sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O ovo e a galinha


- Quem surgiu primeiro, o ovo ou a galinha? E se eu conseguir pôr um ovo de pé?
-Ai tu pões como as galinhas!! Então nasceste tu! Foste tu o primeiro homem!! Estou diante do Adão!Um Adão com ovos de ouro!! E paaaa! Espera aí!! Um Adão com poderes como o rei Midas!!! Se me tocas viro ouro. E eu que tanto queria beijar! Arrgghhhh! Assim não quero! Não quero virar ouro.
- Tu viajas na maionese! Tou a ver! Não sou nada daquilo que idealizas. Eu sou o que sou e só pergunto quem nasceu primeiro: se o ovo se a galinha?
- Os ovos não nascem. Os ovos ainda estão por nascer! E tu consegues colocar um ovo de pé?! Como? Tens contactos?
- Basta pôr o ovo em contacto com uma superfície e estalar ligeiramente a sua extremidade.
- Aaaaahhh! Isso é óbvio!
- É óbvio, porque te disse! Como é óbvio para nós olharmos uma mosca tentando sair pela janela.  Em vez de ir contra o vidro tem a portada do lado aberta. Tão óbvio! Mas quanta vez nos acontece o mesmo a nós, humanos? E óbvio para ti saber quem nasceu primeiro. Se o ovo se a galinha! Prontos, surgiu!!
- Mas tu achas que há explicação para tudo? Achas mesmo isso?
-Não sei se há, pelo menos tenta-se.
- O que me parece é que há explicações que vão para lá do que é racional e verbalizado. Pode até ter a sua racionalidade, mas não se encerra aí.
- Mas se tivermos regras e códigos...  torna-se mais fácil!
-Desde que as regras estejam ao teu serviço e não o contrário. Caso contrário, essas meninas sufocam-te! As regras são danadinhas para a brincadeira. Primeiro surgem de fininho, como um compromisso de convivência e depois instalam-se como carrapatos. Tu já viste o que aconteceu e acontece naqueles regimes totalitários, autoritários que em nome das regras, das leis aniquilaram pensamentos, imaginários e criatividades? Ou são como pontos que se fixam no espaço, para nos dar possíveis orientações, ou se não as regras são mecanismos de controlo que antes do pintinho nascer, já morreu. E será que se colocarmos de pé um ovo em cima duma superfície só para mostramos que somos virtuosos não estamos a matar esse mesmo pintinho?  Talvez, antes de nos preocuparmos quem surgiu primeiro tentar entender porque que ambos existem e para quem e para quê.
- Achas isso é importante? E o que surgiu primeiro: o teu pensamento ou o pensamento daquilo que já sentiste e viveste?
- Deixa ver se alguém já escreveu sobre isso!... Afinal nós não somos originais nas nossas inquietações e dúvidas. Podemos é manifestar é de maneira diferente. Enfim, não estamos sós no mundo e antes de nós outros estiveram, viveram e aprofundaram.
- Quantas línguas conheces que possam traduzir tal variedade de manifestações?
- Olha, mudando de assunto, passas-me os cogumelos salteados com azeite, alho e ervas?
-Tu vê lá se não te fazem mal!!! Tem estado muito calor!!
- Depende do que é fazer mal para ti!

A Piu
BR, 5 out. 12
(Série: Filosofias de pacotilha; longe da vista e da compreensão de Lévi Strauss. )

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