Diante daquela planície imensa, onde seus avós nasceram, Morgana encantou-se à primeira vista. Já em Lourenço Marques, atual Maputo, escutara histórias o tórrido sol e das suas noites alentejanas, aparentemente calmas, e da época que fugiram num navio à pressa na virada sombria da década de quarenta para cinquenta. Disseram adeus à Europa e ao Portugalito que queria continuar a ser imperialmente grande. Fugiram para uma das colónias, mas a vizinhança comentava à boca fechada que eles eram da oposição. Gente simpática e de bem, mas não confiável. Pois estavam do outro lado. Logo os seu avós refizeram as suas vidas com os respectivos criados, embora tivessem pensamentos vermelhos. Assim foi e assim é com os seus pais, após a independência. Continuam com criados, mas alegam que assim criam postos de trabalho. Se pagarem dignamente, contrapõe Morgana, está tudo bem. Mas quanto a estudar… Morgana concorda que as escolas devem ser mistas, misturadas. Mas para quê a criadagem querer estudar se pode trabalhar, ganhar o seu? Enfim, Morgana tem as suas paradoxalidades. Acontece.
Porém, quando chega a Portugal na década de noventa qual não é o seu espanto e percebe que praticamente ninguém tem criados. Isto é, só as pessoas muito ricas que vivem num mundo paralelo ao do cidadão comum. Diante desta informação as suas faces ficam vermelhas. E ela que achava que a sua família era da resistência e que criticava os tugas por serem isto e aquilo. Nascida em Singapura, e tendo vivido em vários lugares, até à década de 90 nunca conhecera a terra natal de seus avós e pai.
Agora estava diante daquela imensa planície. Decidiu que faria ali algo inovador, que nem a própria reforma agrária se lembrara. Fundaria com uns amigos seus que conhecera em Hannover para fundarem um centro de permacultura e amor livre. Chamariam pessoas do mundo inteiro para cursos de permacultura e tudo o que estivesse relacionado à mesma. Bem sabia que o preço para participarem nos cursos seria relativamente alto, mas sairiam dali com muita bagagem e poderiam se orgulhar de dizer que ajudaram a construir a Eco Vila de Relíquias do Alentejo! Ah! E para lá viver em comunidade só quem acreditasse no poli amor. Casais não seriam aceites. A liberdade e a emancipação tem as suas regras, defendia e defende Morgana.
Roupa: vestido da Natura, uma rede de lojas de artesanato industrializado que se encontram nas grandes superfícies lusas; casaco new age do mundo mix; echarpe da feira hippie de Copacabana.
Penteado: Antoni cabeleireiros
Ana Piu
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