A mulher no meio da praçinha sorria para o mundo inteiro. Um sorriso largo, dando a conhecer os molares e uma parte da glote. Sorria por simpatia, sorria porque alguém lhe tinha dito que o seu sorriso era bonito ou por tê-lo descoberto numa manhã de segunda feira num cantinho do espelho. Sorria que que sorria e lançava uma gargalhada estridente que feria o tímpano mais sensível ou pouco acostumado. Sorria um sorriso estático, assaz estético, um tanto enigmático. O que escondia aquele sorriso ornamentado de risos histéricos aparentemente espontâneos de alegria?
O olhar da mulher pedia socorro. O sorriso estético de tão estático que era congelou. A sua voz, o seu riso, o seu gargalhar entalado ficou na glote paralisada. Todo esse mundo para quem ela sorrira até então nada notou de tão habituado estava à estridência visual e aliviados estavam na concessão de um intervalo naquele gargalhar.
O homem de corpo franzino passou. O seu olhar conformado, mas esperançoso foi pousar no olhar desesperado da mulher de sorriso estético estático. Logo compreendeu que ela precisava de uma garrafa, quiçá um balde de água fria sobre o rosto, sobre o corpo. Assim o fez. A mulher encharcada moveu-se ligeiramente mas paralisada ainda estava. O homem de corpo franzino chegou-se mais perto dela. Timidamente abraçou-a falando-lhe ao ouvido:
- Calma! Um dia vais encontrar a felicidade que mereces.
- Que mereço?, balbuciou surpresa a mulher por conseguir novamente falar, Mas essa felicidade que mereço demora tanto a chegar!
- Talvez ela venha de mansinho quando saboreares realmente cada momento, cada instante de ti.
Do carrinho que o puxava quando ele o empurrava o homem de franzino corpo retirou um picolé de açaí com maracujá. Ofereceu à mulher e deixou que o ar que respirava o levasse a si e ao seu carrinho.
A piU
Br, 28 de Abril de 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário