quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

GOSTO DO GROTESCO


Gosto do feio, porque o belo não me convence. Gosto do belo porque o belo me transcende. Gosto do feio e do belo porque ambos se riem um do outro. Gosto do feio porque me acalma a urgência de ser belo. Gosto do belo porque me acalma a dureza do feio. Gosto do belo e do feio. Gosto do feio porque afinal não é feio, é grotesco. Gosto do grotesco porque é ridículo. Gosto do ridículo porque o ridículo sabe que nem sempre as coisas são belas. Gosto das coisas belas porque são belas e porque podem ser ridículas e frágeis e frágeis e grotescas. Gosto do belo grotesco. Gosto do feio sensível. Da beleza dessa sensibilidade tão dura. Tão crua, tão viva, tão animal. Gosto da beleza da animalidade. Gosto da beleza da não genialidade, da precariedade, da imbecilidade, da vulnerabilidade que abre portas e caminhos para outras dimensões. Gosto de dimensões reais criadas pelo sonho. Gosto do sonho de simplesmente ser. Gosto de simplesmente ser, sonhando. Gosto do deboche e do brioche. Gosto da inconveniência e da decência. Gosto do riso escancarado e dos maus modos. Gosto da generosidade dos maus modos. Gosto dos maus como rudeza. Gosto dessa rudeza que no fundo é delicadeza. Gosto da delicadeza que é uma carência. Gosto de aconchegar a carência e dizer baixinho, muito baixinho:” Já passou!” ou “Vais ver que vai passar.”

A piU
Imagem: Pedro Zamith
Br, 19 de Dezembro de 2012

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