- Quem surgiu primeiro, o ovo ou a galinha? E se eu
conseguir pôr um ovo de pé?
-Ai tu pões como as galinhas!! Então nasceste tu! Foste tu o
primeiro homem!! Estou diante do Adão!Um Adão com ovos de ouro!! E paaaa!
Espera aí!! Um Adão com poderes como o rei Midas!!! Se me tocas viro ouro. E eu
que tanto queria beijar! Arrgghhhh! Assim não quero! Não quero virar ouro.
- Tu viajas na maionese! Tou a ver! Não sou nada daquilo que
idealizas. Eu sou o que sou e só pergunto quem nasceu primeiro: se o ovo se a
galinha?
- Os ovos não nascem. Os ovos ainda estão por nascer! E tu
consegues colocar um ovo de pé?! Como? Tens contactos?
- Basta pôr o ovo em contacto com uma superfície e estalar
ligeiramente a sua extremidade.
- Aaaaahhh! Isso é óbvio!
- É óbvio, porque te disse! Como é óbvio para nós olharmos
uma mosca tentando sair pela janela. Em
vez de ir contra o vidro tem a portada do lado aberta. Tão óbvio! Mas quanta
vez nos acontece o mesmo a nós, humanos? E óbvio para ti saber quem nasceu primeiro.
Se o ovo se a galinha! Prontos, surgiu!!
- Mas tu achas que há explicação para tudo? Achas mesmo
isso?
-Não sei se há, pelo menos tenta-se.
- O que me parece é que há explicações que vão para lá do
que é racional e verbalizado. Pode até ter a sua racionalidade, mas não se
encerra aí.
- Mas se tivermos regras e códigos... torna-se mais fácil!
-Desde que as regras estejam ao teu serviço e não o
contrário. Caso contrário, essas meninas sufocam-te! As regras são danadinhas
para a brincadeira. Primeiro surgem de fininho, como um compromisso de
convivência e depois instalam-se como carrapatos. Tu já viste o que aconteceu e
acontece naqueles regimes totalitários, autoritários que em nome das regras,
das leis aniquilaram pensamentos, imaginários e criatividades? Ou são como
pontos que se fixam no espaço, para nos dar possíveis orientações, ou se não as
regras são mecanismos de controlo que antes do pintinho nascer, já morreu. E
será que se colocarmos de pé um ovo em cima duma superfície só para mostramos
que somos virtuosos não estamos a matar esse mesmo pintinho? Talvez, antes de nos preocuparmos quem surgiu
primeiro tentar entender porque que ambos existem e para quem e para quê.
- Achas isso é importante? E o que surgiu primeiro: o teu
pensamento ou o pensamento daquilo que já sentiste e viveste?
- Deixa ver se alguém já escreveu sobre isso!... Afinal nós
não somos originais nas nossas inquietações e dúvidas. Podemos é manifestar é
de maneira diferente. Enfim, não estamos sós no mundo e antes de nós outros
estiveram, viveram e aprofundaram.
- Quantas línguas conheces que possam traduzir tal variedade
de manifestações?
- Olha, mudando de assunto, passas-me os cogumelos salteados
com azeite, alho e ervas?
-Tu vê lá se não te fazem mal!!! Tem estado muito calor!!
- Depende do que é fazer mal para ti!
A Piu
BR, 5 out. 12
(Série: Filosofias de pacotilha; longe da vista e da
compreensão de Lévi Strauss. )
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