"Na contramão da vulgaridade e da violência que o capitalismo produz e reproduz. Na contramão da cidade impessoal, dos gestos petrificados, das rotinas cansativas e estéreis do trabalho alienado. Na contramão do Rio de Janeiro e do Brasil da modernização conservadora e elitista. Da modernização conservadora que reproduz o atraso. Do progresso que produz a agressão. Da urbanização acelerada que desumaniza e instala a violência e a barbárie no cotidiano da nossa cidade do Rio de Janeiro. Das metamorfoses do escravo, livre de açoite na sanzala, preso na miséria da favela, como dizia, ao modo dialético, aquele samba de enredo da Mangueira.
Teatro do Anônimo. Que ocupa ruas e praças da cidade com humor, alegria e inteligência crítica. Fazendo contraponto civilizado à barbárie que, mais e mais, a todos nós ameaça. Faço, portanto, um elogio do trabalho de quem parte da posição anônima, comum e cotidiana, e vai sem preconceito ao encontro dos anônimos e comuns que passam pelas ruas da nossa cidade. Um aprendizado. Um trabalho. Uma mistura de tradições culturais e referências críticas convergindo para o espaço público. Uma maneira de mudar o sentido do anonimato de massa na cidade da mercadoria. (...) É uma longa tradição que faz do humor e do riso armas contra os poderes e as hierarquias, as pompas e as poses, profanas ou sagradas. (...) e vale a pena lembrar, é que também existe um outro tipo de humor, a favor do que existe, do que é injusto e violento, que faz rir dos mais fracos, colocando o espectador na posição pouco honrosa de humilhar quem j´[a é todo o tempo humilhado."
in "Teatro de Anônimo, Sentidos de uma Experiência"/ org. Ieda Magri e João Carlos Artigos-Rio de JaneiroAeroplano: 2008
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