais que nunca, está à vista o quanto necessário é estarmos politizados, mesmo que apartidários. Os movimentos sociais tem igualmente força e o modo como interagimos uns com os outros no nosso dia a dia é bastante revolucionário. Sei lá, só para dar uma dica ou duas, até: sabermo-nos escutar realmente e respeitar o outro mesmo quando não estamos de acordo e não optamos pelo mesmo e muitas vezes não optarmos pela mesma forma de falar e escrever. Não somos robôs. Ou somos? Bom, e não vou daqui sem esta! Não nos esquecermos de sermos solidários. Colocarmo-nos no lugar do outro. Esse é o grande passo da Humanidade. A essência do Conhecimento, diria.
Ana Piu
Brasil, 29.4.2014

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