sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

MANUAL DE INSTRUÇÕES PARA O UTILIZAR O MEU FACEBOOK E OUTRAS REDES SOCIAIS


1. Ter muito humor
2. Levar a sério não se levar demasiado a sério
3. Toda e qualquer provocação não tomar como um ataque pessoal e sim como um desafio, uma cutucação
4. Indiretas amorosas, elogiosas, admiratórias estão erradicados das minhas expectativas enquanto ser sensivel virtual com corpo matéria. Alguma coisinha sou de carne e osso e com...preendo, ou tento compreender, palavras e intenções claras. Curto encontros de carne e osso.
5. Não vasculho o facebook de ninguém. Não faz parte do meu ser existencial nem combina com o meu estilo hippy grunge patricinha da Abóboda City
6. Manter o nível. Ser leve sem ser leviano
7. Seja bem vindo quem vier por bem
8. Qum não vier por bem não se preocupe que eu não alimento más vibras. Desejo felicidade e muita paz no coração
9. Não leio mentes
10. O contacto com amigos de décadas é prazeroso
11. O contacto com amigos virtuais com quem nos cruzamos na rua é igualmente prazeroso. POR FAVOR! SÓ UM SORRISO! UM OI! Curto sentir-me gente de carne e osso.
12. Sou amiga dos meus amigos apesar da minha frontalidade ser algumas muitas vezes inconveniente
13. Quem me conhece e eu conheço verdadeiramente sabemos que a verdade de cada um não ofende e sim constroi na desconstrução

Para finalizar:

frase do dia que já traduzo ad lib:

"We have to play together. If you attack me we are not playing together" Sue Morrison

"Nós temos de jogar juntos. Se tu atacas, nós não estamos a jogar juntos." Sue Morrison

obs:
se eu ataco ou se nós nos atacamos não estamos a jogar juntos

Ana Piu
Br, 28.2.2014

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

HÁ QUEM JÁ ESCREVEU ANTES DE NÓS O QUE NÓS TAMBÉM SENTIMOS E VIVEMOS, PORQUE AFINAL SOMOS MASSA DO MESMO PÃO

Colocar-me na posição de desafio tornou-se fundamental para a minha visão desse trabalho catalisador de encontros-interessava-me a aproximação em si as trocas com pessoas de cada povoado, mais do que o lucro e o glamour trazido por espetáculos teatrais em cidade pequenas.  Buscava perceber o cotidiano e os conhecimentos presentes neste vivenciar, diferentes em cada região. Essa era a moeda de troca. (...) Assim, os dias ultrapassaram expectativas. Encarei frente a frente sentimentos dos mais variados, chorei de alegria e de tristeza inúmeras vezes. Fiz bolhas de sabão com o medo: eram coloridas e depois explodiam no vazio. Fiz das desconfianças força, bordei castelos de amanhecer do apreciar. Um dia de cada vez. Fugi, procurei, recomeços constantes. E aprendi. (...) Aprendi com o tempo que recebemos o que buscamos. Que onde há gente há gente, independente das barreiras ou cercas que enlaçam o viver. E, ainda, que "não como generalizar comportamentos por regiões porque isso desconsidera o fato de que, bem lá no fundo, independente do tempo/espaço, somos da mesma raça de bichos, nascemos, crescemos, cremos, tentamos, conseguimos algo em ciclos humanos intermináveis de esperança, parceria e solidão". Escrevi isso nomeu diário de bordo.

 Dimpério, Genifer Gerhardt " Uma palhaça entre mundos miúdos", Revista Anjos do Picadeiro 8, Encontro Internacional de Palhaços 2009/2010


GERAÇÃO Y DE INDIGO

"Se não tivesse imaginação não teria nada. Não teria carro, não teria casa." (individuo de 9 anos)

"A inteligência é artificial, ela não existe.  Porquê? Ás vezes falo e não sei o que estou falando." (individuo de 8 anos)


A AVENTURA DA EDUCAÇÃO PELA ARTE, COISAS QUE SE OUVEM NO DIA A DIA DO QUOTIDIANO





Pergunto às crianças: O que a liberdade para vocês?
Resposta de individuo de 11 anos: Burro não aceita as ordens do homem. O homem é mais inteligente da terra, mas o burro não acha o mesmo.
Outra pergunta: E a arte é importante para as nossas vidas? Para seremos livres?
O mesmo individuo de 11 anos: Se a gente não tivesse arte a gente seria um bicho inútil.

pipiripipiu
Br, 26.2.2104

foto tirada do google

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

HISTÓRIAS SEM TABUS


É importante uma universidade acolher estrangeiros. Como é quase óbvio quem vem de fora tem uma perspectiva que pode transitar entre a familiar e o estranhamento. Acolher estrangeiros são lufadas de ar fresco, são como portas e janelas para abanar tudo o que estava ou aparentemente estava no seu lugar. Muitas vezes temos ideias pré concebidas daquilo que somos e do que o "outro" é. Porém, no ao vivo e a cores, no encontro e confronto com as semelhanças e diferenças talvez cheguemos à conclusão que o que pensávamos acerca de determinado assunto não era bem bem aquilo. Como europeia, portuguesa e porque não brasileira ? sinto algum constrangimento da História que se ensina na escola desde a mais tenra idade.Chega a ser uma piada de muito mau gosto.

No caso da História de Portugal o que se aprende são as batalhas, os reiizinhos e seus poderes aliados ao clero, E o "grande feito" que foi explorara as colônias e por aí vai... Porém quem estiver minimamente atento percebe que os imperialismos são saques e genocídios sem justificação que valha. Nada justifica um Império.

Quanto à História que se aprende no Brasil ainda estou tentando entender, mas parece-me que é igualmente uma piadinha de mau gosto onde os fatos são alterados ao ponto de o brasileiro comum, que até pode ser descendente de índio mas muitos não o são, acharem que foram colonizados... E nem sequer considerarem que esse projeto colonialista ainda continua em curso, matando diariamente índios, negros e pobres. Chega a ser constrangedor essa visão da sua própria História, como é igualmente constrangedor o português comum assim como o europeu comum olhar o emigrante brasileiro com preconceito e vice versa, o brasileiro comum olhar o português com preconceito, incluindo os latino americanos. Os franceses, alemães e outros cidadãos do dito primeiro mundo são vistos com deslumbramento como se a sua História não fosse imperialista e colonialista.

No fundo, no fundo somos massa do mesmo pão. Somos seres vivos que tendo oportunidade de mergulhar na vida, com livros, com praias, com matas e outros mares talvez nos possamos aproximar com mais qualidade uns dos outros. Sem preconceito e com um conhecimento mais curioso e quiçá mais generoso de quem somos e do que fazemos aqui.

A na piU
Brasil, 25.2.2014



sábado, 22 de fevereiro de 2014

O QUE É ISSO DE SE SER MULHER E DE SE SER PALHAÇA

Na verdade, verdadinha o sexismo não me apraz. Seja de um lado como de outro. O que facto é que durante séculos e séculos as mulheres não têm tido voz suficiente para se afirmarem. O que é facto é que essa afirmação é recente. Nem um século tem realmente. O que é facto é que nós, homens e mulheres, somos resquicios de séculos e séculos de cleros e nobrezas que incutiram o pecado e a vassalagem.

Na verdade, verdadinha dá-me muita preguiça diabolizar os homens, assim como ter aquele discurso que estamos constateente a sofrer opressões. Na verdade, verdadinha considero que nós somos o principal opressor de nós mesmos quando não nos ligamos.

Estar ligado, estar conectado consigo mesmo logo com o que nos cerca e quem nos cerca.

Na verdade, verdadinha que me tenho observado e observado é que somos todos uns seres fortemente vulneráveis, que a nossa vulnerabilidade é a nossa maior e melhor força. Quando acolhemos, quando assumimos isso emancipamos-nos. Homens, mulheres, e outros géneros que cada um considere adequado para si. Sem juízos de valor.

A Piu
Br, 22.2.2014


TENTAR OLHAR PARA LÁ DO LÁ

 Extisem perguntas fundamentais, essenciais que parentemente simples são cruciais para o rumo dos acontecimentos. Recebo esta pergunta após dois anos deste desafio a que me prestei. "O que a faz querer estudar antropologia?" Posso responder simplesmente:"Porque quero. Porque a antropologia é estudar o ser humano e suas relações com o meio envolvente que congrega seres humanos, outros seres vivos assim como a vida e suas complexidades. Como ser humano que sou tenho interesse em interessar-me pela vida e quem sabe a partir daí exercer a minha cidadania com mais eficácia." Poderia ainda responder simplesmente:"Quero estudar antropologia, porque sendo a vida um manto de retalhos interligado entre si quero estudar o pequeno grande detalhe da arte do viver e a arte no viver." Posso também responder:"Como artista quero compreender o meu trabalho numa perspectiva antropológica. Sair da zona de conforto e ir a encontro de um desafio maior." Depois pergunto, sem retórica, num tom desafiante e quem sabe para alguns mal educado, mal criado, arrogante porque não esperado (honestamente não sei):"Porque a arte, enquanto expressão criativa, é ainda vista com preconceito quando esta é dos veículos mais eficazes para nos superarmos com agentes, atores sociais nesta performance que a vida social com regras do jogo, que não são rigidas apesar de por vezes aparentarem ser?"
Depois ponho-me a pensar... Se essa pergunta tivesse sido feita há dois anos atrás e tivesse sido respondida e escutada como seria o roteiro de toda esta caminhada? Os diálogos? As contracenas entre atores sociais das ciências humanas e das artes performativas, de cena?
Estudo antropologia porque o questionar é o que me move nesse trânsito entre a arte e a vida, numa dança de tentar olhar para lá do lá.

Ana Piu
Br, 22.2.2014

imagem: Jean Dubuffet (arte bruta)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O ESSENCIAL

Meu querido diário, 

nós somos feitos de estímulos. Sabes disso, não sabes? Acho que sabes. Se não sabes ficas a saber. Somos umas criaturas socialonas, por vezes armadas em ermitonas. Quando ermitonas tentamos nos entender por dentro. Que desafio, meu querido diário! Que desafio! Qual a música da batida do nosso coração? 

A Lola, lá do Portugal que me tenho vindo a desquitar aos poucos, publica esta linda imagem e escreve: "Levar o essencial". Também acho. O coração é o essencial. Pensar com o coração, escutá-lo, agir de coração. Anda por aí na moda dizer essas coisas e muitas vezes não as compreendemos porque palavras esvaziadas de vida palpável são palavras abstratas, subjetivas com pretensões uma qualquer outra realidade que se pretende objetivas mas sem ação, sem respirar, sem batida de coração a objetividade vai pelo cano.


O Ricardo, lá do Portugal que me tenho vindo a desquitar aos poucos, publica esta linda frase   "Por um mundo que seamos socialmente iguales, humanamente diferentes, y totalmente libres" numa imagem da Rosa de Luxemburgo.  Também acho. Também concordo. Fora com ismos  fique o essencial que vem da batida do coração, dentro do peito, do coração como chapéu, nas costas, nas articulações. Pensar e agir com o coração numa respiração profunda em moimento circular num toque entre o ramo da árvore, que bate na folha e toca a pontinha da estrela e da nuvem que desaba sobre nós para refrescar o coração.

Hoje ainda não escrevo sobre o hoje, o ontem e o amanhã que foi ontem e vai ser ou não ser hoje e amanhã logo se verá. Hoje não conto sobre essa grande aventura que é encontrar outras mulheres palhaça. Contarei noutro dia. mas é falar de corpo, de batida de coração, de respirar. De tempo, espaço, corpo e alma. Da vida.
 
ciao! até já!

A Piu
Br, 20.2.2014




terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

PEIXE NA MOTO



Com cuidado e atenção tudo pode ser  possível.

a piu
Brasil,18.2.2014


À CONVERSA COM PESSOA

Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

ALGUMAS  ME VEJO  E OUTRAS ME ACHO.

De tanto ser, só tenho alma. 

MAS TAMBÉM TENHO CORPO

Quem tem alma não tem calma.

QUEM TEM CALMA TEM ALMA

A ALMA TRAZ CALMA

POUSANDO NA MÃO, NA PALMA

Quem vê é só o que vê,

Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.

NO NÃO LUGAR

SOU EU

SOU ELES, ÀS VEZES

SOU O NÃO LUGAR

Cada meu sonho ou desejo

É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem,

Assisto à minha passagem,

DiversA, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

PREVEJO QUE NÃO ME PREVEJO

O QUE PREVEJO QUE NÃO SEJA UM BEIJO

PELO INSTINTO ME AFASTO

ENQUANTO ISSO ME BASTO

BASTO-ME

Noto à margem do que li

O que julguei que senti.

Releio e digo: «Fui eu?»

SIM, FUI EU

FUI EU, SIM

COM EXPECTATIVAS ALTAS

E OUTRAS ASSIM ASSIM

SENTIMENTOS sabeM, porque escrevI, ESCREVO E ESCREVEREI.

(CONVERSANDO com Fernando Pessoa...)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

BUFONURIAS PROVOCATIVAS



Meu querido diário, hoje à hora da almoço alguém falou de um livro que se chama: "A doutrina anarquista ao alcance de todos". Ainda nos rimos do aparente paradoxo. Doutrina e anarquismo. O titulo também lembra aqueles livros de propaganda que se ganhava nas rifas do "sai sempre" da festa do Avante. (Ainda hoje me pergunto porque é que saía sempre. ) Imaginei as ilustrações da dita doutrina anarquista. Será que tinha o mapa com o caminho para o Éden? Entretanto encontrei esta imagem que muito me apraz e talvez justifique, de alguma forma, todas estas minhas bufonurias provocativas.

a A na Piu
Br, 17.2.2014

LUZ


Se para uns o evidente é um
para outro o evidente é três

se o punho fechado segura uma lâmpada
da mão aberta o ar circula e a respiração flui

se uma lâmpada fundida aparenta iluminação
outra pode mansamente iluminar

se vencer, ser bem sucedido, ter, ter, possuir, possuir é uma meta
para outros a vulnerabilidade é uma força
quem sabe uma transcendência (?)
um despojamento

óbvio não é óbvio
se há quem veja a janela
há quem do outro lado da janela está

no cadernos de anotações foi escrito:
rirmos-nos de nós mesmos evita grande catástrofes

Ana Piu
Br, 17.2.2014



Histoires d'ampoules ... " City Light " de l'artiste GeeeO.

VERTIGEM

VERTIGEM

Meu querido diário, hoje escrevi à minha tia: "recomeçar a vida num outro lugar é preciso coragem, mas para viver é preciso coragem. coragem, paciência, humildade, afirmação." Resumindo, determinação. Viver é vertiginoso. Assumirmos-nos é vertiginoso. Umas vezes encontramos semelhantes com as devidas diferenças, que considero saudáveis. A diversidade é saudável. A sua aceitação é ainda mais saudável. Querer viver uma vida saudável é minimamente saudável e aceitável.

Meu querido diário, sabes que eu sou uma resmungona onírica. Falar de nós é vertiginoso. Falarmos de nós publicamente é ainda mais vertigionoso. Dizermos o que realmente sentimos e pensamos é muito, mas muito vertiginoso.

Meu querido diário, digo-te aqui só para nós: procuro estar com pessoas do bem. Achas ingénuo? Que aches! Pessoas boas, para mim, são pessoas que vivem vertigionosamente a vida nas suas semelhanças e diferenças. Pessoas do bem são aquelas que se disponibilizam a mergulhar nas profundezas das águas claras.
Eu desejo muito ser como essas pessoas. Tento, pelo menos. Achas ingénuo? Que aches! Eu sei intimamente que elas andam aí. Uma questão de estar atenta.

A na Piu
Br, 16.2.2014

imagem: Untitled
© Светлана Беляева

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

CAI O PANO

Untitled
© V A D I M • S T E I N

E o vento bateu nas finas texturas que cobriam,
escondendo,
dissimulando o que fazia tempo que era mas que não era
fazia tempo que o tempo parara numa rajada de vento
no meio da rua
no meio da cidade
no meio de si

tudo suspenso
tudo francamente inconsistentemente tenso

cai o pano e fica o corpo
como ele é
como pode vir a ser

tudo o que não é
tudo o que se assemelha com mentira
que vá
com o vento
que voe para longe
e se aglomere numa nuvem
que negra se derrame numa chuva limpa
regando a terra
deixando-a fértil

que o vento leve a mentira e os panos que a cobrem embora
para bem longe
para muito longe

e que os corpos dancem sem pudor
sem rancor
sem dor

que os corpos dancem sem idade
com verdade
com a sua verdade

suspensa no tempo
mansamente tenso
segurando-se ao que é
ou ao que poderá vir a ser

que o pano caia e dê lugar a uma nova cena
amena
serena
delirante
contagiante

ana Piu
Br, 14.2.2014

O cão que sonhava pôr as orelhas de fora e bocejar à vontade.


foto:Benji's window II
© N O N I • P A N A Y O T O V

COMO ERA (QUASE)DE PREVER



Como era de prever a areia que para os olhos foi atirada com uma elegância desajeitada fez com que os braços se cruzassem e os olhos esperassem que a nuvem se fosse com a brisa do amanhecer ao final da tarde

Como era de prever as nuvens sempre assentam nos caminhos percorridos ainda por calcorrear

Como era de prever o desajeito é irmão do medo que é primo em primeiro grau da auto defesa

Como era de prever o imprevisível surpreendentemente transcendental ainda está por vir

Como era quase de prever, ainda cá estamos para a semana que vem 

Assim esperamos

Esperar de coração tranquilo

Esperar o tudo e o nada

a piu
Dust
© Y A N N I C K • F A U R E
Brasil, 14.2.2014



terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

DEIXA O SAPO EM PAZ

De noite, no seu silêncio, escuto os mus das vacas. Os cavalos também por ali dormem na vizinhança. A gatinha aconchega-se dentro da casa. A cachorraça passou a noite num ladrar infindável, num latir que já não se podia mais.
Há uns tempos havia um lagarto, mesmo antes da cachorraça e da gatita viverem lá em casa. Aliás! Dois! Desapareceram. Vai-se lá saber porquê! Houve também um coelho que deve ter sido caçado por um gato vizinho... Lei da selva... Aliás! Lei dos quintais!

De manhã finalmente percebemos o porquê de tanto latido! Um sapo! Das duas uma! Ou a Nica não aceita o diferente, a diversidade ou simplesmente tem medo de perder território. Enfim... Como outros seres viventes bípedes que andam por aí entre quintais, ruas e avenidas.
Agora vou ter de ter uma conversa longa e séria com a sô dina cachorraça Nica. Ah pois! E se esse tal sapo que apareceu lá pelo quintal não é nem mais nem menos que um príncipe encantado!Ah pois!  Pois é!

pipiripipiu
Brasiu, 11.2.2014

O GIGANTE

"Sabes o que é devia haver?', pergunta a menina Flor. "Devia haver um gigante que esmagasse o MacDonalds, para que os clientes não fossem lá mais. A partir de 2014 passavam a fazer dieta. Ficavam todos magrinhos que podiam tirar roupa, ficarem nus e dar azar. (...) Sim, é melhor ter azar que não fazer dieta do MacDonalds."

obs: entretanto procurei uma imagem para este singelo relato de uma reflexão de uma miúda de 8 anos que deve ter a mania que é espertalhuça. Encontrei esta bela imagem de uma curta produzida ente Brasil, Portugal e Espanha pela mão de  Igor Pitta Simões e  Júlio Vanzeler.

Moral da história: ainda bem que existem espertalhuças que falam de gigantes! Encontramos sempre boas surpresas no navegar da net. 


a Na Piu
uma doninha fedorenta ao vosso dispôr
Brasil, 11.2.2014



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A PROPÓSITO DO BRECHT QUE HOJE FAZIA ANOS

"Those who don't know the truth are dummies, but those who know the truth, and call it a lie are criminals."
Bertold Brecht

"Aqueles que não conhecem a verdade são bobos, mas aqueles que conhecem a verdade, e chamá-la de uma mentira são criminosos."
Bertild Brecht


O que é verdade para outros não é bem para outros, mas contra factos não há argumentos. Tudo bem, existem pontos de vista, percepções várias, sensibilidades diversas mas há acontecimentos que aconteceram ou que acontecem. Não há como renegá-los. O que leva a um silenciamento que em última análise é um compactuar com o inaceitável? O que é inaceitável? A violência é inaceitável. E o que é violência? Tirar a dignidade ao outro, dar um murro em vez de estender a mão. Segregar em vez de incluir? Isso é violência. Ou alguém sente-se confortável em ficar de fora? Em ser desprezado e muitas vezes maltratado?

Existem vários tipos de violência. Quando nos deparamos com a mesma é tão avassalador que por vezes preferimos fingir que nada se está a passar, que é tudo uma invenção de quem se acha vitima. Tudo um devaneio. Porém, a violência está lá como uma agulha fina de uma qualquer seringa que se esconde na mão fechada. Ninguém vê. Ninguém quer ver. Porque implica implicarmos-nos e isso pode ter consequências. O desconhecimento, o conhecimento parcial, a cobardia, o egoismo são aspectos de uma mesma fase da moeda. Todos nós temos medo. Saudável, diria. Porém, que medo não queremos escolher viver, perpetuar?
Em última análise pergunto: Não nos sabermos colocar no lugar do outro, não sermos solidários, não desejarmos o melhor para todos nós é o quê?

A Na Piu, a doninha fedorenta (denominação carinhosa que o meu pai me dava em criança. Descobri que além de divertida cai-me bem. Doninha Fedorenta ao vosso dispôr)

Brasil, 10.2.2014


Iben Nagel na personagem de Kattrin, Odin Teatret/ Dk




"Mãe Coragem "hiena no campo de batalha",que é a única que não aprende nada com a guerra, mantêm-se indiferente a realidade ao seu redor. Mesmo perdendo seus 3 filhos, continua nas estradas com seu comércio cada vez mais escasso, e cada vez mais apegada a carroça.
Kattrin, a filha muda, é morta quando mesmo sem voz "fala" a favor de uma causa, ao tocar o tambor para salvar uma cidade, enquanto os camponeses mantêm-se calados, por medo ou por egoísmo, e rezam e ela resolve agir, o que diverge do seu comportamento durante toda obra, é perceptível, sempre, que ela tem um é sensível e que não gosta de ver os outros sofrerem, porém neste momento abre mão de sua vida em prol da cidade. " (fonte wikipédia)

AS PEDRAS CONTINUAM ROLANDO

Rua abaixo as pedras continuam rolando. Com o vento as pedras rolam. Chuvas, tempestades, dias ensolaradamente alucinados as pedras não se cansam. Ou cansam-se? Quem não se cansa? Existem horas nos dias dos anos que os minutos precisam de serem suspensos.
Na capa de revista os Rolling Stones estão uns jovens idosos de placa dentária semelhante aos modelos, aos políticos, o photo shop suaviza as rugas de expressão desenhando-as. Porquê? Para quê? Pergunto.

Gostava de apreciar a passagem do tempo nos corpos ainda vigorosos dos pedras rolantes. Por momentos pensei que estivessem anunciando o museu de cera consagrado aos Rolling Stones. É tão bonito "envelhecer", ver o sorriso generoso dos dentes resistentes e daqueles que já foram. Adivinhar em cada ruga uma história, na bifurcação das pregas o riso, o delírio, o cansaço, a tristeza da partida, a alegria dos pequenos grandes detalhes.

Ontem vi uma capa de revista com os Rolling Stones de velhice maquiada; hoje continuo viva, espero que amanhã e depois de amanhã ainda estarei por cá com as minhas rugas no lugar que o tempo escolheu, com uma vitalidade com sabor a vida. Olhar a pele curtida pelo sol que aquece e sorrir, quem sabe, com a boca quase desdentada. Ontem caiu um cadinho do meu dente molar.

a Na Piu
Brasil, 10.2.2014




DE UMA BELEZA SALGADA



Hoje Sebastião Salgado faz anos. Setenta. Pessoalmente considero-o um grande fotógrafo. Conheci o seu trabalho naquela tal festa, a do Avante. O tema da exposição era sobre o Trabalho. Fotos épicas e belas mostrando o trabalho forçado e a sua exploração na atualidade. Anos mais tarde foi montada uma grande exposição em Lisboa da sua obra. Não lembro ao certo se era uma retrospectiva ou se era a exposição "Êxodos". Sei que o seu trabalho toca-me.

Porém, há quem o critique alegando que o rapaz, através do uso da luz, embeleza a miséria. Mas bora lá combinar! Miséria é miséria! Tem uma foto do Salgado onde aparece uma criança sub nutrida pendurada numa espécie de pendulo. A luz da foto é realmente bela, mas imagem não deixa de impressionar.

Podemos sempre encontrar virtudes e defeitos no trabalho dos outros, porém quando há trabalho e seriedade no que se faz considero que tem valor. Pode-se não apreciar, mas tem valor.

Ainda tem uma outra ala, a dos cientistas sociais que alegam também que o Salgado explora o exotismo. Pode ser. Concordo. Tem fotos lindissimas das tribos (vou usar o termo tribo como poderia usar grupo étnico) africanas e amerindias que parece que o pele branca não passou por lá.

Contudo, todavia, porém o rapaz dá a conhecer ao mundo o Movimento dos Sem Terra (que politiquices à parte é um moimento que embate com a lógica do coronel e do latifundio), dá a conhecer os fluxos migratórios mundiais. Se ele embeleza a sua "missão", o seu ativismo uns podem gostar outros não. Antes de tudo é um artista e que sai para o mundo e convive com o mesmo, mesmo que possa estar num lugar privilegiado. Mas pelo menos sai do seu sofá. E um pouco de beleza dá uma aliviada no inaceitável. Mas sem nunca perder o foco. Claro!

A na Piu
Brasil, 9.2.2014

fotos: Sebastião Salgado

DO CIMO DA ÁRVORE, BALOIÇANDO NUM RAMO PERIFÉRICO


Pois é! Eu torço pela copa das árvores, para a que a desflorestação do pulmão do mundo páre. A floresta amazónica não é nem do Brasil, nem dos EUA. Pertence ao planeta terra onde vivem seres vivos, entre eles os seres humanos. Mas tem mais! Tem os animais, plantas e outros seres que nem os vemos pela sua microscopocidade.

Eu torço pela vida! Torçam-me o pescoço se quiserem, ignorem-me. Já estou habituada. Mas onde a coisa cheira mal, fede, a mosca aparece sempre. bzzzzzzzz Sou eu!

Há uns dias atrás dei de caras com uma publicação de um sujeito que não conheço pessoalmente mas que o adicionei por ser amigo de um amigo meu, que por acaso é doutor da alegria. Adicionei-o porque ele estava na frente de um movimento de artistas do Estado de São Paulo. Considerei a proposta, a causa interessante e importante. Os artistas do espetáculo juntarem-se para defenderem a sua profissão.

Esse mesmo sujeito escreve aqui no faci, mais ou menos isto:" Não me convidem para manifestações contra a copa, porque eu adoro futebol."
Adorar futebol, desporto é uma coisa; compactuar com medidas de higienização e segregação é outra.

"Que falta de educação vir para aqu comentar nos postes dos outros. Se não está bem, procure os seus parceiros. " Mais ou menos isto, de forma reduzida que ele me respondeu. Respondi que os meus parceiros é a Humanidade, o direito à vida e à sua dignificação.

Depois, apaguei-o da minha lista de amigos facebookianos. Não conheço o rapaz pessoalmente e uma pessoa que orgulhosamente escreve:"Salvé copa! Tenho orgulho em ser brasileiro! E essas manifestações da burguesia não me dizem nada" ... Fico um pouco confusa. Penso mesmo! Granda confusão! Quem está a sofrer com a copa não essa dita burguesia (aiiiii que termo tão ultrapassado...) e sim a periferia. Ainda pensei que ele estivesse a ironiar, no provocanço. Vou à página dele e vejo uma publicação da bandeira de Cuba. Aiiiiiaaaa agora já nem sei o que pensar! Viva Cuba! Viva a Copa! Granda milk shake!

Sobre Cuba é outro texto! Tenho curiosidade de conhecer Cuba pessoalmente. É preciso ir lá para ver e escutar quem lá vive.

Mas uma pergunta fica suspensa no meu sentir e pensar: quem não dá valor à vida o que é que anda a fazer na mesma? A tentar apanhar bonés e bandeira numa salada de frutas transgénica. Genial! Mas não convence. E pergunto-me ainda: que conversas e leituras, já que a pessoa parece ser tão informada, realiza com os outros e dentro de si. Revolucionários assim para quê existirem reacionários?

Ok!Ok! Vou já embora! Não seja por isso! Se a minha educação o incomoda imagino o quanto a Humanidade não o poderá incomodar! Seja feliz a gritar Gooooooool! Vou só ali subir a uma árvore como o Barão Trepador do Italo Calvino e já volto! 

A Na Piu
Brasil, 9.2.2014

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

4 EVER GOOD BYE

Um dia aquilo que sempre acreditamos deixa ser ou nunca foi. O desamparo instala-se porque a vida foi passada ao serviço de qualquer coisa que achamos que sim, que valia a pena. Uma vida inteira em nome de qualquer coisa achando que o nosso pensamento é clarividente e que abertos estamos para o mundo. Um dia desaba tudo. Instituições, relações que pareciam ser mas não eram realmente. Um dia damos conta que temos de recomeçar de novo, mais atentos a nós mesmos e uns as outros, saindo dos nossos nichos, das nossas quase certezas. Saindo de nós para nos reencontrarmos que antes das instituições, ciências, artes e outras partes que são mais uma parte de um todo maior. Um dia prestamos realmente atenção à nossa falta de atenção. Compreendemos, então, que somos seres vivos falíveis, generosos de egos que ecoam e por vezes destoam.
Good bye 4 ever para dizer Hello together.

Ana Piu
Brasil, 7.2.2014


AUTO RETRATO DA NINA

Menina de cabelo preto comprido. Olhos arregalados. Nariz de lado, sorrindo. Corpo verde de braços abertos.

ana piu
Br, 7.2.2014


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

LA VIDA FUE Y ES UN DON

Unas imágenes de hombres y mujeres que no hacen llamiento alguno, que no piden nada, y que, sin embargo, declaran que están vivos, como lo está quien las esté mirando. Encarnan, pese a toda su fragilidad, un respeto hoy olvidado por uno mismo. Confirman, pese a todo, que la vida fue y es un don.

John Berger


Untitled
© L E E • J E F F R I E S


SERÁ QUE OS PEIXES TÊM CALCANHARES?



Meu querido diário, aqui há uma semana atrás recebi um mail de um figura que não era figura pois nem sequer uma foto apresentava escrevendo:"Você é baderneira love you. parabéns pelo seu blog."

Ora, logo pensei:"Quem me escreve para o meu mail sem se apresentar e sem o conhecer e vai logo falando LOVE YOU?"
Enfim, como não colocou nem I, nem We, nem they a coisa fica em aberto. Lê o meu blog. Olha! Alguém que lê o meu blog e que curte e se manifesta. Fixe bacana. Perguntei:"Ser baderneira é bom ou é mau?' Sim, porque é um termo usado muitas vezes de forma pejorativa. Pelos vistos, no caso, deve ser bom.

Fui ao facebook ver se o conhecia e fui dar num rapaz que não conheço mas que tem um amigo em comum e vive na mesma cidade do mesmo. Coincidência. E depois do que relatarei a seguir espero mesmo que seja coincidência, visto o "admirador" não se identificar alegando que não era uma " pessoa real"e dizer que estava "a fim de mim" e que nem tinha facebook.... Tudo bem.. Olha! Atraio pessoas irreais e surreais.

Atalhando, fui percebendo que o rapaz estava a pôr-me à prova não se identificando e sugerindo que eu falasse das temáticas do meu trabalho artístico: do vazio, do nada, da espera. Enfim... Relativizei o seu anonimato e partilhei um livro sobre budismo que o Sérgio Veleda acabou de publicar. ".... kkkkk Isso é livro para donas de casa maltratadas de classe média", respondeu.
Peguntei o que ele considerava ser maltratado e o que era classe média no Brasil. Não obtive resposta. Depois a pessoa não real manda uma referência dos "Três anéis" do Tolkien. Na verdade é um tipo de literatura fantástica best seller que nunca me suscitou curiosidade. Mas bora lá! Porém não entendo porque alguém não se apresenta, desconsidera o livro que não leu e auto denomina-se "legal e inventivo" por ter lido os 'Três anéis". Eu não li, posso ler, mas não entendo porque alguém não sai do anonimato e vai-me chamando burra e portuguesa por eu comparar a literatura do Tolkien ao Harry Potter e considerar que sermos legais e inventivos temos de responder pela nossas palavras.

Em suma, sou burra por não papar grupes, não cair na conversa da carochinha. Tenho quase a certeza que esse personagem não real não tem nada a ver com o amigo desse meu amigo, muito menos com o meu amigo. ASSIM ESPERO! Pois, esse personagem não real, pela minha leitura, estava a ver se encontrava o meu calcanhar de Aquiles. Ter até tenho, mas assumo-o. Uma maneira de aprender a nadar. Gosto de ser peixe com e sem calcanhares e nadar com pessoal good vibrations.

pipiripipiu
Brasiu, 6.2.2014

Vision
© M A R I A • F R O D L

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A violência invisível - com Monja Coen Roshi

Ontem recebi este presentinho de uma amiga. E como não sou garganeira partilho antes sequer de ter visto. Partilho devido à sua descrição. Vi também que o Sérgio Veleda escreveu um livro sobre Budismo: A arte de equilibrar-se sobre um fundo vazio. Não conheço o Sérgio pessoalmente nem a Evânia, mas inspiram-me confiança intelectual e espiritual. Em suma, não são panfletários, nem dogmáticos. Pelo menos é isso que me transmitem. Resumindo, tenho curiosidade de escutar a Cohen Roshi como conhecer melhor campos que já poderei ter pensado, mas não nesta linha espiritual assim como ler as palavras do Sérgio. Sem seguidismo e sim com disponibilidade.

NOTAS

As pessoas fazem os lugares, os lugares fazem as pessoas.
A vida não tem significado e si um sentido (ou vários)

Ana Piu
diário de bordo Agosto de 2011

foto: LAS GRANDES CIUDADES
BAJO LA LUNA
Un espectáculo musical del Odin Teatret en el espiritu di Bertolt Brecht

Actores: Augusto Omulu, Kai Bredholt, Roberta Carreri, Jan Ferslev, Donald Kitt, Tage Larsen, Sofía Monsalve, Iben Nagel Rasmussen, Julia Varley y Frans Winther
Dirección: Eugenio Barba




HAPPY SIXTIES, diário de bordo durante o Odin Week 2011

Estou no Odin Teatret em  Holsterbo, Dinamarca. Pleno Verão escandinavo. Decorre o mês de Agosto de 2011:

Final de um dia de treinamento, demonstrações de trabalho, palestras e apresentações de espetáculos. estamos à conversa na casa do Jan. Jan Fersley é músico, compositor e ator do Odin e é dinamarquês num grupo de noruegueses, italianos e outras nacionalidades. Está  também o querido Augusto Omolu que além de bailarino é coreógrafo, além de brasileiro é baiano. Que descanses em paz, querido Augusto.

Na sequência da nossa conversa escrevo este texto:

HAPPY SIXTIES

Quando escutei esta expressão proferida por um dos membros do Odin senti uma certa tristeza. "Happy sixties....'
Os meus pais, assim como a sua geração em Portugal não pôde de modo algum viver esses happy sixties.
Uma guerra colonial obtusa sem saída, uma ditadura mesquinha como qualquer ditadura. Uma ditadura do "orgulhosamente sós". (1932/1974)

Sad sixties.

O que seria hoje Portugal se os sixties tivessem sido happies? Como seria hoje a geração dos meus pais? Como seria a minha geração e as que vieram a seguir?

Enquanto o resto da Europa e os EUA celebravam o Flower Power, como uma alternativa quase inglória de combater a lógica do lucro, Portugal despedia-se da jovem população masculina que embarcava para além mar, para terras africanas e alegando com uma batida de mão no peito que tais terras eram deles. Partiam para combater no meio do mato. E lá ficavam as portuguesas em frente ao mar nesse jardinzinho à beira mar plantado. E com toda a certeza os seus homens não embarcariam numa trip Lucy in the Sky with Diamonds. Não, não era uma trip colorida, poética e  alucinante. A alucinação era outra e quem sobreviveu passou anos a ser assaltado por pesadelos na noite da escura. Os fantasmas teimavam assombrar os ex soldados já numa democracia que se apresentava como um bebé recém nascido.

Porém, do outro lado do mar em terras de África a censura salazarenta não era tão apertada e uma pitadinha de happy sixties espreitava no auge de uma guerra que durou 12 anos (1962/ 1974). Essas arzinhos da sua graça poderiam chegar em formato vinil.

Do outro lado do Brasil vivia-se também uma ditadura (1964/1985). Uma ditadura militar que ao mesmo tempo que agrilhoava criava a necessidade, a urgência de reagir quer fosse pela música, pelo teatro, pelo cinema, pela literatura.

Em Portugal essa emergência também acontecia, mas em dimensões menores. Portugal pequeno, encurralado em si e rodeado por uma Espanha franquista. (1939/1975)

Quarenta e oito anos de opressão, de analfabetismo,  de pobreza, de censura, de tortura. Enfim... Mais o peso da igreja católica secular que cultivou o medo, a desconfiança, a delação e o falso pudor.

Como 48 anos podem ser tão decisivos para as gerações vindoras. Como pode influenciar o modus vivendis de um povo.

O Odin estás prestes a completar 48 anos, quase meio século de envolvimento, implicação que obviamente deixaram marcas profundas no modo de pensar e fazer teatro e viver a vida. O seu trabalho tem expressão, vai ficar na História, mesmo que a percentagem de afetados  possa parecer  insignificante para uma conjectura mundial.

Terá uma ditadura maior impacto que uma proposta pragmática de um grupo teatral que segue trabalhando e divulgando a sua pesquisa interminável pelos quatro cantos do mundo? Parabéns Odin!

Ana Piu
Barão Geraldo, Brasil 5. 2.2014
(texto escrito em Agosto de 2011 com pequenas alterações sem tirar o sentido realizadas hoje)

(Julia Varley em O Castelo de Holstebro II. Foto: Jan Rüsz / Odin Teatret)

PIADINHAS DO CÓRÓCÓCÓ




Eyes
© N I C O L I N O • S A P I O




Meu querido diário,

alguém me pergunta se eu sei porque é que se conta piadas de português no Brasil. Respiro fundo depois de uma manhã de palhaçaria com crianças. Respondo de pronto: porque a incapacidade do pessoal se rir de si próprio é escassa. Rirmos-nos de nós mesmos manifesta humildade e inteligência. Também sei porque se conta piada de português, porque aqui a desigualdade de oportunidades, as relações de poder são tão grandes e mesquinhas que cada um quer se mostrar mais inteligente que o outro e não se toca que ao rir-se do português lerdo e colonizador está-se a rir de si mesmo. Também penso que não é pela erudição dos livros que as pessoas se destacam. Destacam-se por serem empáticas, caso contrário perpetuam relações de violência e descriminação. Também há piada de português, brasileira bunda na Europa, brasileiro querendo ganhar vantagem na Europa e outras xenofobias que não tolero. Sou intolerante com a intolerância e descriminação que é um ato de violência.

Durante a minha infância contavam-se muitas piadas de negro. Considero degradante e pouco honroso.

Por outro lado tenho amigos brasileiros desde os meus tempos de escola em Portugal e outros que fui fazendo em terras lusas e europeias. Guardo a nossa amizade com carinho e respeito.

Ana Piu
Brasil, 5.2.2014