sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O LENÇO QUE ACONCHEGA PENSAMENTOS

Este lenço preto com flores foi a minha avó que me deu. Ofereceram-lhe e ela deu-me por que não o usava. "Não digas nada ao teu irmão! Foi ele que me deu!" Pronto já disse!
Não, não é um lenço tipico da minha terra natal. Como tal não é nem tradicional nem exótico. Nos meus parâmetros, claro! Aliás! É um lenço daquelas lojas das grandes superficies que dão uma de artesanato do mundo. Artesanato industrializado, mas tudo bem. Eu gosto muito deste lenço tanto como xaile como turbante. Gosto de usar chapéus, boinas, lenços na cabeça. Manias! Cada um com a sua.

Esta foto foi tirada em Holsterbo na Dinamarca. Este lenço sempre me acompanha para onde eu vou.
Tanto em climas frios como quentes. Gosto dele mesmo. Certa vez em Copenhaga, acabada de chegar de Berlim fui ter com um casal amigo numa mesa com outras pessoas. Era Verão e o pessoal encontrava-se na rua sentado em mesas entre uma beberage e conversa.

"Oh You was in Berlin! Oh cool! Nice!", disse um dos amigos dos meus amigos, mas a conversa não desenvolveu mais. Pronto, tá bem. Vir de Berlim é cool, mesmo que a conversa não desenvolva. Posso até ter estado a colecionar bolhas de ar num apartamento sem luz que já é cool, porque é em Berlim. Ehehe Veio-me à cabeça um pensamento bufonesco, mas não verbalizei! :
"Estarei perante um comportamento urbanó provinciano de deslumbramento por outro lugar mas sem curiosidade em saber o que lá acontece?" ehehehe Mas fui educada, porque sim

Aproximei-me da mesa e apresentei-me colocando a mão sobre o peito e inclinado-me ligeiramente esboçando um sorriso:"Hello! My name is Ana!" Olharam para mim, sorriram, olharam entre eles e riram. Não me convidaram a sentar e continuaram a falar em dinamarquês. Pronto, tudo bem! Não é lá muito agradável a pessoa não se sentir inserida mas bola para a frente. Depois comecei a pensar o porqê daquele riso. Será que o meu cumprimento suou a salamaleco árabe ainda para mais de lenço na cabeça? Olha!... Granda loucura! Estarei novamente perante um fenómeno urbano provinciano! Chiça!... Será que é muito chato nos dias que escorrem ser árabe por estas bandas? Pois... Teria de ficar mais tempo para saber.

Depois sento-me na mesa por minha conta. Alguém ao fundo fala alto e canta. O deslumbrado de Berlim diz:" Ele tá bêbado, não ligues!" E daí eu verbalizo mantendo a minha latinidade mais ou menos domesticada: "Pois, está visto que para o pessoal falar um pouco mais alto e se movimentar um pouco mais 'descontrolado" precisa de beber. Onde é que tem um lugar por aqui ondedê para dançar?"

Ana Piu
Br, 16.01.2015

"Buraco no céu" Teatro Balbinas Beduinas, Sousas, SP, Brasil 2014

Anita em Holsterbo, Dinamarca 2011

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