segunda-feira, 29 de setembro de 2014

VIAJANTE E A SOLIDÃO

passou por uma estrada

por um caminho

por um ermo

pela avenida grande

viu muita gente

não viu ninguém

na noite escura escutou a batida do seu coração

as estrelas cadentes deixaram rastro de memórias do que nunca chegou a acontecer

passou por um muro onde estava inscrito: "Abrace a solidão. Lá, você é você."

levou tempo a entender com o coração o que há muito já entendera com a cabeça

continuou a caminhar

um tucano atravessou-se na sua frente logo de manhã bem cedo

ficou feliz

o cão antes de comer pediu carinho

comoveu-se

os gatos são esquivos mas também pedem carinho

voltou a comover-se

abraçou a solidão que não era nem um bicho de sete cabeças nem o fim do mundo

era sim o principio do inicio do sentido que faz o encontro com outras solidões

o vento quente bate nos calcanhares

a chuva quase refresca

a solidão, pensou enquanto viajava, é o reencontro de algo mais profundo que o fazer de conta que não estamos sós

dançou com os pés descalços sobre a quentura da chuva

"estar só é escutar a batida do coração e tentar agarrar estrelas cadentes quando acabamos por nos abraçar  a nós mesmos.

não está mal",

pensou num pulsar de coração.

Ana Piu
Brasil, 29.09.2014


'O Viajante' (The Traveler), placa ceramica 14x14 | Paula Rego

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