por um caminho
por um ermo
pela avenida grande
viu muita gente
não viu ninguém
na noite escura escutou a batida do seu coração
as estrelas cadentes deixaram rastro de memórias do que nunca chegou a acontecer
passou por um muro onde estava inscrito: "Abrace a solidão. Lá, você é você."
levou tempo a entender com o coração o que há muito já entendera com a cabeça
continuou a caminhar
um tucano atravessou-se na sua frente logo de manhã bem cedo
ficou feliz
o cão antes de comer pediu carinho
comoveu-se
os gatos são esquivos mas também pedem carinho
voltou a comover-se
abraçou a solidão que não era nem um bicho de sete cabeças nem o fim do mundo
era sim o principio do inicio do sentido que faz o encontro com outras solidões
o vento quente bate nos calcanhares
a chuva quase refresca
a solidão, pensou enquanto viajava, é o reencontro de algo mais profundo que o fazer de conta que não estamos sós
dançou com os pés descalços sobre a quentura da chuva
"estar só é escutar a batida do coração e tentar agarrar estrelas cadentes quando acabamos por nos abraçar a nós mesmos.
não está mal",
pensou num pulsar de coração.
Ana Piu
Brasil, 29.09.2014
'O Viajante' (The Traveler), placa ceramica 14x14 | Paula Rego |
Sem comentários:
Enviar um comentário