segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

PALAVRA DE HONRA ( Série: A vida em série)

Preparo-me para sair à rua. Penso e repenso na persona que vou encarnar. Ajeito a gravata e olho os meus jeans que meticulosamente rasgados estão no joelho e debaixo da nádega. Penteio o cabelo para trás, deixando uma madeixa levantada. Penso. Conjecturo. Delineio três características para a minha persona: cordial, prepotente, brincalhão.Gosto dos traços assumidos. Penso no impacto que terei diante do cliente que terei de enfrentar. Olho o relógio. Pego nas chaves do carro e enfrento o trânsito. Concentro-me no odor do meu novo after shave. Chego 5 minutos antes da hora marcada. Sento-me na mesa reservada daquele chique e discreto restaurante. No canto da sala bebo um aperitivo enquanto espero. Passou uma hora e três aperitivos engolidos. Não sei o que fazer à minha cordialidade e à minha brincalhotice. Só me resta a prepotência. Não pretendo perder o cliente. Ligo. Antes de finalizar o meu “boa tarde!” uma voz do outro lado já vai interrompendo:” Desculpe, eu estive lá mas não o encontrei. Só avistei um sujeito profundamente embriagado no canto da sala. Lamento, mas já fechei negócio com outra empresa.” À cabeça só me surgem piadas de mão gosto. Daquelas de jogar tudo a perder. Engulo a minha prepotência, a minha cordialidade e peço um wisqui em voz alta antes de desligar o telefone.

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