Se trabalhar liberta, estudar também libertará? Se o conhecimento é um capital cultural este só pode ser detido por um grupo restrito? Se outrora ler e escrever era um privilégio de meia dúzia de seminaristas, hoje a mudança é assim tão significativa por esse planeta afora? Ter acesso a um ensino de qualidade é preciso ter dinheiro? E o que é um ensino de qualidade? Direccionar é o mesmo que formatar? Está na moda estudar ou está na moda dizer que se estuda para se poder obter um estatuto e/ou um emprego? Estudar garante algum futuro? Que futuro? Estuda-se para quê? Para estudar é preciso querer muito? E quando as condicionantes são mais que muitas é possivel continuar a estudar?
Há uns anos atrás um ilustre professor, cientista social- cujo o nome não vem ao caso pois fazer duma rede social um tanque de roupa suja destoa do meu intuito- veio, numa conceituada faculdade portuguesa numa aula nocturna, citar "O suicidio" de Durkheim. Esta citação perante estudantes trabalhadores e trabalhadoras servia como legitimação do seu argumento.O senhor defendia e argumentava que não era viável que mulheres com filhos pudessem continuar os seus estudos. Muito menos numa ciência social!! Silêncio. Era o primeiro semestre. do primeiro ano e abrir antecedentes tão cedo podia não cair nada bem. E a malta tem receio. Além de ter ficado em estado de choque. Principalmente as mães que ali estavam e que depois de um dia de trabalho "sacrificavam" a noite com os seus filhos para ali estarem. O que é curioso é que o senhor, em tempo algum, se tenha referido aos pais estudantes trabalhadores. Para rematar o senhor dá-lhe com o exemplo do "Suicidio" do Durkheim. Se havia ali alguma morte não teria haver propriamente com os alunos que tanto esforço faziam por ali estar. Certamente estariam mortos e mortas de cansaço de um dia inteiro de trabalho e de escutarem palavras de desmotivação do século passado, antes mesmo do sufrágio universal. Porém, quem quer aprender, apreender e sobreviver... Tá lá! Querer também é poder. Ou não?
A piU
br, 15 de Julho de 2012
IMAGEM: Inês d'Espiney
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