terça-feira, 23 de abril de 2013

A CRIANÇA DE PERNAS COMPRIDAS


A criança das pernas compridas levava entre mãos um segredo. Entre as linhas da palma das mãos o seu segredo flutuava. De vez em quando a criança de pernas compridas mostrava um segredo. Abria as palmas de suas mãos onde linhas flutuavam. De pernas compridas a criança guardava ainda outro segredo: expunha a sua vulnerabilidade. De compridas pernas, a criança tinha consigo o segredo que a vulnerabilidade é uma força. De pernas e braços compridos a criança tinha a força da vulnerabilidade que lhe permitia abrir a palma das mãos e deixar que o seu desejo em ser feliz flutuasse nas linhas vulneráveis e compridas. De braços e pernas compridas, a criança grande ainda guardava outro segredo: a felicidade não é estática nem estética, muito menos asséptica. A felicidade flutua, rola no chão. A felicidade é uma vulnerabilidade flutuante. Por isso tem força, mas também assusta. Reposto o susto, tomando o seu sabor com suavidade... Fazer o quê? Saboreá-la! Eram estes os segredos compridos da criança com pernas trazia dentro de si. De vez em quando falava-os, demonstrava-os. Ora bem baixinho ora alto e bom som para todo o mundo escutar. Todo mundo, pensava a criança comprida de braços e pernas flutuantes. Quem é todo o mundo? perguntava. Depois calcorreava o mundo para perceber quem era todo o mundo.

imagem: Picasso, as crianças, frieze, detalhe

A piu
Br, Abril de 2013


imagem: Pablo Picasso
As crianças, detalhe

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