Hoje olhei para o meu passaporte. Esfolhei-o.
Em cada folha ora vem um Camões, ora vem um Fernando Pessoa. Na capa
dura, no verso, informa que o traço é do Júlio Pomar. Respiro de alívio.
Ao menos um deles está vivo. Depois salta à ideia uma
pergunta sem pretensões algumas demagógicas, mas a pergunta insiste:"
Em três figuras nenhuma delas é feminina. Porquê?" Depois lembro-me da
Florbela Espanca, aquela cuja poesia era de uma beleza deprimente ao
ponto de pôr término à sua curta vida pautada por uma amor cego pelo
irmão. Lembrei-me ainda da freirinha Mariana Alcoforada que morreu
febrilmente de amores por um malvado francês que lhe mostrou os caminhos
do amor e não regressou. Bom, com isto tudo aparecem imagens, pinturas
da Paula Rego. As suas figuras belas e grotescas, de mulheres com perna
grada, algumas com penugem bigodeira no buço. Imagens que desarrumam
conceitos, mentalidades. Imagens e figuras cheias de fantasia,
crueldade. Paula Rego é uma furiosa pictórica que ama o seu trabalho? Eu
cá gosto muito, mesmo quando entra na moda. Confesso que as modas me
dão fastio. Mas como ela é muito boa, no meu ponto de vista, "'tá
desculpada" :) Será que daqui a uns anos, talvez quando o seu corpo já
não andar por cá, ela tem direito a ser lembrada e homenageada nas
folhas de um passaporte e que este sirva para grandes viagens no tempo e
no espaço e para nos lembrarmos que somos do mundo e não de um nico de
território que nem sempre é solidário com os nossos fazeres?Mas a vida
está aí! Num é memo?! Bora lá!
a piu
Br, Abril de 2013
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