"Provavelmente terá sido apenas no Brasil e na Tunísia que eu encontrei, entre os estudantes, tanta seriedade e tanta paixão, paixões tão sérias e, o que me encanta mais do que tudo, a avidez absoluta de saber", disse Michel Foucault sobre um dos aspectos de sua rica e tumultuada experiência de viajante, professor e intelectual engajado em plena ditadura militar brasileira, cuja a truculência não consegui interditar a "contraconduta" (conceito cunhado mais tarde pelo filósofo que, naquela época, era o próprio amor ao saber em plena idade das trevas para o país, de ignorância, repressão e extermínio como políticas do Estado" ¹
Em 1975 Miguel Falcão viajou de Paris para São Paulo com o seu passaporte francês. Ainda não existia o aeroporto de Viracopos em Campinas. Miguel Falcão, português de origem, vinha cheio de novidades boas e fresquinhas sobre o que se passava no seu país natal. A noite longa e obscura do fascismo português acabara ao fim de 48 anos. Miguel Falcão teria de falar em francês para que os infiltrados não entendessem o que falava e que a sua tradução fosse parcial e por códigos. Segundo Miguel Falcão, quem censura ignora toda uma série de conhecimento, logo não é assim tão difícil de ludibriar os censores. Quando os interlocutores falavam no caso especifico do Brasil falavam em África do Sul. "Curioso! Interessante referirem-se ao Brasil dessa forma! No fundo são contextos semelhantes com as suas especificidades.", comentava Falcão sem adjetivar o contexto da África do Sul para não levantar suspeitas.
Fora do espaço físico acadêmico, Falcão conversava longas horas nos quintais das casas de professores e alunos e outros curiosos. Nessa época, Barão Geraldo era ainda mais pacato e não era seguro conversar num boteco qualquer.
Miguel Falcão fez alguns amigos. Juntos brindaram com um jogo de grossas canecas que Falcão trouxera para aqueles com quem criou mais intimidade, "confessando que o autores que mais o marcaram não foram os grandes construtores de sistemas, mas sim aqueles que lhe permitiram escapar precisamente dessa formação universitária, isto é, aqueles para quem a escrita era uma experiência de autotransformação. tais como Nietzsche, Bataille, Blanchot. "²
¹Liudvik, Caio "As contracondutas de Foucault no Brasil", revista Cult, 191, ano 17, Junho de 2014
²Pelbart, Peter Pal " Do livro como experiência à vida como experimentação, uma experiência é sempre uma ficção; é algo que nós mesmos fabricamos, que não existe antes e que não existirá depois" revista Cult, 191, ano 17, Junho de 2014
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