sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

SENTIDO DE VIAGEM

todos os seres humanos deveriam ter o direito a viajar
todos os seres viventes deveriam permitir-se viajar
deslocarem-se de si em direção a si e ao outro
todos nós deveríamos ter pelo menos um momento na vida onde todos os nós cá dentro se desfizessem

todos nós deveríamos viajar com meia dúzia de moedas em bolsos quase rotos para dar aquela ginástica de dar a volta por cima com um salto (i)mortal
todos nós deveríamos sentir fome
fome de comida, de amor, de realização, de justiça, de paz
para que essa urgência se concretize

todos nós deveríamos ao menos uma vez sermos vós, vós outros e nós
todos mas todos mesmo deveríamos ir e ver que nem todos os lugares são iguais
que o modo de nos organizarmos
de exprimir o que sentimos difere

todos nós mesmo todos nós deveríamos saber que todos mas todos sentimos, choramos, rimos, amamos, iramos,controlamos e descontrolamos o riso, o choro, que a mágoa é saudável assim como sentir uma alegria ingénua, mesmo que aos 80 anos de idade
todos nós deveríamos aprender a amar e a pegar no colo a nossa ira para a tranquilizar

todos nós deveríamos nos deslocarmos de nós mesmos, nem que seja um passo para saber que não somos o centro do mundo e que levamos o mundo dentro de nós
e é isso que nos move, que nos faz mover e no modo como nos movemos
todos nós somos muitos e muitas e som UM

Ana Piu
Brasil, 30.10.2015


decisão de ir e de ficar

não sentir vergonha de pedir ajuda, aceitar ajuda

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

IR E VOLTAR

aquele Janeiro junto ao mar foi bonito, mas um pouco solitário. Passear depois dos ensaios pela praia era bonito, mas no Inverno também é nostálgico. Já abdicara da televisão há uns bons tempos, mas nessa cidade que deixara havia bares, pessoas, vida na rua. Évora é uma cidade universitária com o que tem de bom e de "já chega". Milfontes é um vilarejo que tem vida humana no mês de Verão, o tal de Agosto. Resultado, quando podia ia a Lisboa. Demorava 5 horas de caminho para ir e outras 5 para voltar, só para ver gente na rua. Também para saracotear entre cinemas, teatros e exposições. Muitas vezes nem havia tempo para combinar com amigos, mas só o ir já valia.

Depois veio Abril e metemos pé na estrada pelo Alentejo profundo. Em 1995 ainda haviam pessoas cuja memória de teatro eram os saltimbancos na rua na década de 40 e 50. Comentários para quê? apresentávamos na rua e em Casas do Povo.

Em 1999 um mês no Estado do Matogrosso apresentando o espetáculo e orientado oficina de improvisação. Além da afabilidade na recepção o enorme interesse em assistir ao trabalho e a participar nas oficinas. "Não tem praticamente nada por aqui", diziam.
Na estrada sentia-me realizada e pensava:"É isto que quero fazer. E cantarolava o Milton:"ir onde o povo está."

Bem sei que muitas vezes, pelo facto de apresentarmos na rua, em espaços coletivos e algumas vezes não convencionais, não somos vistos como atores ou como "verdadeiros" artistas. Os das salas e eventos conceituados. E porque os "verdadeiros atores" são os da novela... Mas não tem problema.  Até um certo ponto. Bem sei que muitas vezes pelo trabalho já estar financiado e ser oferecido ao público gratuitamente este não o valoriza. Talvez tenhamos de ter uma posição mais clara nisso e explicar quem somos, o que fazemos, em que circunstâncias trabalhamos para no minimo dignificarmos o nosso oficio.

De uma coisa sei. ADORO VIAJAR E DEPOIS VOLTAR A CASA. Gosto do sentido de viagem, de ser forasteira recebida com curiosidade e também desconfiança. Embora goste mais da curiosidade, perceber o porquê das desconfianças permite a olhar também para os nossos medos, desejos e persistências. Uma forma de voltar ao lar, ao self, nesse ir e voltar para recarregar energias no deambular da vida, nos encontros e nos "até à vista!".

Ana Piu
Br, 29.01.2015


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A NOBRE ARTE ARTE DE SER A MAIS PLEBEIA DAS RAINHAS, TRANSFORMANDO PEDRAS EM SOL

"Esta é a minha amiga portuguesa. Uma rainha."
Oh m'essa! Serei eu a rainha dos plebeus? Ou serei a rainha plebeia? Ou a mais plebeia das rainhas? Up! Alê hop! Confia et toi même (dá sempre estilo e glamour uma francesada pelo meio) Sim! Tu és uma rainha! A rainha do cagaço! "Vamo" lá!

"Portuguesa?". pensa o menino. De rompante grita com um sorriso e o braço levantado:" Morte aos portugueses!"
"Agora ferrou!...", exclama o meu amigo atrapalhado sem perder a pose alegre.

Fiquei logo amiga do garoto . Na hora! A sua espontaneidade e inocência valem ouro, que do outro, aquele que por estas terras exploraram não me apraz. Fiquei curiosa com a sua visão histórica dos acontecimentos. "É que os portugueses queriam a selva toda para eles, mas veio o Dom Pedro com as suas tropas e gritou o grito do Ipiranga." "Só a selva que eles queriam?", perguntei.

De repente, quase de repente, percebi que uma era abria-se e fechava-se com um Pedrito de Portugal. Curioso. Mas como a história tem sempre uma pedra, além de pedros, no sapato, bora lá descalçar a bota nos "entretantos" das "todavias".

Entretanto as luzes da plateia apagaram-se para assistirmos à peça. Ainda, em jeito de brincadeira com algum fundo de seriedade, perguntei de mim para mim, pois o momento era de silêncio visto os atores já estarem em cena:"  Morte aos portugueses... E as portuguesas também entram nessa sangria desatada? Quem diz as portuguesas diz tantos outros portugueses que não compactuam com essa ganância secular de ouros, cafés, especiarias e outras iguarias ganhas às custas de outros, dê lá por onde der? Será que não dá para dar uma desculpada? Aliás, uma  "pedidada" de desculpas principalmente aos afro brasileiros e aos indígenas? Da minha parte aqui vai: LAMENTO O SUCEDIDO DESDE O ANO DE 1500 ATÉ AO PRESENTE ANO DE 2015 EM TERRAS AMERICANAS/ AMERÍNDIAS.

E já agora aproveito para dizer: Morte aos nossos lados obscuros! Viva a todos que trazemos , ou fazemos por trazer, o sol dentro de nós. Aquele sol que aquece mas não queima. Sim, porque o sol quando nasce é para todos!"

Ana Piu
Brasil, 27.01.2015

A menina da imagem tem um olhar um pouco desconsolado, mas é só para dar uma mexida nas construções culturais de humor. Nem tudo é riso, nem tudo é choro, vulnerabilidade não significa fraqueza, alegria não é a mesma coisa que euforia e ao limite histerismo, cultivar a tristeza é depressão, assim como o histerismo também édepressão. Logo esta menina da imagem o que faz é fitar o seu público tal qual sereia que atravessa o cabo da Boa Esperança, que durante um tempo foi Cabo das Tormentas. Depende do ponto de vista e da energia que se coloca a atravessar marés e tempestades. E a menina canta:" Tantas vezes  fui à guerra que só sei é guerrear, eu gostava um destes dias de ter tempo para te amar. Tenho pistolas de prata, tenho uma bala dourada senão tenho o teu amor não me servem para nada"

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

GRATIDÃO


A 26 de Janeiro de 2012 desembarcava no aeroporto de Viracopos. Gosto especialmente do nome. Viracopos é a continuação de virar a mesa. Dizer de mim para mim: "Não quero beber mais deste copo, deste cálice, sentar-me a esta mesa posta desta maneira. E não me vou calar em relação a isso, mesmo que passe por destrambelhada, maluquinha de arroios"
As pernas bamboleavam na alfândega. Para onde a mãe piu vai as piuzinhas também vão. Posição samurai. Manter a postura calma. "Vai dar tudo certo!" Cultivar a calma e a esperança cá dentro é no mínimo revolucionário. Como o inspirador Gandhi fala:"Sê a mudança que queres ver no mundo." Ando nesse aprendizado. wink emoticon
Há três anos que o recomeçamos de novo e contamos com nós mesmas, porque vale sempre a pena amanhecer.
Como em qualquer lugar do mundo encontramos quem nos ajude, quem nos é solidário, quem nos vire as costas, quem nos dá força, quem não dá nada por nós, quem dá tudo por nós mesmo não nos conhecendo de parte nenhuma. No final, o desafio das nossas escolhas só a nós nos compete.
O que tenho para dizer ao meio dia do horário de Brasilia no dia 25 de Janeiro de 20015 é:" OBRIGADA BRASIL! GRATIDÃO DO FUNDO DO CORAÇÃO!"
Ana Piu
Brasil, 25.01.2015
foto: apresentação do espetáculo: Um buraco no céu, Teatro Balbinas Beduínas em Sousas, São Paulo, Brasil em 2014, a convite do projeto Ultimo Tipo.
— em Escuta o cheiro.

ACEITAÇÃO


Aceitação não é resignação. Aceitar que somos uma partícula ínfima e efémera do universo, que antes de nós outros tantos por já cá passaram. Respeitar os ancestrais que fizeram algo de construtivo para todos, ou pelo menos tentaram. Aceitar que não somos originais. Ou melhor! A nossa originalidade vem de sermos quem somos em relações com os outros, com a vida.
Aceitarmos que um dia nós partimos. Aceitarmos que um dia, quem nós muito amamos, também parte. Aceitarmos que somos movimento e que nesse movimento somo guias do nosso destino, que numa aparente contradição nem tudo controlamos.
Aceitarmos que existem muitas verdades e que juntas são uma orquestra polifônica, onde o que nos une é o coração limpo e leve daquilo que não nos faz crescer enquanto seres vivos com um fundo construtivo e desconcertante. Aceitarmos que não somos perfeitos. Porque a vida é desconcertante. Porque não existe fórmula para a perfeição, se é que esta existe. Aceitarmos cada ciclo da vida, pois é esta que nos move. Aceitarmos que somos vento e movimento.
Ana Piu
Brasil, 25.01.2015
boneca construída por Denise Valarini
foto: Denise Maher
foto: apresentação do espetáculo: Um buraco no céu, Teatro Balbinas Beduínas em Sousas, São Paulo, Brasil em 2014, a convite do projeto Ultimo Tipo.
— com Denise Valarini em Escuta o cheiro.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

BOCK 4 EVER BOCK in all over the world e arredores

BOCK 4 EVER BOCK in all over the world e arredores
Chavalo, tu lembras-te duma cena que o pessoal passava o tempo? Uma cena bués da malaica que durou bués da time? Lembras-te? O pessoal encontrava-se na rua para uns canecos e ficava tudo na frente daquilo. Via-se ao espelho com aquilo, fotografava os canecos, a comezaina e até o pessoal amigo e publicava mas ninguém olhava uns para os outros. Sempre bués, tás a ver, concentrados naquela cena. Apaixonavam-se por pessoas que nunca tinham visto na vida e coisas assim. Liam uma noticia sobre uma catástrofe do outro lado do mundo, discutiam sobre tudo e mais alguma coisa e chegavam mesmo a se desentenderem para todo o sempre sem nunca terem saído da frente daquilo, sem um olhar, um abraço de reconciliação. Nada!
Man! Isso deve ter sido bués da malaico essa época! Isso foi há quanto tempo?
Chavalo, isso durou uns anos. Acho que o pessoal já não tá nessa há uns meses...
Espera aí, bacano. Espera aí...
Yá! Eu espero um coche!
Um coche?!
Ah yá! Já não é do teu tempo! Espero uma beca.
Yá! Yá, bacano! É que tou aqui a receber um pensamento de alguém no chip que eu tatuei no meu cérebro.
Chavalooooo muita à frente! Muita À frente!!
Yá! Foi um tio que me trouxe do estrangeiro, ainda não há cá.
Ahhh yá! E comunicas-te com quem, então?
É uma garina do planeta Marte.
Ah yá, tá-se bem!
a piu
Br, 23.01.2015



quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

UMA MULHER ATEMPORAL, A VELHA MAIS VELHA QUE OUTRAS VELHAS QUE NÃO ERA TÃO VELHA COMO OUTRA QUE AINDA ERA MAIS VELHA QUE MUITAS OUTRAS VELHAS

Olhou para os pés. Aqueles sapatos usou-os no casamento do seu irmão. Ou teria sido no da prima? Já não se lembra ao certo. Fora há muito tempo e não era isso o que mais interessava. Afinal o que interessava mesmo depois de muitos anos se passarem é que ela continuava caminhando como uma reverência à vida. Irreverente caminhava até os sapatos darem sinais que era necessário pararem, ser substituídos. Outros modo de caminhar formigavam na planta dos pés da velha  que era mais velhas como muitas outras velhas mas ainda não era tão velhas como a mais velha de todas as velhas, porque velhos são os trapos como dizia uma velhinha que não era velhinha e sim prestes a ser uma nuvem branca.

Olhou para os pés e despediu-se dos sapatos. Respirou fundo. Com delicadeza tirou os sapatos dos pés. Cansados de tanta caminhada avisavam-na que outros caminhos, outras formas de caminhar era necessárias tomar.

A mulher atemporal abriu o livro ao calhas e leu baixinho para que as palavras se aconchegassem nas dobras do tempo:

"Para que a mudança seja realmente uma mudança, e não uma mera substituição deve basear-se em algo sólido, deve ocorrer uma mudança em algo cuja continuidade deve ficar assegurado. O que dura não é o que se opõe à mudança, mas ao contrário, é o motivo e o instrumento da própria mudança."#

A velha que não era velha mas era, porque atemporal caminhava nas curvas do tempo. Num longo sopro visualizou as mudanças que desejava. Mudanças essas que se condensavam num aparente e simples frasejar:"Ninguém é mais que ninguém. Todos somos o caminho que escolhemos trilhar descalços, com sapatos largos, apertados, vistosos, exuberantes, discretos, brilhantes, opacos, pacatos, curiosos, destemidos, precavidos, temporais e atemporais"

Enquanto a mulher dançava com os seus pensamentos dava saltinhos como se saltasse de nuvem em nuvem, só que sentido a terra do caminho nos socalcos da planta do pé.

Ana Piu
Br, 22.01.2015

máscara construída por Denise Valarini
corpo que transporta a máscara: Ana Piu

# frase de Eugenio Barba em "Além das ilhas flutuante"


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O QUE EU PENSO QUE ELE PENSA QUE EU PENSO#


Aos 15 anos fiz uma prova geral de acesso (PGA) que definia quem tinha cultura geral ou não para continuar os estudos. Essa era prova era feita com cruzinhas, o chamado sistema americano. Só para rir esse tal de sistema americano. Fui obrigada a colocar a cruzinha em caos quando perguntavam o que era anarquia, pois as outras possibilidades não eram de todo plausíveis...Em suma, cruzinhas que tornam o pensamento ortopédico para os mais desatentos que fogem a sete pés da autonomia, auto gestão e compromisso.



Se para a Lya Luft pensar é transgredir para "W.R. Bion pensar é diferente de conhecer; pensar é "pensar as emoções" e somos capazes de pensar na medida em que toleramos as frustrações"."##
Nem todos pensamos, expressamos esses pensamentos que são emoções e sentimentos do mesmo modo. Nem todos agimos igualzinho uns aos outros. O que dá algum alivio em consideração que o ser humano por enquanto ainda nasce de uma barriga e raros são os que nascem de um tubo de ensaio. Dependendo de como lidamos com os nossos pensamentos pensar assustar, porque para transgredir é preciso fôlego. Pensar assusta mesmo muito porque sermos nós próprios em conformidade com o que nos rodeia é preciso ir aos treinos. Ir aos treinos é uma disciplina. Focarmo-nos no que realmente queremos, desejamos é preciso olhar de frente, para os lados e abrir o peito. Abrir o peito é nos disponibilizarmos para o vazio. Abrir o peito é desarrumar os pensamentos. Tirá-los do lugar, limpá-los. Tirar a poeira que pesa de cima. Dar uma nova decoração ao nosso interior. É preciso fôlego. Como um leve sopro. Depois, talvez mais lá à frente ou de seguida, percebemos que tudo é muito mais simples e leve.
Ana Piu
Br, 20.01.2015
# Titulo de um espetáculo do João Fiadeiro de nova dança nos idos anos 90.
## Retirado da tese de doutorado de Johana Barraneche-Corrales " O riso e a capacidade negativa aproximações entre riso, alegria e pensamento a partir do trabalho dos Doutores da Alegria”, IFICH Unicamp, Campinas 2013



O QUE EU PENSO QUE ELE PENSA QUE EU PENSO, coreografia de João Fiadeiro

(Encontros ACARTE 92, Lisboa, 1992)

Foto: José Cerqueira

Na foto: Nuno Bizarro







COLONIZAR E SER COLONIZADO


Colonizar é invadir, impor, sobrepor. Ser colonizado é ser invadido sem permitir ou pelo contrário essa colonização surge por deslumbramento e carência de importância dada à sua própria identidade. Ser colonizado é uma derrota que não é linear, pois há sempre pontos de fuga onde a resistência insiste em não ser sobreposta a imposições que muitas vezes surgem subtilmente, em pezinhos de lã, outras de botas cardadas que vem para ficar a qualquer custo.
Colonizar e ser colonizado são padrões de comportamento, modos de pensar, expressar e agir e que se tomam muitas vezes por naturais, que assim é o modo, a forma em detrimento de que é aparentemente diferente e estranho.
Colonizar e ser colonizado são relações de forças e poderes por aqueles que ainda não se desvencilharam do eco do ego. Desvencilharmo-nos do eco do ego leva uma vida de prática para o tranquilizar. Pegá-lo no colo quando se sente ferido e segredar-lhe ao ouvido:" Querido ego, não é mau que existas mas não és o único a existir, existem outros egos que solitários ecoam, mas que juntos formamos uma orquestra polifónica. Tu já viste a beleza, a grandiosidade dessa orquestra?!?! Tu já viste o quanto é belo e rico a diversidade? A polifonia! Diferentes formas de pensar, agir, exprimir? Tu já viste, querido ego, que quando te abres para o espaço sideral és só uma partícula ínfima da quilo que pode ser algo maior? Há quem designe por TODO. TODO é TODO, logo é muito mais, mas muito mais que colonizar e ser colonizado.
Ana Piu
Br, 20.01.2015


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

OS PARADIGMAS PARA O ANO DE 2015 E SEGUINTES


Gentileza que rima com
delicadeza
subtileza
clareza
franqueza
sabedoria
harmonia
alegria
folia
frontalidade
responsabilidade
solidariedade
E!!!
LIBERDADE DE SER E ESTAR
Ana Piu
Br, 19.01.2015


NEVE TROPICAL


Eh pá! Com este calor dos diabos nevou esta noite?!?! O quintal tá todo branco!! O que é isto? ( à conversa com a cachorrada sem ligar ao especismo da racionalidade) O que é isto Migo e Nica? Quem rebentou com este rolo de papel higiénico?! Vão dizer que foram as formigas do açucar!!
a piu

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O LENÇO QUE ACONCHEGA PENSAMENTOS

Este lenço preto com flores foi a minha avó que me deu. Ofereceram-lhe e ela deu-me por que não o usava. "Não digas nada ao teu irmão! Foi ele que me deu!" Pronto já disse!
Não, não é um lenço tipico da minha terra natal. Como tal não é nem tradicional nem exótico. Nos meus parâmetros, claro! Aliás! É um lenço daquelas lojas das grandes superficies que dão uma de artesanato do mundo. Artesanato industrializado, mas tudo bem. Eu gosto muito deste lenço tanto como xaile como turbante. Gosto de usar chapéus, boinas, lenços na cabeça. Manias! Cada um com a sua.

Esta foto foi tirada em Holsterbo na Dinamarca. Este lenço sempre me acompanha para onde eu vou.
Tanto em climas frios como quentes. Gosto dele mesmo. Certa vez em Copenhaga, acabada de chegar de Berlim fui ter com um casal amigo numa mesa com outras pessoas. Era Verão e o pessoal encontrava-se na rua sentado em mesas entre uma beberage e conversa.

"Oh You was in Berlin! Oh cool! Nice!", disse um dos amigos dos meus amigos, mas a conversa não desenvolveu mais. Pronto, tá bem. Vir de Berlim é cool, mesmo que a conversa não desenvolva. Posso até ter estado a colecionar bolhas de ar num apartamento sem luz que já é cool, porque é em Berlim. Ehehe Veio-me à cabeça um pensamento bufonesco, mas não verbalizei! :
"Estarei perante um comportamento urbanó provinciano de deslumbramento por outro lugar mas sem curiosidade em saber o que lá acontece?" ehehehe Mas fui educada, porque sim

Aproximei-me da mesa e apresentei-me colocando a mão sobre o peito e inclinado-me ligeiramente esboçando um sorriso:"Hello! My name is Ana!" Olharam para mim, sorriram, olharam entre eles e riram. Não me convidaram a sentar e continuaram a falar em dinamarquês. Pronto, tudo bem! Não é lá muito agradável a pessoa não se sentir inserida mas bola para a frente. Depois comecei a pensar o porqê daquele riso. Será que o meu cumprimento suou a salamaleco árabe ainda para mais de lenço na cabeça? Olha!... Granda loucura! Estarei novamente perante um fenómeno urbano provinciano! Chiça!... Será que é muito chato nos dias que escorrem ser árabe por estas bandas? Pois... Teria de ficar mais tempo para saber.

Depois sento-me na mesa por minha conta. Alguém ao fundo fala alto e canta. O deslumbrado de Berlim diz:" Ele tá bêbado, não ligues!" E daí eu verbalizo mantendo a minha latinidade mais ou menos domesticada: "Pois, está visto que para o pessoal falar um pouco mais alto e se movimentar um pouco mais 'descontrolado" precisa de beber. Onde é que tem um lugar por aqui ondedê para dançar?"

Ana Piu
Br, 16.01.2015

"Buraco no céu" Teatro Balbinas Beduinas, Sousas, SP, Brasil 2014

Anita em Holsterbo, Dinamarca 2011

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

SENSÍVEL

A sensibilidade não se ensina, nem se mede, exercita-se. 

EUREKA!H POIS QUE ELE SE TRATA DE FUNDAMENTALISMO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO! JÁ COMPRI!ALIÁS! J'AI COMPRI! OU RHEIL RIHITLER!




Descobri! Descobri que uma nova ordem mundial estás prestes a culminar numa escala de valores nunca antes vista desta forma! O FUNDAMENTALISMO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO!!!Isto é, fundamentalmente do que se trata é a liberdade de ofender e atacar o próximo sem que este não tenha sequer possibilidade de responder seja o que for!
Passo a explicar! Os fundamentalistas da Liberdade de Expressão concedem liberdade aqueles que virem no outro um inimigo ridicularizável, fácil de incriminar e de ser o bode expiatório. Quem nos diz a nós que o Bin e os seus muchachos não passam de uma farsa montada no West?
Farão parte dessa nova ordem mundial tanto coxos como mancos, tanto conservadores como corantes e conservantes que numa afincada crença na sua cor partidária não olharão a meios para atingir os fins.
Os porta estandartes dessa fundamentalidade expressionista liberal reproduzirão com meios mais sofisticados ou não o que aconteceu na Europa civilizada há coisa de 50 anos. Hoje os fundamentalistas expressionista querem agradar a gregos e a troianos. Não! Espera! Não querem nem agradar a gregos nem a troianos! Esses estão completamente f..... didos e se saírem à rua levam no totiço!E nem podem fotografar esse enxerto da porrada dada pelas forças de segurança pública! Se não... multita! Ah pois! Ou vão dentro para saberem o que é bom para a tosse! Falo da situação da vizinha Espanha, onde saiu uma lei que proíbe manifestações em frente ao congresso, fotos de repressão das forças de segurança pública e expulsão de emigrantes sem papeis.
Já os fundamentalistas expressionista não! As forças da autoridade estão em consonância com o seu projeto de limpeza étnica, ideológica e religiosa. Tem é que haver sempre um bode expiatório e o sarraceno já tá secularmente habituado! Enfim... Melhor rir do que chorar, pois se chorarmos todos levanta-se cá um tsunami!... O que é muito desagradável, principalmente no primeiro mundo que tão impecável é!
Ana Piu
Br, 14.01.2015


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

EU SOU A ANA PIU QUE CURTE MUITO A MARJANE SATRAPI



Pois é a coisa não está fácil... Quem pode parodiar e quando, em que circunstâncias. Busco no google a posição da cartoonista iraniana Marjane Strapi que vive há um bom par de anos em França e quem em Persopolis, tanto no livro como no filma fala da revolução islamita, dos seus autoritarismos e fundamentalismos. Ela na sua juventude é punk, anarquista, talvez ainda o seja. Mas em tempo algum eu vejo no seu trabalho uma ofensa a Maomé. Aliás, tem algumas cenas em que ela criança e jovem conversam ao adormecer com esse senhor barbudo que carinhosa e respeitosamente fala com ela.
Marjane Satrapi dedica a sua obra magnifica ao seu povo iraniano. Tem uma frase do Persopolis que trago comigo até hoje. Frase essa que o pai lhe diz quando ela sai pela segunda vez do Irão, pois como mulher, artista e com outras ideias corre perigo:"Andes por onde andares nunca te esqueças de onde vens, de quem és, do teu povo." Muito profundo, principalmente para quem sai definitivamente da sua terra natal.
Talvez Satrapi não se queira meter nessa dicotomia, nessa molhada confusa entre cartoonistas ditos socialistas e anarquista e fascista que anseiam por subir ao poder, uns já lá estão, e fazer da velha Europa o panorama sinistro de xenofobia e outras tantas manias.
Resumindo e concluindo, não encontro nada na net que demonstre o posicionamento da Marjane Satrapi em relação a esta maluqueira do "Je suis" e do "Je ne suis pas" que não é nada inocente... Pois!...Conta-me histórias daquilo que eu quase vi!

Ana Piu
Br, 14.01.2015







A ARTE É VIDA DO ENCONTRO ASSIM COMO A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO EMBORA HAJA TANTO DESENCONTRO NESTA VIDA ASSIM COMO ENCONTROS, uma questão de fazermos por isso

O que mais me deixa feliz, feliz, mas mesmo feliz é atuar. Seja em sala, seja na rua. O que me deixa muito, mas muito feliz é viajar aí pelo mundo para depois voltar ao lar. O que me deixa imensamente feliz é atuar para o público e com o público. Amanhã faz exatamente 20 anos que comecei como profissional desse oficio que me deixa muito feliz, embora nem sempre tudo sejam rosas. Mas quem corre por gosto não cansa. Embora tenha começado antes aos 16 anos entre grupos de teatro amador e escolas de atores, é amanhã, dia 15 de Janeiro, que peguei ao trabalho assalariado. Esta data é igualmente significativa, pois a 15 de Janeiro de 1913 nascia o mê avôzinho no mesmo Alentejo que comecei a trabalhar depois de vir de Lisboa. Em suma, trânsito ao contrário. Eu vim de Lisboa para o Alentejo e ele nos "grandiosos" (/!?!) anos 40 foi para Lisboa à procura de melhores condições de trabalho.

Homenageio então, um artista que considero um grande artista de rua, e não é só por ele ser O ARTISTA DAS ANDAS/ PERNAS DE PAU; Jean Pierre faleceu no passado dia 12 de Janeiro. Só morrerás quando a última pessoa que se lembrar de ti morrer, já dizia a minha professora de filosofia daquele ano em que comecei a fazer teatro na escola (pública). Deixo esta homenagem a nós todos fazedores de arte que saímos à rua para partilharmos momentos, além de atuarmos em sala mais ou menos conceituadas. Pois a rua quer-se livre e democrática assim como a arte, seja ela em espaços convencionais e/ou alternativos!


Ana Piu
Br, 14.01.2015

em memória a: Jean Pierre Billaud ( ator, palhaço, ator sobre andas/ pernas de pau, encenador)

22.07.1954// 12.01.2015

Teatro Ka "Uroboro", direção: Judite da Silva Gameiro interpretes: Jean Pierre Billaud Festival de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira 2003









ESPERANÇA

menina em fundo verde de saltos altos e cabelo ao vento puxado para o lado e para trás

desenho: Nina



segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

IDEIAS LIBERTÁRIAS DE KROPOTKIN


"Como o historiador e o sociólogo compreenderiam melhor a humanidade se a conhecessem não apenas pelos livros, não apenas por um exíguio número de seus número de representantes, mas em sua complexidade, em sua vida, em seu trabalho, em suas atividades cotidianas (...) E como o poeta sentiria melhor as belezas da natureza; como conheceria melhor o coração humano, se tivesse a oportunidade de bservar o nascer do sol entre os camponeses, ou de lutar contra a tempestade entre os marinheiros a bordo de um navio; se conhecesse a poesia do trabalho e do repouso, da dor e da alegria, da luta e da conquista."
P. KROPOTKINE, O espírito de revolta, Paris, Les Temps Nouveaux, 1914

Y YO LO SÉ?


Si je suis Charlie então sou Charlie Brown, Charlie White, Charlie Fight, Charlie Pardo et Charlie Parvo. Sou Charlie que faz do seu humor a sua vida, sou Charlie Brown quando milhares de negros são segregados, torturados e mortos mesmo à minha beira. Sou Charlie White quando faço do meu humor uma bandeira de paz, pacifista. sou Charlie Fight quando luto pela nossa dignidade e liberdade enquanto seres vivos. Sou Charlie Pardo porque além de não existirem raças e sim grupos étnicos muito menos raças ou etnias puras. Sou Charlie Parvo quando enfio a cabeça na terra como uma avestruz e pisoteio quem à minha volta está, assim achando que sou livre.

Para todos os efeitos sou e não sou. Sou Charlie quando defendo a liberdade de expressão. Não sou Charlie quando reforço a segregação e o preconceito, humilhando quem já é humilhado; brincando com o fogo daqueles que já estão muita queimados nos fusíveis. Bem haja para os heróis que se metem na boca do leão que já rosnou! Quanto a mim esse heroísmo é um número que não me assenta bem.

Sou Charlie, Sou Red Hot Chilli Peper, sou Sargent Pepper. Sou Oui Oui. Sou Ça Va, quero é estar na boa e não na má. Je NE SUIS PAS CHARLIE quando o fascismo bate à porta e chega de pézinhos de lã e botas caradadas.

Só não entendo, talvez seja lentidão minha visto eu ser uma Charlie slow motion, porque tanto alarido para umas coisas e para outras o mundo não está nem aí, nessa vibration. Pero, yo que sé?

Ana Piu
Br, 12.01.2014

Viva o humor que desconstrói preconceitos e não estimula o ódio





A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NÃO É NEGOCIÁVEL?


A cidade de Copenhaga na Dinamarca é bonita, organizada, silenciosa. Berlim, na Alemanha, também respira organização e silencio. Andando a pé de bicicleta por Berlim penso:" Aqui sente-se paz! Depois de tantas maluqueiras que já se passou por aqui parece que agora as pessoas desejam paz, muita paz para as suas vidas."
Deambulo por ambas as cidades ao longo de dois ou três anos para decidir o que fazer à vida, para onde emigrar. Deambulo solitária ou com amigos locais. Mais tarde deambulo com dois seres que saíram da minha barriga e que podem ser mistura com toda e qualquer etnia. Passam por chinesas, ciganas, índias, cafuzas e!... Árabes! " Esta branca de olho claro, que caladinha sem gesticular muito é escandinava ou germânica, o que faz com duas filhas de um árabe!?!" Sim, foi esse olhar que eu senti em Copenhaga. É subjetivo? É, mas eu senti. O que foi decisivo para eu refletir melhor acerca da nossa mudança para um país outro.
A Europa está a voltar a ser o que era, que tentou deixar de ser, mas que ainda é: eurocêntrica, xenófoba e falsa moralista. Curva acentuada à direita.
De que nos rimos quando nos rimos? Se eu dou um murro no estômago de alguém porque essa pessoa é chata isso é liberdade de expressão? Se o menino gordo de óculos é todos os dias alvo de piadinha na escola como é que este se vai sentir e reagir, caso ainda tenha forças para reagir? Se a outra pessoa não está a fim de piadas de mau gosto, piadas essas que assentes no preconceito promovem violência vamos lá e cutucamos.. Isso é ser livre?
O que me assusta é o pessoal dito de esquerda permitir que o seu cérebro se lave cá com uma pinta!! O que me assusta é que em nome do humor, que sequer são e inclusivo, e da liberdade que se quer igualmente edificante se incentive o ódio, o preconceito e má formação ética. De que falamos quando falamos de ética? De que falamos quando falamos de liberdade? Rir do outro é o mesmo do que rir com o outro? E o que é a espiritualidade com religião à parte? Mesmo eurocêntrica, a Europa está descentrada do seu centro. Precisa de dar umas meditadas. Parece. Pelo menos, visto de perto e à distância.

Ana Piu
Br, 08.01.2014

Escutar, olhar e expressar

EXPRESSÕES LIBERADAS

"Não há assuntos que não se discutem, ou não se satirizam. Há, sim, pessoas com quem não se discute, ou não se satiriza. " Concordo plenamente. Há uns tempos conheci um sujeito que admiro muito pela sua postura socio politica, e que num país onde é mal visto a pessoa assumir-se comunista ele assume que é, dizia:" Não vale a pena convidarmos o vampiro para dentro de casa." Penso que talvez se aplique ao caso. E o que é facto é que hoje, uma vez mais após séculos de guerras contra os mouros, os árabes são o inimigo público do Ocidente. E vamos combinar os franceses, não todos claro, são chauvinistas armados aos cucos com uma tríade de justiça, igualdade e fraternidade revestida a dourados napoleónicos.
E é revoltante assistirmos à perseguição desse povo catalogando-os da pior forma. Que grupos extremistas existem sem dúvida, mas as pessoas que honestamente querem viver as suas vidas são estigmatizadas na velha Europa e arredores. Cheet! Façamos humor de nós mesmos, das nossas ideologias, dos nossos sonhos interrompidos, das nossas obsessões. Deixemos os vampiros fora da nossa casa, da nossa vida. Ahh porque se isto que aconteceu em Paris tivesse acontecido no Cairo ou em Bogotá não teria tido o mesmo impacto internacional. Porque Paris é sempre Paris!

Ana Piu
Br, 08.01.2014




Erradiquemos o policia que há em nós. Já e um começo.



Debater liberdade de expressão a pessoa pode ficar com o cabelo em pé se não tem escuta afinada

ACERCA MINHA LIBERDADE DE EXPRESSÃO


Na próxima vida, quando todos formos muito mais evoluidos emocionalmente, quero nascer num lugar open mind and open body.
Num lugar onde as ideias fluem com a ação.
Quero nascer num lugar onde nós cultivamos a terra e as relações saudáveis. Onde a competição de qualquer forma e feitio seja uma bela piada de nos rebolarmos a rir, de tão absurda, ridícula e desnecessária que é essa tal de competição.
Quero nascer num lugar onde liberdade não se confunda com falta de respeito. Onde rigor não significa rigidez.
Quero nascer num lugar onde dancemos com a exigência de nos propormos a sermos mais íntegros, mais inteiros, menos rasteiros. A sermos mais terra e céu.
Num lugar com amor livre, sem libertinagem.
Quero re nascer num lugar onde o eco dos egos não firam os tímpanos. Onde a verdade que está dentro de nós, aquela que canta junto com a nossa respiração, dilate e nos torne pessoas melhores porque assumimos que ninguém é mais que ninguém.
Quero re nascer num lugar onde realmente nos escutemos uns aos e nos respeitemos de facto. Que a escolha de um não seja motivo de chacota e ofensa para o outro.

Ana Piu
Br, 08.01.2015

ON THE ROAD IN MARROCOS


Saí de Lisboa direito a Ceuta. Irónicamente estávamos na semana santa, aquela da Páscoa. Sempre quisera ir a Marrocos, mas não me apetecia ir sozinha e a minha emancipação feminina ainda não me permitia viajar só com elementos femininos. Na verdade desejava ir a Marrocos sem grandes sobressaltos de género. Naquele ano de 2006 lá fomos nós. Eu e uma petiz de 5 anos ter com uns amigos espanhóis de Valencia.
Na travessia de barco separamo-nos uns dos outros, devido à lotação do barco. Segui com a petiz e um amigo num carro repleto de medicamentos, material escolar e roupa para doar nas populações que fazem fronteira com o deserto do Sahara.
Atravessamos Marrocos com a petiz nas minhas pernas no banco da frente.
Fiquei uma semana sem degustar uma bela cervejinha que eu tanto aprecio, visto o consumo de alcool não ser bem aceite muito menos numa mulher. E para quê levantar ondas?

Paramos numa aldeia. Eu vestia uma blusa branca de meia manga com uns quatro botões na frente. Três estavam abertos pelo calor que fazia. Embora caminhando com um ser do género masculino e uma criança, um sujeito faz sinal ao passar para eu fechar o decote, que eu achava não ser provocante. Fecho. E para quê levantar ondas? Não estou no meu habitat, então danço conforme a música desde que não contrarie o que acho razoável para mim.
No deserto um vendedor quer trocar tapetes e túnicas por roupa que nós trazemos para doar. Nesse momento confirmo a insignificância do dinheiro em determinadas circunstâncias e contextos. E o negócio como um meio de comunicação e criação de relações.
Dentro da bagagem que levamos para doar aparecem peças de roupa inadequadas, por desconhecimento do lugar e dos hábitos do deserto e arredores: mini saias, biquinis, batôns e por aí vai. Deparo-me com a questão do doar. "Mas nós perguntamos a esse pessoal se está interessado nas nossas doações? Nós conhecemos o suficiente esse pessoas para entender se elas não preferem trocar, para que a sua dignidade se mantenha? Ao doar sem troca não estamos a fomentar a cobiça e a criar necessidades de consumo onde não havia?" Questões. Tudo questões.
Ao regresso sinto uns olhares e umas movimentações para averiguar se essa petiz de 5 anos é realmente minha filha, visto ela poder passar por uma criança marroquina.
Pois, em toda a parte nascem e morrem pessoas e as pessoas prezam as suas crianças e a sua dignidade. E quando somos visitas no minimo temos de respeitar as regras da casa sem julgamentos e agradecer por nos receberem.

شكرا (shucra, obrigado)
Ana Piu
Br, 09.01.2014


ACERCA DO HUMOR E DO AMOR/ RESPEITO AO PRÓXIMO, E A NÓS MESMOS. CONVENHAMOS

Como cidadã do século XXI, maior e vacinada por uma Historia milenar de guerras e conflitos que já é hora de erradicar, afirmo e declaro que não compactuo com discursos de ódio, manipuladores para que os Impérios dos últimos cinco séculos se mantenham.
Eu, cidadã do mundo, a viver na Gronelândia ou nas ilhas do Pacifico, declaro que o que se está a passar na Europa É UMA VERGONHA! SINTO VERGONHA DE QUEM COMPRA DISCURSOS DE ÓDIO! SINTO VERGONHA DE QUEM NÃO RESPEITA O "OUTRO", MESMO QUE O OUTRO NOS SOE BIZARRO! SINTO VERGONHA, COMO CIDADÃ EUROPEIA, QUE PODIA TER NASCIDO AQUI OU NA CONCHICHINA! ( ninguém escolhe o lugar onde nasce, quanto muito os nossos pais) QUE SE VOLTE A REPETIR AS MESMAS ATROCIDADES NUM ESPAÇO DE 50 ANOS!
Eu, atriz palhaça de profissão há 20 anos e estudante de antropologia, declaro e afirmo que não assino por baixo de humor que não passa de uma manobra politica para que a LE PEN, senhora com traços neo fascista, suba ao poder. Não compro a ideia que a liberdade de expressão seja para servir o poder dos LE PENES! Que pena... Já previa há uns anos que a curva acentuada à direita se desse... Mas na verdade não era nem é isso que desejo. Ai a "nossa Europa civilizada" e tão exemplar está a mostrar, uma vez mais, como é arrogante e cobarde. Que pena que o hotel de luxo medíocre tenha deixado a porta dos fundos entreaberta... Cheira a lixo gourmet em travessas de barro para dar aquele ar rústico que agrada a conservadores e liberais.

Ana Piu
Br, 09.01.2014


MÃE

A RODA DA VIDA


Vida que vem e que vai
Não passa de ilusão
Miragens nascem do pensamento
Isso é o coração
Do que preciso lembrar
Ao acordar toda a manhã
O universo é vazio
Isso é o coração

Deuses, humanos e animais
Infernos, fantasmas e guerras
Sem o saber
Giram na roda da vida
Passado, presente, futuro
Até compreender...
Que tudo vem e se vai
Não passa de ilusão
Miragens nascem do pensamento
Isso é o coração
letra: Roberto Nunes

AS AMIGAS PORTUGUESAS NOS TEMPOS DE PARIS



Foi a Joana que ao telefone respirou de alivio naquela quarta feira ao fim da tarde. Liguei para irmos ao cinema e ela aliviada disse:" Ainda bem que ligas-te. Acabou de explodir uma bomba na linha do metro de nossa casa! Morreu um estudante aqui da cidade universitária." Em 1996 a comunicação ainda era feita por rede fixa.
Aos fins de semana passeávamos por Paris e quando os museus eram entrada livre aproveita vamos para visitar um ou dois e mais uma ala do Louvre. Quando chegava a hora da Joana ir à missa despediamo-nos, embora eu tivesse vontade de continuarmos nas nossas deambulações, conversas e degustações compradas no mercado ou naquele restaurantezinho indiano ou turco que era o mais barato que conseguiamos encontrar, as pessoas eram simpáticas.
Nunca convenci a Joana a ficar e deixar de ir à missa nem nunca a Joana tentou convencer-me de acompanhá-la. A minha orientação anarco libertária sempre conviveu em paz com a sua orientação católica.
A Joana sempre foi aquela Amiga com quem pude contar para tudo, já depois de eu ser mãe.
A Joana viajou vários meses pela India, em trabalho. Certa vez desabafou:" A miséria dos moradores de rua de Paris é muito mais chocante para mim que a miséria na India. Pois estas pessoas são completamente segregadas e esquecidas. Vivem numa solidão profunda." Até hoje penso nisso.
Hoje a Joana vive em Espanha e eu do outro lado do oceano. Ambas resistimos algum tempo às novas tecnologias, celulares e redes sociais. Não nos comunicamos pelo face.
Um destes dias havemos de nos reencontrar pessoalmente para brindar à vida e degustar aquele belo vinho e queijo, que comprado no mercado, era sustentável ao nosso bolso de trabalhadoras remediadas com sonhos e projetos faziveis.

Ana Piu
Br, 11.01.2015

foto: Anita bolseira/ bolsista no Paris de la France, no tempo dos francos, comendo uma bananita na cidade toujours caríssima!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

ON THE ROAD IN MARROCOS


Saí de Lisboa direito a Ceuta. Irónicamente estávamos na semana santa, aquela da Páscoa. Sempre quisera ir a Marrocos, mas não me apetecia ir sozinha e a minha emancipação feminina ainda não me permitia viajar só com elementos femininos. Na verdade desejava ir a Marrocos sem grandes sobressaltos de género. Naquele ano de 2006 lá fomos nós. Eu e uma petiz de 5 anos ter com uns amigos espanhóis de Valencia.
Na travessia de barco separamo-nos uns dos outros, devido à lotação do barco. Segui com a petiz e um amigo num carro repleto de medicamentos, material escolar e roupa para doar nas populações que fazem fronteira com o deserto do Sahara.
Atravessamos Marrocos com a petiz nas minhas pernas no banco da frente.
Fiquei uma semana sem degustar uma bela cervejinha que eu tanto aprecio, visto o consumo de alcool não ser bem aceite muito menos numa mulher. E para quê levantar ondas?
Paramos numa aldeia. Eu vestia uma blusa branca de meia manga com uns quatro botões na frente. Três estavam abertos pelo calor que fazia. Embora caminhando com um ser do género masculino e uma criança, um sujeito faz sinal ao passar para eu fechar o decote, que eu achava não ser provocante. Fecho. E para quê levantar ondas? Não estou no meu habitat, então danço conforme a música desde que não contrarie o que acho razoável para mim.
No deserto um vendedor quer trocar tapetes e túnicas por roupa que nós trazemos para doar. Nesse momento confirmo a insignificância do dinheiro em determinadas circunstâncias e contextos. E o negócio como um meio de comunicação e criação de relações.
Dentro da bagagem que levamos para doar aparecem peças de roupa inadequadas, por desconhecimento do lugar e dos hábitos do deserto e arredores: mini saias, biquinis, batôns e por aí vai. Deparo-me com a questão do doar. "Mas nós perguntamos a esse pessoal se está interessado nas nossas doações? Nós conhecemos o suficiente esse pessoas para entender se elas não preferem trocar, para que a sua dignidade se mantenha? Ao doar sem troca não estamos a fomentar a cobiça e a criar necessidades de consumo onde não havia?" Questões. Tudo questões.
Ao regresso sinto uns olhares e umas movimentações para averiguar se essa petiz de 5 anos é realmente minha filha, visto ela poder passar por uma criança marroquina.
Pois, em toda a parte nascem e morrem pessoas e as pessoas prezam as suas crianças e a sua dignidade. E quando somos visitas no minimo temos de respeitar as regras da casa sem julgamentos e agradecer por nos receberem.

شكرا (shucra, obrigado)
Ana Piu
Br, 09.01.2014


Atravessei o deserto. Quase, quase morri de sede. Pareceu-me ver o paraíso. Sol demasiado na cabeça. Lutei contra uma tempestade de areia. A areia alisou-me a pele. Rejuvenesci. Senti fome, uma fome do estômago se colar às costas. Chorei de fraqueza. Chorei e depois adormeci para não sentir mais fome. Dias e dias a trote andei. Um oásis. Ali fiquei. Permaneci. Tive de continuar caminho. O verde das árvores despediu-se de mim, ao fundo. Lá no horizonte. Continuei o meu trote cadenciado. Dias e dias a fio. Saciei-me com apenas uma gotinha de água e da visão do oásis, lá muito ao fundo. Caminhei sabendo intimamente que mais à frente me despediria da aridez do deserto. Rebolei do alto duma duna até cá abaixo. Ri-me de alegria. Alegria de rebolar e sentir aquela cócega na barriga. Abri os olhos e levei com um grandessíssimo flash de luz. Um raio de sol trespassou o meu olhar. Resisti de olhos abertos a essa ofuscação. Mais tarde escutei músicas antigas à luz duma lua cheia e gorda que delicadamente beijava o horizonte.

A piU
Br, 24 de Julho de 2012-07-25