Dimitri chegou com Slava. Nem uma palavra de português. Chegaram na rodoviária com uma mala não muito grande, mas o suficiente para aguentar o Inverno. Chegaram em Janeiro a Lisboa sem muito dinheiro e pouco no estômago fazia um mês. Dimitri e Slava sentaram-se num dos bancos corridos da rodoviária. Abriram uma das malas. A de Slava. Era a vez dele. De dentro saiu a garrafa de vodka. Levantaram a garrafa e brindaram:"À nossa! Ucrânia ficou para trás. Aqui chegámos nós!" Dimitri é médico de clínica geral. Slava engenheiro mecânico.
Slava trabalha na bomba de gasolina, na lavagem dos carros. Já sabe falar quase na perfeição português. Em duas semanas pegou o jeito.
Dimitri trabalha nas obras a acartar baldes de cimento. Fala português sem sotaque e com algum calão angolano. Pegou o jeito também em duas semanas.
Slava e Dimitri vivem numa casa com um quarto minúsculo,lá para Xabregas, sem água quente. Todos os tratam por tu. Eles bem sabem que esse tratamento das duas uma: ou é de familiaridade ou é de desconsideração. Eles evitam falar do que faziam e eram na sua terra Natal. Além de não acreditarem ainda fazem piadas. Dimitri e Slava levam na boa, só não levam quando a conta da vodka esquenta demais a cabeça. Slava manda dinheiro para a família. Dimitri não tem família. Uma vida inteira dedicado à profissão de médico. Nunca teve tempo para constituir familia. E na realidade Dimitri não acredita na instituição família. O seu avô, médico psiquiátrico, trabalhou para o regime. E as histórias que Dimitri escutava do campo de extermínio na Sibério fê-lo desacreditar da humanidade. Porém, Dimitri sempre se dedicou à profissão de médico.
Slava e Dimitri bebem vodka em frente ao rio. Os olhos pousam nos cacilheiros (barcos). Slava fala que desconhece o rumo da sua vida. Dimitri responde que a dele é aqui e agora.
A piU
Br, 15 de Janeiro de 2013
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