sábado, 26 de janeiro de 2013

DIÁLOGOS

Na Dinamarca, mais especificamente em Holsterbo, tem um grupo de pessoas que seguem juntas pesquisando seu trabalho de desde 1964. Quarenta nove anos. Admirável. O mentor desse grupo é um italiano que dá pelo nome de Eugénio Barba. Um homem do mundo. Esse grupo se chama ODin Teatret. Eugénio Barba foi estudar religião para a Noruega no inicio dos anos 60 e acabou por formar um grupo de atores que tinham sido recusados nas provas do Conservatório de Teatro em Oslo. Odin é o nome de um Deus escandinavo. O ISTA (International School of Theatre Antropology) foi durante alguns anos um evento que o grupo organizava. Esse evento, esse encontro com o nome  de ISTA acontecia em várias partes do globo, onde juntava um staff cientifico e artístico. O staff cientifico era formado por vários antropólogos. O staff artístico por vários grupos de várias partes do mundo com diferentes linguagens e abordagens: Teatro Nô (Japão), Teatro Kabuki (Japão), dança Odissi (India),Teatro do Bali (Indonésia), mimíca (EUA e França). O staff cientifico estava lá para dialogar com o artístico, sistematizando discussões, debates, reflexões. Enfim, para pensar os pontos em comum entre linguagens e suas especificidades.

Atualmente o Brasil  como outros países fora da velha Europa são considerados emergentes. E porquê? Porque a velha Europa está cansada dos seus velhos dogmas? Porque o capital está hoje aqui investido? Porque ainda há muito por fazer no considerado novo mundo?
Interessante, para quem vem de fora, se aperceber do fascinio  que no Brasil se nutre pela velha Europa e pelos EUA. Por vezes, até parece que Lévi Strauss escreveu ontem o inicio dos "Tristes Trópicos" e que a a sua dificuldade em ser aceite na antropologia se deveu ao fato de ter vindo da filosofia e das velhas necessidades disciplinares em se auto afirmarem. Todavia, no Paris de Lévi Strauss deu-se um acontecimento extraordinário. Lá por volta de 1968 os estudantes universitários da Sorbonne e de Nanterre resolveram criar um movimento estudantil para abalar com velhas estruturas. A frase de ordem era: "L'imagination au pouvoir". A luta dos trabalhadores aliou-se a  esse movimento estudantil. Foi uma época de muita esperança e de grandes utopias. Anos antes, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Picasso entre outros intelectuais e artistas se alistaram no Partido Comunista Françês. Sol de pouca dura. Saíram por defenderem o livre pensamento que não cabe, nem nunca caberá  nos ismos dogmáticos, pois o livro pensamento é aquele que dialoga, que questiona e não obedece só por que sim.

É muito interessante, no meu ponto de vista, a troca intelectual que existe em algumas universidades brasileiras de referência. Os debates, as publicações de artigos, a vontade imensa de produzir conhecimento. Esse desejo efectivo de rigor e generosidade. Pergunto então: esse conhecimento é em prol do quê? Se existe sede de conhecimento e de produzi-lo como fazê-lo? As ciências humanas estão aí com ensejo de ler o mundo, como tal o diálogo é importante. Como posso ler o mundo se resisto a diálogos interdiscilpinares? Como posso deixar que o mundo se deixe ler se não me disponibilizo para que entrem na minha casa? Ou pretendo somente entrar na casa do outro, do nativo e ler o que acho que interessa? E se o nativo topar tal artimanha e ludibriar dados? Conceder informações deturpadas pois para arrogante arrogante e meio?

No ISTA debate-se a questão da necessidade que as artes cênicas na Europa  têm em separar áreas entre si, contrariamente às artes cênicas na Ásia. Na Ásia não existe distinção entre ator e dançarino. Talvez esse seja um bom exemplo do que se passa nas ciências humanas. Como se pode falar da importância da música ou das metáforas em Levi Strauss se não existe um conhecimento mais profundo destas duas áreas artísticas? Como se lê o mundo se o diálogo não for interdisciplinar?

Talvez um outro Maio urge no mundo acadêmico. Um Maio de 13? Um Maio de 14? Talvez,os exemplos do passado sirvam para que a imaginação da produção de conhecimento seja efectiva. Pois colocar tudo em gavetas e fechar a sete chaves seja sim uma produção abstrata dum imenso mundo por ler e interpretar.Um mundo habitado por atores sociais que seguem regras e usam-nas  em seu proveito.

A piu
Br, 27 de Janeiro de 2013

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