Um galinheiro é um lugar onde as galinhas se encontram e coabitam.
Empoleiradas em seus poleiros as galinhas dormitam, debicam, cacarejam e
esvoaçam. Quando as galinhas cacarejam todas ao mesmo tempo é um
forrobodó que só visto! Esvoaçam para lá e para cá. Atiram o seu
pequenito e roliço corpinho contra a rede. Se alguém vem pôr ou tentar
pôr ordem no galinheiro é como se entrasse num reveillon temático. Penas
pelo ar num ritmo tecno afro beat.
Dizem que as galinhas são
estúpidas. Ele há quem diga isso. Parece até ser consensual. Mas também
se diz muita coisa quando é para denegrir a imagem de um animal ou de
alguém que achamos que é inferior, por algum motivo, a nós: "Seu
camelo!"; ""O senhor é um burro."; "Vacas! As mulheres são todas umas
vacas, umas víboras, menos a minha mãezinha..."; "Seu urso! Não está a
ver o que está a fazer!?" Enfim, muitos são os exemplos dos elogios que
qualquer um de nós mortais estamos sujeitos a ser presenteados.
Designa-se
também por galinheiro uma situação onde do debate de ideias se dá lugar
a ataques pessoais onde as verdades individuais se chocam com outras
verdades individuais, porque ambas se acham absolutas. O galinheiro é um
estado da conversação onde o nível de escuta baixa e por conseguinte a
qualidade também baixa. Em suma, baixa o nível. As raivinhas emergem do
abominável homem das neves que há em cada um de nós. Mas ele há
distintos tipos de abomináveis homens da neves. Ele há aqueles cujos
seus comentários são de escárnio, outros que partem logo para o
preconceito descarado, outros que se contradizem, outros que revelam que
o mundo é só para os eleitos. Enfim, como dizem que há uma criança
dentro de nós, assim como um palhaçinho, um pai natal/papai noel, uma
rena manca, também há um abominável homem das neves.
Mas como seres
racionais que somos temos, de algum modo, dominar esse abominável
qualquer coisa. Ele também há criançinhas abomináveis, como papais noeis
de dentição estragada pelos doces que não distribuíram às criancinhas,
assim como palhacinhos de meter medo ao susto que querem abraçar à força
as pessoas, tal como a rena que é manca porque lutou com um coiote para
salvar a sua cria e para que o coiote não lhe gamasse (roubasse) o seu
posto de trabalho. Ele há de tudo, mas também depende daquilo que
queremos ser e/ou dar.
Num debate de ideias, por exemplo: manter a
tranquilidade, o low profile, aquele savoir faire de questionar e se
indignar nos momentos oportunos, aquele sentido de humor que relaxa o
plexus solaris dos interlocutores, aquela afabilidade que não deve ser
cínica nem forçada, mas um afabilidade que se exercita com
autenticidade, aquela capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.
Eu
gosto de estábulos. Gosto do olhar meigo dos cavalos e das vacas. Em
criança, os meus pais levavam-me a estábulos para respirar aquele odor a
bosta. E gosto daquele odor porque aquele pessoal, as vacas e os
cavalos, defecam ervas. E porquê? Porque é que eu era levada a tal
catedral escatológica? Perguntam bem! Porque um médico especializado nas
principais doenças como a asma aconselhava tal excursão.
Quando
debatemos certos assuntos talvez estejamos a mexer na bosta, que faz
parte da vida, mas se soubermos mexer na bosta sem atirar ao rosto de
ninguém... Não somos atacados pela asma! Por essa falta de ar que só dá
vontade de ir aos cornos (eu não disse que os animais são quase sempre
evocados nas ofensas pessoais?) do vizinho.
Um amigo contou-me
que foi para um retiro espiritual num Sitio. Durante uma semana o seu
trabalho foi limpar, em silêncio, bosta de animal. Foi todo um processo
interior para concluir ou confirmar que a humildade é uma das principais
chaves da nossa existência.
Vitória! Vitória! Não se acabou a História!
Colorido, colorado o debate não tá acabado.
A piU
Br, 6 de Janeiro de 2013
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