terça-feira, 9 de outubro de 2012

Cabeça sobre o ombro


A solidão é um mal necessário. A solidão é um mal? Necessário? Somos um, mesmo quando queremos ser dois ou muitos somos um ser uno, então estar só faz parte do processo de não estar só(?). A solidão é um vácuo que fica por preencher. Podemos preencher com ruído, com silêncio, com palavras, com ações, com imobilidades.Podemos simplesmente aceitar que a solidão espreita a cada instante. Que está lá. Não é um mal, nem um bem. É um estado.
Os amigos nós escolhemos, a família não. Os amigos, que não precisam de ser de longa data mas que o podem também ser, adivinham os nossos vazios e estendem a mão, abrem o peito. O olhar, a voz, o silêncio, o sorriso ou a ausência do mesmo são sinais que os amigos nos concedem para os entender e estendermos a mão e abrirmos o peito.
“Não somos educados para a diferença”, diz-me uma amiga que é professora primária, a mesma que mal eu cheguei em terra alheia com uma filha em cada mão me estendeu a sua mão, abriu o peito e a sua casa.
A minha amiga vai fazer uma pesquisa na área de educação com um grupo indígena. Quando ela apresentou o seu projeto logo lhe disseram que não estavam interessados naquele foco, mas que se ela quisesse poderia trabalhar sobre a inserção dos indígenas na escola e a sua (não) desistência devido à estigmatização por eles sofrida. "Que interessante, disse-lhe, que eles definam o conteúdo do seu trabalho segundo as suas necessidades. Faz todo o sentido. Se é para produzir conhecimento que o seja em função de algo concreto e necessário."
O que nós achamos melhor, nem sempre é o melhor para os outros. Mas podemos melhorar se nos escutarmos e escutarmos o que nos rodeia. Talvez não temos de ser uma grande família, nem sermos todos amigos. Mas escutarmos o silêncio, a dança da vida a coisa já vai ou dá para ir.

A piu
Br, 9 de Outubro 2012

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