quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CORAGEM


 Meu querido diário, é quase Natal. Ainda estou em estado de jet lag sanzional. Este será o segundo Natal tropical e ainda é muito estranho estar em pleno Verão no Natal. Também é estranho estar longe da família e dos amigos de lá do outro lado do oceano. A pessoa diz que não não liga, mas liga! Vááá! Eu ligo! É bom aquele encontro natalicio. Os preparativos, as comidas, as bebidas, os presentinhos, as conversas, a lareira. É bom sim.

Ir para bem longe, mudar de vida é uma epopeia. Temo a grande virada à extrema direita na velha Europa. Parece paranoia minha, mas temo. Pois temo...

Enfim, enfim ir para bem longe do lugar de onde viemos é uma aventura, ora aventurada ora desventurada. Por vezes o peito fica friooooooo, desamparado, mas ainda bem que tem o sol e a vegetação verdejante, luxuriante para aquecer a alma e manter a energia de continuar em frente.

Por vezes sinto-me assim, como nesta imagem da Helene Weigel na "Mãe Coragem" do Brecht. Talvez assuste um pouco, e até afugente quando o clamor é por aceitação, acolhimento. Enfim, o que me assusta é um dia não ter mais coragem de não me assustar, de não deslumbrar, surpreender e espantar. Ontem fui convidada por uma amiga para degustar um açai gostoso num lugar gostoso. É bom ter amigos. É bom comer acais gostosos em lugares gostosos onde se encontram estas frases na parede que resumem, de alguma forma, estes dois últimos anos da minha existência. E porque não da existência no geral e no particular?

"De tudo ficaram três coisas: A certeza que estamos sempre começando... A certeza que precisamos continuar... A certeza  que seremos interrompidos antes de terminar... Portanto devemos: fazer da interrupção um caminho novo... Da queda, em passo de dança... Do medo, uma escada... Do sonho, uma ponte... Da procura, um encontro." Fernando Sabino

pipiripipu
br, 28.11.2013


imagem: detalhe de La Guernica, de Pablo Picasso e Helene Weigel em "Mãe Coragem' do B. Brecht





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