quinta-feira, 4 de outubro de 2012

AINDA NÃO É O APOCALIPSE



Meu querido diário,

Hoje, logo pela manhã, uma nódoa de pimenta vermelha líquida veio habitar o meu imaculado vestido pronto para se apresentar na Policia Federal. Que mania de gostar de picante em salgadinho!...Com uma substância gelosa a que chamam álcool (acho que esta substância vem lá dos tempos dos alarmismos planetários da gripe A) limpei o vestido. Impecável. Bem! Quase impecável! Entrei no brechó, vulgus loja de 2ª mão, para procurar um figurino. O que é que encontro? Um belo sofá, muito jeitoso!! Iiiiiihhh paaaa! Era mesmo isso que procurava! Um sofá que se agregasse ao pretexto dum figurino. Celebro as minhas aquisições que considero sustentáveis para o meu bolso e para o planeta com uma mirada no espelho. Eta!!! O imaculado vestido que irei apresentar na Policia Federal tem a bainha descaída!!... As bainhas dão muito jeito, pois lá podem se guardar segredos e ansiedades e até segredos de ansiedades e ansiedades de segredos. Bom, sendo assim terei de leva um lindo vestido verde que acabei de adquirir por um preço sustentável. Não tem bainha. Nesse caso os segredos e os anseios devem procurar outro lugar para se alojarem.
Na Polícia Federal obtenho algumas boas noticias apesar de continuarem em greve desde 14 de Agosto e eu não resolver nada de concreto. Bons, pelo menos têm consciência de classe.
Faz um calor de doidos que suga a energia. Tratar de burocracias ou tentar tratar também suga muita energia. Às vezes a pessoa já não sabe de que terra é e até sonha viver noutra planeta só por causa das tosses. E já imagina a lua ser habitada por inadaptados, excomungados, degredados. Bem, mesmo assim prefiro o planeta terra! Parece não ser tão inóspito.
No final da tarde um camião de gasolina vira-se na via rápida causando um trânsito medonho de horas. Todas as vias estão obstruídas. Ninguém morreu, nem se feriu, porém tal acidente lembra-nos que ainda não foi desta que se deu o apocalipse. E mesmo que se desse seria numa área específica. Quem está por dentro das especificidades baterá palmas com certeza, pois a vida está aí com percalços mas continuando. Mais nódoa de pimenta menos nódoa, mais bainha descaída menos bainha, lá se vão calcorreando caminhos. De preferências com vestidos verdes para dar aquele ar de esperança sustentável e ecológica! Isto porque quando o trânsito engarrafa percebemos a quantidade de carraria que se pespega como nódoas no nosso olhar. E mesmo que o singelo risquinho preto debaixo do olho esteja lá para se apresentar à Policia Federal, derreterá com certeza debaixo do calor e da quantidade de tubos de escape que insistem em não escapar, pois transporte público ainda é visto como coisa para quem não pode ter carro, ao invés de ser um bem comum. Mas se todos nós podermos ter carro como ficarão as bainhas da nossa roupa?

A piU
Br, 3 de Out.2012

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