O que mais me custa não é quem de cima nos oprime. O que mais me custa é que entre nós irmãos da mesma condição nos oprimamos uns aos outros. Por receio, por comodismo, por individualismo, por falta de generosidade para consigo mesmo.
Leio e releio a frase. Olha de frente, de lado, de longe e de perto. Depois penso que se colocasse a frase como citação de algum outro autor, que mesmo sentindo e pensando o mesmo que eu, seria mais "convincente". Depois penso sentindo de perto e de longe de esguelha e olhando nos olhos e sentido pensando confirmo que não pretendo convencer ninguém de nada de nada. Só trago um intimo desejo de manter a esperança que um dia não mais aceitaremos nos oprimir a nós mesmos e uns aos outros. Desejos íntimos e utópicos. Depois limpo cada letrinha da palavra utopia com um lencinho que trago à lapela, como os cavalheiros de outros tempos de bengala e trato cordial. Tiro o lencinho da lapela do meu peito. Procuro o lugar do coração. Esqueço sempre se é do lado direito ou esquerdo. Já pouco importa de que lado fica o coração, desde que ele bata com vida, com vigor para viver. Sacudo o lencinho que trago à lapela do meu peito ora ainda magoado, ora já aliviado, ora por vezes triste, ora por vezes muito alegre por quase quase estar aliviado. Sacudo a lapela do lencinho para me certificar que todas as lágrimas se foram, que não restam rancores de nada de nada de nada. Só pulsa a esperança de um dia não nos oprimirmos mais a nós mesmos nem uns aos outros.
A piU
Br, 25 de Abril 2013
Imagem: 'Dog woman" Paula Rego
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