segunda-feira, 22 de abril de 2013

CRAVOS



O mês dos cravos volta sempre. Todos os anos, nos mesmos dias, nas mesmas horas. Cravos encravados entre o Inverno e os primeiros desejos Primaveris. Os cravos são escravos encravados em si mesmos. Por dentro sangram, anémicos os cravos esmurecem, desmaiam. Deixam saudades de algo que nunca chegou a acontecer. Em peitos doces fica um amargo na garganta. Um desejo de mar. Um desejo de mar de pessoas. Oceanos sem fim, onde nos encontramos navegando, navegando de peito cheio. Os cravos já não são escravos encravados em si. Já não estão tombados, usados,enganados, ludubriados, desconfiados, cansados. Cravos rejuvenescidos, enternecidos, decididos.
Quando vai ser? Cravos desmembrados, desabituados a não serem um ramo só. Ramos de cravos sedentos de água, de luz, de cuidado.
Cravos encravados não querem ser escravos, mas continuam quase calados, trazem um grito encravado, um grito ferido, comprometido, um grito sussurrado.
Peitos doces desejam que se avermelhem os cravos. Peitos doces de gargantas secas de olhar de brilho cansado desejam cravos encarnados, resplandescentes, ardentes. Peitos doces de olhar desejoso de gargantas adocicadas, dedos extasiados, peitos disponibilizados para cravos que não querem ser escravos encravados.

a piu
Br, 21 de Abril de 2013

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