sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A ILENARIEDADE COADJUVANTE QUE COMPLEMANTARIZA O SER COMO UNO

Meu querido diário,

hoje comecei o dia com a palavra Ilenariedade no pensamento. Cheguei ao meu blo e escrevi isto:

ILENARIEDADES


Um dia cais no goto
O outro no esgoto
Fenomenal!
Um dia és uma besta
Outro és bestial

Um dia todos te querem
No outro quem és tu, belzebu?

Um dia somos o que não fomos
e dividimos a vida em tomos.

A PIU


Mais tarde escutei aquela "velha música" do Caetano : 'O Quereres"

Onde queres revólver, sou coqueiro
Onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alta, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! bruta flor do querer
Ah! bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
Onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim"

Comentários para quê? Eu revejo-me quase inteiramente a modos que linear com esta letra.


Mais tarde lembrei-me de uma conversa que alguém teve sobre Thomas Hobbes e o papel do Estado.O que me chamou a atenção da conversa foi para o facto de Hobbes dizer que só é subalterno, obediente quem quer um dia ascender ao poder. Quem não quer exercer um poder hierárquico, se não for vitima de violência, não vai nessa cantilena. Eu faço parte dos últimos. Dos que não se querem impor e sim propôr, trocar, dialogar, "errar", rectificar.

Depois veio ter este pensamento do Freud às minhas mãos.


"O artista é um homem que não pode se conformar com a renúncia à satisfação das pulsões que a realidade exige. Toda arte é o desenho do desejo. O artista dá livre vazão a seus desejos eróticos e fantasias. Arealidade interdita o tempo todo. Desde coaçao social até a gramática. A obra de arte se caracteriz pela transgressão, por não obedecer a gramática. "

Sigmund Freud
In: Cohen, Renato "Performance como Linguagem", Perspectiva, São Paulo, 2004

Depois a Melisa falou da arte do viver. Logo não tinha como desacordar dela. Porque haveria de entrar em desacordo sobre responsabilizarmos-nos pelas nossas vidas e não esperar que o nosso pai, que é bombeiro, venha apagar todos os fogos? E que tem uma arma do tamanho do mundo para nós estarmos em constante guerrinha. uuuuuhhhhhhhh Sai pra lá barrabás!

Da minha parte, meu querido diário, a vida já é um desafio tão grande entre o qual aprender a ser e estar que não vejo o porquê de estarmos sempre à defesa uns dos outros e não nos disponibilizarmos a nos aceitarmos nas nossas ilineariedades coadjuvantes que nos complementarizam como seres unos.

Bom, agora vou sair das palavras e ver se consigo pôr mais alguma coisa em prática neste desafio do viver. Que o conhecimento sirva para nos aproximar e não para nos distinguir no status quo qualquer que perpetuam relações de subordinação supostamente intransgredida, num aprisionamento de nós mesmos que nos dá abanões ora moderados ora espasmáticos sem precedentes.

a piu
Br, 22.11.2013




Sem comentários:

Enviar um comentário