segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

VELHOS E NOVOS MUNDO



Meu querido diário hoje dei de caras com uma prática social que até a data não estava habituada. Mas nada como irmos ao encontro de mundos novos, de novos mundos. Em suma, essa prática consiste  na formatura duma moçoila que passou do 5º para o 6º ano do ensino básico/ fundamental. Ora, pois, muito bem. O momento é de pompa e circunstância. Os tempos são promissores. Existe um crescimento econômico e uma preocupação em pôr em prática políticas públicas democratizantes. Pelo menos fala-se nisso. Porém, todavia, contudo, eis se não quando deparo-me num filme a modos que a banda sonora é “Deus , Pátria, Família”. Bom, mas bom... Ele há valores que não têm mesmo nada de errado, mas quando são apropriações de discursos institucionais para manter a malta alinhadinha num controlo moralizante... Fico a modos que com uma sensação como que de absorção. Numa dúvida existencial, pois sou nova no pedaço e de repente as práticas têm outro peso. Cantar o hino de pé é uma solenidade que me cheira a uns tempos obscuros... Mas posso estar enganada!! Depois, o  senhor padre e o senhor pastor debitarem discurso onde pedem ao pessoal para baixar a cabeça e fechar os olhos. Bom, eu até posso baixar a cabeça e procurar com os olhos postos no chão o porquê de tal cerimônia. Mas o que surge é uma pergunta: ”Não estarei eu num Estado laico?”. E outra questão saltita nas mãos: ” E qual a relação desta cerimônia com estes contornos num campus universitário?” Fazer um juramento com a mão levantada que mais coisa menos coisa inclina-se em seta...As perguntas saltam, as letras e palavras engalfinham-se e tento manter a minha cordialidade e respeito  perante tais práticas para não entrar em confrontos desnecessários e pouco construtivos.

Durante a tarde as idéias andam ali às voltas e várias vezes vêm à idéia o tema que a Elis Regina canta: ”Como os nossos pais”. E de novo recordo-me do discurso de uma das professoras: “Crescer e fazer um mundo novo também é ser despropositado.” Bom, fico ligeiramente aliviada perante tanta formatação e clichês assentes em valores nobres como a solidariedade, a justiça, o compromisso. Mas uma pergunta difícil teima em azucrinar-me:
” Estaremos sempre sujeitos e sujeitas a impérios, a ideais imperiais? Será possível que emirja  um novo mundo ou um mundo novo  sem velhos e gastos cânones de práticas sociais do tempo da outra senhora carrancuda cheia de certezas e verdades moralizantes?”
Quero estar cá para ver, sentir e viver. Bom, e já agora pensar.  No mínimo. ;)

A piU
Brasil, Dezembro de 2012

Imagem: Berlim 2011
Edifício da ex RDA/ DDR

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