Meu querido diário hoje dei de caras com uma prática social
que até a data não estava habituada. Mas nada como irmos ao encontro de mundos
novos, de novos mundos. Em suma, essa prática consiste na formatura duma moçoila que passou do 5º
para o 6º ano do ensino básico/ fundamental. Ora, pois, muito bem. O momento é
de pompa e circunstância. Os tempos são promissores. Existe um crescimento econômico
e uma preocupação em pôr em prática políticas públicas democratizantes. Pelo
menos fala-se nisso. Porém, todavia, contudo, eis se não quando deparo-me num
filme a modos que a banda sonora é “Deus , Pátria, Família”. Bom, mas bom...
Ele há valores que não têm mesmo nada de errado, mas quando são apropriações de
discursos institucionais para manter a malta alinhadinha num controlo
moralizante... Fico a modos que com uma sensação como que de absorção. Numa
dúvida existencial, pois sou nova no pedaço e de repente as práticas têm outro
peso. Cantar o hino de pé é uma solenidade que me cheira a uns tempos obscuros...
Mas posso estar enganada!! Depois, o senhor padre e o senhor pastor debitarem
discurso onde pedem ao pessoal para baixar a cabeça e fechar os olhos. Bom, eu
até posso baixar a cabeça e procurar com os olhos postos no chão o porquê de
tal cerimônia. Mas o que surge é uma pergunta: ”Não estarei eu num Estado laico?”.
E outra questão saltita nas mãos: ” E qual a relação desta cerimônia com estes
contornos num campus universitário?” Fazer um juramento com a mão levantada que mais coisa menos coisa inclina-se em seta...As perguntas saltam, as letras e palavras
engalfinham-se e tento manter a minha cordialidade e respeito perante tais práticas para não entrar em
confrontos desnecessários e pouco construtivos.
Durante a tarde as idéias andam ali às voltas e várias vezes
vêm à idéia o tema que a Elis Regina canta: ”Como os nossos pais”. E de novo
recordo-me do discurso de uma das professoras: “Crescer e fazer um mundo novo
também é ser despropositado.” Bom, fico ligeiramente aliviada perante tanta
formatação e clichês assentes em valores nobres como a solidariedade, a
justiça, o compromisso. Mas uma pergunta difícil teima em azucrinar-me:
” Estaremos sempre sujeitos e sujeitas a impérios, a ideais
imperiais? Será possível que emirja um
novo mundo ou um mundo novo sem velhos e
gastos cânones de práticas sociais do tempo da outra senhora carrancuda cheia
de certezas e verdades moralizantes?”
Quero estar cá para ver, sentir e viver. Bom, e já agora
pensar. No mínimo. ;)
A piU
Brasil, Dezembro de 2012
Imagem: Berlim 2011
Edifício da ex RDA/ DDR
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