terça-feira, 24 de junho de 2014

COMPREENSÕES MAIORES


" Furacão Elis" foi das primeiras biografias que li. Nessa época a minha voz ficou rouca por querer acompanhar a Elis no vinil que recebera nesse aniversário dos meus 13 anos. Nos fones ligados aquela aparelhagem que ali estava desde o inicio dos anos 70, eu gritava em 1987 "Como os nossos pais" do Belchior. Um espetáculo que percebi risível quando assistido por familiares. Para mim aquilo não era um espetáculo e sim uma catarse. A voz e a interpretação da Elis é catártica. Não tenho paciência para a fase do piano bar... Falta-me sentimento, garra. Muito asséptico.

Tantas imagens bonitas e fortes da Elis, mas escolhi esta. Além de não estar só, pois o seu percurso é feito de muitos outros, está com o Jair Rodrigues. Além de ser um grande artista, até hoje, 2014, uma branquela é um negro lado a lado no Brasil é um ato social, politico, chamem o que quiserem para erradicar a mesquinhez do racismo e xenofobia.

Hoje lancei-me para o palco com o meu sotaque portuga puro e duro. Muitos não acompanharam no entendimento da língua (?). Quando a minha palhaça disse que cantaria um fado fez-se silêncio absoluto. Até agora não decifrei esse silêncio, se é que decifrar tudo é importante.

Fica aqui a minha pergunta retórica: Porque é que, nós portugueses, não nos damos a conhecer REALMENTE para o resto do mundo? Qual a razão que damos para, de vez em quando escutarmos de filhos e netos de colonos:" Não gosto de portugueses."? Que relação "teremos" de criar com nós mesmos e com o mundo para que as historicidades equivocadas e muitas vezes perpetuadas se erradiquem?

Já é tempo de compreensões maiores.

Ana Piu
Brasil, 23.06.2014

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