Tudo é grande.Grandiosamente enorme. As ruas largas de prédios de pedra e grandes. Nada igual ao lugarejo de onde veio com meia dúzia casas e algumas almas atentas às almas eventualmente pecadoras. É novinha para pecar, mas há quem diga que o pecado não escolhe idades.
Tem vontade de libertar o intestino. Não há moitas, nem pedras para se limpar depois. Está muito aflita e a mãe pediu para esperar, pois foi oferecer trabalho na casa de uma senhora. Aquelas ameixas que o pai troxe estavam muito maduras. Não aguenta vai ter de ser ali. Sente suores frios e arrepios com calor. Vai ter de ser ali. Que vergonha. A única coisa que sabe dizer é:" Pardon!" Nem uma pedrinha para se limpar. Agacha-se atrás de um contentor de lixo. Aproveita para vomitar a sua fome. O seu vómito tem gosto ao chá de camomila que conseguiu beber no hospital com um biscoito a saber a canela. Todos os dias passa no hospital para conseguir comer um biscoito mais um copo de chá.
A mãe tarda em chegar. E se ela não vier? E se ela a deixou ali. Reconforta'-se com a ideia de poder caminhar pelas ruas sem as ordens maternais. Alguém a chama. Não é a mãe. "Qu'est tu fais lá?" Quando escuta o lá olha para longe. A pessoa repete: "Qu'est tu fais lá?" E ela volta a olhar para longe. A pessoa ri-se irritada e informa-lhe que ela é uma selvagem, que não pode defecar em espaço público. A menina ri-se, sem saber muito bem o porquê do seu riso.Olha e vê que está de cócoras. Não sabe o que fazer. Não há pedra para se limpar e sente pudor da pessoa que na sua frente está. Escuta uns brados ao longe: "Maaaaariaaaaa Josééééé´" Mãe. Corre para a mãe a tresandar aquele fedor materializado que não deu para deslocar para uma pedra.A mãe pergunta-lhe assim que a vê: "Queres uma ameixa? Deves estar com fome. Parece que viste o diabo! "
dedicado à Judite da Silva Gameiro
Ana Piu
Br, 21.1.2013
nota: a história é ficção
imagem: Maria dans un bidonville à Saint-Denis en 1959 © Gérald Bloncourt - 2013
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