sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O que é um pássaro? O que é um cidadão?



De manhã cedo, quando acordo, tem um bando de papagaios cantando entre si. Conversando entre si. Conversando cantando. De tão verdes que são não se distinguem entre a folhagem. E as folhas castanhas continuam caindo no meio do quintal. Há lagartos que nos visitam. Porque será que as pessoas têm medo dos animais? Quem não deve não teme. Um sapo parado no meio do caminho. Nem um movimento. Que mal poderá ele fazer? Talvez esteja a rezar para que ninguém lhe faça mal. Um cidadão qualquer que sonhe ter um balão feito de sapo. Um cidadão que mate por divertimento não deve faltar por aí. Mas o que é um cidadão?
Se um pássaro não faz música o que é que o cidadão faz? O cidadão dá música ao mundo. Canta e canta, mas ninguém alegra. Diz uma coisa e faz outra.
Um cidadão é aquele que tem acesso à informação e à educação, que na verdade ainda é elitizada? Um cidadão é aquele que reproduz comportamentos cujo ego se sobrepõe a tudo e todos? Um cidadão é aquele que debate um monte de questões, mas que com um volante nas mãos não para dar passagem ao pedestre? Não estará ele a reproduzir relações de poder que eventualmente questiona teoricamente? É cidadão aquele que não deixa o espaço aprazível, depois de usá-lo, porque acha que existem pessoas que vão limpar por ele? É cidadão aquele que com livros debaixo do braço deixa o carrinho das compras no meio do caminho para quem vier atrás arrumar? É cidadão aquele que não escuta realmente outro cidadão? Que não lhe dá passagem. Que atropela e acha normal, porque nem nota, logo não se questiona. É cidadão aquele que a leitura do espaço reduz-se ao seu umbigo? É cidadão sim! Mas com um longo caminho a percorrer, como qualquer cidadão comum que do pó veio e ao pó voltará.
E se os papagaios imitarem os cidadãos será que ainda conseguem se distinguirem por entre as folhas?
A piU
BR, 5 de Outubro de 2012

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