sábado, 5 de janeiro de 2013

CONVENIÊNCIA DE DEBATER NUM ESTÁBULO E NÃO NUM GALINHEIRO

Um galinheiro é um lugar onde as galinhas se encontram e coabitam. Empoleiradas em seus poleiros as galinhas dormitam, debicam, cacarejam e esvoaçam. Quando as galinhas cacarejam todas ao mesmo tempo é um forrobodó que só visto! Esvoaçam para lá e para cá. Atiram o seu pequenito e roliço corpinho contra a rede. Se alguém vem pôr ou tentar pôr ordem no galinheiro é como se entrasse num reveillon temático. Penas pelo ar num ritmo tecno afro beat.
Dizem que as galinhas são estúpidas. Ele há quem diga isso. Parece até ser consensual. Mas também se diz muita coisa quando é para denegrir a imagem de um animal ou de alguém que achamos que é inferior, por algum motivo, a nós: "Seu camelo!"; ""O senhor é um burro."; "Vacas! As mulheres são todas umas vacas, umas víboras, menos a minha mãezinha..."; "Seu urso! Não está a ver o que está a fazer!?" Enfim, muitos são os exemplos dos elogios que qualquer um de nós mortais estamos sujeitos a ser presenteados.

Designa-se também por galinheiro uma situação onde do debate de ideias se dá lugar a ataques pessoais onde as verdades individuais se chocam com outras verdades individuais, porque ambas se acham absolutas. O galinheiro é um estado da conversação onde o nível de escuta baixa e por conseguinte a qualidade também baixa. Em suma, baixa o nível. As raivinhas emergem do abominável homem das neves que há em cada um de nós. Mas ele há distintos tipos de abomináveis homens da neves. Ele há aqueles cujos seus comentários são de escárnio, outros que partem logo para o preconceito descarado, outros que se contradizem, outros que revelam que o mundo é só para os eleitos. Enfim, como dizem que há uma criança dentro de nós, assim como um palhaçinho, um pai natal/papai noel, uma rena manca, também há um abominável homem das neves.
Mas como seres racionais que somos temos, de algum modo, dominar esse abominável qualquer coisa. Ele também há criançinhas abomináveis, como papais noeis de dentição estragada pelos doces que não distribuíram às criancinhas, assim como palhacinhos de meter medo ao susto que querem abraçar à força as pessoas, tal como a rena que é manca porque lutou com um coiote para salvar a sua cria e para que o coiote não lhe gamasse (roubasse) o seu posto de trabalho. Ele há de tudo, mas também depende daquilo que queremos ser e/ou dar.

Num debate de ideias, por exemplo: manter a tranquilidade, o low profile, aquele savoir faire de questionar e se indignar nos momentos oportunos, aquele sentido de humor que relaxa o plexus solaris dos interlocutores, aquela afabilidade que não deve ser cínica nem forçada, mas um afabilidade que se exercita com autenticidade, aquela capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.

Eu gosto de estábulos. Gosto do olhar meigo dos cavalos e das vacas. Em criança, os meus pais levavam-me a estábulos para respirar aquele odor a bosta. E gosto daquele odor porque aquele pessoal, as vacas e os cavalos, defecam ervas. E porquê? Porque é que eu era levada a tal catedral escatológica? Perguntam bem! Porque um médico especializado nas principais doenças como a asma aconselhava tal excursão.

Quando debatemos certos assuntos talvez estejamos a mexer na bosta, que faz parte da vida, mas se soubermos mexer na bosta sem atirar ao rosto de ninguém... Não somos atacados pela asma! Por essa falta de ar que só dá vontade de ir aos cornos (eu não disse que os animais são quase sempre evocados nas ofensas pessoais?) do vizinho.

Um amigo contou-me que foi para um retiro espiritual num Sitio. Durante uma semana o seu trabalho foi limpar, em silêncio, bosta de animal. Foi todo um processo interior para concluir ou confirmar que a humildade é uma das principais chaves da nossa existência.

Vitória! Vitória! Não se acabou a História!
Colorido, colorado o debate não tá acabado.

A piU
Br, 6 de Janeiro de 2013

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